segunda-feira, 11 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Os Melhores Anos da Nossa Vida” de William Wyler


Título original: The Best Years of Our Lives; De: William Wyler; Com: Myrna Loy, Fredric March, Dana Andrews, Harold Russell, Teresa Wright; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: Estados Unidos, 1946, Preto e branco, 172 min. 

Sinopse: Filme dramático norte-americano realizado em 1946 por William Wyler, The Best Years of Our Lives foi interpretado por Myrna Loy, Fredric March, Dana Andrews, Harold Russell, Teresa Wright e Virginia Mayo, entre outros. O argumento foi escrito por Robert E. Sherwood, baseando-se no livro Glory For Me, de MacKinlay Kantor. Tratando-se de um clássico sobre o regresso a casa, depois da guerra, e as dificuldades de adaptação à nova vida civil, o filme centra-se em três homens: Al Stephenson (Fredric March), Fred Derry (Dana Andrews) e Homer Parrish (Harold Russell). Os três regressam a casa juntos, atormentados pelas memórias recentes da guerra e com dúvidas acerca do seu futuro. Quando chegam, seguem diferentes caminhos. O marinheiro Homer regressa a casa sem mãos, Al regressa para a sua esposa Milly (Myrna Loy), filhos e o antigo emprego num banco, e Fred encontra uma mulher que praticamente o abandonou e não tem perspetivas de trabalho. (Fonte: infopédia)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O último convidado é Filipa Gambino, que escolheu Os Melhores Anos da Nossa Vida de William Wyler. 

Em jeito de conclusão, escreve-nos que “o ecletismo deste ciclo (de uma maneira pouco premeditada já que a curadoria foi distribuída por tantas pessoas quantos os filmes que por aqui passaram) acabou, de certa forma, por reflectir os vários estágios pelos quais passámos durante esta quarentena. O terror do vírus desconhecido em Cassandra Crossing, ou da peste em A Máscara da Morte Vermelha, ou da cólera em 7 Mulheres; a estranheza da impossibilidade de sair do confinamento em O Anjo Exterminador, a necessidade de evasão em E.T. - O Extraterrestre ou Querido Diário, os dramas familiares como Spencer’s Mountain ou O Túmulo dos Pirilampos e tantos outros e tão bons onde pudemos encontrar paralelos com a situação em que nos encontramos. 

“Escolhi Os Melhores Anos das Nossas Vidas porque descobri nele ecos para as perguntas que me invadem agora o pensamento, nesta fase de desconfinamento: vamos encontrar o mundo ainda como o deixámos? Haverá lugar nele para nós? Saberemos/poderemos ainda abraçar os que amamos? Terá o pior já passado? Tudo perguntas que atormentam estes 3 veteranos de guerra que Wyler acompanha no regresso a casa. 

“Ao longo do filme o desconforto é palpável, o desajustamento destes homens às realidades às quais regressam quase que nos fere. No entanto, ou por isso mesmo, está cheio de vida e beleza. Particularmente marcantes os momentos em que Wyler recorre à profundidade de campo como forma de contar as histórias dos três homens ao mesmo tempo. Acontece no bar onde os três amigos se costumam encontrar mais que uma vez (Fred, no fundo, ao telefone com Peggy), acontece no magistral plano final: toda a força do poder redentor do amor numa única imagem. 

“Esperemos que seja também esse poder redentor do amor a salvar-nos agora e que os melhores anos das nossas vidas estejam, afinal, ainda por viver.”

domingo, 10 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Adventure on Happiness Street” de Jacques Tourneur


Título original: Adventure on Happiness Street; De: Jacques Tourneur; Com: Barbara Stanwyck, Lew Ayres, Robert Culp, Allen Jung, and Victor Sen Yung; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: Estados Unidos, 1961, Preto e branco, 23 min. 

Sinopse: Josephine acha que consegue ajudar o Dr. Paul Harris a arranjar medicamentos para a sua clínica usando apenas os seus contactos comerciais. 

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O quadragésimo convidado é o crítico e programador de cinema norte-americano Andy Rector, que escolheu Adventure in Happiness Street, episódio da série de televisão "The Barbara Stanwyck Show" realizado por Jacques Tourneur em 1961.

Robert Culp, que aparece neste episódio, contou uma pequena história de rodagem à Television Academy Foundation, dizendo que fez “um programa de meia-hora, o "Barbara Stanwyck Theater" [nota: "The Barbara Stanwyck Show"] – e lembro-me, sabe, de ficar arrebatado com a ideia de trabalhar com Barbara Stanwyck. Fui para o plateau, logo, e esta mulher era famosa por saber os primeiros nomes de cada tipo, dos gajos lá de cima, de toda a gente atrás das câmaras, do tipo que limpava o chão, e chamava-os a todos pelo primeiro nome todas as manhãs. Toda a gente simplesmente adorava esta mulher. Bom, eu entrei em cena com ela pela primeira vez, para ensaiar, olhei para ela e ela devolveu-me o olhar. Nessa altura ela não estava casada. Eu estava muito casado. E aquela coisa aconteceu como se se estivesse de pé a abanar uma bandeira. E eu pensei, “Oh, meu Deus.” E não sei quão mais velha que eu ela era, não faço ideia, mas está a ver, isso é um momento que não se esquece, nunca, a vida toda.”

