tag:blogger.com,1999:blog-25028733783530195242024-03-18T16:31:22.584+00:00LUCKY STAR - Cineclube de BragaLucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.comBlogger809125tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-70599566284253987082024-03-18T16:30:00.000+00:002024-03-18T16:30:50.562+00:00335ª sessão: dia 19 de Março (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8stJLxHYi2FBqR5QSEuQNH0xd-FvwQtsOssN62Jzl5X-Du0if7Fiw-ncfYig5H-yE_PI_-dL4bgfI7-jL1HJhm31QRlY-jHHB6HWybLFbBhY-W7sGCoJdwbZMBJz8pMHBxBqn_LZcE1Yi6n8HT_zYjIne7Vs0BPP7TJlCgXjIVPt6xeBil7bjl7qYh_A/s1280/apiahr00p__77114.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="844" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8stJLxHYi2FBqR5QSEuQNH0xd-FvwQtsOssN62Jzl5X-Du0if7Fiw-ncfYig5H-yE_PI_-dL4bgfI7-jL1HJhm31QRlY-jHHB6HWybLFbBhY-W7sGCoJdwbZMBJz8pMHBxBqn_LZcE1Yi6n8HT_zYjIne7Vs0BPP7TJlCgXjIVPt6xeBil7bjl7qYh_A/w422-h640/apiahr00p__77114.jpg" width="422" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“Cruel Vitória” para ver no cineclube </b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Este mês de Março, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe quatro longas-metragens do cineasta norte-americano Nicholas Ray no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O corrente ciclo, intitulado “Mais do que cinema - Os filmes de Nicholas Ray”, continua terça-feira às 21h30 com a exibição de <b>Cruel Vitória</b>, com Richard Burton e Curd Jürgens nos papéis de um capitão e de um major que são entrevistados para liderar uma missão perigosa atrás das linhas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, na Campanha do Deserto Ocidental. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Nicholas Ray nasceu Raymond Nicholas Kienzle Jr. em Galesville, no Winsconsin, em 1911, falecendo aos 67 anos em Nova Iorque, a 16 de Junho de 1979. Trabalhou no sistema de estúdios de Hollywood durante os anos quarenta, cinquenta e sessenta, chamando a atenção dos críticos da revista francesa <i>Cahiers du Cinéma</i>, que mais tarde se tornariam também realizadores. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Influenciou ainda toda uma geração de jovens cineastas durante a década de setenta, alunos e admiradores como os americanos Jim Jarmusch, Dennis Hopper e Jon Jost ou o alemão Wim Wenders, que terminou com ele uma última obra, <b>Lightning Over Water</b>. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Nunca antes as personagens de um filme pareceram tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes,” escreveu Jean-Luc Godard sobre este filme. “Confrontados com as ruas desertas de Benghazi ou com as dunas, pensamos de repente e pelo espaço de um segundo noutra coisa - os snack-bars nos Campos Elísios, uma rapariga de quem se gostava, tudo e mais alguma coisa, mentiras, a perfídia das mulheres, a futilidade dos homens, jogar nas <i>slot machines</i>.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Porque <b>Cruel Vitória</b> não é um reflexo da vida,” continuava o franco-suíço, “é a própria vida transformada em filme, vista por detrás do espelho em que o cinema a intercepta. É ao mesmo tempo o mais directo e o mais secreto dos filmes, o mais subtil e o mais bruto. Não é cinema, é mais do que cinema.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Como se pode falar de um filme destes,” terminava. “Qual é o sentido de dizer que o encontro entre Richard Burton e Ruth Roman enquanto Curt Jurgens observa é montado com um brio fantástico? Talvez esta tenha sido uma das cenas durante as quais fechámos os olhos. Porque <b>Cruel Vitória</b> faz-nos fechar os olhos, como o sol. A verdade cega.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-30656201811332316512024-03-13T18:18:00.003+00:002024-03-13T19:14:12.633+00:00Bigger than Life (1956) de Nicholas Ray<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL-JaKMkV2mgUAzzApd3xj5pN6mKOiAIuHUeMZrJ45331Cv_0KBBMJbMT7NENOmhVFg57_uqsoONOj6L8GV8-FIRyVSrozVeG5VJSaqt3S9C2Z9seZr1Jz6mNPWzaCGbvqP0Ry6TOnWNQ1GMdQNtrNDpGQjzPZDL7-l1hBX9kLSBMbb20XACx-TV937sk/s1920/Bigger-Than-Life-029.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="751" data-original-width="1920" height="346" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL-JaKMkV2mgUAzzApd3xj5pN6mKOiAIuHUeMZrJ45331Cv_0KBBMJbMT7NENOmhVFg57_uqsoONOj6L8GV8-FIRyVSrozVeG5VJSaqt3S9C2Z9seZr1Jz6mNPWzaCGbvqP0Ry6TOnWNQ1GMdQNtrNDpGQjzPZDL7-l1hBX9kLSBMbb20XACx-TV937sk/w640-h250/Bigger-Than-Life-029.jpg" width="885" /></a></div><br /><div>por Alexandra Barros</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os romanos acreditavam que o álcool libertava as pessoas das amarras das conveniências sociais. Sob o efeito do vinho, as pessoas revelariam o que de facto sentem e pensam: <i>In vino veritas / No
vinho está a verdade.</i> <b>Bigger Than Life</b> parece ter como subtexto (ou melhor, como um dos seus subtextos) uma variante deste adágio: <i>In cortisone veritas / Na cortisona está a verdade. </i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pai e marido estimado, tanto quanto professor considerado, Ed vai-se transformando num déspota cada vez mais violento e psicótico, à medida que reforça secretamente a dose dos analgésicos que toma. A cortisona foi-lhe prescrita para aliviar as dores decorrentes de uma doença incurável, diagnosticada após um inesperado colapso físico. Quando tem alta do hospital, regressa a casa num estado de grande euforia. Está também invulgarmente egocêntrico e autoritário, comportando-se como se Lou, sua mulher, existisse para servi-lo. Até que o estado de graça que a convalescença lhe concedeu é dado por terminado. Quando Lou pousa violentamente a chaleira com que repetidamente trouxe água a ferver para preparar o banho exigido pelo marido, o espelho em que Ed se mirava, estilhaça-se em pequenos fragmentos. Ed está agora frente a frente com um puzzle desmontado do seu rosto sofrido. E, para se reconstruir, recorre aos comprimidos que eliminam instantaneamente as aflições da alma tanto quanto as do corpo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Mais do que o alívio das dores, Ed parece procurar na cortisona a sensação de agigantamento que a droga lhe proporciona. Para nos dar acesso ao turbilhão de emoções induzidas pela cortisona, Ray recorre a metáforas visuais onde o corpo transformado de Ed revela o seu mundo interior. Quando Ed regressa à escola, depois do internamento hospitalar, esta parece uma miniatura perante o seu corpo descomunal. Mais tarde, é a sombra desmesurada do seu corpo drogado que persegue, aterroriza e encurrala o próprio filho (Richie), numa casa tornada demasiado pequena para as suas enormes ambições. É tal o superpoder que a droga lhe parece oferecer, que Ed chega a convencer-se que sabe mais que Deus: <i>“God was wrong</i>”[1], brada num momento de total alucinação. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sob o efeito da medicação, Ed recusa “portar-se bem”. Quando obriga a mulher a escolher um vestido numa loja luxuosa, não se deixa intimidar pelos narizes empinados com que são recebidos. É rude, prepotente, gasta dinheiro de forma irreflectida. Na inauguração de uma exposição de desenhos dos seus alunos, afronta a comunidade escolar criticando de forma feroz as obras das crianças, os respectivos pais e a própria instituição a que pertence. Em casa, expressa a intenção de abandonar o lar e a família, onde se sente atrofiado, para se dedicar inteiramente aos seus interesses pessoais: o estudo e a investigação. O que se passará com o bom Ed? - interroga-se a família e os amigos. Nicholas Ray disseminou pelo filme vários indícios que insinuam que este aparentemente transfigurado Ed talvez não seja assim tão diferente do Ed “normal”. As manifestações de um desejo de evasão do sufoco do lar e da rotina, por exemplo, estiveram sempre lá: por toda a casa estão espalhados grandes cartazes com imagens de lugares longínquos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Num momento de lucidez, Ed apercebe-se das suas oscilações entre <i>Dr Jeckyl e Mr. Hyde</i>[2], mas a vontade de suprimir as dores fala mais alto que o propósito de sufocar <i>Mr. Hyde.</i> O preço elevado do poder da medicação acaba por ser cobrado. Provavelmente estava escrito na bula com as letras pequeninas com que se ocultam os senãos das pílulas douradas. Ed é novamente internado. Desta vez, o colapso é provocado pelos efeitos secundários das doses elevadas de cortisona. Não há curas milagrosas para os nossos males. As fugas à realidade oferecidas por poções mágicas, sejam elas legais ou não, são ilusórias. No fundo do túnel que abrem à frente dos consumidores parece existir <i>A LUZ. </i>Esta acaba por revelar-se um fogo que tudo consome. Ray tinge de vermelho a cena que culmina no desfalecimento de Ed. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando Ed acorda da sedação induzida no seu segundo internamento hospitalar, reage fortemente à luz proveniente de uma grande lâmpada circular. Apavorado, suplica: “Apaguem o sol”. A cortisona deu-lhe asas, mas estas afinal eram de cera[3]. Sabe que uma próxima queda poderá ser fatal e chama a si a mulher e o filho, refugiando-se no porto seguro do calor familiar e da vida doméstica. De acordo com João Bénard da Costa, chegámos “ao momento dos filmes de Ray que normalmente provoca maior perplexidade: o aparente <i>happy end</i>.”[4] No quarto hospitalar, todos parecem aliviados com o regresso à normalidade. O filme fecha com Ed pedindo que Lou e Richie se aproximem mais e mais (“<i>Closer, closer</i>!”) e puxando-os a si como se quisesse encerrar-se dentro da família[5]. Que significado tem esta imagem? Será o óbvio e típico hollywoodiano final em que a felicidade foi (re)conquistada? Citando novamente João Bénard da Costa: com Nicholas Ray, “Nunca disso se trata, mas da suprema irrisão.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[1] Deus estava enganado. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[2] <i>O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde</i>, de Robert Louis Stevenson </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[3] Ícaro, figura da mitologia grega, escapou do labirinto do Minotauro com umas asas de cera. Ignorou os avisos do pai para não voar
muito alto; aproximou-se do sol, que lhe derreteu as asas, e caiu no mar, onde se afogou. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[4] <a href="https://www.cinemateca.pt/CinematecaSite/media/Documentos/2020-11-02_BIGGER-THAN-LIFE.pdf ">https://www.cinemateca.pt/CinematecaSite/media/Documentos/2020-11-02_BIGGER-THAN-LIFE.pdf </a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[5] Em inglês, “closer” significa mais perto e “to close” significa fechar.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1-tb6qX03fG2WsooCRdIyZo8rk66iY1dK/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-52495930978214670622024-03-11T03:51:00.002+00:002024-03-11T03:51:40.744+00:00334ª sessão: dia 12 de Março (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6E2OjT4grxOGNBe5HzV0JFGLqBrL1PuPnbnkBwFhvoOcL4DApB-WYuBaP4B4OIpDYSu-SIrIZ5Iztj1ilwbMf6y1wc4ERT9OEGQYsPwptV9uuEh518WgM3Tol4mywLwliCuVj31ImZr6aB-HqmIV7-5cYYLqvlhHa7kOMHJbvjgGZVr4LuV-BqgUHqUo/s1920/p465_p_v11_aa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1920" data-original-width="1280" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6E2OjT4grxOGNBe5HzV0JFGLqBrL1PuPnbnkBwFhvoOcL4DApB-WYuBaP4B4OIpDYSu-SIrIZ5Iztj1ilwbMf6y1wc4ERT9OEGQYsPwptV9uuEh518WgM3Tol4mywLwliCuVj31ImZr6aB-HqmIV7-5cYYLqvlhHa7kOMHJbvjgGZVr4LuV-BqgUHqUo/w426-h640/p465_p_v11_aa.jpg" width="426" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“Atrás do Espelho”, com James Mason, na BLCS </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este mês de Março, o Lucky Star – Cineclube de Braga vai exibir quatro longas-metragens do cineasta norte-americano Nicholas Ray no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo, intitulado “Mais do que cinema - Os filmes de Nicholas Ray”, continua terça-feira às 21h30 com a exibição de <b>Atrás do Espelho</b>, a décima terceira longa-metragem de Ray, realizada em 1956 a cores e em Cinemascope, sobre um professor e pai de família, interpretado por James Mason, obrigado a trabalhar num segundo emprego para conseguir pagar as contas. Os seus desmaios frequentes levam-no a iniciar um tratamento experimental com cortisona. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nicholas Ray nasceu Raymond Nicholas Kienzle Jr. em Galesville, no Winsconsin, em 1911, falecendo aos 67 anos em Nova Iorque, a 16 de Junho de 1979. Trabalhou no sistema de estúdios de Hollywood durante os anos quarenta, cinquenta e sessenta, chamando a atenção dos críticos da revista francesa <i>Cahiers du Cinéma</i>, que mais tarde se tornariam também realizadores. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Influenciou ainda toda uma geração de jovens cineastas durante a década de setenta, alunos e admiradores como os americanos Jim Jarmusch, Dennis Hopper e Jon Jost ou o alemão Wim Wenders, que terminou com ele uma última obra, <b>Lightning Over Water</b>, de 1980, conhecido em Portugal como “Nick’s Movie - Um Acto de Amor”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“A minha finalidade,” <a href="https://www.cinemateca.pt/CinematecaSite/media/Documentos/2020-11-02_BIGGER-THAN-LIFE.pdf">disse</a> Nicholas Ray sobre este filme, “não era falar da cortisona, mas da perpétua passagem do ‘remédio que pode ser um mal’ ao ‘mal que pode ser um remédio’. Aliás o tema interessava-me porque, na nossa época, havia imensa gente que acreditava em curas milagrosas: esperavam-nas no plano económico, político, religioso, emocional, depois de três sessões passadas deitados num divã mole; iam aos bares com a esperança de que com três copos tudo se recompusesse; iam à igreja com a esperança de que, depois de ouvir três sermões, tudo voltasse a entrar na ordem; entravam na política, convencidos que com três reuniões acabavam com todos os males do mundo.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Mas não é assim que as coisas se remedeiam,” terminava o cineasta. “A minha personagem encontra um sucedâneo para a realidade quotidiana, mas esse sucedâneo leva-o a julgar-se o centro do mundo e a detestar todos os que amava e que o amam.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça-Feira!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-85896501789999190762024-03-11T02:36:00.005+00:002024-03-12T14:09:40.708+00:00In a Lonely Place (1950) de Nicholas Ray<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj16Z43jbZAAPLLgzSsNno6mAZEYN54Tw6pAP8lYp5hxCu9D_7NKqAxOcf_LOFV3hT59_kYmZLZHNoDBKxOwiODauKQp6ZSsTFeUsTv7DvZv7ezpjinFyLWteVFr3WGzcp_ishqNiWHGVJJFADBL20sGdRONe9guAmMWDsTfHgZptZIW5gClOT4mMgindA/s759/lonelyplace050.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="571" data-original-width="759" height="666" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj16Z43jbZAAPLLgzSsNno6mAZEYN54Tw6pAP8lYp5hxCu9D_7NKqAxOcf_LOFV3hT59_kYmZLZHNoDBKxOwiODauKQp6ZSsTFeUsTv7DvZv7ezpjinFyLWteVFr3WGzcp_ishqNiWHGVJJFADBL20sGdRONe9guAmMWDsTfHgZptZIW5gClOT4mMgindA/w640-h482/lonelyplace050.jpg" width="885" /></a></div><br /><div>por Rute Castro</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Nicholas Ray, nascido a 7 de agosto de 1911, na pacata cidade de Galesville, no Wisconsin, Estados Unidos, foi um dos cineastas mais queridos e influentes da sua geração. A sua paixão pela sétima arte levou-o a desbravar novos caminhos, desafiando constantemente as normas estabelecidas por
Hollywood. Além de realizar o emocionante <b>In a Lonely Place</b>, Ray brindou o mundo com outras obras-primas, como <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2023/03/rebel-without-cause-1955-de-nicholas-ray.html">Rebel Without a Cause</a></b> (1955), protagonizado pelo jovem e talentoso James Dean, e <b>Johnny
Guitar</b> (1954), com a icónica Joan Crawford. A sua personalidade excêntrica e apaixonada pela arte cinematográfica fez dele um cineasta verdadeiramente singular. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O seu estilo era caracterizado pela utilização de planos longos, pela fluidez da câmara e pela ênfase na mise en scène. Mais do que meramente técnico, Ray empregava meticulosamente a mise en scène para transmitir profundidade emocional e subtexto narrativo nas suas obras. Além disso, era conhecido pela sua capacidade de extrair atuações memoráveis de seus atores, mergulhando nas complexidades da psique humana e explorando os lados obscuros da natureza humana, temas intrínsecos ao cinema <i>noir</i>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>In a Lonely Place</b> foi uma oportunidade para Ray explorar esses temas de forma complexa e desafiadora, além de oferecer uma crítica incisiva à hipocrisia presente na indústria cinematográfica de Hollywood. Ao criticar a hipocrisia dessa indústria, Ray não apenas contextualiza a história dentro de um cenário específico, mas também oferece uma crítica social mais ampla. O ambiente de falsidade e superficialidade em que os personagens operam serve como pano de fundo para explorar questões mais profundas sobre a autenticidade, a identidade e a alienação na sociedade moderna. Esta abordagem
