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quinta-feira, 27 de junho de 2024
Espero Tua (Re)volta (2019) de Eliza Capai
por Inara Chayamiti
“Quem vai contar essa história sou eu” diz Marcela Jesus na introdução do filme protagonizado por ela, Nayara Souza e Lucas “Koka” Penteado. Os três fizeram parte da mobilização estudantil que, entre 2015 e 2017, saiu às ruas e ocupou mais de 200 escolas
secundárias contra a reorganização do ensino proposta pelo governo do Estado de São Paulo e em defesa de uma educação pública de qualidade.
Espero Tua (Re)volta, dirigido por Eliza Capai, leva-nos para o centro de um debate muito importante e cada vez mais incontornável no âmbito do documentário: afinal, quem deve contar a história?
Por muito tempo, o documentário foi dominado por um fazer extrativista do homem branco hétero com uma câmara a reduzir o mundo ao seu “male gaze”. O potencial do cinema de proporcionar ao público a entrada em outros mundos, com todas as suas complexidades e idiossincrasias, ficava limitado. Com a democratização dos meios de produção de cinema e a ampla discussão sobre a falta de representatividade nos ecrãs, aos poucos, isso tem mudado.
A câmara de Capai é um instrumento de poder que ela divide com os retratados de forma tão transversal que o resultado é um filme que é o espelho dos personagens. Assim como eles ocuparam as escolas, ocuparam também o próprio filme. E enquanto contam suas histórias e suas perspetivas singulares sobre os acontecimentos, parecem até estar sentados na ilha de edição a dizer aos montadores como organizar a narrativa.
O filme também é um vívido retrato da importância da participação dos jovens na democracia e do tortuoso percurso de uma mobilização social, desde como começam até os desafios que enfrentam e as conquistas. Entre os desafios, o mais traumático e brutal é a violência policial. Enquanto os jovens lutam para que suas escolas não sejam fechadas pela alegada falta de
recursos, a polícia ataca-os com caríssimas bombas de gás lacrimogéneo. “Cada bomba dessa aí dá 500 merendas [refeições] em uma escola, mais 500 merendas jogadas fora”, narra Koka numa das cenas. Violência experienciada por muitos já nas manifestações de 2013 que levaram milhões às ruas, também lembradas pelo filme como contexto histórico.
Outro aspeto interessante é que, além da pauta da educação, os estudantes trazem também temas pouco trabalhados no ambiente escolar, como o feminismo e o racismo. Nas ocupações, isso é debatido e inserido nas práticas do quotidiano, como por exemplo ao atribuir a rapazes funções na cozinha e de limpeza.
Acredito que é esse tipo de cinema disruptivo que nos proporciona um real encontro com o outro. E desse encontro podem surgir conexões e entendimentos mais profundos para que possamos ver-nos uns nos outros e realizar as transformações sociais de que tanto precisamos.
Yzalú - Rap, Feminismo e Negritude (2018) de Inara Chayamiti e Mayra Maldijan
por Jessica Sérgio Ferreiro
A realizadora Inara Chayamiti, também, videojornalista, dedica-se a documentar histórias reais ligadas a causas políticas, sociais e ambientais, contando, ainda, com uma longa-metragem – Onde as ondas quebram (2024) –, atualmente a correr os festivais. Mayra
Maldjian é, também, jornalista, Dj, beatmaker e produtora, integrando vários projectos de empoderamento feminino através da música, incluindo o grupo de hip hop e soul Rimas & Melodias e o coletivo de mulheres DJs As Mina Risca, bem como foi produtora no projecto “Escuta as Minas”. Ambas juntaram forças com a artista Yzalú para realizar um filme sobre a experiência feminina.
Yzalú – Rap, feminismo e Negritude (2018), realizado por Inara Chayamiti e Mayra Maldjian, centra-se no percurso da cantora, compositora e rapper, de São Paulo, Luiza Yara Lopes Silva, conhecida como Yzalú, cuja trajectória é relatada na primeira pessoa. O preconceito e a discriminação que marcaram o seu percurso viriam a definir a sua carreira, moldando a sua música, a qual, extravasando a expressão individual, narra experiências comuns. Através da palavra declamada, Yzalú denuncia a violência e a desigualdade que impactam os quotidianos das mulheres negras no Brasil, incorporando a história da “racialização”, como parte de processos sociais contemporâneos.
Após uma breve auto-apresentação biográfica, Yzalú, com o seu violão, encara a câmara de frente, para nos contar e cantar as “Mulheres Negras”, canção de 2012 que marcou a sua carreira artística, e cujo grito atravessa, de forma aparentemente anacrónica, a escravatura e as formas de exploração e exclusão herdadas que recaem, atualmente, sobre a população negra no Brasil e, em especial, sobre as mulheres. São, ainda, mostrados alguns excertos de videoclipes, tal como “É o rap tio”, do seu álbum de estreia “Minha Bossa é Treta” (2016), editado após vários anos de carreira musical e que, espelhando as experiências “periféricas”, se tornou, assim, num manifesto
anti-racista e feminista. Ao longo do filme assiste-se, ainda, a pequenos momentos de composição, ensaios e atuações ao vivo.