Situando a sua escolha no ciclo e nos tempos que vivemos, Andy Rector disse-nos, “Olhem para este filme. É a armadilha em que estamos todos até hoje! E como na nossa era, não há solução que se encontre; temos de ser nós próprios a produzi-la, ou sair para morrer na rua. Este episódio de televisão chegou-nos numa cópia sem os últimos dois minutos, isto é, sem o monólogo final típico de cada episódio e dito pela anfitriã Barbara Stanwyck para reconciliar o que vimos.”

Amanhã, a escolha de Filipa Gambino

sábado, 9 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Themroc” de Claude Faraldo


Título original: Themroc; De: Claude Faraldo; Com: Michel Piccoli, Béatrice Romand, Marilù Tolo, Francesca Romana Coluzzi, Jeane Herviale; Género: Comédia; Classificação: M/18; Outros dados: França, 1973, Cores, 110 min. 

Sinopse: Retrata a revolta de um trabalhador contra o quotidiano de miséria a que se encontra submetido. O seu despertar leva-o à procura do fruir dos instintos mais primitivos reprimidos pela domesticação da sociedade industrial, e ao repelir das instituições causadoras dessa repressão. Sem linguagem conceptual durante todo o filme, uma obra prima de crítica à civilização. (Fonte: filmow)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo nono convidado é o músico Adolfo Luxúria Canibal, que escolheu Themroc de Claude Faraldo, dizendo-nos «o confinamento ou a libertação da vida.» 

Numa entrevista de 2005 ao jornal L'Humanité, e quando lhe perguntaram qual achava ser o seu lugar no cinema francês, Faraldo disse que “em lado nenhum. Eu não conhecia o cinema. Não era cineasta nem sequer cinéfilo. Tinha visto alguns filmes, e é tudo. Nunca me tinha aproximado de uma câmara e nem sequer sabia que se podiam mudar as ópticas. Era uma época diferente da sociedade e talvez do cinema. Era apenas motorista de entregas, o que é contado em Bof, filme que podia mentir mas não mente. 

Bof foi tirado dos cinemas e Langlois passou-o na Cinemateca. Descobri esse senhor gordo que parecia conhecer e amar o cinema. Apresentou-me a umas pessoas. É preciso dizer que eu era contra o parisianismo. Em minha casa, éramos comunistas, adorávamos Montand e Aragon. Os outros todos eram intelectuais que falavam. O cinema não era razoável. Com Themroc, quis fazer um filme que valesse e por si só e não trouxesse analogia nenhuma, é por isso que não há lá linguagem nenhuma. Nunca senti que tivesse um lugar no cinema.” 

Amanhã, a escolha de Andy Rector.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Céline et Julie vont en bateau” de Jacques Rivette


Título original: Céline et Julie vont en bateau; De: Jacques Rivette; Com: Juliet Berto, Dominique Labourier, Bulle Ogier; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: FRA, 1974, Cores, 185 min. 

Sinopse: Viagem ao "outro lado do espelho" em que Julie é o Coelho Branco que leva Céline (Alice) para o seu mundo fantástico de magia e histórias rocambolescas. A frescura, a irreverência e o sonho (e a memória dos grandes "serials" americanos) no mais acessível e divertido filme de Rivette. (Fonte: Cinemateca Portuguesa)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo oitavo convidado é a cineasta Sílvia das Fadas, que escolheu Céline et Julie vont en bateau do misterioso cineasta francês Jacques Rivette, comentando simplesmente: «Para uma explosão de alegria incandescente.» 

Em Sexual Politics and Narrative Film, Robin Wood disserta sobre esta obra de Rivette, escrevendo que “os créditos atribuem o argumento a Juliet Berto (Céline), Dominique Labourier (Julie), Bulle Ogier, Marie-France Pisier e, finalmente, Rivette, "em diálogo com" Eduardo di Gregorio; as mulheres trabalharam os seus próprios papéis e determinaram todo o progresso do filme, com Rivette a fornecer apenas um ponto de partida sugerido. Com Berto e Labourier em particular, a distinção entre actor e personagem é continuamente ofuscada: temos muitas vezes a impressão que Céline e Julie estão a construir o filme das suas imaginações, enquanto avança. Em lugar do tradicional progresso de leitura através do qual se decifra um trabalho previamente construído para se poder chegar e partilhar da posição privilegiada de conhecimento do autor, aqui partilha-se, a um grau invulgar, do processo de construção, tornando-se a divisão entre isso e o processo de leitura mais estreita do que em qualquer filme de ficção anterior em que consiga pensar. Ao mesmo tempo, o processo de leitura tradicional é levado a primeiro plano com as tentativas de Celine e Julie em decifrar a história dentro da "Casa de Ficção," vivenciadas inicialmente em fragmentos tentadores: elas tornam-se as leitoras de um romance, espectadoras numa peça, o público numa sala de cinema (debatendo, a dada altura, se deveria ou não haver um intervalo, e decidindo contra)-—mas os leitores/ espectadores que recebem miraculosamente o poder de entrar na ficção, intervêm na acção, e mudam o desenlace predeterminado.”