audaciosa e multifacetada do realizador ressoou profundamente entre os críticos de cinema, especialmente os influentes membros dos <i>Cahiers du Cinéma</i>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O trabalho de Ray é um marco no desenvolvimento do cinema <i>noir</i>, pois para ele este género não se limitava apenas a elementos estilísticos, era uma forma de expressão que mergulhava nas profundezas da alma humana, revelando as contradições e os conflitos latentes na sociedade contemporânea, representava mais do que apenas um estilo visual ou narrativo, era uma forma de arte que refletia as ansiedades e
angústias da sociedade pós-guerra. Em <b>In a Lonely Place</b>, Ray capturou essa essência de forma magistral, explorando não apenas o submundo de Los Angeles, mas também os abismos da alma humana. A personagem de Dix Steele, interpretada brilhantemente por Humphrey Bogart, personifica as contradições e conflitos morais que permeiam o <i>film noir</i>. A sua luta entre o desejo de redenção e a inevitabilidade do seu próprio destino ecoa preocupações existenciais com que todos nós nos identificamos. Além disso, a relação entre Dix e Laurel Gray, encarnada por Gloria Grahame, é um microcosmo das complexidades das relações humanas no mundo de Ray. A tensão entre confiança e desconfiança, amor e paranoia, é habilmente explorada, revelando camadas profundas de significado que vão além do enredo superficial. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Assim, <b>In a Lonely Place</b> destaca-se como mais do que apenas um filme <i>noir</i> excecional, é uma obra-prima que transcende os limites do género, oferecendo uma análise perspicaz da condição humana e das contradições inerentes à experiência humana. É através dessa lente crítica e sensível que o legado de Nicholas Ray continua a ressoar, inspirando gerações de cineastas e cinéfilos a explorar os recessos mais sombrios da psique humana com coragem e compaixão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>In a Lonely Place</b> é uma jornada emocional e intelectual que deixou uma marca indelével na minha memória cinematográfica. A interpretação magistral de Humphrey Bogart como Dix Steele é nada menos que arrebatadora, transmitindo a complexidade e a vulnerabilidade de um homem cuja fachada de dureza esconde uma alma atormentada. A química entre Bogart e Gloria Grahame, que interpreta Laurel Gray, é eletrizante, capturando a essência de um relacionamento carregado de tensão e desejo. Cada enquadramento meticulosamente elaborado por Nicholas Ray parece uma obra de arte em si mesma, revelando nuances emocionais e simbolismo subliminar que enriquecem a narrativa de forma profunda e comovente. Em particular, a cena do interrogatório de Dix é um momento de pura intensidade, onde a fragilidade da personagem é exposta de maneira visceral. É essa profundidade emocional e intelectual que
torna <b>In a Lonely Place</b> numa experiência cinematográfica verdadeiramente inesquecível, uma obra que ressoa muito para lá das fronteiras do género <i>noir</i> e continua a inspirar reflexões sobre a condição humana. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Considerado um dos melhores filmes <i>noir</i> de todos os tempos, <b>In a Lonely Place</b> é uma obra-prima do cinema americano dos anos 50. A realização de Nicholas Ray é exemplar, criando uma atmosfera claustrofóbica e tensa que acompanha a deterioração mental do protagonista. Humphrey Bogart e Gloria Grahame entregam atuações memoráveis, dando vida a personagens complexas e multifacetadas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><b>Nota:</b> O cinema <i>noir</i>, também conhecido como film <i>noir</i> (do francês, "filme negro"), é um género cinematográfico que emergiu principalmente nos Estados Unidos durante a década de 1940 e alcançou o seu auge de popularidade na década de 1950. Esse estilo cinematográfico é caracterizado por uma atmosfera sombria, personagens moralmente ambíguos, narrativas complexas e visual marcante, frequentemente caracterizado pelo uso de luzes e sombras contrastantes.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1jSqHObebqUtv5i--LlI90Gu0UmxKjIra/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-23870615081204087002024-03-03T22:18:00.002+00:002024-03-03T22:18:30.875+00:00333ª sessão: dia 5 de Março (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwCwBL_4J7VmJ8bHPrTExkDxRMXr8NLPDIxC9e9HNG5uFf1WHZDUYgRmiGiI_a0mwCnoHzAPjSB5VO9EfsFF4UIKRzfLav9GsxDNkxkLkDu9gi94AxLrvPCpwwLulgFIQdyJwB8IxNVe5UCL0HupuWTKS_WgFyOdg3CJKIMIRnJzyZBsw0GMtdAFgYbXQ/s1201/In_a_Lonely_Place_(1950_poster).jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1201" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwCwBL_4J7VmJ8bHPrTExkDxRMXr8NLPDIxC9e9HNG5uFf1WHZDUYgRmiGiI_a0mwCnoHzAPjSB5VO9EfsFF4UIKRzfLav9GsxDNkxkLkDu9gi94AxLrvPCpwwLulgFIQdyJwB8IxNVe5UCL0HupuWTKS_WgFyOdg3CJKIMIRnJzyZBsw0GMtdAFgYbXQ/w426-h640/In_a_Lonely_Place_(1950_poster).jpg" width="426" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“Matar ou não Matar” é a próxima sessão do Lucky Star </b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Este mês de Março, o Lucky Star – Cineclube de Braga vai exibir quatro longas-metragens do cineasta norte-americano Nicholas Ray no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O novo ciclo, intitulado “Mais do que cinema - Os filmes de Nicholas Ray”, inicia-se terça-feira às 21h30 com a exibição de <b>Matar ou não Matar</b>, a quarta longa-metragem de Ray, realizada em 1950, sobre um argumentista de Hollywood que não tem um filme bem sucedido desde os anos trinta e com Humphrey Bogart e Gloria Grahame nos principais papéis. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Nicholas Ray nasceu Raymond Nicholas Kienzle Jr. em Galesville, no Winsconsin, em 1911, falecendo aos 67 anos em Nova Iorque, a 16 de Junho de 1979. Trabalhou no sistema de estúdios de Hollywood durante os anos quarenta, cinquenta e sessenta, chamando a atenção dos críticos da revista francesa <i>Cahiers du Cinéma</i>, que mais tarde se tornariam também realizadores. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Ray influenciou ainda toda uma geração de jovens cineastas durante a década de setenta, alunos e admiradores como os americanos Jim Jarmusch, Dennis Hopper e Jon Jost ou o alemão Wim Wenders, que terminou com ele uma última obra, <b>Lightning Over Water</b>, de 1980, conhecido entre nós como “Nick’s Movie - Um Acto de Amor”. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Aquilo em que se repara em <b>Matar ou não Matar</b> é a vivacidade e a firmeza dos gestos e dos movimentos,” escreveu Bernard Eisenschitz no seu livro essencial dedicado ao cineasta norte-americano, <i>Roman Américain - Les vies de Nicholas Ray</i>, publicado em 1990, “a firmeza dos riscos tomados com os dois actores ao sabotá-los de forma deliberada.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Bogart, uma presença física,” continuava ele, “envelhecido, despojado da sua aura, de pijama ou com as mangas da camisa enroladas por cima de braços peludos — já não é o ícone na inevitável camisa branca imaculada dos seus últimos filmes na Warner (<b>Key Largo</b>).” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Num ensaio escrito para a revista britânica <i>Sight and Sound</i>, no Inverno de 1966, a actriz Louise Brooks <a href="https://www2.bfi.org.uk/news-opinion/sight-sound-magazine/archives/louise-brooks-on-humphrey-bogart">diz</a> que este filme “lhe deu um papel que ele podia interpretar com complexidade porque o orgulho na sua arte, o egoísmo, o alcoolismo, a escassez de energia golpeada com tacadas fulminantes de violência da personagem do filme, o argumentista, eram também partilhadas pelo verdadeiro Bogart.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-49659854482530640862024-03-01T01:21:00.002+00:002024-03-01T01:21:29.826+00:00Em Março, no Lucky Star:<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ia71GpWswOOwuJom9kheGNvzTZvsoGLyKKkCkql7jgVjid_R_S_MfWFEnKwoJUXfIi6_mjoAy0gwHDZ_ccmcuL-8_O04hhHSiKFAaZnBYpFbwZWK0HrHg4mUXRgU9hjoXsrCKF87l_QGnb7giv82uvm8blalSRyOrKLVsTwyRSJ4hv1NEimPFobiYV4/s3149/Marc%CC%A7o2024.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3149" data-original-width="2362" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ia71GpWswOOwuJom9kheGNvzTZvsoGLyKKkCkql7jgVjid_R_S_MfWFEnKwoJUXfIi6_mjoAy0gwHDZ_ccmcuL-8_O04hhHSiKFAaZnBYpFbwZWK0HrHg4mUXRgU9hjoXsrCKF87l_QGnb7giv82uvm8blalSRyOrKLVsTwyRSJ4hv1NEimPFobiYV4/w480-h640/Marc%CC%A7o2024.jpeg" width="480" /></a></div><br /><div><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-8272004993250326972024-02-28T20:17:00.000+00:002024-02-28T20:17:00.830+00:00Ogin-sama (1962) de Kinuyo Tanaka<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKwp7ublYT65-iUzw4gcjEpAvb5pC-ypPJHM7aI0L5VHTQuhk5yMmcr7bPBokopNeXKwMsuDDCwnBp_Q3e7Y4CzlU1cwkPXTmjmZscI9nl0QBQZwgXNFmhv8zXoEoALURQ6qLYBC8MrcvLmkW8X66v6WCIQvbjJmUQx6e1bD7kFYum4TemICkDW-KY6o/s1024/01_05_28-1024x429.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="429" data-original-width="1024" height="371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvKwp7ublYT65-iUzw4gcjEpAvb5pC-ypPJHM7aI0L5VHTQuhk5yMmcr7bPBokopNeXKwMsuDDCwnBp_Q3e7Y4CzlU1cwkPXTmjmZscI9nl0QBQZwgXNFmhv8zXoEoALURQ6qLYBC8MrcvLmkW8X66v6WCIQvbjJmUQx6e1bD7kFYum4TemICkDW-KY6o/w640-h268/01_05_28-1024x429.jpg" width="885" /></a></div><br /><div>por Alexandra Barros</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">No século XVI, o Japão vive um período de grande instabilidade política. Dividido em centenas de territórios feudais (<i>daimiados</i>[1]) o país está mergulhado em guerras entre <i>dáimios</i>[2]. O xogum Toyotomi Hideyoshi procura unificar o país, mas os dáimios convertidos ao cristianismo
representam uma ameaça à hierarquia social tradicional, fortemente ligada à religião xintoísta e cuja figura suprema (equivalente ao “Papa” cristão) é o Imperador. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Takayama Ukon, dáimio e samurai cristão, é um nobre ostracizado pelo xogum e tornado alvo da sua perseguição. Ukon mantém uma forte e longa amizade com Sen Rikyû, famoso mestre da <i>Cerimónia do Chá</i>, com quem estudou as sofisticadas artes do ritual. Nessa altura, conheceu Ogin, filha adoptiva de Rikyû. Ogin alimenta desde então uma intensa e obstinada paixão por Ukon, mas ele é casado e muito devoto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A história do amor proibido entre Ogin e Ukon é o fio condutor do filme, mas nessa história cruzam-se outras linhas: a própria História do Japão, questões de fé e a identidade e cultura nipónicas. Tal como em filmes anteriores, a presença de elementos culturais e históricos da sociedade japonesa não é mera decoração. É através destes elementos que a realizadora expressa reflexões, preocupações, posicionamentos e estados de alma, tanto das personagens como próprios. Aliás, Tanaka está entranhada nas mais notáveis personagens dos seus filmes. O que é da primeira derrama-se nas segundas; interligam- se, confluem, confundem-se. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2023/11/chibusa-yo-eien-nare-1955-de-kinuyo.html">Para Sempre Mulher</a>,</b> filme que fechou o primeiro ciclo que dedicámos a Tanaka, a realizadora deu um lugar central à poesia tanka, estilo clássico da literatura japonesa. Agora, neste seu sexto e último filme, esse lugar cabe à <i>Cerimónia do Chá</i>, ritual de grande importância na cultura tradicional japonesa. Kinuyo Tanaka respeita os tempos da cerimónia e dedica grande atenção às suas particularidades: gestos, objectos, significados. Serve-se dessa tradição para colocar em confronto duas visões e formas de estar no mundo. De um lado, o humanismo, simplicidade e sintonia com as leis da natureza de Rikyû; do outro, o despotismo, crueldade, presunção e vaidade ostensiva do xogum. A opulenta sala de chá de ouro de Hideyoshi ou a escolha criteriosa de convidados para a cerimónia do chá de Rikyû são particularmente eloquentes. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Senhora Ogin</b> contém, além do olhar para a identidade nipónica, outros assuntos recorrentes nas obras da realizadora: a condição e (sobretudo) a sexualidade feminina, casamentos arranjados, romances proibidos, mulheres que recusam conformar-se às convenções sociais e procuram viver de acordo com as
suas convicções ou vontade individual. Partilha ainda, com o já referido <b>Para Sempre Mulher</b>, a atenção aos detalhes e o simbolismo associado a objectos, gestos, lugares e paisagens. Além dos objectos envolvidos na Cerimónia do Chá, uma cruz e um leque expressam, em diversos momentos, sentimentos não verbalizados ou acções que adivinhamos, mas a que não assistimos. A cruz, que vemos inicialmente no pescoço de Ukon, será transferida pelo mesmo para Ogin, “amarrando-a” à abstinência sexual e à fidelidade aos mandamentos cristãos. Ogin, porém, reiteradamente rejeitada por Ukon, virá a arrancar violentamente a cruz do pescoço. Mais do que às boas-venturas celestiais, Ogin aspira à felicidade terrena. Mais tarde, uma outra cruz caída no chão, revelará o que Kinuyo Tanaka decide deixar fora de campo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tal como os objectos, também a luz, as cores e os trajes estão carregados de forte simbolismo, espelhando emoções ou antevendo destinos. Visualmente, o filme é belíssimo: admiráveis cores e efeitos de luz, paisagens notáveis, jardins meticulosamente concebidos, interiores minimalistas sofisticadamente apurados, esplêndidos quimonos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O uso da luz é especialmente simbólico numa cena premonitória do filme. Ogin assiste ao “calvário” de uma rapariga, que será crucificada por não se ter submetido aos desejos de um dáimio. A serenidade que transparece no rosto da rapariga impressiona Ogin que, num momento de epifania, decide tomar o controlo do seu próprio destino. A morte de Cristo na cruz é denominada <i>Paixão</i> e é vista como um exemplo supremo de amor altruísta. Jesus escolheu voluntariamente sofrer e morrer na cruz para salvar a humanidade e reconciliá-la com Deus, seu Pai. Morte voluntária, paixão, e amor altruísta fecham a história de Ogin. Ela escolhe a morte para salvar o pai; para não se submeter a um homem que não deseja e que despreza; para se manter fiel a uma inabalável, ainda que impossível paixão. Ogin morre, enfim, sob o
signo da sua audaz <i style="font-weight: bold;">fúria de viver</i>[3].</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[1] Daimiado - território governado por um dáimio.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[2] Dáimio - Senhor feudal, possuidor de terras e líder de hostes militares. Os dáimios, sob a dependência do xogum, controlaram grande parte do território do Japão, num modelo de governo que se manteve vigente entre cerca do século X até à segunda metade do século XIX. (Fonte: infopedia.pt)</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[3] <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2023/03/rebel-without-cause-1955-de-nicholas-ray.html">Fúria de Viver</a></b> – Filme de Nicholas Ray, já apresentado pelo Lucky Star, sobre um grupo de jovens à procura do seu lugar num mundo de grande violência física e psicológica e, principalmente, absurdo. Voltamos a este grande realizador no próximo mês, com um ciclo que lhe é inteiramente dedicado.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/19eqgg0TYh8W7k7vfNis1La0ENBxFOkcn/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-18180548938711033122024-02-25T23:10:00.004+00:002024-03-12T14:11:54.233+00:00332ª sessão: dia 27 de Fevereiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_ET2wTk72mtuIzoBqRp_7t73XST32nqhPbm5xmzUWtzFCAMpAGwAU_eaK0JyPWH7DEp2V-NkhGXRtsDoRjQlJdKkEGP08_TiXDYAnWi-dXiq7dpZPwl48zOoFnJgA2LoI5YWzHbx073jHGSR-nPl1th0PmO4dTU1C6toyMF5rU7Lw_v28DPIyFTelmE8/s1062/Love_Under_the_Crucifix-967310859-large.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1062" data-original-width="780" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_ET2wTk72mtuIzoBqRp_7t73XST32nqhPbm5xmzUWtzFCAMpAGwAU_eaK0JyPWH7DEp2V-NkhGXRtsDoRjQlJdKkEGP08_TiXDYAnWi-dXiq7dpZPwl48zOoFnJgA2LoI5YWzHbx073jHGSR-nPl1th0PmO4dTU1C6toyMF5rU7Lw_v28DPIyFTelmE8/w470-h640/Love_Under_the_Crucifix-967310859-large.jpg" width="470" /></a></div><div><b>O último filme realizado por Kinuyo Tanaka, terça-feira na BLCS </b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Fevereiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga dedica as suas terças-feiras à cineasta japonesa Kinuyo Tanaka, de quem já exibiu três filmes em Novembro do ano passado. As sessões realizam- se às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Kinuyo Tanaka foi uma actriz e realizadora nascida em 1909, na cidade de Shimonoseki, e falecida em 1977. Como intérprete, foi mesmo uma das mais famosas actrizes do Japão e apareceu em mais de 200 filmes, trabalhando com cineastas tão importantes como Yasujiro Ozu, Hiroshi Shimizu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Akira Kurosawa.
