quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A Christmas Carol (1938) de Edwin L. Marin



por Jessica Sérgio Ferreiro 
 
Durante o mês de dezembro, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta o habitual ciclo de Natal. Neste mês serão exibidos dois clássicos, cujas narrativas decorrem na época natalícia, e uma sessão especial para os mais novos, composta por curtas-metragens de animação. O ciclo abre com um dos filmes natalícios mais emblemáticos de Hollywood, A Christmas Carol (1938), de Edwin L. Marin, que ocupa um lugar especial no cinema de Natal. Na próxima sessão será a vez de An Affair to Remember (1957), de Leo McCarey, um dos romances mais influentes da história cinematográfica norte-americana, realizado por Leo McCarey e protagonizado por Cary Grant e Deborah Kerr. An Affair to Remember é uma obra de elegância intemporal, onde o amor, o azar e o destino se cruzam num melodrama que marcou profundamente a cultura popular. 
 
A Christmas Carol (1938) é uma das adaptações mais marcantes do célebre conto de Charles Dickens, que permanece, desde 1938, como uma das versões canónicas da história de Ebenezer Scrooge. Este filme sucedeu a várias versões anteriores, incluindo a primeira adaptação cinematográfica muda Scrooge, or, Marley’s Ghost (1901), de Walter R. Booth, igualmente fundamental e pioneiro, que inaugurou a presença deste conto no grande ecrã. Não obstante, a versão de 1938 é essencial para compreender como o conto de Natal se consolidou como tradição audiovisual.
 
O filme centra-se em Ebenezer Scrooge, um homem avarento e solitário que despreza o espírito de Natal. Na véspera, é visitado pelos fantasmas do Passado, do Presente e do Futuro, que o conduzem por uma metanoia completa. Produzido pela Metro-Goldwyn-Mayer, o filme tornou-se um clássico de Natal incontornável, firmando no cinema a figura de Scrooge como arquétipo. Substituindo inicialmente Lionel Barrymore, que ficou impossibilitado de representar o papel por motivos de saúde, Reginald Owen interpreta um Scrooge simultaneamente austero e vulnerável, cuja transformação interior se torna o centro emocional do filme. A atmosfera natalícia, recriada com detalhes de época, envolve o espectador numa Londres vitoriana caracterizada pela pobreza, mas onde o cunho moral da narrativa apela à solidariedade e à esperança.
 
A chegada do Fantasma de Jacob Marley é um dos momentos mais fortes do filme. A aparição de Marley, envolta numa atmosfera fantasmagórica prepara o tom moralista da narrativa. Outrora sócio de Ebenezer Scrooge, o Fantasma de Jacob Marley, regressa do além para alertar o velho forreta. Preso a correntes que materializam a culpa e a vida dedicada apenas ao lucro, Marley surge como figura inquieta e penitente, cuja visita serve de aviso: se nada mudar, Scrooge acabará condenado ao mesmo destino. É Marley, ainda, quem anuncia a chegada dos Fantasmas do Passado, do Presente e do Futuro, que irão guiar o protagonista até à redenção. Destaca-se, ainda, a cena com o Sr. Fezziwig, patrão respeitador dos seus trabalhadores, generoso e alegre, este episódio funciona como contraponto ao mundo frio, avarento e solitário de Scrooge.
 
O desenlace da trama culmina na manhã de Natal em que a transformação de Scrooge se conclui numa sequência cheia de energia, onde o personagem abandona o peso da amargura e se “reconcilia com o Mundo”. A cena em que compra o peru para a família Cratchit é emblemática e representa a generosidade e a partilha, inspiradas pelo espírito natalício. Por fim, o filme encerra com a prece compassiva: “Deus nos abençoe a todos”, exclamada por Tiny Tim, para rematar o corolário da história: a importância do cuidado e da bondade num mundo marcado por desigualdades sociais.