A Rapper guia-nos, também, pela sua infância, em voz off sobreposta a algumas imagens de arquivo, enfatizando o apoio da sua mãe “guerreira” ao longo da sua vida. Yzalú dá, ainda, destaque ao grupo de rap feminino Essência Black, de São Paulo, do qual fez parte e teve de compatibilizar com os empregos e estudos, descrevendo a sua experiência no mercado de trabalho e os obstáculos que teve de ultrapassar até se poder entregar totalmente à música.
O testemunho de Yzalú revela a diferenciação e classificação do “outro” com base nas categorias de “raça”, “género” e “classe”, abordando, ainda, questões ligadas à “limitação física”, como denominado pela artista. Assim, a par com a música e o trajecto de vida de Yzalú, o filme representa a luta pela igualdade numa sociedade contemporânea, ainda, patriarcal e racista, cujas estruturas socioeconómicas e políticas, historicamente sedimentadas, continuam a produzir a “diferença”, a sua hierarquização e discriminação. Assim como o rap, o filme torna-se um lugar de fala, um gesto político, produzindo, assim, representatividade para grupos de pessoas que foram e, ainda, são subalternizados.
O filme esteve presente em vários festivais de cinemas no Brasil, tal como no 10º Festival Internacional do Documentário Musical, edição de 2018, em São Paulo; também no 29º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum, em 2018 e no 15º Festival MIMO de Cinema 2018, entre outros. Foi, ainda, premiado no 8º Prêmio CineB Solar, bem como integrou, em 2019, a programação do 3º Festival International Du Film Sur Le Handicap (FIFH), em Lyon (França).
segunda-feira, 24 de junho de 2024
349ª sessão: dia 25 de Junho (Terça-Feira), às 21h30
Curta de Inara Chayamiti e longa de Eliza Capai, para ver na BLCS
Durante o mês de Junho, o Lucky Star – Cineclube de Braga promove um ciclo dedicado a realizadores que exercem a sua actividade no Minho e às suas escolhas. Os convidados para esta ocasião são David Ferreira, da cidade de Guimarães, e Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti de Braga. As sessões realizam-se sempre às terças-feiras às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.
O ciclo, intitulado “A cada um, o seu cinema: 4 curtas, 4 realizadores e 4 escolhas”, termina amanhã à noite com a exibição de Yzalú - Rap, Feminismo e Negritude de Inara Chayamiti e Mayra Maldijan, sobre a artista brasileira Luiza Yara Lopes Silva. Para acompanhar esta curta-metragem que co-realizou, Inara Chayamiti escolheu Espero Tua (Re)volta de Eliza Capai, um documentário brasileiro de 2019 sobre as ocupações das escolas estaduais de São Paulo. A sessão será de entrada gratuita.
Luiza Yara Lopes Silva, mais conhecida como Yzalú, começou a carreira em 2003, integrando o grupo de rap feminino Essência Black. Em 2012, lançou “Mulheres Negras”, chamando a atenção do público e da crítica. Em Yzalú - Rap, Feminismo e Negritude, estreado em 2018, Inara Chayamiti e Mayra Maldijan acompanham o seu percurso.
Espero Tua (Re)volta é um documentário brasileiro sobre a mobilização estudantil paulista de 2015 que descreve os acontecimentos através das perspectivas e narrações de três estudantes: Lucas Koka, Marcela Jesus e Nayara Souza. Estreou em 2019 no Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde conseguiu o Prémio da Amnistia Internacional e o Prémio da Paz.
“O filme surge quando entro na ocupação da ALESP (Assembléia Legislativa de São Paulo), em maio de 2016,” disse Eliza Capai a Marcelo Müller em Janeiro de 2019 para o site Papo de Cinema, “naquilo da CPI das merendas. Fiquei surpresa pela forma como os jovens levavam as lutas para seus corpos. Vi a complexidade e percebi a grande mídia cobrindo tudo de cima, distante. Achei difícil entender o que estava acontecendo com aquela molecada tão marginalizada.”
As sessões do mês de Junho contarão com as presenças de David Ferreira, Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti, que falarão com o público sobre o seu trabalho e as suas escolhas.
As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star - Cineclube de Braga têm entrada livre.
Até Terça!
quinta-feira, 20 de junho de 2024
Zerkalo (1975) de Andrei Tarkovsky
por João Campos
“Os destinos de duas gerações sobrepõem-se no encontro entre a realidade e as lembranças: o do meu pai do qual se ouvem poemas no filme e o meu. A casa do filme é a reconstrução exacta da nossa e foi construída no local onde ela estava. Pode dizer-se que se trata de um
‘documentário’. As imagens de actualidades do tempo da guerra, as cartas de amor do meu pai para a minha mãe, são documentos que moldaram a história da minha vida.”