Amanhã, a escolha de Adolfo Luxúria Canibal.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Os Pássaros” de Alfred Hitchcock


Título original: The Birds;  De: Alfred Hitchcock; Com: Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Susanne Pleshette; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: Estados Unidos, 1963, Cores, 120 min. 

Sinopse: Um dos maiores êxitos públicos de Hitchcock e uma das suas obras mais perfeitas. Adaptado de um conto de Daphne du Maurier, THE BIRDS segue a personagem de Tippi Hedren na ida à cidade costeira de Bodega Bay e ao encontro de uma estranha revolta de aves que começam a atacar as pessoas. Como estrelas dos efeitos especiais deste filme, elaboradas miniaturas de pássaros, que foram combinadas com pinturas e uso de retroprojeção. (Fonte: Cinemateca Portuguesa)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes - Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo sétimo convidado é o programador Francisco Rocha, autor do blog My Two Thousand Movies, que escolheu Os Pássaros e justifica assim a escolha de uma das máximas obras-primas do mestre Hitchcock: 

«O homem luta entre si praticamente desde que existe, com a sobrevivência da humanidade a ser muitas vezes posta à prova no meio dessas guerras. Nunca levou muito a sério o seu inimigo mais natural, a natureza. Temos o exemplo da pandemia que estamos a atravessar, e também foi assim no filme de Alfred Hitchcock, Os Pássaros, de 1963, onde várias espécies de pássaros de uma pequena comunidade começam a atacar os humanos sem razão aparente. 

Revi The Birds algures a meio de Abril, quando a pandemia já ia bem desenvolvida. Na altura, já era uma forte ameaça, e uma verdadeira incógnita sem resolução à vista. O inimigo invisível avançava a uma velocidade avassaladora, e ameaçava chegar à nossa porta rapidamente. No filme de Hitchcock o inimigo não é invisível, mas é uma força que não temos capacidade de compreender, nem de destruir, e chegamos ao fim sem saber o que realmente transformou os pássaros em criaturas assassinas. Provavelmente vai acontecer o mesmo com este vírus, apareceu e vai desaparecer deixando muitas questões sem resposta. 

Apesar de mais de 50 anos separarem o filme da realidade que vivemos, temos vários pontos em comum. Um deles é, por exemplo, a personagem interpretada por Tippi Hedren, uma socialite rica que viaja até à pequena comunidade de Bodega Bay na tentativa de pregar uma partida ao homem que a insultou. A certa altura, depois dos pássaros darem início os ataques de forma organizada, os habitantes desta comunidade começam a duvidar desta personagem, como se ela pudesse estar no centro de todos os acontecimentos (tudo começou com ela e ela está sempre presente). Na actualidade existe uma situação parecida. Ninguém sabe nada sobre as raízes do vírus, por enquanto não passam de suposições, mas no entanto já meio mundo aponta o dedo para a China, que é a Tippi Hedren desta realidade. Hitchcock também deixa a dúvida a pairar no ar, se Hedren tem alguma coisa ou não a ver com os ataques. 

The Birds é um filme muito actual, mesmo que já o tenham visto, está na altura ideal para o reverem, e por certo que irão encontrar mais pontos em comum com o nosso mundo de 2020.» 

Amanhã, a escolha de Sílvia das Fadas.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

The Long Gray Line (1955), por Tag Gallagher


Em The Long Gray Line um imigrante irlandês revive os seus 50 anos em West Point, totalmente maravilhado.

Viveu no seio de uma comunidade orgulhosa e incrivelmente terna - e com uma Maureen O'Hara incrivelmente adorável.

Mas também numa fábrica de morte.

Ao primeiro vislumbre do Point, pergunta-se maravilhado, "O que é? Uma espécie de prisão? Ou um asilo de loucos?" e dizem-lhe que "É a Academia Militar dos Estados Unidos." As três respostas têm todas um sentido. 


Jean-Marie Straub pôs uma ampliação desta imagem num "Muro de Paz" em Viena, com o graffiti em cima a perguntar, "Onde Jaz o Teu Sorriso?"


Uma vez perguntei a Straub, "O que é um filme experimental?"

