quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

38ª sessão: dia 9 de Dezembro (Sexta-Feira), às 21h30


Com os “The Band”, com Neil Young, Bob Dylan, Neil Diamond, Joni Mitchell, Muddy Waters, os Staples, Eric Clapton e amigos, The Last Waltz é a nossa próxima sessão. Num Technicolor que torna todos estes mitos vivos e palpáveis, tão próximos de nós, filmados pelos melhores directores de fotografia desses tempos (o Michael Chapman de The Last Detail, o László Kovács de Five Easy Pieces, o Vilmos Zsigmond de The Deer Hunter, para nos ficarmos por aqueles cujo trabalho já aqui vimos ou ainda vamos ver), é um filme essencial. 

Feito numa altura crucial para o cinema, para a música e para a sociedade americanos, acreditamos, como João Bénard da Costa que “se, um dia, alguém quiser saber como foram os anos 60 e 70, The Last Waltz de Scorsese diz-lhe tudo.” Próximos do fim dos anos 70 e fazendo como o povo fazia quando um rei morria e lhe sucedia outro, quisemos fazer desta sessão uma celebração e para isso convidamos Luís Miguel Oliveira, critico de cinema do Público e programador da Cinemateca Portuguesa, e Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta. Os anos setenta acabaram. Viva os anos setenta. 

Scorsese falou sobre a sua experiência na rodagem de The Last Waltz em Scorsese on Scorsese. Vamos ler: “Durante a última semana de rodagem de New York, New York, Jonathan Taplin, que tinha sido alguns anos antes empresário dos “The Band”, perguntou-me se eu gostaria de realizar The Last Waltz, o que iria ser o último concerto, com algumas pessoas importantes como convidadas. Respondi-lhe que não sabia, mas que o acontecimento devia, pelo menos, ser fotografado para os arquivos, mesmo que só em 16 mm. Estávamos todos confusos nessa altura e tínhamos dificuldade em ordenar os nossos planos, mas o Jonathan achou que isso era uma grande ideia, por isso disse-lhe, “Está bem.” Mas estávamos em Setembro e o concerto estava para ser realizado no Dia de Acção de Graças, em Novembro! 

"Em qualquer dos casos, vim com a ideia de o filmar em 35 mm, com uma sincronização de som completa e sete câmaras. Os "The Band" pagavam a película virgem, enquanto o cameraman e eu recebiamos uma percentagem se o filme chegasse a ser realizado e, entretanto, tínhamos a oportunidade de poder assistir ao espectáculo. Preparei um guião de duzentas páginas, de maneira que quando uma câmara já não tivesse película eu podia dizer qual das outras câmaras devia “apanhar” e onde. Mas claro que quase não consegui nenhum dos movimentos planeados porque assim que os "The Band" começaram a tocar ninguém se conseguia fazer ouvir. Mas no fim, e apesar de toda a gritaria, as câmaras apanharam tudo e depois de ter visto as primeiras cópias percebi que tínhamos um filme. 

"Por alguma razão Bob Dylan tinha medo que A Última Valsa colidisse com o seu próprio filme, Renaldo and Clara. Tudo o que sei é que foi o último a actuar, ao longo de sete horas, e mesmo antes de ele entrar foi-nos comunicado que só podíamos filmar duas canções, “Forever Young” e “Baby, Let Me Follow You Down”. Perguntei se nos dariam sinal quando ele fosse cantar essas duas canções e foi-me respondido, “Bom, qualquer coisa do género.” Mas quando ele apareceu o som estava tão alto no palco que eu não sabia o que fazer. Bill Graham estava ao meu lado e disse-me, “Filma-o! Ele vem das mesmas ruas que tu. Não te preocupes, não ligues ao que ele diz, filma-o.” Mas, tal como lhes disse mais tarde, nós tínhamos um concerto de sete horas e eu não queria pressionar nada. No entanto, os planos saíram certos e filmámos as duas canções que foram usadas no filme. 

"Nessa altura tive de começar com a montagem de New York, New York. De facto, o produtor Irwin Winkler ficou muito preocupado quando descobriu que eu estava em S. Francisco a filmar o concerto. Portanto eu tinha agora dois filmes para montar e foi por essa razão que A Última Valsa levou dois anos a sair. Durante este tempo Robbie Robertson não parava de aparecer com ideias novas, dizendo que devíamos ter a “Last Waltz Suite”, incluindo “Evangeline”, “The Last Waltz” e “The Weight” porque a montagem da versão encenada de “The Weight” estava incompleta. E para “Evangeline” ele pensou em Emmylou Harris, The Staple Singers e Ray Charles, e tudo isto me parecia uma boa ideia. Por esta altura o filme foi vendido à United Artists que nos deu mais dinheiro para realizarmos dez dias de filmagens, à noite, num palco. 

"Uns quantos meses mais tarde, o Robbie achou que era bom incluir umas entrevistas, conseguimos mais dinheiro da U.A. e decidiu que seria eu a fazer as entrevistas, o que não me pareceu boa ideia. Eles eram muito calados e criavam uma certa distância – especialmente Levon, que não queria falar de nada com ninguém! Por isso eu tinha duas câmaras de 35 mm a toda a hora em cima desses tipos, e sem saber o que é que eles iam fazer a seguir. Robbie estava bem e participou; e Rick era divertido, mas costumava levantar-se e andar pelo salão, mas eu não sabia o que é que ele ia acabar por fazer. Finalmente o filme foi lançado em 1978."

Até amanhã!

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