Esta é a descrição feita pelo próprio Andrei Tarkovsky da temática subjacente ao filme.
É o filme mais autobiográfico de Tarkovsky. A personagem principal, Alexei, o poeta moribundo é ao longo do filme mostrado em criança, adolescente e quando adulto apenas se ouve a sua voz.
É um filme com um desenvolvimento descontínuo e não cronológico, em que, as suas memórias, as memórias coletivas russas, os sonhos, as emoções e visões artísticas são encadeadas com imagens de arquivo de acontecimentos históricos como a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Civil Espanhola, o conflito fronteiriço sino-soviético e até o lançamento de balões soviéticos. Ao longo do filme passam três períodos históricos: antes da guerra (1935), durante (anos 40) e pós guerra (anos 60, 70).
Nos filmes de Tarkovsky o tempo e a memória são tratados sem coerência cronológica, ligando as imagens através de uma montagem que obriga o espectador a estabelecer relações entre planos, quase sempre longos e a perceber por si próprio a sua coerência.
Em off surgem, em certas cenas, a leitura de poemas de Arseny Tarkovsky, o pai do realizador.
Quando vemos o filme é como se estivéssemos a ver a 34ª versão, a nossa, pois consta que
Tarkovsky só ficou satisfeito com a 33ª versão.
Sentimentos como o desejo de retorno, a nostalgia, a solidão, a defesa de valores, o remorso e o arrependimento estão presentes neste filme, como em quase todos os outros do autor.
O tempo, a palavra e a espiritualidade têm um papel fundamental neste filme. Ritmo lento e melancólico que nos hipnotiza, embalando-nos e tirando-nos o pé da realidade, como na cena emblemática em que a mãe levita. Planos longos e cenários naturais transformados em imagens metafisicamente carregadas são de uma beleza melancólica ímpar. Para Tarkovsky a Natureza é um espaço redentor. Sempre desejou viver no campo, longe de Moscovo em que tudo condicionava o seu trabalho. As casas, resultado da intervenção humana, têm todas marcas do tempo, paredes com revestimento degradado e soalhos bem gastos, dando a ideia de, apesar de habitados, estarem abandonados.
É através dos espelhos que, em certos momentos, se passa do presente para as memórias do passado, ou para o sonho e ao contrário. O reforço do título do filme é-nos revelado por Tarkovsky quando disse que muitos espectadores lhe confessaram que tinham visto no filme a sua própria vida, como num espelho.
O visionamento de O Espelho é uma experiência sensorial intensa, reforçada pela presença dos quatro elementos (Terra, Ar, Água e Fogo) presentes em muitas das cenas. A água sobre a forma de lagos, chuva constante, a escorrer pelas paredes, pelos cabelos de Maroussia, e as próprias lágrimas mergulham-nos num mundo poético caraterístico dos filmes de Tarkovsky.
Uma palavra também para a banda sonora de Eduard Artemyev, com extratos de Bach, Pergolese e Purcell que, quase sempre num registo minimalista, cria uma densidade dramática excecional.
Depois de vermos este filme temos de concordar com o autor quando diz: “Vão lá pela experiência da vida, pois o cinema, como nenhuma outra arte, alarga, intensifica e concentra a experiência que uma pessoa tem. E não apenas a intensifica, mas prolonga-a de forma significativa. Esse é o poder do cinema: as estrelas, os enredos e o entretenimento nada têm a ver com isso.”
Perdido na Praia (2022) de João Campos
por Alexandra Barros
“Not all those who wander are lost.”[1]
J.R.R. Tolkien
A praia de João Campos não é a praia dos postais outrora enviados por quem ia a banhos, nem a das fotografias publicadas no Instagram exibindo férias perfeitas, com areia dourada, céu azul, sol radiante, mar sereno e esmeralda, tudo em cores saturadas e um
grande sorriso em primeiro plano.
A imagem inicial do filme, com um caótico amontoado de brinquedos de praia amarelos,
cor-de-laranja, azuis, verdes e vermelhos, ladeados por dois pára-ventos, remete para os infindáveis dias de verão da infância, numa dessas praias dos bilhetes-postais ilustrados. Mas logo somos transportados para os sépias, cinzas e prateados de uma beira-mar encortinada por denso nevoeiro. Ao longe, há figuras humanas, negras, fundidas na paisagem. Não é certo se o nevoeiro as engole ou se, a partir dele, se consubstanciam. Imagens memoráveis, pela beleza intrínseca das fotografias e pelas viagens demoradas da câmara pelas imagens fixas, a evocar o extraordinário Chris Marker de La Jetée. O tempo parece parado e estes vultos aparentam estar para sempre encerrados numa bruma tão espessa que impede os movimentos.
Afinal vão agora ganhando vida e cor à medida que o nevoeiro se dissipa. E eis que, por um breve instante, o bilhete-postal é fidedigno. Porém, de imediato perde o acerto, porque lhe faltam: as sombras dançantes das paredes desfraldadas das barracas, violentamente sacudidas pelo vento; as partículas luzidias de quartzo, atiradas pelo ar; as rajadas impressas na areia.