Ele hesitou e depois deu um murro na mesa: “The Long Gray Line! Um filme experimental é isso. Não?!”

Marty apega-se maravilhado a cada instante da vida. Nós não nos podemos apegar ao "agora" na vida real, mas podemo-nos apegar na vida dos filmes (24 vezes por segundo). E, como Marty, experimentar então o tempo de forma diferente, mais intensa – apanhado na passagem da vida? Não. Porque como Huw em How Green Was My Valley, Marty rejeita o tempo.

The Long Gray Line é a glorificação da vida na iluminação da morte.

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Uma Vida Inteira” de John Ford


Título original: The Long Gray LineDe: John Ford; Com: Tyrone Power, Maureen O’Hara, Robert Francis, Ward Bond, Donald Crisp, Betsy Palmer, Phil Carey, Harry Carey Jr.; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: Estados Unidos, 1955, Cores, 138 min. 

Sinopse: Homenagem de John Ford ao Exército, evocando a mais célebre instituição para a formação de oficiais, a Academia de West Point. Centra-se na história de “Marty” Maher, treinador na Academia e da sua relação com cadetes que se tornarão famosos, como Eisenhower (interpretado por Harry Carey Jr). Um dos melhores trabalhos de Tyrone Power e Maureen O’Hara em estado de graça. (Fonte: Cinemateca Portuguesa)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo sexto convidado é o historiador de cinema Tag Gallagher, autor do monumental volume sobre John Ford intitulado John Ford: The Man and His Films, e que escolheu The Long Gray Line, pois, como começou por dizer: «Bem, nunca pode haver Ford demais, por isso escolho “The Long Gray Line”». 

O crítico e argumentista Frank S. Nugent escreveu no livro colectivo John Ford Made Westerns que “John Ford é um homem grande e bamboleante com um rosto enrugado, cabelo ruivo que enfraqueceu com os anos, um feitio que não enfraqueceu, e um dom para fazer filmes que lembra de forma desconfortável a Hollywood que os filmes não são apenas uma indústria, mas uma arte. Entre os conhecedores de cinema, é considerado um dos maiores realizadores que já viveram; alguns chamam-no o maior. Ganhou três Óscares da Academia pessoalmente endereçados—entre os realizadores, só Frank Capra tem tantos como ele—e é o vencedor inigualável por quatro vezes dos prémios anuais da Associação de Críticos de Nova Iorque para realização. Ford tem orgulho dos seus troféus, mesmo sem nunca ter aparecido nos jantares da Academia ou nas transmissões dos críticos para os aceitar. Odeia publicidade.” 

Em entrevista a Jean Mitry para a revista Cinémonde, em 1955, e quando o francês lhe pergunta quais são os filmes preferidos entre os que fez, John Ford contra-ataca com a sua humildade mordaz, dizendo “os meus filmes preferidos? Bah! Não sei. Diz que fiz bons filmes, acredito em si. Não sabia que as pessoas estavam tão interessadas no meu trabalho, em França. Fico encantado, mesmo assim. Bom! Digamos The Long Voyage Home, Stagecoach, The Informer. The Sun Shines Bright também e o meu último, The Long Gray Line. Acho que é um dos melhores. Vai ver.” 

Amanhã, a escolha de Francisco Rocha.

terça-feira, 5 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Três na Rua Mechtchanskaya” de Abram Room


Título original: Tretya meshchanskaya; De: Abram Room; Com: Vladimir Fogel, Nikolay Batalov, Lyudmila Semyonova; Género: Comédia, Drama Classificação: M/12; Outros dados: Rússia, 1927, Preto e Branco, 88 min. 

Sinopse: Esta atrevida farsa russa é uma fascinante curiosidade, atípica em relação ao cinema de propaganda da altura, e bem à frente do seu tempo no tratamento a sexo e género. Os três intérpretes principais têm grandes interpretações, com destaque para Lyudmila Semyonova num papel feminino altamente progressista para a altura. O filme também beneficia de um trabalho de câmara inventivo, produzindo uma visão realista da década de 20 em Moscovo e dos seus habitantes. Era o quarto filme de Abram Room, e ganhou fama por ter sido banido (e elogiado) nos dois continentes. Tal como outros dos primeiros realizadores do cinema soviético, chegou a esta área depois de um caminho sinuoso. Era um médico especializado em psiquiatria e neurologia, que serviu como oficial do Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa, que se deu depois das revoluções de 1917. Originalmente da Lituânia, Room decidiu ficar em Moscovo depois da desmobilização e começou a trabalhar no Teatro da Revolução. (Fonte: My Two Thousand Movies)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo quinto convidado é a realizadora Rita Azevedo Gomes, que escolheu Três na Rua Meshchsanskaya de Abram Room. 