</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado à cineasta, intitulado “Voltar a Tanaka - A Mulher de Quem se Fala”, termina Terça-Feira às 21h30 com a exibição de <b>Senhora Ogin</b>, de 1962, a última longa-metragem realizada por Kinuyo Tanaka, uma adaptação do romance homónimo de Tōkō Kon protagonizada por Ineko Arima e Tatsuya Nakadai. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A obra ambienta-se no final do século XVI, no Japão. O cristianismo vindo do Ocidente é banido no país, mas a Senhora Ogin (Ineko Arima) apaixona-se por um samurai devoto, Ukon Takayama (Tatsuya Nakadai). O guerreiro decide dedicar-se à sua fé e Ogin casa com um homem que não ama. Alguns anos depois, o samurai regressa e confessa-lhe o seu amor. Ela quer libertar-se, mas iniciam-se as perseguições anti-cristãs... </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Gin não é uma excepção na galeria das personagens em busca do seu lugar,” <a href="https://postcefalu.blogspot.com/2015/11/un-lugar-en-el-mundo-el-ultimo.html">escreveu</a> Mario Vitale sobre este filme em 2015. “É a última de uma série de personagens femininas na filmografia de Tanaka com sentimentos e desejos constantemente adiados e submetidos a sucessivos códigos de conduta que têm de ser desafiados.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Há aqui, de novo, um combate íntimo entre religião e blasfémia que não deixou de surgir desde o primeiro filme que Tanaka realizou,” continuava Vitale. “Em <b>Carta de Amor</b>, cujas últimas palavras são os famosos versículos de João 8:7, conviviam a idealização e a prostituição. <b>Para Sempre Mulher</b> renunciava o consolo religioso perante o avanço do cancro e do desejo sexual. <b>Senhora Ogin</b> é o último eco do “<i>God isn’t enough</i>” que a devota e excitada Agatha Andrews murmurava na última obra-prima que Ford rodaria quatro anos depois.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Repleta de cenas de simbologia cristã,” terminava, “Tanaka é capaz de as combinar de forma tão harmoniosa como ousada: o único encontro sexual dos protagonistas é precedido de uma lavagem dos pés e sucedido por um banho quase baptismal; a cruz, o símbolo supremo do cristianismo, aparece e reaparece para ser escondida, arrancada raivosamente, observada em procissão ou orgulhosamente colocada...” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça-Feira!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-92019797899112959962024-02-21T18:05:00.002+00:002024-02-21T19:12:22.186+00:00Onna bakari no yoru (1961) de Kinuyo Tanaka<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_zhpD9NkE_i1z5UqmhBe7eC4O2dtkU2Wn4Da8OyrN8ET6GnDt491Z393Bzh4fD_CSkt1VB_wdc2OLsUkH0kBjNgZwwG1SEcvbGV-qRhhEvvUD9ckjcFDk6fczfRRU467M4fJNcqeW1ciaB4N1yYJdjKnKx0ZL9GK9CfaItleDafMUCDa0YDBoP_qI8UE/s2526/00_14_37_1.1.5_1.1.6-scaled.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1077" data-original-width="2526" height="376" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_zhpD9NkE_i1z5UqmhBe7eC4O2dtkU2Wn4Da8OyrN8ET6GnDt491Z393Bzh4fD_CSkt1VB_wdc2OLsUkH0kBjNgZwwG1SEcvbGV-qRhhEvvUD9ckjcFDk6fczfRRU467M4fJNcqeW1ciaB4N1yYJdjKnKx0ZL9GK9CfaItleDafMUCDa0YDBoP_qI8UE/w640-h272/00_14_37_1.1.5_1.1.6-scaled.png" width="885" /></a></div><br /><div>por Estela Cosme</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Como se pode escapar ao passado quando ele é ilegal? Como se pode refazer uma vida que o estado considera imoral? As mulheres que lideram o centro de reabilitação de Shiragiku parecem pensar que é através do trabalho árduo, submetendo as ex-prostitutas a tarefas domésticas e manuais que
visam transformar as suas vidas, afastando-as assim da profissão que estão agora proibidas de exercer. A lei implementada em 1957 surgiu do boom que a atividade teve no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, levando à pressão da sociedade para legislar medidas de proteção e reabilitação para as trabalhadoras, evitando a sua persistente exploração. Contudo, ao perder a sua única forma de sustento, estas mulheres não têm alternativa a não ser submeter-se a estes centros corretivos e aprender a distanciar-se de uma vida criminal. Mas a adaptação não é minimamente fácil pois fora do seu reformatório a sociedade continua a
julgá-las e a desdenhar as suas tentativas de conversão. É Kuniko, a protagonista de <b>Mulheres da Noite</b>, quem descobre isso repetidamente, levando-a a um destino turbulento e amargo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A profissão mais velha do mundo é também aquela que mais dá que falar. Debatida pela sua moralidade (ou falta dela), não é de surpreender que seja retratada no cinema de forma tão variada, do mais banal ao mais sóbrio (isto quando não é adereço para as mulheres na vida de protagonistas masculinos). A
romantização da prostituta Vivian em <b>Um Sonho de Mulher</b> (1990) e a glamourização de Satine em <b>Moulin
Rouge!</b> (2001) em nada representam as realidades das profissionais do sexo. A inocente Iris de <b>Taxi Driver</b>
(1976) existe quase apenas para alimentar o delírio do protagonista que decide salvá-la. Já Séverine de <b>A
Bela de Dia</b> (1967) leva uma vida dupla, na qual encontra na prostituição uma libertação das suas fantasias
sexuais e dos seus problemas matrimoniais. Bella Baxter no recente <b>Pobres Criaturas</b> (2023) vê na atividade uma continuação da sua exploração do mundo e do seu interior feminino. No anterior ciclo de Fassbinder,
vimos como a protagonista de <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2024/01/lola-1981-de-rainer-werner-fassbinder.html">Lola</a></b> (1981) aproveita a sua profissão para manipular as pessoas à sua volta. Quase todas elas apresentam algum grau de influência que as permite progredir social ou economicamente ou até ter algum proveito pessoal, romântico ou sexual. Perante estas representações ilusórias, as mulheres
de Tanaka surgem como uma verdadeira antítese e talvez por isso seja um filme tão doloroso de presenciar, embora seja um antecessor a todos os aqui mencionados. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este filme foi escrito por Sumie Tanaka (adaptando um romance de Masako Yana) e certamente não
será surpresa descobrir que também foi a guionista de <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2023/11/chibusa-yo-eien-nare-1955-de-kinuyo.html">Para Sempre Mulher</a></b> (1955) de Kinuyo Tanaka, talvez o filme mais perturbador da realizadora até este. Todas as suas obras são centradas em mulheres, com vertente feminista, mas os dois filmes que fez com Sumie Tanaka são-no de forma mais vincada. Já
tínhamos também assistido ao retrato de prostitutas em <b><a href="https://luckystarcine.blogspot.com/2023/11/koibumi-1953-de-kinuyo-tanaka.html">Carta de Amor</a> </b>(1953), mas este é apenas o ponto de partida para explorar o trágico romance entre os protagonistas. Certamente não é tão gráfico e realista
na forma como retrata as trabalhadoras, sendo o seu contexto histórico muito diferente. <b>Mulheres da Noite</b> surge uns meros quatro anos após a implementação da lei anti-prostituição japonesa e tanto realizadora como escritora certamente detetaram uma urgência em retratar a nova realidade. O resultado é ferozmente comovente e talvez seja a lição mais empática que Tanaka nos ilustra. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Kuniko não é uma personagem livre de defeitos. Afinal, ela reverte para os seus velhos costumes como forma de escapar à humilhação da sua primeira patroa, seduzindo sem remorsos o seu marido influenciável. Cansada de se esconder, no seu seguinte emprego decide assumir quem foi, uma honestidade que a aliena das suas novas colegas de trabalho. Kuniko rejeita os seus pedidos de prostituir-se e como tal vingam-se nela fisicamente. A violência ilustrada é de tal magnitude que se torna um tormento assistir à sua brutalização, sendo o momento de mutilação para além de agonizante. A agressão é ainda perpetrada por outras mulheres semelhantes a ela, que se julgam dignas de imputar e executar a Kuniko o castigo mais horrendo. Numa cena realizada de forma sucinta mas altamente eficaz, Tanaka roga-nos que não sejamos indiferentes aos infortúnios que acodem a mulheres como Kuniko. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Já as cenas em que vemos Kuniko no seu terceiro emprego parecem etéreas, como se estivéssemos a ver outro filme, aliviados de ver Kuniko rodeada por filas e filas de flores na qual surge um novo amor, delicado e fugaz após tanto sofrimento. Contudo, é bom demais para durar e o passado volta a assombrá-la mais uma vez quando descobre que ela e o seu amado não podem casar, uma vez mais pelos seus crimes imorais. Por momentos pensamos que isto a levou a regredir para o lugar onde começou mas respiramos de alívio quando a vemos numa praia, com uma rede às costas, bem longe do seu passado, quer recente quer distante. Ela agora é uma <i>ama</i>, profissão japonesa de pescadores de pérolas e mariscos, uma humilde profissão para quem ainda anseia recomeçar outra vez. Esta é a sua quarta tentativa. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Talvez seja aqui que o seu passado possa ser finalmente lavado, expurgado, um renascer assegurado como o sol que nasce todas as manhãs sobre o mar em que agora mergulha. Talvez aqui se aperceba que uma mulher tem sempre o poder de se reconstruir, uma e outra vez. E a vontade de uma mulher resiliente nunca ninguém pode ilegalizar.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1sX6e1AQ-Bl4pQXbu1GE-BS78_nzc8oOL/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-81461919025984335922024-02-18T11:56:00.004+00:002024-02-18T11:56:27.872+00:00331ª sessão: dia 20 de Fevereiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqvOAyTf3WSrbfh2Qx54Zmsfsog5dqLhhaXvS1wtXHVoxx8inBRDH3TAgR2OF0ihDEEmk_uIfxx025NFT4hAWCsnKAvfBN2q2_i8mXG_6kbGcnoJdtQASN211J0N8Ds0F04kOf2nRlsLoLeWSMNNy347FPdrlZFvdv2OSHO93zs2NQ1M1c9bDgZpBcyZg/s966/Girls_of_the_Night-918816228-large.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="966" data-original-width="649" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqvOAyTf3WSrbfh2Qx54Zmsfsog5dqLhhaXvS1wtXHVoxx8inBRDH3TAgR2OF0ihDEEmk_uIfxx025NFT4hAWCsnKAvfBN2q2_i8mXG_6kbGcnoJdtQASN211J0N8Ds0F04kOf2nRlsLoLeWSMNNy347FPdrlZFvdv2OSHO93zs2NQ1M1c9bDgZpBcyZg/w430-h640/Girls_of_the_Night-918816228-large.jpg" width="430" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>Penúltimo filme de Kinuyo Tanaka para ver na BLCS </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Fevereiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga dedica as suas terças-feiras à cineasta japonesa Kinuyo Tanaka, de quem já exibiu três filmes em Novembro do ano passado. As sessões realizam-se às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Kinuyo Tanaka foi uma actriz e realizadora nascida em 1909 e falecida em 1977. Como intérprete, foi mesmo uma das mais famosas actrizes do Japão e apareceu em mais de 200 filmes, trabalhando com cineastas tão importantes como Yasujiro Ozu, Hiroshi Shimizu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Akira Kurosawa. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado à cineasta, intitulado “Voltar a Tanaka - A Mulher de Quem se Fala”, continua terça-feira às 21h30 com a exibição de <b>Mulheres da Noite</b>, filme que marca a segunda colaboração de Kinuyo Tanaka com a argumentista Sumie Tanaka, depois de <b>Para Sempre Mulher</b>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O filme centra-se numa jovem japonesa, chamada Kuniko, que tenta recompor a sua vida num centro de reabilitação para ex-prostitutas. Arranja emprego numa mercearia, mas o casal que a contratou descobre a antiga profissão dela e ela acaba por voltar para o centro. Depois doutro emprego gorado numa fábrica, consegue ser contratada para trabalhar numa estufa de rosas, onde parece correr tudo bem até o passado voltar para a atormentar. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Tanto Kinuyo Tanaka como Sumie Tanaka nasceram no final da era Meiji (1868–1912),” escreveu Ayako Saito no livro colectivo <i>Tanaka Kinuyo - Nation, Stardom and Female Subjectivity</i>, de 2018, “mas as suas educações e contextos sociais eram contrastantes.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Kinuyo nasceu em 1909 na cidade de Shimonoseki,” continua Saito, “e foi criada em Osaka durante grande parte dos anos de formação. Nascida no seio de uma família respeitável, mal foi capaz de frequentar o ensino básico devido à morte prematura do pai e às subsequentes dificuldades financeiras que a família enfrentou.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Embora a informação sobre a sua vida privada seja escassa,” termina ela, “sabe-se que Sumie Tanaka nasceu em Tóquio em 1908, um ano antes de Kinuyo. Frequentou a Escola Superior Feminina de Tóquio (antiga Universidade de Ochanomizu, uma das universidades para mulheres mais prestigiadas do Japão), o que indica uma origem de classe média independente da situação financeira da família.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-17596424752542413862024-02-16T10:59:00.002+00:002024-02-16T10:59:06.056+00:00Ruten no ôhi (1960) de Kinuyo Tanaka<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg886AJK45p5aRCDso8QXq-srO3GxC7LikAUv3y4Ou61nddzbrtwDMuLdljP1ZWjV5yrO5NcKiy7z-q9I_A_gtBaj6_aM-CPzzUYTpUflUBj9b5PkfaEfWso59h9_xnVgfcEqBsSy69EmeoQ7YobfSuyQi8IqP_G7DyT7-ryywmLI8YfZFnfEUgHjzIJwU/s1920/vlcsnap-2024-02-14-23h41m34s946.