O olhar acurado de João Campos recolhe: as estrelas que também há nas pequenas poças de água[2] da baixa-mar; feixes de luz solar que, furando o manto de nuvens, depositam constelações na superfície tranquila do mar enoitecido; o rasto cintilante das ondas que regressam ao oceano, na praia negra e dourada do lusco-fusco; céus vibrantes e céus soturnos, onde se acumulam pinceladas de nuvens ora luzentes ora pardas, aqui trágicas, ali graciosas, agora delicadas, e agora sinistras, umas macias, outras engelhadas.
Detalhes aparentemente banais das rochas, ou desenhos nelas criados (ao longo dos anos) pela acção conjunta do mar e do vento, do sal e do sol, das algas, dos moluscos e dos líquenes, são transformados em imagens onde convivem engenhosamente o documental e o abstracto, por vezes evocando a pintura de Anselm Kiefer.
Um poema de Sophia dá a partida ao périplo de João Campos por estas micro-paisagens. Outros se seguirão, acompanhados pelos sons do mar, do vento, de música que oscila entre o melancólico e o inquietante, reforçando a sensação de estarmos num lugar simultaneamente comum e inexplorado, familiar e misterioso. Partindo das suas memórias de infância, João Campos montou um admirável poema visual dedicado à praia, onde, mais do que se perder, (se) encontrou.
[1] Nem todos os que vagueiam estão perdidos.
[2] “Nas pequenas poças de água também há estrelas.”, Sophia de Mello Breyner Andresen.
segunda-feira, 17 de junho de 2024
348ª sessão: dia 18 de Junho (Terça-Feira), às 21h30
Curta de João Campos e longa de Tarkovsky, para ver na BLCS
Durante o mês de Junho, o Lucky Star – Cineclube de Braga promove um ciclo dedicado a realizadores que exercem a sua actividade no Minho e às suas escolhas. Os convidados para esta ocasião serão David Ferreira, da cidade de Guimarães, e Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti de Braga. As sessões realizam-se sempre às terças-feiras às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.
O ciclo, intitulado “A cada um, o seu cinema: 4 curtas, 4 realizadores e 4 escolhas”, continua terça-feira à noite com a exibição de Perdido na Praia de João Campos, apresentado como um trabalho sobre o prazer de estar perdido. Para acompanhar esta sua curta-metragem, João Campos escolheu O Espelho de Andrei Tarkovsky, obra vagamente auto-biográfica em que um homem de quarenta anos às portas da morte recorda o seu passado.
“Enquanto criança perdia-me, constantemente, de quem me acompanhava para observar tudo o que, para mim, era novo.”, escreveu João Campos numa apresentação da sua curta, em 2023. “O medo surgia depois quando dava por mim sozinho. Agora, obrigo-me a perder-me porque sei que vou descobrir mundos desconhecidos que me encantam e que, por vezes, me ligam à Poesia, como acontece neste caso com a da Sophia de Mello Breyner Andresen e a sua ligação com o Mar.”
O Espelho centra-se num homem de quarenta anos, às portas da morte, que recorda o seu passado, da infância vivida durante a Segunda Guerra Mundial às grandes mudanças na sociedade soviética do pós-guerra. Vagamente autobiográfico, incorpora cinejornais, sonhos, imagens a cores, preto e branco e sépia, além de poemas lidos pelo pai de Andrei Tarkovsky, Arseny.
“Tarkovski procura a alma das coisas,” escreveu Michel Mourlet em 1978. “Daí a sua obsessão com o que se repete: rostos, destinos. A repetição é o desvelar, ao longo do tempo e das aparências, de uma realidade permanente e secreta. O tempo de O Espelho não é aquele da narração cronológica, mas o da fascinação: regressar incessantemente a certos momentos privilegiados.”
As sessões do mês de Junho contarão com as presenças de David Ferreira, Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti, que falarão com o público sobre o seu trabalho e as suas escolhas.
As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star - Cineclube de Braga têm entrada livre.
Até Terça-Feira!
sexta-feira, 14 de junho de 2024
12 Angry Men (1957) de Sidney Lumet
por Nuno Dias
Sidney Lumet começou a sua carreira em criança, como ator em peças de teatro e da Broadway em Nova Iorque, cidade onde cresceu. Anos mais tarde, estreou-se no mundo do cinema pouco antes de ter de prestar serviço militar durante a 2a Guerra Mundial. Após a guerra, regressou a Nova Iorque,
onde trabalhou como professor de artes cénicas e dramáticas e, mais tarde, realizou alguns episódios de
televisão para a CBS. Doze Homens em Fúria foi a sua primeira longa-metragem, que realizou em 1957, protagonizada por Henry Fonda. O filme, adaptado de uma peça televisiva de 1954, tornou-se um clássico do designado “courtroom drama,” ou “drama de tribunal,” e lançou Lumet numa longa e bem-sucedida carreira de cinema. Os seus filmes, muitos deles adaptações de peças de teatro, frequentemente tiveram pouco êxito em bilheteira, mas foram quase sempre bem recebidos pela crítica. Algumas das principais
obras que se destacaram incluem Missão Suicida, O Agiota, A Colina Maldita, Serpico, Escândalo na TV,
Um Dia de Cão, O Veredicto e Um Crime no Expresso do Oriente. Contudo, Doze Homens em Fúria permanece um dos títulos mais ilustres da sua carreira, e aborda vários temas que se manifestam em todo o seu percurso fílmico.