Num capítulo de Kino and the Woman Question, Judith Alley escreve que “Três na Rua Meshchanskaya é diferente da maior parte dos filmes considerados “clássicos” do cinema mudo soviético tanto pelo seu tema como pelo seu estilo. Um crítico da Close-Up descreveu o filme como caracterizado por “cortes descuidados, continuidade não relacionada, por todos os erros que o amador pode cometer.” O crítico continua: “E no entanto aqui estava um filme que nos prendia e tinha génio. A própria irregularidade concedia-lhe um poder acrescentado; quase se podia dizer que criou uma nova técnica.” 

“O filme conta a história de uma mulher, Liudmilla, cuja vida é definida pelo pequeno apartamento de um quarto em que passa os dias. O marido dela, Kolia, um supervisor de construção, convida um velho amigo, um estampador, a partilhar o apartamento deles. O amigo, Volodia, chegou recentemente a Moscovo e não consegue encontrar um quarto devido à crise de habitação.” 

Justificando a sua escolha, Rita Azevedo Gomes disse-nos que é «uma recentíssima descoberta, este filme, Três na Rua Meshchanskaya, fascinou-me não tanto pela urgência em abordar, no contexto social da União Soviética dos anos 20, temas como o amor, o casamento, a moralidade sexual, mas pela maneira como tudo se condensa e encerra num pequeno espaço, uma cave nos subúrbios de Moscovo. Sublime a economia estética da imagem; cada plano, detalhe, olhar, cada reflexo, aproxima-nos com enorme delicadeza da densidade interior dos três personagens e da sua fragilidade, sustentada pelo espantoso trabalho dos actores.» 

Amanhã, a escolha de Tag Gallagher.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Mother! (2017) de Darren Aronofsky



por Zina Caramelo

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Mãe!” de Darren Aronofsky


Título original: Mother!De: Darren Aronofsky; Com: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer; Género: Drama/Terror;  Classificação: M/16; Outros dados: EUA, 2017, Cores, 115 min.

Sinopse: Um casal vive numa casa isolada onde ele, um poeta em crise de inspiração, viveu toda a sua infância. Ela, decidida a transformar aquele lugar num lar, remodela cada espaço com amor e dedicação. Certa noite, são visitados por um estranho que diz ser médico. O marido decide acolhê-lo. Depois chega a mulher do médico e, mais tarde, os dois filhos de ambos. A presença daqueles estranhos hóspedes depressa começa a tomar conta de toda a casa, possuindo-a e deixando a proprietária com uma sensação de terror que parece ir tomando, a cada dia, proporções cada vez maiores… (Fonte: PÚBLICO)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo quarto convidado é o artista Zina Caramelo, que escolheu Mãe! de Darren Aronofsky. 

No seguimento da má recepção deste filme de Darren Aronofsky, Martin Scorsese veio em sua defesa e escreveu que “antes de chegar a ver Mãe!, estava extremamente perturbado com todos os julgamentos severos que lhe fizeram. Muitas pessoas pareciam querer definir o filme, catalogá-lo, achá-lo imperfeito e condená-lo. E muitos pareciam ficar contentes com o facto de ter recebido uma classificação de “F” do Cinemascore. Isto tornou-se mesmo uma notícia — Mãe! tinha sido "esbofeteado" com a "temida" classificação de “F” do Cinemascore, uma distinção terrível que partilha com filmes realizados por Robert Altman, Jane Campion, William Friedkin e Steven Soderbergh. 

“Depois de ter a oportunidade de ver Mãe!, ainda fiquei mais perturbado com esta pressa para julgar, e foi por isso que quis partilhar as minhas reflexões. As pessoas pareciam querer sangue, só porque o filme não podia ser facilmente definido ou interpretado ou reduzido a uma descrição de duas palavras. É um filme de terror, ou uma comédia negra, ou uma alegoria bíblica, ou uma fábula admonitória sobre a devastação moral e ambiental? Talvez um pouco de tudo o que se referiu anteriormente, mas certamente não apenas uma dessas categorias arrumadas.” 

Amanhã, a escolha de Rita Azevedo Gomes.

domingo, 3 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “O Deserto dos Tártaros” de Valerio Zurlini


Título original: Il Deserto dei Tartari; De: Valerio Zurlini; Com: Giuliano Gemma, Helmut Griem, Jacques Perrin, Philippe Noiret, Vittorino Gassman; Género: Drama / Suspense; Classificação: M/12; Outros dados: ALE/ITA/Irão/FRA, 1976, Cores, 140 min.