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="801" data-original-width="1920" height="371" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg886AJK45p5aRCDso8QXq-srO3GxC7LikAUv3y4Ou61nddzbrtwDMuLdljP1ZWjV5yrO5NcKiy7z-q9I_A_gtBaj6_aM-CPzzUYTpUflUBj9b5PkfaEfWso59h9_xnVgfcEqBsSy69EmeoQ7YobfSuyQi8IqP_G7DyT7-ryywmLI8YfZFnfEUgHjzIJwU/w640-h268/vlcsnap-2024-02-14-23h41m34s946.png" width="885" /></a></div><br /><div>por João Palhares</div><div><br /></div><div><div style="text-align: justify;">Três ideias na retina enquanto as semanas nos vão desafiando a sair de casa para às vezes fazer coisas que não temos grande vontade de fazer ou ouvir coisas que não queremos ouvir. “Podem dizer o que quiserem da ditadura, mas desde que eu tenha o meu dinheiro tanto me faz se vivo numa democracia ou numa ditadura.” O estado do mundo também não ajuda, os temas parecem invadir tudo e o facto de uma melodia nos dizer alguma coisa ou um plano nos deixar boquiabertos pode parecer para os outros a coisa mais insignificante do mundo. Uma das reacções possíveis talvez seja ir gritar “DARIO ARGEEEENTO!” para o meio da rua, só que convertidos nem vê-los. A ideia de que se partilha um segredo ou se vislumbra um mistério também pode ser suficiente, mas se calhar é um bocado perigoso. Por sabermos por exemplo que às vezes se anuncia cinema às segundas-feiras, mas o cinema infelizmente não sai à rua connosco. Por concordarmos ainda com Manoel de Oliveira, que quando foi acusado de reaccionário pelos colegas de profissão por se ter fechado num estúdio durante o 25 de Abril e ter feito <b>Benilde</b>, lhes respondeu que “o cinema revolucionário está atrasado em relação à revolução.”</div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;">O tema não é tudo. Quando as legendas não eram prática corrente e os filmes se viam na mesma, Jacques Rivette lembrou-se de escrever que Mizoguchi não era um nome próprio, mas sim uma “língua familiar. Qual? A única que almeja qualquer cineasta: a da <i>mise en scène</i>.” Um encadeamento de imagens, se trabalhado, pode ser suficiente para nos situar e nos fazer perceber certas coisas mesmo que não entendamos japonês, ou chinês, ou até italiano, espanhol ou inglês. Isto foi há sessenta e seis anos, portanto não é de admirar que hoje baste para um cineasta grego esquecer totalmente a sua língua, contratar actores americanos, ingleses, alemães e até fadistas portuguesas e pô-los a dizer as coisas certas com os planos errados para ser levado a sério e conquistar o mundo e os seus pares. É uma grande chatice, para quem nunca viu o filme, saber que houve um cientista que trocou o cérebro duma mulher pelo duma criança, que se fala de filosofia e de socialismo e que alguém morre no fim, porque o tema é tudo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;">Mas felizmente as ideias, de alguma forma, vão passando. Wyatt Earp, vindo de nenhures como um pequeno ponto no horizonte, chega à cidade de Wichita. Apreensivo, aceita o cargo de xerife e proíbe o porte de armas nessa pequena cidade no oeste americano. Toda a história do filme nos é contada no genérico pela voz de Tex Ritter numa bela canção escrita por Hans Salter e Ned Washington, pelo que sabemos que as descobertas terão de ser outras. Entre mais de cem ideias, uma que fica: num dos momentos mais tensos do filme, Wyatt Earp sai de uma confrontação com um velho aliado que agora é seu inimigo e a esposa deste último segue Wyatt até à porta para ver se há hipóteses de reconciliação. Não há. Wyatt sai de casa deles e é atacado por homens a cavalo que disparam na sua direcção. Ele baixa-se e corta para um plano de uma porta crivada de balas. Num instante percebemos que a esposa morreu, noutro intuímos que quanto mais uma pessoa se arma e se protege e se encerra e se ressente maiores são as probabilidades de que o mundo lhe bata à porta e ela vá desta para melhor. É em <b>Wichita</b>, do grande Jacques Tourneur, e foi possível vê-lo no canal Fox Movies na tarde de dia 3 de Fevereiro de 2024.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;">Uma viúva paga os estudos da filha com o seu negócio de gueixas, o que causa um distanciamento triste e trágico entre as duas. Há um médico jovem por quem ambas se interessam até se conseguirem encontrar uma à outra. A certa altura, vêem os três uma peça. Entre possivelmente cem ideias, das quais fazem parte o labirinto dos sentimentos demonstrado no labirinto da casa que os três percorrem perto do final do filme e a apresentação da dita peça com um <i>travelling</i> para a frente que encontra os actores e um <i>travelling</i> para trás que encontra os três apaixonados, uma que fica: dois dos actores da peça falam de uma terceira, uma velha apaixonada, e apontam para ela dizendo, “olhem para ali. É a velha nos auges da loucura.” E não a vemos a ela, mas à viúva, num plano mais aproximado, e o teatro sai dos seus palcos para o teatro da vida através do cinema. É em <b>A Mulher de Quem se Fala</b>, do grande Kenji Mizoguchi, e foi possível vê-lo no auditório da BLCS na noite de 6 de Fevereiro de 2024.</span></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;">Uma jovem japonesa é escolhida através de uma fotografia pelo irmão do imperador da Manchúria, sendo obrigada a abandonar a família e a casar com ele sem encontrar uma vida melhor ou propriamente imperial. O exército do império japonês controla tudo e tinha a esperança de que a jovem actuasse pelos interesses deles, mas ela acaba por se afeiçoar ao marido. Entre praticamente cem ideias, pois talvez não estejamos nas alturas de <b>A Lua Ascendeu</b> ou <b>Para Sempre Mulher</b>, mas das quais fazem parte o belíssimo prólogo do filme, depois o genérico com a jovem esmagada e siderada pelas imagens dos soldados que passam por ela e o final misterioso e poético em que as palavras obedecem a um tempo e as imagens a outro tempo, uma que fica: por um enquadramento pelos pés, que à primeira vista até pode ser confundido com uma dança inocente, vemos uma arma que cai e um corpo que se põe por cima dela em posição horizontal. As implicações tornam-se óbvias mesmo antes da princesa dizer, “Podes sempre morrer mais tarde, mas não abandones o teu imperador.” É em <b>A Princesa Errante</b>, da grande Kinuyo Tanaka, e será possível vê-lo hoje, dia 13 de Fevereiro de 2024, no auditório da BLCS.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div style="text-align: center;"><span style="white-space: normal;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1y3oHjxlEX48xx-wK7zUYxEuN_aCXLRIN/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="white-space: normal;"><br /></span></div><div></div><div></div></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-48107006322987289762024-02-12T00:01:00.002+00:002024-02-12T00:02:45.002+00:00330ª sessão: dia 13 de Fevereiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgadD3MH_JERpiJR993U6Pu-Wp47UQZJIiH2yM9HiSp9pyOwenai9ryyPZGUYwdL0dqTwrBpEA63ltWWv4V2SQkNnDLALv3MWFyShCvF9r4JlBZgnH3XGVNjN1bGMGoJpw5KpACA6P6-TJZlPLtn7Wwlax01xQU3ZcS4x49Zakj8O7k_YnR7vRJYlT3nwI/s1200/ruten_no_ohi-614432656-large.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="848" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgadD3MH_JERpiJR993U6Pu-Wp47UQZJIiH2yM9HiSp9pyOwenai9ryyPZGUYwdL0dqTwrBpEA63ltWWv4V2SQkNnDLALv3MWFyShCvF9r4JlBZgnH3XGVNjN1bGMGoJpw5KpACA6P6-TJZlPLtn7Wwlax01xQU3ZcS4x49Zakj8O7k_YnR7vRJYlT3nwI/w452-h640/ruten_no_ohi-614432656-large.jpg" width="452" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“A Princesa Errante” para ver no cineclube </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Fevereiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga dedica as suas terças-feiras à cineasta japonesa Kinuyo Tanaka, de quem já exibiu três filmes em Novembro do ano passado. As sessões realizam-se às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Kinuyo Tanaka foi uma actriz e realizadora nascida em 1909, na cidade de Shimonoseki, e falecida em 1977. Como intérprete, foi mesmo uma das mais famosas actrizes do Japão e apareceu em mais de 200 filmes, trabalhando com cineastas tão importantes como Yasujiro Ozu, Hiroshi Shimizu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Akira Kurosawa. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado à cineasta, intitulado “Voltar a Tanaka - A Mulher de Quem se Fala”, continua esta terça-feira às 21h30 com a exibição de <b>A Princesa Errante</b>, com Machiko Kyô no papel principal, a quarta longa-metragem realizada por Kinuyo Tanaka, em 1960, primeira a cores e em scope. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este filme de Kinuyo Tanaka passa-se em 1937, durante a ocupação japonesa da Manchúria. Escolhida através de uma fotografia, Ryuko (interpretada por Machiko Kyô), uma jovem japonesa, é convidada a ir para a Manchúria para se casar com o irmão do Imperador, tendo que se habituar a uma nova vida como princesa. Mas quando os soviéticos invadem, Ryuko foge com a filha e com a própria Imperatriz. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Poucas carreiras na interpretação se podem igualar à de Tanaka Kinuyo,” <a href="https://postcefalu.blogspot.com/2015/11/un-lugar-en-el-mundo-el-ultimo.html">escreveu</a> Mario Vitale em 2015. “Na excelente pedreira do cinema japonês, muito poucas como ela - na parte da sua enorme filmografia que sobreviveu, e dentro desta, a parte que ultrapassou as fronteiras japonesas com as imprescindíveis legendas - conquistaram a câmara transmitindo autenticidade e emoção, modernidade e classicismo, oferecendo ao ecrã uma poderosa combinação de fragilidade sobre-humana que para mim só permite comparação com Lillian Gish.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“A sua imensa popularidade e o seu prestígio como actriz deixou demasiadas pessoas cegas e surdas,” continua Vitale. “Felizmente vão caindo quase todos os véus para que possamos ir descobrindo o seu talento descomunal como realizadora de cinema.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Graças à distribuidora lisboeta The Stone and the Plot, toda a obra de Kinuyo Tanaka como realizadora está agora disponível em Portugal. Para a semana, dia 20 de Fevereiro, o cineclube exibe o seu quinto filme, <b>Mulheres da Noite</b>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça-Feira!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-44112455255629365672024-02-08T17:00:00.003+00:002024-02-08T17:00:56.377+00:00Uwasa no onna (1954) de Kenji Mizoguchi<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXbAtIHW9RyPEXvmaDXWdQjmWG4fVF8o0CXqZZlMCGcrqQUPbbIkMopU8fRQ1lXWhbqih3bcd36qgjXi4onUmrJETcfwDkf9f24ZCVvvhNfGYYVDj4b3Zaa2-m5tKMcesXzprmCxYtnXCwMY5kSOUFr7yQbCJneT7k8OIiPt7Qva5rSAcpt_krixA9180/s640/vlcsnap-2024-02-08-16h53m31s241.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="664" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXbAtIHW9RyPEXvmaDXWdQjmWG4fVF8o0CXqZZlMCGcrqQUPbbIkMopU8fRQ1lXWhbqih3bcd36qgjXi4onUmrJETcfwDkf9f24ZCVvvhNfGYYVDj4b3Zaa2-m5tKMcesXzprmCxYtnXCwMY5kSOUFr7yQbCJneT7k8OIiPt7Qva5rSAcpt_krixA9180/w640-h480/vlcsnap-2024-02-08-16h53m31s241.png" width="885" /></a></div><br /><div>por António Cruz Mendes</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">No mês de Fevereiro, vamos passar um novo ciclo de filmes consagrados a Kinuyo Tanaka. No primeiro, na sua condição de actriz, desta vez num filme de Mizoguchi; nos seguintes, <b>A Princesa Errante</b>, <b>Mulheres da Noite</b> e <b>Senhora Ogin</b>, na de realizadora. Não por acaso, todos eles têm mulheres como protagonistas. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b>A Mulher de quem se Fala</b> foi o último dos dezassete filmes que Kinuyo Tanaka fez com Mizoguchi. Dele se diz que foi um filme “mal-amado” pelo próprio realizador, que embirrou com os argumentistas (“uma merda de história, sem interesse”) e o considerou como “um compasso de espera” que precedeu as obras-primas que se lhe seguiram. Recorde-se que, ainda em 1954, realizou <b>O Intendente Sanshô</b> e <b>Os Amantes Crucificados</b>. Mas, o facto do filme que exibimos hoje não se encontrar à altura destes ou de outros dos seus melhores filmes, não significa que estejamos na presença de uma obra depreciável. Parece-me mesmo notável a sequência onde Yukiko se apercebe de que Matoba, com quem se prepara para ir viver para Tóquio era, afinal, o amante da sua mãe, alguém que explorava os seus sentimentos para conseguir o dinheiro que necessita para abrir uma clínica. O filme atinge, então, o seu climax quando as personagens deste triângulo amoroso percorrem os espaços labirínticos da casa, que podemos ver como a expressão plástica da teia de enganos onde Hatsuko e Yukiko se enredaram, ora surpreendendo conversas que lhes revelam a verdade, ora isolando-se para decidir o rumo das suas vidas. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Kinuyo Tanaka interpreta em <b>A Mulher de quem se Fala</b> a figura de uma dona de uma casa de gueixas. Aparentemente, é uma pessoa dura, que gere o seu negócio de uma forma pragmática. Porém, alimenta um sonho de amor. Foi casada pelos pais com um desconhecido, mas tem ainda a esperança de o poder encontrar na companhia de Matoba. Essa ilusão vai ser posta à prova quando assiste a uma peça de teatro que satiriza os amores de uma velha por um homem mais jovem. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Mizoguchi frequentava aquelas tradicionais “casas de prazer” e a sua irmã mais velha foi vendida pelo seu pai para ser explorada como uma gueixa. Talvez por esse motivo e também porque desaprovava a forma como o seu pai tratava a sua mãe, o tema da condição feminina vai ser recorrente na filmografia de Mizoguchi. Nos filmes realizados por Kinuyo Tanaka, ele vai ser dominante. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O filme inicia-se com a chegada de Yukiko a casa da mãe e as primeiras imagens mostram-nos que ela se encontra ali como um corpo estranho. As gueixas usam quimono, uma maquilhagem pesada e penteados tradicionais. Yukiko, com uma postura discreta, roupas ocidentais e cabelo curto, faz-nos lembrar uma Audrey Hepburn deslocada dos EUA para um outro tempo e espaço. Pertence, como nota uma das gueixas, a uma “outra classe”. Enoja-a a boçalidade dos clientes da casa da sua mãe, muitas vezes embriagados, e a forma como as raparigas se deixam usar por eles. Isola-se no seu quarto e sofre quando pensa que o dinheiro que lhe permitiu estudar teve origem no negócio da sua mãe. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Mas, a sua perspectiva começa alterar-se quando Usugumo adoece. Começa, então, a vê-las como pessoas dignas da sua afeição. No bordel, viram-se reduzidas a meros objectos do desejo masculino, mas continuam a ser fiéis aos seus deveres familiares e sujeitos dos seus próprios sonhos. Foi o seu desejo de amor que levou Kisaragi a fugir com um cliente que apenas a pretendia explorar. E, quando Chiyo lhe pede para a aceitar como gueixa, substituindo a sua irmã, porque só assim poderá ajudar o seu pai, doente, compreende que aquela profissão pode ser, por vezes, uma solução para a miséria a que se viram condenadas. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Por fim, desfeitos os seus sonhos de regressar aos estudos em Tóquio e de casar com Matoba, é Yukiko que substitui a mãe na gerência do negócio. O pragmatismo impôs-se ao seu idealismo, as velhas tradições ao sonho de novos tempos. Na cena final, uma gueixa apresenta-se ao olhar submisso de Chiyo, a jovem e ingénua camponesa, magnificamente adereçada, um objecto de luxo, uma soberba oferta destinada a um cliente mais endinheirado. E pergunta: “Até quando, haverá necessidade de raparigas como nós?”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1VK3zk6Uo3pqG6zQti7Rk1RbVgGyQs9CR/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-69825872102789726142024-02-04T22:44:00.002+00:002024-02-11T23:57:49.190+00:00329ª sessão: dia 06 de Fevereiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZJmCcWFjkZaqfoUVw3AMR_LERuj0m40QGdIquQL3E_I71fYVAUsgIKUyxUXSpHJtBV7A75QsJ_04t_znjhT6lxrs8K2oqV47BQ1-C2gKwC2ozbT5M2dmcUyUD6ELAcQhGorkv6CFxG-r18w4LlOIKeu1jUrk1Q9DOCB36KLImXtv9cVtA0tZEos8o2pI/s759/MV5BNDFhYThkZjctMDNhNi00NTEwLWI2M2QtYTBhZTY1ODM4MjFhXkEyXkFqcGdeQXVyMjM3MDE4Njc@._V1_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="759" data-original-width="580" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZJmCcWFjkZaqfoUVw3AMR_LERuj0m40QGdIquQL3E_I71fYVAUsgIKUyxUXSpHJtBV7A75QsJ_04t_znjhT6lxrs8K2oqV47BQ1-C2gKwC2ozbT5M2dmcUyUD6ELAcQhGorkv6CFxG-r18w4LlOIKeu1jUrk1Q9DOCB36KLImXtv9cVtA0tZEos8o2pI/w490-h640/MV5BNDFhYThkZjctMDNhNi00NTEwLWI2M2QtYTBhZTY1ODM4MjFhXkEyXkFqcGdeQXVyMjM3MDE4Njc@._V1_.jpg" width="490" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>Kinuyo Tanaka, “A Mulher de Quem se Fala”. </b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Em Fevereiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga dedica as suas terças-feiras à cineasta japonesa Kinuyo Tanaka, de quem já exibiu três filmes em Novembro do ano passado. As sessões realizam-se às 21h30 no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Kinuyo Tanaka foi uma actriz e realizadora nascida em 1909, na cidade de Shimonoseki, e falecida em 1977. Como intérprete, foi mesmo uma das mais famosas actrizes do Japão e apareceu em mais de 200 filmes, trabalhando com cineastas tão importantes como Yasujiro Ozu, Hiroshi Shimizu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse e Akira Kurosawa. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado à cineasta, intitulado “Voltar a Tanaka - A Mulher de Quem se Fala”, começa hoje às 21h30 com a exibição de <b>A Mulher de Quem se Fala</b>, filme de Kenji Mizoguchi em que Tanaka é a protagonista, no papel de uma viúva que se quer aproximar da filha. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O filme foi lançado em 1954, ano em que Mizoguchi realizou também os muitíssimo famosos e celebrados <b>O Intendente Sansho</b> e <b>Os Amantes Crucificados</b>, que não é pouco comum verem-se em listas dos melhores filmes de sempre. Faria mais três até 1956, morrendo em Agosto desse ano com cerca de cem filmes em seu nome e cinquenta e seis anos. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Só há duas actrizes no Japão,” <a href="https://kinoslang.blogspot.com/2019/05/mizoguchi-and-yoda-on-my-love-is.html">disse</a> Mizoguchi a Tsuneo Hazumi nos anos cinquenta, “Kinuyo Tanaka e Isuzy Yamada. Embora o público as critique de um ponto de vista relativamente artístico, pode-se dizer que estão na fase absoluta em que impõem as suas personalidades por si sós e são capazes de actuar seguindo as suas próprias naturezas. Passa-se o mesmo com os actores de teatro quando chegam a determinado ponto.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Uma vez trabalhei com Shotaro Hanayagi,” continuava o cineasta. “Reparei que, para actores tão experientes como ele, actuar é viver completamente com a personagem. Isto é muito diferente do método de um actor de cinema banal que só sabe actuar no pequeno espaço marcado pela câmara. Do mesmo ponto de vista, tenho uma grande admiração por Louis Jouvet, o famoso actor francês.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Quando eu dirigia Tanaka ou Yamada” concluía ele, “percebi que era inútil apresentar explicações minuciosas sobre os papéis delas. Tudo o que podia fazer era submeter-me ao seu estilo de representação e encontrar o ritmo exacto das suas acções.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-82696808698747980272024-02-01T13:25:00.005+00:002024-02-01T13:25:55.948+00:00Em Fevereiro no Lucky Star:<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFladbEO4dk5MuacJ9m9tgfHdu4OvTwl0jCLyEvNse9UC3k0a-7CEVUBQps_LFKz-7XsAbGwRjavig_2t_W2vGv4FVJ5XZg_2WiBedFZ6tseP-LQeoxzpJER6uazBRMddM33xF2iqRYAYPxa1q8rVJs8WKcZBTZ_urTSpml1OqXQ3CVhjssLBQXdLhGw/s3149/FB-FINAL.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3149" data-original-width="2362" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDFladbEO4dk5MuacJ9m9tgfHdu4OvTwl0jCLyEvNse9UC3k0a-7CEVUBQps_LFKz-7XsAbGwRjavig_2t_W2vGv4FVJ5XZg_2WiBedFZ6tseP-LQeoxzpJER6uazBRMddM33xF2iqRYAYPxa1q8rVJs8WKcZBTZ_urTSpml1OqXQ3CVhjssLBQXdLhGw/w480-h640/FB-FINAL.jpeg" width="480" /></a></div><br /><div><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-25799098057489540302024-01-31T15:09:00.000+00:002024-01-31T15:09:14.549+00:00Die Sehnsucht der Veronika Voss (1982) de Rainer Werner Fassbinder<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFt7HUXmPVwesBFNKLjNxJW0I9y1OC_Pvvs6vwAIfATKN-M5mM88ZxIuyxjxB4XT5meBEqIxop_dGA-dc3RDF70tfFOeITOSo2iLfnUhDmALlG1-iOnGSLc31NsAEuF_usxzJcgvNMyvOEwEsr8Dn5e-EB7lxzmvwrCNu2wZKQvEmXdK1l8Px-NE4VGnQ/s1024/vlcsnap-2018-05-12-17h39m22s520.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="498" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFt7HUXmPVwesBFNKLjNxJW0I9y1OC_Pvvs6vwAIfATKN-M5mM88ZxIuyxjxB4XT5meBEqIxop_dGA-dc3RDF70tfFOeITOSo2iLfnUhDmALlG1-iOnGSLc31NsAEuF_usxzJcgvNMyvOEwEsr8Dn5e-EB7lxzmvwrCNu2wZKQvEmXdK1l8Px-NE4VGnQ/w640-h360/vlcsnap-2018-05-12-17h39m22s520.png" width="885" /></a></div><br /><div>por Alexandra Barros</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, os actores associados ao regime nazi foram ostracizados pela indústria cinematográfica alemã. Perdido o estatuto e o emprego, muitos entraram em espirais de auto-destruição, dominados pelo álcool ou por drogas. Sybille Schmitz foi uma dessas atrizes. Famosa e admirada durante o Terceiro Reich, foi afastada no pós-guerra, tornou-se dependente da morfina e suicidou-se em circunstâncias misteriosas. A Drª Ursula Moritz, ao cuidado de quem Schmitz se encontrava, foi acusada de promover a dependência da actriz com o intuito de a explorar financeiramente. Paul Demmler, um funcionário do Departamento de Saúde de Munique foi chamado para depor no caso e contra todas as evidências defendeu a médica, levantando suspeitas de corrupção. No decorrer de uma investigação realizada por jornalistas, descobriu-se que a polícia e o Departamento de Saúde nunca abriram inquérito para averiguar a conduta da Drª Moritz, que num espaço inferior a três anos prescreveu quase 800 receitas de narcóticos aos seus pacientes, tendo outros dois, para além de Schmitz, posto fim à própria vida. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Foi a partir deste caso que Fassbinder criou este film noir, onde Veronika Voss é a personagem que toma o lugar de Schmitz e a Drª Katz é a médica que a mantém refém, alimentando-lhe o vício. As convenções visuais do <i>film noir</i> estão, no entanto, aqui invertidas. As cenas passadas na clínica da Drª Katz, onde Veronika vive sob a manipulação e domínio da médica, são fortemente iluminadas por uma ofuscante luz branca, onde tudo se dissolve. Aí, Veronika parece incorpórea, fantasmagórica. E não é ela afinal um fantasma do período nazi? Veronika só se materializa quando abandona a clínica e vagueia nas sombras negras da noite. Nos bares tenuemente iluminados, o seu corpo projecta nas paredes uma sombra densa e bem definida e o seu rosto apresenta-se esplendoroso como o das divas do cinema clássico. A luz é dissolução, a escuridão é possível salvação. Numa noite tempestuosa, conhece por acaso um jornalista desportivo, Robert Krohn, por quem se vem a interessar. Krohn fica simultaneamente atraído e intrigado pela bizarria de Veronika e pelas circunstâncias estranhas em que vive. Ao descobrir a teia em que Veronika é mantida pela Drª Katz, Krohn procura socorrê-la, mas Veronika impede-o. Subjugada pela morfina, é a própria quem sabota a sua libertação. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Para Veronika só existem a dor da vida real ou a alienação da morfina. A sua vida é a preto e branco, como os filmes em que outrora brilhou. “Luz e sombra, são os segredos do cinema.” diz Veronika Voss. Fassbinder, por seu lado, afirmou que o preto e o branco são as mais belas cores em cinema[1]. Considerado uma homenagem ao clássico de Hollywood <b>O Crepúsculo dos Deuses</b>[2], o filme de Fassbinder é mais do que a história de uma estrela de cinema decadente. Nas palavras de Fassbinder: “Um tema é a destruição e queda de uma pessoa [...]; o outro tema é a exploração criminosa dos diferentes tipos de desespero de indivíduos excessivamente sensíveis.” Um dos outros pacientes da Drª Katz é Jan Treibel, um sobrevivente dos campos de concentração da Alemanha nazi, a quem a Drª Katz deixa de fornecer morfina, após apoderar-se de todos os seus bens. O casal Treibel acaba por se suicidar quando é abandonado pela Drª Katz. Ao procurar refúgio na morfina para os traumas do Holocausto, os Treibel encontram outro tipo de desumanidade: o de um poder que se alia a gananciosos sem escrúpulos e despreza aqueles que devia proteger. Confirmada a suspeita de uma aliança criminosa entre a Drª Katz e um funcionário do Ministério da Saúde (Dr. Edel), Krohn vê-se definitivamente derrotado e pede a um taxista que o transporte até à sua própria forma de alienação. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Depois deste filme, Fassbinder realizou ainda <b>Querelle</b>, mas <b>A Saudade de Veronika Voss</b> foi o último que estreou em vida, com ele fechando a trilogia BRD[3], consagrada à República Federal da Alemanha. Com este filme, Fassbinder ganhou um Urso de Ouro (no Festival de Berlim de 1982), negado em edições anteriores a <b>Effi Briest</b> e a <b>O Casamento de Maria Braun</b>. Morreu de uma overdose de cocaína pouco tempo depois.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[1] A propósito do preto-e-branco, evoco uma extraordinária frase da personagem de Samuel Fuller (<i>cameraman</i>) no filme <b>O Estado das Coisas</b> de Wim Wenders: "A vida é a cores, mas o preto e branco é mais realista."</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[2] <b>Sunset Boulevard</b>, de Billy Wilder, 1950.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[3] Da trilogia BRD (Bundesrepublik Deutschland) fazem ainda parte: <b>O Casamento de Maria Braun</b> (1979) e <b>Lola</b> (1981).</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1bh87q3FNf7xG17iLpe7gaxm6FMVzkUQB/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-22939790924581022852024-01-28T22:31:00.000+00:002024-01-28T22:31:14.676+00:00328ª sessão: dia 30 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_WQ8BKcmBkZ7JzWk9pUo0AutSoAkxa9gPd3J_piKlEpNH6pcHJDnz6vPVHMFI4ZIoWHyc9AGc5w1zhsBOLGehW1iCUpwOYDxkFcWeLGcwghSho4ncHmJ_Os_tzrDGiyu_JUJxndvBXVVgpgNYxgdULgByhbs_LeN8WsorrbEhGBlP3I0rhAr4pduu4WQ/s3000/il_fullxfull.3693072417_8j02.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3000" data-original-width="2121" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_WQ8BKcmBkZ7JzWk9pUo0AutSoAkxa9gPd3J_piKlEpNH6pcHJDnz6vPVHMFI4ZIoWHyc9AGc5w1zhsBOLGehW1iCUpwOYDxkFcWeLGcwghSho4ncHmJ_Os_tzrDGiyu_JUJxndvBXVVgpgNYxgdULgByhbs_LeN8WsorrbEhGBlP3I0rhAr4pduu4WQ/w452-h640/il_fullxfull.3693072417_8j02.jpg" width="452" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“A Saudade de Veronika Voss” encerra ciclo Fassbinder </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Janeiro, inaugurando o novo ano das suas actividades, o Lucky Star – Cineclube de Braga, em parceria com o Goethe-Institut de Portugal, promove o ciclo “Poder e opressão - As Mulheres de Fassbinder”, com a exibição de quatro filmes do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Rainer Fassbinder nasceu em Bad Wörishofen, na Baviera, a 31 de Maio de 1945. Faleceu em Munique a 10 de Junho de 1982, aos 37 anos. Durante a sua breve carreira, que durou apenas quinze anos, escreveu vinte e quatro peças, escreveu e realizou mais de quarenta filmes, entrando como actor noutros tantos, e fez duas séries para a televisão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado ao alemão termina hoje às 21h30 com a exibição de <b>A Saudade de Veronika Voss</b>, segundo tomo da trilogia BRD (acrónimo de “Bundesrepublik Deutschland”, República Federal da Alemanha), apesar de cronologicamente ter sido o último a ser realizado. As outras duas partes da trilogia são <b>O Casamento de Maria Braun</b> e <b>Lola</b>, já exibido pelo cineclube no âmbito deste ciclo. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ambientado nos anos cinquenta, em Munique, o filme centra-se na vida da actriz Veronika Voss, que tem muitas dificuldades em conseguir papéis. Outrora estrela da UFA, diz-se ter dormido com Joseph Goebbels, ministro da propaganda do Terceiro Reich. Um dia, enquanto anda no metro de Munique, conhece Robert Krohn, um jornalista desportivo com quem começa um relacionamento. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“A história do cinema passa necessariamente, entre 1969 e 1982, pelo cinema de Fassbinder,” escreveu Camille Nevers para os <i>Cahiers du Cinéma</i> em 1993, “esse bloco de tempo talhado à imagem de uma nação da qual regista a memória e a história. Fassbinder é um autor não porque ilustra o mundo através do seu olhar artístico (o autor-iluminador, como se ilustra hoje), mas porque, tendo visto algo de uma sociedade, mete o nosso nariz nela, colocando aí as formas.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">"Antes de Fassbinder,” escreveu Serge Daney num artigo sobre <b>A Saudade de Veronika Voss</b>, precisamente, “havia apenas uma questão na Alemanha, do tipo: como podemos viver com essa coisa, a besta imunda? Depois de Fassbinder, <i>por causa dele</i>, a pergunta deslocou-se de forma insidiosa: como podemos esquecer tão facilmente?” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça-Feira!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-87281277421606497982024-01-24T00:22:00.001+00:002024-01-24T00:22:09.914+00:00Lola (1981) de Rainer Werner Fassbinder<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpOWzv1j5S2ijTwBUlmlJjkg5Y5yiZiFqwBl7pP-p9qPaZXLOnkYaMklDqd9enYt3oZY0ZbrXrLQt8Ck8JVMuks6VBvyW1A5CL-W2RZbUejvWb_pRQeoid8jGXM2D18ZjH4isSAFDmUZwTuopuBuobvwy7YKsxH8qUeNMYGVnyZKEANDG_Qg5c_wSRjT0/s1200/vlcsnap-2024-01-23-19h48m41s034.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1200" height="531" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpOWzv1j5S2ijTwBUlmlJjkg5Y5yiZiFqwBl7pP-p9qPaZXLOnkYaMklDqd9enYt3oZY0ZbrXrLQt8Ck8JVMuks6VBvyW1A5CL-W2RZbUejvWb_pRQeoid8jGXM2D18ZjH4isSAFDmUZwTuopuBuobvwy7YKsxH8qUeNMYGVnyZKEANDG_Qg5c_wSRjT0/w640-h384/vlcsnap-2024-01-23-19h48m41s034.png" width="885" /></a></div><br /><div>por João Palhares</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">O livro em que se basearam <b>O Anjo Azul</b> de Josef von Sternberg, <b>O Anjo Azul</b> de Edward Dmytryk, <b>Pinjra</b> de Shantaram Rajaram Vankudre, <b>Anjo Loiro</b> de Alfredo Sternheim e este <b>Lola</b> de Rainer Werner Fassbinder, foi publicado em 1905 e foi escrito por Heinrich Mann, irmão mais velho de Thomas Mann. Chama-se “Professor Unrat ou O Fim de um Tirano” e só em Fevereiro do ano passado foi traduzido e publicado entre nós pela E-Primatur, sendo aliás o primeiro e único romance de Heinrich Mann editado em Portugal. Não foi oficialmente banido na Alemanha, mas recebeu muitas críticas negativas e circulou apenas em meios intelectuais até finais dos anos vinte. Em 1933, três anos depois de ter sido adaptado ao cinema pela primeira vez, certamente por criticar as classes altas e os poderosos, e certamente por o seu autor ter assinado com Albert Einstein e outros escritores, políticos e cientistas um apelo à unidade para impedir os nazis de subir ao poder, o livro foi um dos muitos queimados em Berlim numa campanha iniciada por estudantes alemães com o apoio de Joseph Goebbels. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O romance de Mann é sobre o professor que lhe dá o título, embora “Unrat” seja uma alcunha que os alunos lhe dão e signifique “esterco”. Com algum poder nas suas salas de aula, o professor Raat atormenta os seus alunos por viver em grande frustração. É viúvo, tem 57 anos, tem um filho que deixou de ver e já deve ter dado aulas a grande parte dos habitantes da sua pequena cidade, que o desprezam como ele os despreza a eles. A dada altura na estória, encontra um poema escrito por um dos alunos dirigido a uma certa menina Rosa Fröhlich, que localiza num bar chamado Anjo Azul. Ele quer repreendê-la e impedi-la de corromper os seus alunos, dizendo-lhe até para abandonar a cidade no dia seguinte, mas acaba por ser seduzido e apaixonar-se perdidamente por ela. No final, depois de algumas peripécias, ele é despedido, fica sem dinheiro, ela engana-o e, depois do professor a tentar estrangular e roubar um antigo aluno que se oferece para lhe pagar as dívidas, Raat e Rosa acabam na prisão. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Isto será o essencial do livro de Mann, que não li mas gostava muito de ler. Tendo como base as adaptações de Sternberg e de Fassbinder, parece-me que nenhum faz justiça ao potencial deste esquema de acontecimentos, e conhecendo as obras dos dois, é pena, porque lhes cairiam como uma luva. Mas o filme de Sternberg, primeiro dos sete que fez com Marlene Dietrich, é o pior da série e sofre imenso por ser sonoro, na altura uma novidade e um empecilho para alguns actores e realizadores, que se viam de repente com instrumentos muito rudimentares para criar obras com toda uma outra linguagem. O lado tirânico do professor, interpretado por Emil Jannings, não parece de todo evidente e surpreendemo-nos com o final terrível e sádico que lhe é destinado. De resto, os primeiros dois terços do filme são muitíssimo enfadonhos e só se entende a perenidade desta obra pela iconografia em torno de Dietrich (principalmente nos números musicais) e os primeiros passos da sua fama como estrela em Hollywood. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O filme de Fassbinder não faz melhor. O professor Unrat, aqui o inspector de obras Van Bohm, é durante praticamente todo o filme respeitado ao mais altíssimo grau por todos os habitantes da cidade, que não é a sua, centrando-se agora a estória na sua luta perdida contra a corrupção durante o pós-guerra na Alemanha e caindo a sua relação com Lola para segundíssimo plano, não se notando nele essa paixão capaz de o perder e degradar para todo o sempre. Estranho para um filme chamado “Lola” e estranho para um filme de Rainer Werner Fassbinder. As cores são fabulosas, não haja dúvida, mas a crueldade e a raiva do alemão que fez <b>As Lágrimas Amargas de Petra von Kant</b>, <b>O Direito do Mais Forte à Liberdade</b>, <i>Martha</i> e <b>Lili Marleen</b>, são substituídas por um cinismo pálido e calado que não me convence. No interior de uma obra de mais de quarenta longas-metragens, realizadas num período de quinze anos entre mil outros afazeres, talvez seja normal, e talvez seja a razão por que outros se destaquem antes e depois, por tentativa, erro e ensaio e sem as ambições desmedidas, excessivamente auto-conscientes e completamente irrealistas em relação à “obra” que tem por exemplo um Quentin Tarantino. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">E por isso me parecem acertadíssimas e não resisto a partilhar as palavras de Miguel Marías num obituário que escreveu sobre Fassbinder em 1982, belo guia para a descoberta da obra do cineasta alemão em que diz que “se as minhas contas não falham—e não tenho a certeza—, Fassbinder fez 42 longas-metragens ou séries—para o cinema ou para a televisão, em vídeo ou em suporte químico—e quatro curtas. A segunda destas, rodada em 1966, sugeriu-me o título deste comentário: <b>O Pequeno Caos</b>, suponho eu, é a ideia que o seu autor tinha da vida; também é a sensação que a obra de Fassbinder produz naquele que escreve estas linhas, porque nela se combinam, na mais assombrosa das promiscuidades—em poucos meses, com a mesma equipa, baralhando elementos temáticos e dramaturgias semelhantes—, o melhor e o pior que conseguiu dar o cinema dos últimos quinze anos (a sua primeira longa data de 1969). De todos esses quilómetros impressos—e às vezes impressionantes para o espectador—, dos milhares de minutos montados que a sua obra supõe, não vi mais que 18 longas e o episódio, autobiográfico, de <b>Alemanha no Outono</b> (1978), e nessa porção—que não chega a metade—há realmente de tudo: acho detestável a sua adaptação de Nabokov, <b>A Segunda Dimensão</b> (1978), irritantemente nulos, <b>Satansbraten</b> (1976) e <b>In einem Jahr mit 13 Monden</b> (1978); falhado, <b>Lola</b> (1981); desprovidos de interesse, <b>Os Deuses da Peste</b> (1970) e <b>Roleta Chinesa</b> (1976); ao mesmo tempo que me parecem extremamente interessantes o seu contributo para <b>Alemanha no Outono</b>—de uma sinceridade e de um impudor que admiram e assustam—e <b>Amor e Preconceito</b> (1974); apaixonantes, <b>Porque Corre o Sr. R. Amok?</b> (1970), <b>O Mercador das Quatro Estações</b> (1971), <b>As Lágrimas Amargas de Petra von Kant</b> (1972), <b>O Direito do Mais Forte à Liberdade</b> (1974), <b>Mamã Küsters Vai Para o Céu</b> (1975), <i>A Mulher do Chefe da Estação</i> (1977), <b>O Casamento de Maria Braun</b> (1978) e <b>Lili Marleen</b> (1980), e geniais—terríveis, comoventes, lúcidos e generosos—<b>O Medo Come a Alma</b> (1973), e a filmagem em vídeo—sinuosos e acusadores movimentos de câmara, magistral utilização do espaço cénico e da decoração, aproveitando a textura visual peculiar do material utilizado, com uma direcção de actores quase tão prodigiosa como a de Dreyer em <b>Gertrud</b>—, da sua encenação de “Casa de boneca”, de Herik Ibsen, o «teledrama» <i>Nora Helmer</i> (1973).”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1FxAy06nq3USsadjbj5EjD7po9P2RrZE-/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-85811369946231279632024-01-22T17:06:00.000+00:002024-01-22T17:06:02.632+00:00327ª sessão: dia 23 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrov15JWi0t3_ulRADMsiB53DVFJZI5WKg6IkW5udLbCRD4qypjoMBBxxBcPkDPhuv2X7yCLz69PzCdCforBQ-KvisI2rXT321LyYLxHC1BZvZ1Ns2S5GtIPF8AOkivMSwajf87S9gK60tKkVE8_sWS52DATJaEimd7Xazi7_VBqI7vxFaB_rM99VBEQk/s2129/lola-vintage-movie-poster-original-german-a1-23x33-6995.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2129" data-original-width="1501" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrov15JWi0t3_ulRADMsiB53DVFJZI5WKg6IkW5udLbCRD4qypjoMBBxxBcPkDPhuv2X7yCLz69PzCdCforBQ-KvisI2rXT321LyYLxHC1BZvZ1Ns2S5GtIPF8AOkivMSwajf87S9gK60tKkVE8_sWS52DATJaEimd7Xazi7_VBqI7vxFaB_rM99VBEQk/w452-h640/lola-vintage-movie-poster-original-german-a1-23x33-6995.png" width="452" /></a></div><div><b>“Lola” de Fassbinder para ver na biblioteca </b></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Janeiro, inaugurando o novo ano das suas actividades, o Lucky Star – Cineclube de Braga, em parceria com o Goethe-Institut de Portugal, promove o ciclo “Poder e opressão - As Mulheres de Fassbinder”, com a exibição de quatro filmes do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Rainer Fassbinder nasceu em Bad Wörishofen, na Baviera, a 31 de Maio de 1945. Faleceu em Munique a 10 de Junho de 1982, aos 37 anos. Durante a sua breve carreira, que durou apenas quinze anos, escreveu vinte e quatro peças, escreveu e realizou mais de quarenta filmes, entrando como actor noutros tantos, e fez duas séries para a televisão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo dedicado ao alemão continua amanhã às 21h30 com a exibição de <b>Lola</b>, terceiro tomo da trilogia BRD, apesar de cronologicamente ter sido o segundo a ser realizado. As outras duas partes da trilogia são <b>O Casamento de Maria Braun</b> e <b>A Saudade de Veronika Voss</b>, que será exibido pelo cineclube na última sessão de Janeiro, dia 30 às 21h30. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A trilogia BRD é uma trilogia temática, não narrativa, e o acrónimo “BRD” significa “Bundesrepublik Deutschland”, que se traduz em português como “República Federal da Alemanha”. Os três filmes centram-se na vida de uma mulher diferente durante o pós-guerra e o chamado “milagre económico” alemão dos anos cinquenta. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Lola</b> situa-se então no pós-guerra, centrando-se na personagem-título que trabalha como cantora num bordel onde se encontram os ricos e poderosos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Fassbinder falou sobre a génese de <b>Lola</b> no dossier de imprensa do filme, explicando que “depois de ter feito <b>A Segunda Dimensão</b> com Dirk Bogarde, ele escreveu-me uma carta a dizer que, embora na verdade não quisesse fazer mais filmes, gostava de fazer outro filme comigo—e queria que fosse o <i>Professor Unrat</i> de Heinrich Mann. Achei que isto era uma ideia empolgante.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Mas os meus escritores, Peter Märthesheimer e Pea Fröhlich,” continuava ele, “disseram que a estória no romance tal como está não lhes interessava muito. Entretanto, eu também estava no ponto de pensar para mim mesmo que o período em que o romance se situa—ou seja, antes da Primeira Guerra Mundial—também não me interessava muito. Eu estou interessado nos anos cinquenta.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-86863513283192000892024-01-17T17:37:00.003+00:002024-01-17T17:37:42.120+00:00Lili Marleen (1981) de Rainer Werner Fassbinder<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihO-6vR15UM_VoYioJgCMrZnLQwBp9IxiFOpb7G4Eq5o933OPczA-E5f8VU9McC2oCMI8WY_kt1yu2bOkqZO5-j0L6koVjmyNc-75Oy-cDVhCqfcfopDkyQTiZviG5BtN5Hgc2EdFQXWznEF171qESj-Vmn-TbVxHhe8Xy-b-yZUEwD42QqS8SrQEVCfA/s1024/vlcsnap-2024-01-17-17h31m49s614.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="498" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihO-6vR15UM_VoYioJgCMrZnLQwBp9IxiFOpb7G4Eq5o933OPczA-E5f8VU9McC2oCMI8WY_kt1yu2bOkqZO5-j0L6koVjmyNc-75Oy-cDVhCqfcfopDkyQTiZviG5BtN5Hgc2EdFQXWznEF171qESj-Vmn-TbVxHhe8Xy-b-yZUEwD42QqS8SrQEVCfA/w640-h360/vlcsnap-2024-01-17-17h31m49s614.png" width="885" /></a></div><br /><div>por António Cruz Mendes</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Fassbinder morreu em 1982, com 37 anos. Nesse curto espaço de vida, realizou quarenta e três filmes, sendo um deles “Berlin Alexanderplatz”, a série cinematográfica com a duração de mais de quinze horas que adapta para a televisão o famoso romance de Alfred Döblin. No quadro dessa