Ao inspecionar a obra de Lumet, é notório o seu interesse não só por instituições policiais e jurídicas, mas também por sistemas de poder, e como esse poder é recorrentemente abusado e corrompido por aqueles que o detêm. Contudo, a perspetiva dos seus filmes é mais profunda do que uma mera exposição da injustiça social ou política vivida nos Estados Unidos, ou o desequilíbrio na dinâmica entre classes e governo. Nos seus filmes, Lumet explora as nuances que existem em torno dessas dinâmicas, como se manifestam no quotidiano e como a corrupção presente em muitas instituições estabelecidas na sociedade norte-americana é justificada, ou mesmo aceitada pelos próprios cidadãos, para a preservação de
um falso equilíbrio social. No caso de Doze Homens em Fúria, cuja narrativa decorre em torno da deliberação de doze jurados sobre um caso de homicídio que culminará em pena de morte, a acusação satírica não poderia ser mais evidente. Numa sala de doze jurados, onze dos quais estão absolutamente convictos de que o arguido, uma criança de etnia minoritária, é culpado sem ponderarem o caso
detalhadamente, apenas um manifesta a sua preocupação em questionar a veracidade dos factos. No final da deliberação, a certeza inquestionável da culpabilidade do réu é seriamente contestada e retrospetivamente atribuída a negligência, preconceito e até mesmo mágoa pessoal. Assim, fora o erro emocional e individual do sistema jurídico que teria falhado o jovem arguido e perpetuado uma narrativa preconceituosa sobre uma determinada classe e fração populacional. Por conseguinte, é sugerida uma reflexão de como a justiça teria permitido tal fracasso ético não fosse pela honestidade intelectual de um único homem que denotou um tipo de corrupção que não é intencional, mas que estava embrenhada no vocabulário coletivo da sociedade norte-americana da época. O filme, deste modo, é um caso de estudo sobre como os preconceitos, a parcialidade e os interesses individuais, mesmo inconscientes, contribuem para a corrupção de uma instituição de poder.
Lumet é conhecido também por suscitar atuações intensas e climáticas nos atores dos seus filmes,
e Doze Homens em Fúria não é exceção. As suas histórias tendem a desenvolver-se em torno de um único incidente central, cujas ramificações narrativas nunca se afastam muito do tronco principal. Tal como
Sonny e Sal em Um Dia de Cão, forçados a permanecer no banco que tentaram assaltar rapidamente, ou Poirot e restantes passageiros em Um Crime no Expresso do Oriente, presos no comboio com um
assassino entre eles, também os jurados em Doze Homens em Fúria se vêem confinados a uma pequena sala de tribunal até chegarem a uma decisão unânime sobre o caso. Uma sensação de claustrofobia instala- se no enredo, ainda mais agravada pelas condições físicas do espaço, o crescente calor, a impaciência, e a animosidade entre os membros do júri. Durante todo o filme, o espectador está confinado à mesma sala que os personagens, obrigado a desvendar o caso em conjunto com eles. Esta é uma caraterística muito proeminente do filme, e cria uma tensão natural que aumenta gradualmente com o tempo, até culminar num êxtase emocional com a concordância entre os jurados. Ao total, o enredo parece decorrer numa única cena de longa duração, que nunca perde o seu passo graças à excelente interpretação dos atores, à escrita cativante e à realização expressiva de Lumet, diversa e dinâmica em escalas e movimentos de planos.
Rapariga com Um Espelho (2022) de Nuno Dias
por José Amaro
O Nuno Dias começou a aparecer nas sessões do Lucky Star em 2022, ano em que se fez sócio. Vinha com razoável regularidade, sempre com aquele ar tímido de quem pede desculpa por estar ali. Por estar onde faz todo o sentido que esteja.
Há uns meses atrás, creio que em outubro, o Nuno Dias veio, insisto, timidamente, propor-nos que exibíssemos uma curta metragem sua. Tratou-se de uma sessão muito intimista, não pública porque aquela curta ainda não tinha sido estreada e estava em fase de candidatura a festivais.
Foi um prazer ver aquele trabalho sobre o qual continuamos a não poder falar mas que, a seu tempo, será exibido numa das nossas sessões.
Quando pensámos no Ciclo deste mês de junho “A cada um o seu Cinema - 4 curtas, 4 Realizadores e 4 Escolhas” o Nuno surgiu-nos, imediatamente, como um dos realizadores a convidar, convite que aceitou prontamente.