Sinopse: No meio do deserto, dentro de um forte, um grupo de soldados espera por um inimigo que tarda em chegar. Soldados e oficiais sobrevivem de forma honrada, tentando respeitar as regras. Mas os dias, os meses, os anos passam e absolutamente nada acontece. Sentindo-se espiritualmente encarcerado, o jovem tenente Drogo (Jacques Perrin) tenta obter um atestado médico que o isente da sua nova posição. Mas o seu pedido é recusado e Drogo não tem outro remédio senão adaptar-se a uma vida solitária e, a seu ver, claustrofóbica e inútil. Baseado no romance homónimo de Dino Buzzati, "O Deserto dos Tártaros" foi considerado o melhor filme do ano nos Prémios David di Donatello e valeu a Valerio Zurlini o Prémio David para melhor realizador. Com música de Ennio Morricone, autor das bandas sonoras de títulos como "Era Uma Vez na América" (1984), "Os Intocáveis" (1987), "Cinema Paraíso" (1989), "Lobo" (1994) e "A Lenda de 1900" (1998). (Fonte: PUBLICO.PT)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo terceiro convidado é o grande cineasta português, verdadeiramente português, Manuel Mozos, que escolheu O Deserto dos Tártaros de Valerio Zurlini. 

Sobre o deserto, Zurlini escreveu a páginas tantas de Pagine di un diario veneziano que “houve um hábito antigo e apaixonado de outras viagens para outras terras que me ligou com uma atracção invencível ao deserto como a um espaço de liberdade incontaminada que me era secretamente agradável e no qual nunca me conseguia sentir sozinho. […] É lindo imergir na sua solidão não ameaçadora que não nos acolhe mas também não nos rejeita, perdermo-nos na sua imensidão indiferente até ao cair da primeira escuridão, descobrir a fantasia de uma vegetação petrificada milenar, encontrar esqueletos alisados pelo sol ou os poucos animais antediluvianos que o habitam sem o pesadelo da sede: cancelar as dimensões do tempo numa calma profundíssima que acalma suavemente todas as inquietudes no coração.” 

Falando-nos sobre a sua escolha, Manuel Mozos disse que «este é o último filme de Valerio Zurlini, um cineasta de que gosto particularmente, muitas vezes ignorado ou posto de lado. Não existe acção neste filme, apenas um grupo de soldados perdidos num deserto, num sítio que nem sequer é claro, à espera que aconteça algo que mude as suas vidas. O filme é só essa espera. E é isso que eu acho fantástico.» 

Amanhã, a escolha de Zina Caramelo.

sábado, 2 de maio de 2020

THE LITTLE BLACK DRESS



por Ana Teresa Pereira 

«Would it make any sense if I told you it’s never happened before?» 
«Maybe.» 
(Pushover

«Will you tell me something? Has this ever happened to you before?» 
«What?» 
«Falling… into San Francisco Bay.» 
(Vertigo

A rapariga é a mesma: Kim Novak. Os homens são Fred MacMurray e James Stewart. Para quem conhece Vertigo, ver Pushover pela primeira vez pode ser inquietante. Há elementos familiares: partes do diálogo, movimentos de câmara, cenas inteiras (Kim Novak a conduzir o automóvel e a parar junto à casa do homem que a persegue); o vestido preto que Scottie força Judy a usar quando tenta transformá-la em Madeleine (e que supostamente Hitchcock imaginara para Vera Miles), é o vestido preto de Lona em Pushover. Nas suas entrevistas com Truffaut, Hitch menciona o facto de Judy não usar soutien quando Scottie a encontra. No primeiro encontro de Lona e Paul, Quine filma-a de modo a tornar isso evidente. 

Pushover foi o primeiro filme de Kim Novak. Foi também o princípio da sua história de amor com Richard Quine. Fizeram vários filmes juntos; o último e talvez o mais belo é Strangers When We Meet (a casa que, no filme, Kirk Douglas está a construir, era a casa que Quine ia oferecer a Kim). Quase nada no romance de Bill S. Ballinger, que inspirou o argumento de Roy Huggins, sugere a personagem de Lona no filme. Lona não é uma “femme fatale”; ela precisa de dinheiro (as pessoas são sujas, o dinheiro não) porque precisa de segurança. A forma como Quine a filma torna-a enternecedora, quase pura: uma rapariga apaixonada. 

Hitchcock detestava Kim Novak. Mas a irrealidade de Madeleine, a presença carnal de Judy, não revelam isso. A câmara segue a actriz apaixonadamente, como a seguira três anos antes em Pushover. Esse foi um dos golpes de génio de Hitchcock. Filmar a actriz como um homem que a amava.

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Pushover” de Richard Quine


Título original: Pushover; De: Richard Quine; Com: Fred MacMurray, Kim Novak, Philip Carey; Género: Noir; Classificação: M/12; Outros dados: EUA, 1954, Preto e Branco, 88 min. 

