quarta-feira, 21 de março de 2018

Voyage à travers le cinéma français (2016) de Bertrand Tavernier



por Carlos Melo Ferreira

Uma Viagem pelo Cinema Francês com Bertrand Tavernier/Voyage à travers le cinéma français, de Bertrand Tavernier (2016), é um filme muito bom e completo sobre uma das cinematografias mais importantes da Europa e do mundo, feito a partir do ponto de vista e da experiência do cineasta desde a sua infância.

Sempre com recurso a excertos de filmes e declarações dos envolvidos na sua produção, começa com Jacques Becker e termina com Claude Sautet, aos quais é dedicado. Fica bem ao cineasta deter-se, além de Jean Renoir, Jean Gabin, Jean Vigo, Marcel Carné, Jacques Prévert e Jean-Pierre Melville, nos menos conhecidos Edmond T. Gréville e John Berry entre outros, bem como em Eddie Constantine, que o marcaram e são raramente referidos.

Lamento, contudo, que a referência à nouvelle vague francesa seja tão breve e selectiva, deixando de fora Rivette e Rohmer, por exemplo, e que René Clair, Robert Bresson, Henri-Georges Clouzot, Jean Rouch, Alain Resnais e Jacques Tati sejam pouco referidos, quando não omitidos. Mas tal dever-se-á provavelmente a ele ser um homem da Positif, uma importante e antiga revista francesa de cinema, o que o faz estar atento aos compositores Maurice Jaubert e Joseph Kosma.

Na sua longa duração este filme contém histórias curiosas, algumas delas fabulosas e desconhecidas do cinema francês que Tavernier descobriu e trouxe para o seu filme, feito à maneira dos de Martin Scorsese sobre o cinema americano e sobre o cinema italiano, como eles completo e muito bem feito.

Aproxima-me deste cineasta francês, justamente célebre, ter tido como ele uma "primo-infecção" na infância e o gosto pelo cinema americano, mas afasta-me dele o gosto pessoal e a perspectiva crítica que, sendo também parcial e subjectiva, nos Cahiers du Cinéma dos anos 50 era mais virulenta, mais apaixonada e esclarecida - embora por vezes também mais injusta -, o que fez com que das suas fileiras tenha saído o melhor da nouvelle vague.

Mas vejam pois, bem documentado e comentado, só vos pode fazer bem na sua seriedade e na sua erudição. Os franceses choraram com este filme, o que com o seu sentimentalismo e o seu chauvinismo se compreende, nós podemos vê-lo com os olhos secos.

no blog Some Like it Hot.

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