A curta que nos traz, é a que hoje exibimos, Rapariga Com Um Espelho, produzida no âmbito da sua Licenciatura em Cinema na Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior.
Trata-se de um filme já premiado. Em 2021, recebeu o “Cardinal Audience Choice Award”, no CineMapúa International Student Short Film Festival e, em 2022, um galardão no Festival de Cinema de Avanca, com o Prémio <30, destinado a realizadores com menos de 30 anos.
Rapariga com Um Espelho ficciona a frustração crescente de Victória, uma jovem modelo, ao posar para Eduardo, o pintor que escolheu e espera que venha a imortalizar a sua beleza. É assim que vamos percebendo como a vaidade de Victória a atormenta e frusta ao deparar-se com a relutância de Eduardo em mostrar-lhe a evolução do quadro. É para o que a câmara do Nuno nos encaminha, através dos grandes detalhes da jovem modelo ao captar-lhe expressões faciais que conseguem trazer-nos as suas emoções. Ou mesmo com o espelho, afinal um elemento de importância substancial na introspeção de Victória.
Toda a ambiência do filme e falamos das cores, dos cenários, da luz, da própria música e mesmo dos silêncios e da lentidão de todo o seu ritmo da câmara, a própria forma contida como os personagens se expressam, são elementos fundamentais, meticulosamente trabalhados para nos fazer compreender a psicologia da Rapariga com (ou sem) um espelho.
domingo, 9 de junho de 2024
347ª sessão: dia 11 de Junho (Terça-Feira), às 21h30
Curta de Nuno Dias e longa de Lumet, para ver na BLCS
Durante o mês de Junho, o Lucky Star – Cineclube de Braga promove um ciclo dedicado a realizadores que exercem a sua actividade no Minho e às suas escolhas. Os convidados para esta ocasião serão David Ferreira, da cidade de Guimarães, e Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti de Braga. As sessões realizam-se sempre às terças-feiras às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.
O ciclo, intitulado “A cada um, o seu cinema: 4 curtas, 4 realizadores e 4 escolhas”, continua terça-feira à noite com a exibição de Rapariga com um Espelho de Nuno Dias. Realizada há três anos em contexto curricular, a curta-metragem é sobre uma modelo, Victoria, que contrata um artista, Eduardo, para lhe pintar um retrato. Para a acompanhar, Nuno Dias escolheu a primeira longa-metragem para cinema de Sidney Lumet, Doze Homens em Fúria.
O ano passado, esta curta de Nuno Dias foi premiada no CineMapúa International Student Short Film Festival com o Cardinal Audience Choice Award, recebendo ainda o Prémio <30, destinado a realizadores com menos de 30 anos, no Festival de Cinema Avanca de 2022.
Doze Homens em Fúria, de 1957, contada como a primeira longa-metragem de Sidney Lumet pela história oficial do cinema, que nunca tem em conta a vasta obra que o americano realizou para a televisão, descreve a deliberação de doze jurados num caso de homicídio e as tensões que se criam entre eles durante o processo. É baseada num argumento de Reginald Rose, escrito originalmente para a série “Studio One”. O programa foi realizado por Franklin J. Schaffner e interpretado ao vivo em 20 de Setembro de 1954, na CBS.
Com Henry Fonda no papel principal, o filme conta ainda com as interpretações de Martin Balsam, John Fiedler, Lee J. Cobb, E.G. Marshall, Jack Klugman, Edward Binns, Jack Warden, Joseph Sweeney, Ed Begley, George Voskovec e Robert Webber nos papéis dos restantes jurados. Foi nomeado para os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado na trigésima edição dos Óscares da Academia.
As sessões do mês de Junho contarão com as presenças de David Ferreira, Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti, que falarão com o público sobre o seu trabalho e as suas escolhas.
As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star - Cineclube de Braga têm entrada livre.
Até Terça!
sábado, 8 de junho de 2024
The Last Picture Show (1971) de Peter Bogdanovich
por David Ferreira
The Last Picture Show retrata a vida numa pequena cidade do Texas no início dos anos 1950. A partir do local e da era, e da forma como o filme é dirigido e fotografado, sentimos de forma melancólica a busca de identidade e propósito nesta passagem da adolescência para a idade adulta.
Bogdanovich filma com a mestria dos seus heróis (Ford, Hawks) a transição para a vida adulta com uma honestidade brutal, sem cair em sentimentalismos fáceis. A complexidade da feminidade e a sexualidade neste retrato é tratada de forma franca e, por vezes, controversa, 50s à la 70s, sem as 7 saias mas com mamas. As relações humanas refletem a busca desesperada dos personagens por conexão e significado, no deserto daquela cidade decadente e enfadonha.
E nesse deserto, o cinema seria um dos locais de escape e diversão; já para o fim, Ms. Mooney lamenta tê-lo perdido para o futebol e a televisão.