extraordinária actividade criativa, não é simples identificar um estilo que o defina. Os seus filmes podem variar entre um barroquismo estético e uma extrema depuração, assumir códigos de representação próximos dos do teatro, ou serem mais convencionalmente cinematográficos. Contudo, confere-lhes uma coerência própria o facto da Alemanha se encontrar sempre no centro da sua atenção. “Espero viver o suficiente para realizar umas dezenas de filmes que retratem a Alemanha, tal como a vejo, na sua globalidade”, afirmou. E, ainda numa entrevista ao <i>Le Monde</i>: “”procuro-me na história do meu país, porque sou alemão”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Nessa busca, o passado nazi não poderia ser ignorado e <b>Lili Marleen</b> foi o seu primeiro filme onde esse tema ocupou um lugar central. Trata da história de um amor proibido, mas, sobretudo, da história de uma canção e coloca-nos diante de uma questão central: na Alemanha, diante do nazismo e da guerra a neutralidade seria possível? O tema é particularmente sensível por causa da pretendida inocência do povo alemão, tão reclamada nos anos do pós-guerra. Uns apenas cumpriram ordens e os outros, simplesmente, nada sabiam do que se passava à sua volta. E, rapidamente, se lançou um manto de silêncio sobre o assunto. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Neste sentido, de certa forma, Willie, personifica a Alemanha. Para ela, o nazismo e a guerra são realidades distantes e, afinal, “Lili Marleen”, que nos fala dos soldados que, nos seus aquartelamentos ou na frente de batalha, sonham com o dia em que voltarão a reencontrar as suas amadas, é apenas uma canção... O próprio Goebbels a deprecia por não estimular o “espírito patriótico alemão”. Para ele, ela é
apenas “uma tolice com cheiro a morte”. E, no entanto, torna-se uma espécie de hino que todos conhecem, alimenta o moral das tropas e, portanto, a sua disposição combatente. O próprio Hitler o admite e o sucesso de “Lili Marleen” vai ser o sucesso de Willie. Abrem-se-lhe as portas de acesso às altas esferas do regime e o seu deslumbramento é evidente. Finalmente, diz-nos ela, “tive sorte na vida”. Numa sequência fabulosa, sobre si, no palco, caem flores, enquanto no campo de batalhas, as bombas caem sobre os soldados. Ao <i>glamour</i> da sua vida artística contrapõe-se a sordidez e a violência da guerra, mas as duas realidades são inseparáveis. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para Willie, “Lili Marleen” é sinónimo de fama e de riqueza; para os soldados alemães, a promessa de dias melhores; para Robert, encerrado numa pequena cela, obrigado a ouvi-la a toda a hora, dias e noites sem fim, é um instrumento de tortura; depois da descoberta da relação de Willie com um judeu e da falsa denúncia da sua morte, é usada como instrumento da propaganda dos Aliados; e, finalmente, para Taschner, o seu pianista, remetido para o inferno da “frente Leste”, ela vai ser a armadilha que o conduzirá à morte. Afinal, quantos usos pode ter uma inocente canção de amor?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1JLubCGMEtX5Of_1FvGucuJJYhTJY8xh-/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-46406036905579732352024-01-14T22:54:00.002+00:002024-01-14T22:54:57.001+00:00326ª sessão: dia 16 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvbQE9huet3z9NJ1P_H_9egNzLgkTSZO8sC5FgDhItfy2iaKHG7XN4szVFa6pLxBYgEXjDg0wxNXk5qqPiTQMupSoYebTr0B03alqEOnfn1WytwDJxOHduHlHevwsOHhxHU21W9eycBfq6U0UHnw9KpCs4whH9_Y4GdvEJqjVStDVwCkjKddKtCLN4SHo/s1280/MOVAI8330__82417.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="901" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvbQE9huet3z9NJ1P_H_9egNzLgkTSZO8sC5FgDhItfy2iaKHG7XN4szVFa6pLxBYgEXjDg0wxNXk5qqPiTQMupSoYebTr0B03alqEOnfn1WytwDJxOHduHlHevwsOHhxHU21W9eycBfq6U0UHnw9KpCs4whH9_Y4GdvEJqjVStDVwCkjKddKtCLN4SHo/w450-h640/MOVAI8330__82417.jpg" width="450" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“Lili Marleen” é a próxima sessão do cineclube </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em Janeiro, inaugurando o novo ano das suas actividades, o Lucky Star – Cineclube de Braga, em parceria com o Goethe-Institut de Portugal, exibe quatro filmes do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Rainer Fassbinder nasceu em Bad Wörishofen, na Baviera, a 31 de Maio de 1945. Faleceu em Munique a 10 de Junho de 1982, aos 37 anos. Durante a sua breve carreira, que durou apenas quinze anos, escreveu vinte e quatro peças, realizou mais de quarenta filmes, entrando como actor noutros tantos, e fez duas séries para a televisão. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O ciclo, intitulado “Poder e opressão - As Mulheres de Fassbinder”, continua na terça-feira dia 16, às 21h30, com a exibição de <b>Lili Marleen</b>, produzido em 1981 com um orçamento considerável para Fassbinder e filmado em língua alemã e em língua inglesa. O título do filme vem de uma canção famosa tanto entre os Aliados como entre as potências do Eixo durante a 2ª Guerra Mundial, pela voz de Lale Andersen. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">História de amor em tempos de guerra entre uma cantora alemã, Willie, que se torna um símbolo nacional durante o Terceiro Reich, e Robert, um aprendiz de maestro judeu que quer fazer tudo para salvar o seu povo dos nazis, o filme conta com as participações do americano Mel Ferrer, do italiano Giancarlo Giannini e a alemã Hanna Schygulla, que interpreta o papel principal. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Schygulla, nascida em 1943, trabalhou com Fassbinder em <b>O Amor é Mais Frio do Que a Morte</b>, <b>O Machão</b>, <b>Os Deuses da Peste</b>, <i>Das Kaffehaus</i>, <b>Porque Corre o Sr. R. Amok?</b>, <i>A Viagem a Niklashauer</i>, <i>Rio das Mortes</i>, <i>Pioneiros em Ingolstadt</i>, <b>Whity</b>, <b>Cuidado com Essa Puta Sagrada</b>, <b>O Mercador das Quatro Estações</b>, <b>As Lágrimas Amargas de Petra von Kant</b>, <i>Jogos Perigosos</i>, "Acht Stunden sind kein Tag", <b>Amor e Preconceito</b>, <b>O Casamento de Maria Braun</b>, <b>A Terceira Geração</b>, “Berlin Alexanderplatz” e <b>Lili Marleen</b>, a última colaboração entre os dois. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Baseámo-nos em factos,” <a href="https://www.ina.fr/ina-eclaire-actu/video/cab8100717201/lily-marleen">disse</a> Hanna Schygulla à televisão francesa pela altura da estreia do filme, nos anos oitenta, “mas exagerámo-los. Descobrimos que era uma canção que podia ser usada para satisfazer os soldados, que estavam efectivamente na merda, para os fazer sonhar um bocado. Mas mesmo assim havia qualquer coisa de subversivo na canção.” </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça-Feira!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-51354879011016097922024-01-12T22:17:00.005+00:002024-01-12T22:19:29.401+00:00Martha (1974) de Rainer Werner Fassbinder<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKv9uhtJ-d3FhbTTTbbS-5WURFvVx-iveJDr25nHC32yFw9qp_MBbwQh3opRrH-s7oYg4vcaj6jgn7ZHlRW-Yn5KpjcSgifHQtJqa6TUiZ1ZcFJOpogXxdG4BsjVBuzKg_p44ScsuRHFWIngy2sdwZ_8idCiKOO-GUXLlDfEclhMJpevXRXYD8OkluyxA/s960/vlcsnap-2024-01-12-22h07m17s577.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="664" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKv9uhtJ-d3FhbTTTbbS-5WURFvVx-iveJDr25nHC32yFw9qp_MBbwQh3opRrH-s7oYg4vcaj6jgn7ZHlRW-Yn5KpjcSgifHQtJqa6TUiZ1ZcFJOpogXxdG4BsjVBuzKg_p44ScsuRHFWIngy2sdwZ_8idCiKOO-GUXLlDfEclhMJpevXRXYD8OkluyxA/w640-h480/vlcsnap-2024-01-12-22h07m17s577.png" width="885" /></a></div><br /><div>por João Palhares</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Antes de Rainer Werner Fassbinder, o alemão que viveu 37 anos e durante os quinze que durou a sua curta carreira realizou mais de quarenta filmes, encenou mais de vinte peças e fez duas séries para a televisão, já vários realizadores tinham adaptado obras do escritor americano Cornell
Woolrich, como Jacques Tourneur em <b>O Homem Leopardo</b> (1943), que adaptava “Black Alibi”, Robert Siodmak em <b>Phantom Lady</b> (1944), já exibido por nós em 2016 e que adaptava o livro homónimo de 1942, Mitchell Leisen em <b>No Man of Her Own</b> (1950), que adaptava “I Married a Dead Man”, ou Alfred Hitchcock em <b>Janela Indiscreta</b> (1954), que adaptava o conto “It Had to be Murder”, além de François Truffaut em <b>A
Noiva Estava de Luto</b> (1968) e <b>A Sereia do Mississipi</b> (1969), que adaptavam respectivamente os romances “The Bride Wore Black”, o seu primeiro policial, de 1940, e “Waltz into Darkness” de 1947. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Cornell Woolrich nasceu em 1903, vivendo com o pai no México e com a mãe em Nova Iorque depois destes se separarem quando era ainda muito jovem. Inscreveu-se na Universidade de Columbia, mas saiu antes de se licenciar quando conseguiu publicar o seu primeiro romance, “Cover Charge”, primeiro de uns poucos que escreveu durante os anos vinte e trinta inspirados no trabalho de F. Scott Fitzgerald e nos chamados “loucos anos vinte”. Com o segundo, “Children of the Ritz”, venceu um concurso organizado pela revista <i>College Humor</i> e pela First National Pictures, que o contratou para trabalhar como argumentista em Hollywood. Foi em Los Angeles que explorou a sua homossexualidade, enquanto estava casado com Violet Blackton, filha de um produtor de cinema que terminou tudo com ele quando descobriu um diário em que Woolrich descrevia os seus encontros. Sabe-se que vestia um uniforme de marinheiro, que escondia numa mala, e saía à noite para a zona portuária. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em 1932, mudou-se com a mãe para um apartamento no Hotel Marseilles, no Harlem, cuja fauna de ladrões, prostitutas e marginais o terá certamente inspirado e assombrado durante anos. Foi nessa altura que começou a escrever contos para revistas de género policial como a <i>Ellery Queen’s Mystery Magazine</i>, a <i>Black Mask</i>, a <i>Detective Magazine</i>, a <i>Double Detective</i>, a <i>Shadow Mystery Magazine</i> ou a <i>Dime Detective
Magazine</i>. Escreveu tantas histórias que teve de usar pseudónimos, como William Irish e George Opley. Entre nós, foram publicados “A Noiva Vestia de Negro”, “A Mulher Fantasma”, “Vingança Diabólica”, “A Serenata do Estrangulador”, “O Anjo Negro”, “Valsa Sombria”, “Ronda nas Trevas”, “A Intrusa”, “Noite de Angústia”, “O Autocarro sai às Seis” e “A Cortina Negra”, entre títulos da Colecção As Maiores Obras de Mistério e Acção, da Colecção Vampiro, da Colecção Rififi e da Colecção Caminho Policial de Bolso, mas principalmente da Colecção Xis, da Editora Minerva, que editou oito obras de Woolrich. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">*</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">“Era num crepúsculo de Maio, à hora de todos os encontros,” lê-se mesmo no início de “A Mulher Fantasma”, o no 38 da Colecção Vampiro. “Hora a que a metade da população menor de trinta anos penteia os cabelos para trás, deita uma olhadela à carteira e se apresta jovialmente para <i>aquele encontro</i> marcado. Entretanto, a outra metade da população, também menor de trinta, empoa o nariz, enverga uma toilette especial e arranja-se para ir ao <i>mesmo encontro</i>. Para onde quer que se olhasse, viam-se as duas metades da população reunir-se. Em cada esquina, em cada bar e restaurante, à porta de farmácias, nos vestíbulos dos hotéis e sob os relógios das joalharias, em cada ponto de referência havia alguém que tinha chegado primeiro. Repetiam-se as velhas frases, tão gastas mas sempre novas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">- Aqui estou. Há muito tempo que esperas? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">- Estás linda! Onde vamos? </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pois era uma dessas noites. Para o ocidente, o Céu estava de um lindo vermelho, como se se
houvesse preparado também para um encontro; ornara-se de algumas estrelas à guisa de broche de diamantes, fechando o decote do vestido de gala. Os tubos de neon começavam a piscar pela rua fora, «flirtando» com os transeuntes como tudo o mais; buzinas de automóveis grasnavam e toda a gente ia tomando rumo, todos ao mesmo tempo. O ar não era apenas ar, era champanhe atomizado, com um ligeiro sopro de Coty para completar, e subia à cabeça de quem não tomasse cautela. À cabeça ou ao coração.”</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;">*</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não é nada surpreendente que Fassbinder se tenha interessado em algum momento na obra de Woolrich, apesar de negar ter pensado na história quando escreveu o guião[1]. Woolrich era um homossexual não confessado, cheio de sentimentos de culpa que o levaram ao consumo abusivo de álcool e à maior das tristezas[2], que nunca criou uma personagem homossexual em qualquer das suas histórias mas que dinamitou em todas as instituições do amor e do casamento como a sociedade e a cultura as instituíram. São lampejos de revolta encarnados por “mulheres fantasma” ou homens acossados, sedutoras experimentadas e proletários desesperados, jovens passivas e inocentes e libertinos sádicos. E que são verdade e acontecem, quem se comanda pelo que querem os outros normalmente não tem bom fim, quem foge a todo o custo do passado acaba por encontrá-lo ao dobrar duma esquina.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i>Martha</i> é um filme cruel, como pode ser a vida para alguns, e que estende por vezes para lá do suportável o sofrimento da sua heroína. Enquadramentos que a esmagam não faltam, daqueles que a sufocam quando solta os seus gritos desesperados com a mão direita à frente da cara àquele terrível com o marido e o gato no topo das escadas e ela em baixo confusa e apreensiva, passando ainda pelos da estufa em que fuma e lê e os das sombras das chamadas telefónicas. Intempestivo, este alemão que se imagina a
