sábado, 1 de outubro de 2016

29ª sessão: dia 4 de Outubro (Terça-Feira), às 21h30


Para Herman Melville o grande tema americano era o espaço, para Jack Kerouac, a velocidade. Na abertura de Scarecrow dois drifters encontram-se no fim do mundo que para eles é como o dia-a-dia; poderia ser o absurdo do Hitchcok de North by Northwest levado ao limite, mas nesses ventos de errância a caricata situação comporta a brisa da normalidade. O marinheiro de Al Pacino que certo dia a certa hora teve medo e embarcou para longe, tal como o Gene Hackman das negociatas e do desenrasque, tratam as grandes distâncias como o pátio da infância e não conseguem deixar de correr sob o risco de deixarem de respirar. 

É capaz de ter esta cara o tão perseguido american dream. Curiosos como crianças, com infinita sede de descoberta e tratando o perigo como mais um comparsa a conhecer, o mais novo vai ensinar ao mais velho que uma descarga de riso pode ser tão violenta como uma carga de porrada. Mas depois há o passado e o acaso que podem soprar para onde quiserem. Tão caloroso como grave, Jerry Schatzberg, na altura um fotografo eminente, realizou o mais belo dos filmes sobre as infinitas possibilidades da amizade. É a nossa próxima sessão.

Cineasta e fotógrafo (é dele a fotografia na capa de Blonde on Blonde de Bob Dylan, de 1966 e muitos são os retratos que tirou a modelos, a famosos e a anónimos), Schatzberg falou sobre o trabalho e as viagens feitas com Vilmos Zsigmond (o director de fotografia) para o filme num podcast do Movie Geeks United, dizendo que "viajámos juntos pelo pais fora algumas vezes ainda antes de começar a rodagem e é bem bonito, acho que toda a gente devia fazer isso pelo menos uma vez porque a perspectiva é tão diferente vá para onde se vá. Nalguns sítios, pode-se ver uma tempestade em plena força a cento e cinquenta quilómetros de distância. Como a terra é tão plana vêem-se coisas que simplesmente... Se se fica sempre na cidade vêem-se muitos edifícios e eu adoro Nova Iorque mas às vezes o campo alimenta-nos doutra maneira. Se se vir também os estrangeiros que vêm filmar para a América, mesmo em Nova Iorque, vêm com uma perspectiva diferente e aprendemos coisas com o ponto de vista deles, com o que eles vêem. Nós vêmo-lo todos os dias e portanto não é assim tão especial mas quando eles chegam e o vêem torna-se especial."

Sobre Schatzberg, Scarecrow e as personagens interpretadas por Gene Hackman e Al Pacino, Geoff Andrew escreveu que "o par não é especialmente aprazível, quanto mais heróico, mas são muito reconhecidamente humanos; portanto merecem e retribuem o nosso interesse e a nossa atenção. Schatzberg sublinha gentilmente este aspecto do filme ao fazer o seu elenco interagir com figurantes não profissionais em várias cenas; ao mesmo tempo, o naturalismo maravilhosamente plausível das interpretações ao longo do filme vai completamente de encontro a um estilo de cinema mais preocupado em nos mostrar qualquer coisa de verdadeira sobre as pessoas, a América ou o que for do que em regurgitar clichés confortáveis estereotipados."

Até Terça-Feira!

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