Este fim metaforiza com o fim daquela era (que terminaria no fim da década). Este fim do cinema já se preconiza há muito. Talvez hoje vivamos o maior estado de indefinição desta nossa arte - para onde se caminha entre os super heróis e a ideologia e para onde se caminha como linguagem na relação com um publico que flutua (afoga) num oceano de imagem precocemente "ejaculada"(?).
Eu não sei.
Lixo e Companhia Ltd (2012) de David Ferreira
por João Palhares
Dir-nos-ão que é normal e que se deve aceitar esperar pelo menos um ano para submeter um projecto entre centenas de outros projectos para a avaliação de um júri idóneo e isento, que tendo a sorte de se ser seleccionado e acabar com um filme nas mãos também se deve depois então passar
outro ano a preencher dezenas e dezenas de formulários de inscrição para os festivais do mundo inteiro e ceder-lhes o exclusivo da estreia internacional, europeia ou nacional e esperar que seja premiado para conseguir que circule nas salas algures no ano seguinte; três ou quatro anos depois, descontando o tempo que se levou a pensar, escrever, re-escrever, procurar um produtor, escolher actores, ensaiar com eles, planear, tentar equilibrar o que é pensado com a frescura do imponderável, filmar, montar, fazer os ajustes de pós-produção, dar entrevistas e esperar que algum jornal contrarie as modas e fale sobre ele e sobre outros circuitos de exibição, e até sendo premiado, pode passar apenas uma semana numa só sala em Lisboa e começar depois a procurar o seu lugar num horário tardio na televisão portuguesa.
Assim vai a vida para um jovem realizador em Portugal. E como se tem de pagar contas, mesmo que não se desista, que também acontece, há muito quem arranje outros empregos, relacionados ou não com cinema, como há quem se vire para a publicidade e para os casamentos, a televisão e o vídeo institucional, enfim, são as sequelas mais práticas e mais imediatas do esquema de produção por terras portuguesas. Há outras, porque por vezes uma ideia e um projecto podem perder algo de importante e genuíno com todas as filtragens burocráticas e diplomáticas que se lhe arremetem pelo caminho, no que se escreve quando se apresenta o projecto, no que se cede a produtores e equipas técnicas, no que se projecta em termos de recepção e aceitação em festivais e televisões... “Perdemo-nos nas coisas quando contámos o nosso filme,” disse Pedro Costa em entrevista este ano. “Perdemo-nos no nosso próprio discurso, no nosso próprio fascínio. É mau, e o filme devia ser um segredo entre nós e muito poucas pessoas, ou entre nós e o espaço, sabem, é aquela floresta, é aquela rapariga, é aquele homem, devia ficar entre nós, e é muito íntimo, e é parte do segredo. A ideia do pitching, o método ou a política do pitching está a matar uma data de coisas para esses projectos; é óbvio, e depois entra-se num sistema que é a forma normal, convencional, comercial e capitalista de fazer um filme. Financiar e pensar através do discurso à volta destas coisas. Eu nunca pensei que iria chegar a isto, a este lugar horrível a que se chegou. Perguntam-nos quais são as nossas metas para este filme. Quando eu era novo, nunca pensei em metas, e quando eles dizem metas, tem de se concorrer a dinheiro para o filme. Tem de se escrever um texto não só sobre como se planeia financiar o filme mas também sobre a quem o filme se dirige, quantos países, para quantos, que tipo de mercado, etc. Portanto a palavra mercado está lá quase no princípio da vida de um jovem cineasta, e não devia estar.”[1]
“É uma coisa terrível isto de fazer um filme com tantos técnicos à nossa volta,” disse Arthur Penn em 1967 a Jean-Louis Comolli e André S. Labarthe, “tanta gente muito qualificada e muito hábil: se temos uma ideia, ela vê-se imediatamente filtrada como o fumo pelo filtro de um cigarro. Cada um dos que nos rodeia sabe exactamente como é que a nossa ideia deve ser realizada, e aquilo que acaba por sair de todos esses esforços precisos, não é a nossa ideia, mas o arquétipo da ideia hollywoodiana, o lugar comum, o banal.”[2] Tudo isto são obstáculos evidentes para quem começa e continua o seu trabalho em cinema, em Portugal ou noutro sítio, e há quem crie as suas defesas e os seus mecanismos para os superar. Uma solução, é fazer filmes com poucas pessoas e com poucos meios, tentando aprender as lições dos artesãos da Poverty Row americana, como Edgar G. Ulmer, Phil Karlson, Joseph H. Lewis ou Budd Boetticher, do engenhoso e criativo Roger Corman que tinha como credo e posição na indústria produzir dez filmes de um milhão de dólares em vez de um filme de dez milhões de dólares, ou de uma vasta gama de artistas que vão do cinema experimental aos cinemas novos e recusaram os esquemas tradicionais de financiamento, produção e exibição como se convencionaram dos anos oitenta a esta parte.