Sinopse: O polícia honesto Paul Sheridan é incumbido de recuperar 200 mil dólares roubados de um banco. Ele e os seus outros colegas mantêm vigilância de 24 horas sobre Lona McLane, namorada de um dos assaltantes. Sheridan acaba por se apaixonar por Lona, que, quando descobre que ele é um polícia, tenta persuadi-lo a matar Harry Wheeler, de forma que os dois possam ficar com o dinheiro. No início, ele resiste, mas com o tempo concorda. Após o assassinato, Sheridan percebe que também tem de trair seu colega detective Paddy Dolan e enganar seu parceiro Rick McAllister e seu chefe Tenente Eckstrom e não deixar pistas. Quase toda a acção se passa à noite no apartamento em forma de U, onde Lona e uma testemunha chave, a vizinha Ann Stewart, vivem. (Fonte: filmow)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes - Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo segundo convidado é a escritora e cinéfila Ana Teresa Pereira, que confessou a paixão por Kim Novac e as relações com Hitchcock, escolhendo Pushover de Richard Quine. 

O cineasta francês Claude Chabrol escreveu em 1955 que “Pushover, de Richard Quine, oferece uma intriga totalmente desinteressante a priori. O grande mérito do realizador foi o de a considerar a priori como tal, de a escamotear na medida do possível e de se prender apenas a dois ou três personagens interessantes que estão imbricados nela. Num abrandamento da acção, necessário para o seu propósito, correspondente à criação de uma atmosfera bastante particular e extremamente interessante, e sobretudo num engrandecimento dos personagens: um homem, uma mulher e um velho polícia, coisa que não encontramos quase nunca nas produções deste género. Isto faz-nos pensar um bocado em Nicholas Ray e um bocado em Mark Dixon, de Preminger (do qual ele utiliza, num momento, a técnica do travelling com grua); e junta-se a isto tudo uma espécie de lirismo bastante pessoal.” 

Amanhã, a escolha de Manuel Mozos.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Stromboli” de Roberto Rossellini


Título original: Stromboli; De: Roberto Rossellini; Com: Ingrid Bergman, Mario Vitale; Género: Drama; Classificação: M/12; Outros dados: ITA, 1949, Preto e branco, 102 min. 

Sinopse: O primeiro filme de Rossellini com Ingrid Bergman (que “partiu de UNDER CAPRICORN para STROMBOLI”) marcou uma viragem importante no percurso do realizador e no da atriz. À época, Eric Rohmer comentou assim o filme: “STROMBOLI, grande filme cristão, é a história de uma pecadora tocada pela graça. (…) O autor de STROMBOLI bem sabe a importância que a sua arte pode dar aos objetos, ao lugar, aos elementos naturais do cenário. Dominando o poder que lhes confere, Rossellini faz deles os instrumentos da sua expressão, o molde de onde sairão os gestos e mesmo os impulsos dos atores”. Por muitas razões, uma das mais extraordinárias experiências em toda a história do cinema. “Este filme, duma beleza alucinante, é um filme sobre o cosmos. […] STROMBOLI é o poema da criação” (João Bénard da Costa).

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes - Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo primeiro convidado é a realizadora e programadora Inês Sapeta Dias, que propôs Stromboli, o famoso filme de Rossellini, o que a levou a dispensar apresentações. 

No entanto, e continuando a sinopse, ficam mais algumas palavras de João Bénard da Costa: «Para se perceber os hasards deste filme tem que se começar pelo primeiro: Ingrid Bergman. A história é muito conhecida, Ingrid contou-a em pormenor nas suas célebres memórias (“My Life”), Rossellini também, e por isso a vou resumir. Foi por acaso – segundo ela jurou – que Ingrid Bergman, em 1948 a mais famosa e bem paga vedeta do mundo (é célebre a anedota hollywoodiana que refere como lugar-comum das conversas dos anos 40 “hoje vi um filme sem Ingrid Bergman”) entrou numa sala de cinema, para ver um filme de que nunca tinha ouvido falar: Roma, Città Aperta. O que viu maravilhou-a, pois que – Ingrid dixit – “nunca na minha vida tinha visto um filme assim, nem imaginava que os pudesse haver”. Voltou e voltou ao cineminha de bairro que projectava o filme de Rossellini, já “velho” de três anos. E amadureceu a decisão: escrever uma carta a Roberto Rossellini – Cinecittá – Roma – Itália, oferecendo-se para trabalhar com ele, fossem quais fossem as condições.   

Este simples acontecimento marca uma revolução na história do cinema e na história de Hollywood. A mais célebre das stars – em percurso inverso ao de Greta Garbo, Marlene Dietrich, Vivien Leigh ou tantas outras – estava disposta a trocar a capital do cinema pela Europa e – mais do que isso – achava que se faziam melhores filmes na Europa do que em Hollywood. Vinte anos antes, Louise Brooks achara o mesmo e trocara Hollywood pela Lulu de Pabst. Mas este teve que insistir e Louise era um “bicho” muito raro e muito rebelde (aliás, pagou com a carreira essa rebeldia). Além disso, o cinema alemão de 28 tinha reputação comparável ao americano que, por isso mesmo, lhe roubou, um a um, todos os grandes (Lubitsch, Murnau, Leni, Jannings, Marlene e dezenas de outros). Ingrid Bergman era tudo menos rebelde (ou não tinha imagem de o ser), estava instalada em pleno star system (no alto do firmamento) e a crítica americana tratava sobranceiramente o incipiente cinema italiano dito “neo-realista”. Que o símbolo de Hollywood caísse aos pés do símbolo do neo-realismo (Roma, não Rossellini) é que era a revolução de que falei.  