filmar como surge em <b>Kamikaze 1989</b>, a arrombar dezenas de portas de pistola na mão, a levar actores e projectores e obturadores ao limite para ser fiel ao campo de batalha da emoção descrito por Samuel Fuller e que também foi o seu durante quinze anos e cinquenta e quatro filmes.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[1] Foram os responsáveis pelo acervo de Cornell Woolrich que obrigaram Fassbinder a partilhar crédito com o escritor norte-americano, sob ameaça de processos legais. E a verdade é que as histórias são muitíssimo parecidas, da estrutura e da narração ao animal morto, que no livro é um cão, e ao final, que também envolve um acidente de carro e condena a heroína a uma cadeira de rodas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[2] “Tentei apenas despistar a morte. Tentei apenas superar por um bocado as trevas que soube toda a vida e com toda a certeza que iam entrar um dia dentro de mim e obliterar-me.” Palavras escritas por Woolrich e encontradas num fragmento entre os seus manuscritos e papéis.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1uM8BScOrMJ_IldcXpOOJTACXAqP4t_Ue/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-7763524591171511012024-01-07T22:14:00.003+00:002024-01-07T22:14:32.394+00:00325ª sessão: dia 09 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTp3dh51Rs3clpNi6fGNGhDVzp_q9haYS3drR7j7cxx-YnPCuXuS6TNXkkD0nHAGqmaQaJsz4qqwiOuU68fgu2XIaI6lg9oTEF8kmDbsdLz93O0zzeVl4w9DlHBg2sf7BJlyCXQVDM8yzaSbZ0TqgYA8vc-x9UGje-uYQf65PbKHUzRiV51soV4N8JSFA/s905/MV5BODJkNGQ2MDktN2Q1OS00NGVmLTg2YTUtNDU4ZDVjZDk5ZDYxXkEyXkFqcGdeQXVyMjc2NTQ1MTI@._V1_.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="905" data-original-width="640" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTp3dh51Rs3clpNi6fGNGhDVzp_q9haYS3drR7j7cxx-YnPCuXuS6TNXkkD0nHAGqmaQaJsz4qqwiOuU68fgu2XIaI6lg9oTEF8kmDbsdLz93O0zzeVl4w9DlHBg2sf7BJlyCXQVDM8yzaSbZ0TqgYA8vc-x9UGje-uYQf65PbKHUzRiV51soV4N8JSFA/w452-h640/MV5BODJkNGQ2MDktN2Q1OS00NGVmLTg2YTUtNDU4ZDVjZDk5ZDYxXkEyXkFqcGdeQXVyMjc2NTQ1MTI@._V1_.jpg" width="452" /></a></div><div style="text-align: justify;"><b>“Martha” de Fassbinder é o filme desta semana </b></div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Em Janeiro, inaugurando o novo ano das suas actividades, o Lucky Star – Cineclube de Braga, em parceria com o Goethe-Institut, exibirá quatro filmes do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Fassbinder nasceu em Bad Wörishofen, na Baviera, a 31 de Maio de 1945. Faleceu em Munique a 10 de Junho de 1982, aos 37 anos. Durante a sua breve carreira, que durou só quinze anos, escreveu vinte e quatro peças, realizou mais de quarenta filmes, entrando como actor noutros tantos, e fez duas séries para a televisão. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">O novo ciclo, intitulado “Poder e opressão - As Mulheres de Fassbinder”, inicia-se no dia 9 de Janeiro com a exibição de <i>Martha</i>, filme realizado pelo cineasta, encenador e actor para a televisão alemã e protagonizado por Margit Carstensen e Karlheinz Böhm. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Baseado num conto de Cornell Woolrich publicado na <i>Ellery Queen’s Mystery Magazine</i> em 1968, “For the Rest of Her Life”, o filme centra-se na personagem-título, Martha, uma jovem com pouco mais de trinta anos que está de férias em Roma com o pai, quando este morre na sequência de um ataque cardíaco nas escadarias da Praça de Espanha. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Eu sou tão crítico de uma mulher como de um homem,” disse Fassbinder a Christian Braad Thomsen em 1974 quando questionado sobre a sua obsessão por personagens femininas. “A questão é que eu sinto poder expressar melhor aquilo que quero dizer quando utilizo uma personagem feminina no centro. As mulheres são mais excitantes, porque por um lado são oprimidas, e por outro não são mesmo, porque recorrem a essa ‘opressão’ como aterrorização.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“Os homens são tão simples,” continuava ele, “são mais vulgares do que as mulheres. Também é mais divertido trabalhar com mulheres. Os homens são primitivos nos seus modos de expressão. As mulheres podem mostrar mais as emoções, mas com os homens isso torna-se aborrecido.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><i>Martha</i>, como vários filmes de Fassbinder, contou com Michael Ballhaus na direcção de fotografia e tem um movimento de câmara de 360º muito famoso e muito imitado desde então. Sobre ele, em entrevista a Jörn Hetebrügge, Ballhaus disse apenas que “eu sou muito adepto do lema “moção é emoção”. Quando se move a câmara, provoca-se emoção nos espectadores.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">As sessões do cineclube ocorrem sempre às terças-feiras, às 21h30, e a entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do Lucky Star têm entrada livre.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Até Terça!</div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-27533519898513640652024-01-04T16:33:00.002+00:002024-01-04T16:33:50.898+00:00Em Janeiro, no Lucky Star:<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1rc74FkJEHzIqmseVyKT5d4Dq8AHQoVWDC5LUjmPH5FN_SYW_vbDUUarR1yr60aD-NcsvJ-bOvGXEzSIn0gx5JOvpNGpie6W1CHu5jcolI-zwtIVjfi78CkXr7bgN5SM5FvVgrRe5SFzHVzfkMTcIJLG9qVEoB12kfrGwD2iRrK6w0wxKJwIbHXNfM9M/s3149/PRESS%201.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3149" data-original-width="2362" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1rc74FkJEHzIqmseVyKT5d4Dq8AHQoVWDC5LUjmPH5FN_SYW_vbDUUarR1yr60aD-NcsvJ-bOvGXEzSIn0gx5JOvpNGpie6W1CHu5jcolI-zwtIVjfi78CkXr7bgN5SM5FvVgrRe5SFzHVzfkMTcIJLG9qVEoB12kfrGwD2iRrK6w0wxKJwIbHXNfM9M/w480-h640/PRESS%201.jpeg" width="480" /></a></div><br /><div><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2502873378353019524.post-19894178761469558242023-12-13T14:05:00.004+00:002023-12-13T15:12:43.729+00:00Remember the Night (1939) de Mitchell Leisen<div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkGrCEo8RXeCWHZYBQ_HGqJ_wcr0ua_eq7a3TsSdxhkcVcBAZ4Fgj0ZFfHwyFYWH_ZkubWpvsSof_qzMPH6wbyC1C7UnGlC2ttRXXg3BJL-YdPF4uB69blhd3sJCK0BDAyuD5dfSuZJfM0SLS2eOouFuMVLc5r-P_V_6xT_rOSoDJcVXYybWDEdD88gh8/s1456/vlcsnap-2023-12-07-01h32m51s405.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1456" height="655" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkGrCEo8RXeCWHZYBQ_HGqJ_wcr0ua_eq7a3TsSdxhkcVcBAZ4Fgj0ZFfHwyFYWH_ZkubWpvsSof_qzMPH6wbyC1C7UnGlC2ttRXXg3BJL-YdPF4uB69blhd3sJCK0BDAyuD5dfSuZJfM0SLS2eOouFuMVLc5r-P_V_6xT_rOSoDJcVXYybWDEdD88gh8/w640-h474/vlcsnap-2023-12-07-01h32m51s405.png" width="885" /></a></div><br /><div>por João Palhares</div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">James Mitchell Leisen nasceu em Menominee, no Michigan, a 6 de Outubro de 1898. O cinema já nos faz recuar dois séculos para ir ao seu encontro nas telas que improvisamos durante a semana, já passou por tanto que não temos outra hipótese senão rever constantemente quais serão os seus altos e baixos, os seus apogeus e os seus períodos negros, as suas revoluções e os seus recuos impostos e reduzidos a padrões e convenções. A história desta arte nunca estará terminada, e a sua novidade também não, portanto talvez até nem faça sentido procurá-la em salas IMAX e ATMOS nos últimos filmes de Ridley Scott ou Eli Roth, mas antes nos filmes nunca vistos de Servando González, Charles F. Haas, William Castle, Roy Huggins, Sidney Salkow, James Edward Grant, Joseph M. Newman, Joseph Anthony, Edward Dein, Dorothy Arzner, John Berry, Frederick de Cordova, Joseph Lerner, Clarence Brown, Richard Carlson, Cy Endfield, Anatole Litvak, Jesse Hibbs, Harry Keller, William Witney, John English, Edward H. Griffith, Tay Garnett, John Cromwell, Erle C. Kenton, Frank Lloyd… ou Mitchell Leisen. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“A teoria dos autores deixa-nos, como qualquer teoria, com possibilidades e questões,” escreveu Peter Wollen em 1969[1]. “Precisamos de desenvolver muito mais uma teoria de performance, da estilística, de modos graduais em vez de modos codificados de comunicação. Precisamos de investigar e definir, construir criticamente a obra de um enorme número de realizadores que até agora só foram compreendidos de forma incompleta. Precisamos de iniciar a tarefa de comparar autor com autor. Há vários problemas específicos que se destacam: a relação de Donen com Kelly e Arthur Freed, os filmes de Boetticher fora do ciclo Ranown, a relação de Welles com Toland (e - talvez mais importante - a de Wyler), os filmes de Sirk fora do ciclo Ross Hunter, a identidade exacta de Walsh e Wellman, a decifração de Anthony Mann. Para além disso, não há razão para que a teoria dos autores não seja aplicada ao cinema inglês, que ainda é totalmente amorfo, não classificado, despercebido. Não precisamos de dois ou três livros sobre Hitchcock e Ford, mas muitos, muitos mais. Precisamos de comparações com autores das outras artes: Ford com Fenimore Cooper, por exemplo, ou Hawks com Faulkner. O trabalho levado a cabo pelos críticos dos <i>Cahiers du cinéma</i> ainda está longe de estar terminado.” </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">Reitere-se. Pela enésima vez. Não há indústria como a norte-americana na primeira metade do século XX. A fábrica dos sonhos de Hollywood que recebeu todo o talento alemão, austríaco, húngaro, italiano, russo, sueco, dinamarquês, turco, francês, inglês, chinês, mexicano, irlandês, argentino, ucraniano, polaco ou canadiano que lhe bateu à porta; onde o produto final não era decidido previamente em comité, mas batalhado e disputado e discutido durante a escrita, a rodagem e a montagem entre os orgulhos feridos e os receios de insucesso de inúmeros realizadores, actores, produtores e argumentistas, tornando às vezes muito difícil discernir a autoria de um filme, mas concedendo também à empreitada e ao resultado um fulgor apaixonante; onde a adopção de táticas de defesa como sair do estúdio, filmar uma cena sem cortes e sem cobertura ou salvaguardas (grandes planos, campo-contra-campo), aguentar um olhar ou mudar o registo na recitação de um diálogo, era tudo uma forma de garantir que o trabalho realizado não era modificado na montagem ou censurado antes da estreia, mas também estabeleceu a descoberta de uma forma de arte a que se chamou cinema, com os seus próprios códigos, e a descoberta de um criador a que os <i>Cahiers du Cinéma</i> chamaram autor, o cineasta; e onde um jovem bissexual se podia perder sem grandes sonhos ou ideia de vocação e ir jantar com uns amigos que o apresentam a uma realizadora de cinema e a uma argumentista que o põe a trabalhar como figurinista com Cecil B. DeMille. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;">“A câmara não tem ouvidos,” disse DeMille a Mitchell Leisen, “se o quiseres dizer tens de o pôr na tela.”[2] E ele pôs isso em prática, por exemplo, deixando uma placa com o nome de uma cidade em cima do enquadramento quando chega um comboio da direita e de repente deixa de se estar em terra de nenhures, compondo e distribuindo uma multidão de trezentas pessoas a um braço de distância umas das outras e fazendo passar a ideia em perspectiva de que estão apinhadas e são milhares, pintando serapilheira e criando tapeçarias mais realistas do que relíquias de outrora guardadas em museus e até emprestadas à produção, fazendo uma panorâmica vertical em vez de uma panorâmica horizontal para mostrar a assistência de uma arena e evitar assim mostrar os lugares que não conseguiu preencher com figurantes, ou criando um cortinado de vinte e dois metros de altura para pendurar no topo de um cenário e ocultar o escorrega que possibilita a descida grandiosa de um famoso actor, Douglas Fairbanks de seu nome. E foi aprendendo sobre lentes e distâncias focais e que, quanto maiores forem, menos profundidade de campo se tem na imagem, percebendo que para fazer intuir uma pequena dissonância no plano se pode introduzir uma idosa que sabemos rancorosa a abrir e a fechar uma cortina em segundo plano para ver a filha a chorar aos ombros de um homem que acabou de conhecer. A imagem abre-nos um mundo e um passado que só podemos imaginar ter sido terrível, sem saber até que ponto. E descobriu finalmente que é possível acrescentar camadas melancólicas e sombrias numa comédia com um plano longo em silhueta de amantes preocupados com o futuro, que parece saído de um filme negro, por cima das Cataratas do Niágara. </div><div style="text-align: justify;"> </div><div style="text-align: justify;"><b>Lembra-te Daquela Noite</b> é sobre uma ladra, interpretada pela grande Barbara Stanwyck, que é apanhada em flagrante a roubar uma jóia pouco antes do Natal. O advogado dela disserta a dada altura sobre consumismo e tácticas de venda que se aproximam do hipnotismo e que envolvem compras a prestações baratíssimas e empréstimos de produtos sem compromissos, ou assim nos dizem e assim nos apanham. O advogado da acusação paga a fiança e o jantar à ré e são os dois vistos pelo juiz que preside o caso num restaurante, antes de se fazerem ambos à estrada e acabarem perdidos durante a noite no terreno de um homem tacanho que acha que casar é o mínimo que um homem pode fazer. Implicações em barda, para quem tem mentes como um esgoto, e sem sequer chegarmos às casas e às mães de Stanwyck e Fred MacMurray. Dizem-nos que a lei muitas vezes é aplicada sobre equívocos e portanto é preciso ripostar e tentar arranjar uma saída, mas também que é possível exercer a lei com um afinco tal que todos os nossos desejos se concretizam. Discussões destas, lições destas e um final feliz “à Hollywood” atrás das grades, com todas as sombras e dúvidas certeiras de Leisen: um filme de Natal subversivo em 1939 e em 2023. Talvez muito mais em 2023 do que em 1939. Couberam-nos, como a todos os homens, maus tempos para viver.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[1] <i>in</i> «Signs and Meaning in the Cinema», Secker & Warburg, Londres, 1969.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">[2] <i>in</i> «Mitchell Leisen, Hollywood Director”, de David Chierichetti, Photoventures Press, Los Angeles, 1995.</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="https://drive.google.com/file/d/1UymVQtcRCfQRCMsr4didthmAkG_f69xd/view?usp=sharing">Folha de sala em pdf</a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Lucky Star - Cineclube de Bragahttp://www.blogger.com/profile/13304547887660397580noreply@blogger.com0