Enfim, o ideal é criar o tempo e os meios necessários para que o trabalho não se apresse, para que a visualização e a discussão desse trabalho também não se apressem, para que o acto de mostrar os próprios filmes não seja assim tão diferente de ter uma conversa calma e cândida sobre um tema sério, sem que o rebuliço dos horários e das próximas sessões e dos almoços e dos jantares e das viagens façam perder o fim em vista. Sem que haja multidões instigadas maliciosamente a não perder a próxima atracção, “mais um filme a não perder”, “o próximo Coppola”, quase 24 horas por dia. Assim, é possível escrever sobre um filme do século passado neste século ou falar de uma curta-metragem de 2012 em 2024.
O David Ferreira é alguém que, desde os tempos do curso na Covilhã, revelou sempre uma aptidão pouco comum para pensar as coisas em termos de imagens, hierarquias nos enquadramentos, posições de câmara e trajectórias de luz em movimento, quando o esperado e maioritariamente realizado era o demasiado escrito, o delineado em tramas, diálogos e temas em voga, o imaginado pela mente delirante dos jovens criadores. Tem um fascínio salutar pelas pessoas da sua terra, de que tenta dar testemunho em tudo o que vai fazendo e quando o consegue fazer. É possível ver isto nesta sua curta-metragem, em que as personagens de António Parra e Valdemar Santos são olhadas com uma certa reverência, com a câmara posicionada dentro do camião que os transporta (pormenor que terá certamente as suas explicações técnicas, mas que não deixa de ter o seu quê de intrigante e revelador, uma tentativa inocente de aproximação do realizador ao pequeno mundo que o atrai e que decide filmar), e a esgalhar belos apontamentos deles a olhar para a estrada que os embala ou de uma ambulância imprevista a desestabilizar a noite. Também nos gestos da personagem de Santos, certamente modelados a partir de alguém que os fez à sua frente vezes sem conta. Possivelmente faltam silêncios, talvez faltem pistas para o conhecimento mútuo destes dois homens, a noite parece pequena demais para o que quer abarcar, mas é preciso aprender trabalhando, ensaiar e cometer erros, e o David tirou com certeza as suas ilações desta
experiência pois fez o Campos Belos o ano passado.
[1] in «Interview with Pedro Costa», por Enes Serenli, Mert Mustafa Babacan, Matthias Kyska, Othon Cinema, 4 de Abril de 2024.
[2] in «Cahiers du Cinéma», nº 196, Dezembro de 1967.
domingo, 2 de junho de 2024
346ª sessão: dia 4 de Junho (Terça-Feira), às 21h30
Curta de David Ferreira e longa de Bogdanovich, para ver na BLCS
Durante o mês de Junho, o Lucky Star – Cineclube de Braga promove um ciclo dedicado a realizadores que exercem a sua actividade no Minho e às suas escolhas. Os quatro convidados para esta ocasião serão David Ferreira, da cidade de Guimarães, e Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti de Braga. As sessões realizam-se sempre às terças-feiras às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.
O ciclo, intitulado “A cada um, o seu cinema: 4 curtas, 4 realizadores e 4 escolhas”, terá início terça-feira à noite com a exibição de Lixo & Companhia Ltd de David Ferreira. A curta-metragem de 2012 centra-se em dois homens, um bastante jovem e o outro mais velho, que iniciam mais uma noite de trabalho a recolher o lixo pela cidade. Para a acompanhar, David Ferreira escolheu a terceira longa-metragem de Peter Bogdanovich, A Última Sessão.
Produzida em 2011 no contexto da Guimarães Capital Europeia da Cultura, ao abrigo do projecto Curtas Novais Teixeira, a curta-metragem foi um dos oito projectos seleccionados entre cerca de quarenta candidaturas. "Há apenas duas personagens,” disse David Ferreira à Lusa nesse mesmo ano. “Dois varredores de lixo, um com 40 anos e o outro, um recém-licenciado, que não arranjou mais nada para fazer. Vão atirando as frustrações que sentem um para cima do outro.”
A Última Sessão, de Peter Bogdanovich, acompanha um grupo de jovens texanos que estão a acabar o liceu em 1951. Baseado num romance de Larry McMurtry, que escreveu o guião do filme com Bogdanovich, o filme foi nomeado para oito Óscares da Academia, vencendo os de Melhor Actor Secundário, para Ben Johnson, e Melhor Actriz Secundária, para Ellen Burstyn.
Em 1971, o jornalista e poeta texano Grover Lewis, amigo de McMurtry, acompanhou a rodagem do filme em Archer City para a revista Rolling Stone, publicando aquela que será certamente uma das melhores reportagens já escritas sobre cinema, “Splendor in the Short Grass”. Foi convidado ainda a aparecer no filme, no papel de Sr. Crawford.
As sessões do mês de Junho contarão com as presenças de David Ferreira, Nuno Dias, João Campos e Inara Chayamiti, que falarão com o público sobre o seu trabalho e as suas escolhas.
As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star - Cineclube de Braga têm entrada livre.
Até Terça-Feira!