segunda-feira, 7 de outubro de 2019

144ª sessão: dia 8 de Outubro (Terça-Feira), às 21h30


Como no ano passado, com o ciclo dedicado ao "Belo e a Consolação", este ano voltamo-nos a associar aos Encontros da Imagem. A temática deste ano, "What Now", alusiva ao estado actual do mundo, permitiu-nos escolher oito filmes. Nanni Moretti surge em substituição de última hora de Abbas Kiarostami e, assim, Santiago, Itália tornou-se a nossa próxima sessão na Casa do Professor.

Em entrevista ao L'express no início deste ano, e quando lhe perguntam porque escolheu uma história tão antiga para o seu filme, Nanni Moretti responde que "primeiro, descobri durante uma conferência que dei há dois anos, em Santiago, uma bela história italiana de que nos podemos orgulhar. Mas percebi o motivo da minha abordagem quando a situação política e social mudou, com a chegada ao poder de Matteo Salvini [vice-presidente do Conselho de Ministros]. Grande parte da nossa sociedade tomou uma direcção contrária aos valores da solidariedade e da compaixão para com o outro."

Quando lhe perguntam, na mesma entrevista, porque é que acha que os embaixadores italianos fizeram mais do que os outros na situação chilena, ele diz que "são os indivíduos que fazem a diferença, não o país. Nessa altura, houve dois jovens diplomatas italianos que tomaram imediatamente a decisão certa. O Chile de Allende era observado com muito interesse daqui. O partido comunista italiano estava-se a livrar de forma penosa e lenta da sua dependência da União Soviética. Ora, a chegada de Allende ao poder era uma experiência de socialismo democrático, um socialismo novo que não tinha nada que ver com a URSS de Nikolaï Podgorny, a Cuba de Fidel Castro ou a China de Mao Tsé-Tung. Também havia analogias: sob o plano político, a Itália e o Chile funcionavam com um partido de democracia cristã, um partido comunista, um partido socialista, radicais, católicos de esquerda, uma esquerda revolucionária... Forçando as coisas, podia-se ver uma simetria entre os dois países mesmo se as desigualdades sociais e económicas fossem mais importantes no Chile."

Para o Le Monde, Jacques Mandelbaum escreve que "é uma «bela história italiana», como adora repetir o seu autor. Essa história, é o papel exemplar de alguns jovens diplomatas da embaixada italiana em Santiago, no Chile, durante o golpe de Estado liderado especialmente pelo general Pinochet em Setembro de 1973. Há cerca de seiscentos opositores, a fugir da ditadura sangrenta de que o presidente socialista democraticamente eleito Salvador Allende vai ser uma das primeiras vítimas, a encontrar refúgio por trás das paredes da embaixada, onde se instaura ao improviso uma vida comunitária antes desses homens e dessas mulheres serem finalmente acolhidos pela Itália.

"O homem que evoca esta história, é o cineasta Nanni ­Moretti, que só muito raramente se aventura no terreno do documentário. Foi preciso que essa história, de que tomou conhecimento como todos os jovens italianos da sua idade solidários com a luta do povo chileno, lhe fosse lembrada por terceiros, durante um encontro um bocado ao acaso, para que se lançasse nesta aventura pouco habitual. Mas o acaso existe mesmo? Pode-se colocar a questão mesmo agora que a situação política italiana, virando para uma direita em parte fascista, alcança no fim do caminho o próprio tema do filme."

Para a Visão, Manuel Halpern escreve que "Santiago, Itália, o documentário de Nanni Moretti, é justamente feito do lado das vítimas. Conta-nos as histórias e o sofrimento de uma das mais atrozes ditaduras da América Latina. Começa, claro, em Allende, na esperança democrática e progressista, prontamente minada pelos grandes interesses, ao ponto de ser deposto e morto num golpe de Estado, fomentado, entre outros países, pelos EUA. Aos momentos de festiva liberdade dos tempos de Allende contrapôs-se o regime de sinistra crueldade de Pinochet, que perseguiu de forma obsessiva todos aqueles que apoiavam o deposto Presidente.

"A Embaixada de Itália, uma das poucas que mantiveram as portas abertas em Santiago, serviu de asilo para cerca de 750 refugiados, que saltavam clandestinamente o muro em busca de abrigo. Moretti conta, essencialmente, as histórias dos refugiados chilenos, que se estabeleceram em Itália à espera da queda do regime. Santiago, Itália é um Moretti atípico, puro documentário, em que o realizador assume uma espécie de missão, um serviço público, contra o esquecimento da História. Ao enaltecer o papel de Itália durante a ditadura chilena, quando o país se tornou um porto de abrigo, Moretti faz implicitamente um contraponto com o radicalismo do ex-ministro Salvini, perante a crise do Mediterrâneo."

Até Terça-Feira!

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