A carta de Ingrid chegou às mãos de Rossellini a 8 de Maio de 1948, dia em que o realizador festejava o seu 42º aniversário. Apesar do prestígio de Rossellini na Europa, apesar do êxito de filmes como Roma ou Paisà, o cineasta não acreditou no que lia. E julgou tratar-se de uma brincadeira de alguém decidido a ver até onde chegava a mania das grandezas dele. Nem respondeu.  

Mas Ingrid insistiu e Rossellini acreditou mesmo. Foi até à América. Quando os estúdios perceberam o que se podia passar, usaram o velho ditado que manda juntarmo-nos aos que não podem ser vencidos. Roberto podia dirigir Ingrid mas em Hollywood, num filme aprovado por Hollywood. Isso era exactamente o que nem um nem outro queriam. E, em 49, sem dizer água vai (ou disse-o de outra maneira) Ingrid Bergman voou de Londres, onde filmara sob a direcção de Hitchcock Under Capricorn (que detestou) para aterrar em Roma e daí partir para a Ilha de Stromboli para filmar em décors naturais (o que jamais lhe havia sucedido) uma história escrita por muitos e mais ou menos em borrão.  

O resto é conhecido. Ingrid apaixonou-se também por Rossellini e começou a viver com ele, ainda formalmente casada com o médico sueco que fora o seu primeiro marido. A escandaleira que isso deu só em parte foi ditada pelo romance heterodoxo (muitos houve antes, que os estúdios calavam, como tantos outros). A grande razão é que Hollywood não perdoou essa fuga e resolveu ter muito menos fair play do que teve – ao que parece – o marido “enganado”. Era preciso que Ingrid fosse esmagada e que o filme fosse um fiasco.  

Quando Stromboli se estreou (distribuído pela RKO) e amputado e remontado, houve o fiasco. “When things get dull, they throw in a little sex” escreveu um reputado crítico americano da época. A frase valia mais para o que Hollywood fizera do que para o filme (com muito pouco sexo) e que não era o “20 minute travelogue of Stromboli in an 89 minute film”, como também se escreveu. E Bosley Crowther no “New York Times” advertia os leitores que “the much discussed Stromboli is neither good Bergman, good Rossellini, nor good anything”. E muitos anos passaram até que alguns happy few descobrissem a beleza desta obra, muitos anos avançada em relação à sua época, e que, ainda por cima, nada tinha de “neo-realista” no sentido usual do termo.  

Mas um dos aspectos mais curiosos deste filme – para mim – é ver como Ingrid Bergman – menos “maquilhada” do que nunca, e jamais o fora muito – sem actores a seu lado capazes de lhe darem réplica (Mario Vitale ou Renzo Cesana, eram actores de secundaríssimo plano) e rodeada de povo, povo (não actores) manteve uma imagem que, para mim, é já a dos seus filmes de Hollywood. Sempre ela me pareceu como tanto escrevi (e pensem em Intermezzo, em Gaslight, em Spellbound, em Notorious ou em Under Capricorn) a permanente estrangeira que misturava à sua doçura a capacidade de ser a misteriosa detonadora das forças do mal. Parecia atrair masoquisticamente esse mal que chegava mais para desgraça dela do que dos outros. Ora, Stromboli, aparte muitas outras coisas e já lá vou, é isso mesmo: a mulher que vem doutro mundo (o campo de raparigas, a Checoslováquia) e, ao casar com Antonio e entrar em Stromboli, desencadeia não só a hostilidade popular (compreensível face à estrangeira) mas o oculto movimento das forças subterrâneas – acompanhando, imperceptivelmente o que se passa nos subterrâneos dela – até à explosão final, em todos os sentidos da palavra. Paradoxalmente, quando Rossellini julgou revelar ao mundo uma nova Ingrid Bergman, surgiu quanto a mim, o paradigma de tudo quanto Hollywood antes, nela, deixara entrever. E Stromboli é um filme sobre a progressão da auto-destruição de Karin-Ingrid, um filme em que, ao contrário do “nada se passa” que a crítica da época acentuava, tudo se passa no interior de Karin, num processo ditado não por acontecimentos mas por actos, que sinalizam tanto o conflito que opõe Karin ao espaço envolvente, como a metamorfose interior, jamais explicitada, da personagem. Estamos em pleno universo rosselliniano: “universo de actos puros, insignificantes por si próprios, mas preparando, mesmo a despeito de Deus, a súbita e maravilhosa revelação do seu sentido” (Bazin). » 

Amanhã, a escolha de Ana Teresa Pereira.