quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Modern Times (1936) de Charles Chaplin



por Frank S. Nugent

Os ponteiros do relógio cinematográfico foram recuados cinco anos a noite passada quando um pequeno homem engraçado com um bigode microscópico, um chapéu gasto de coco, sapatos arrebitados e uma bengala de bambu flexível voltou aos ecrãs da Broadway para retomar o seu lugar entre as simpatias do público que frequenta o cinema. O pequeno homem—mal precisa de ser dito—é Charlie Chaplin, cujos Tempos Modernos, a estrear no Rivoli, o reestabelecem a um seguimento que esperou pacientemente, queimando incenso no seu templo de comédia, durante os longos anos desde que o seu último filme foi produzido. 

Isso foi quase exactamente há cinco anos. Luzes da Cidade era o nome do filme e nele o Sr. Chaplin recusava-se a falar. Ainda se recusa. Mas em Tempos Modernos ele levantou a proibição contra o diálogo para os outros membros do elenco, levantou-o, mas não completamente. Umas quantas frases aqui e ali, perdoadas porque vêm por televisão, fonógrafo, pela rádio. E por uma vez—só por uma vez—o Sr. Chaplin permite-se ser ouvido, cantando um jargão da sua autoria por cima de uma melodia de um fandango espanhol. 

Essas são as respostas às questões práticas. Não dizem nada sobre o filme do Sr. Chaplin, ou do próprio Chaplin, ou do festim cómico que ele tem andado a preparar há quase dois anos no claustro vigiado de Hollywood conhecido como estúdio Chaplin. 

Mas não há motivos para alarme nem razão nenhuma para adiar mais o veredicto: Tempos Modernos continua a ser o mesmo Charlie de sempre, o pequeno companheiro adorável cujas mãos e pés e sobrancelhas brincalhonas podem dar um golpe irresistível nos nervos cómicos do público ou mantê-lo preso, hirto sob o feitiço da tragédia humana. Um movimento da bengala dele, um espasmo da sobrancelha, uma elevação irrequieta do dedo do pé e o estado de espírito muda; uma inclinação da boca dele, um afundamento do ombro, um piscar rápido de olhos e estamos outra vez com ele, um companheiro em sofrimento. Ou temos que ser lembrados que Chaplin é um mestre da pantomima? O tempo não mudou o seu génio. 

Falemos então do filme e da sua história. Os rumores disseram que Tempos Modernos se preocupava com temas sociais, que Chaplin—sendo ele próprio uma espécie de liberal—tinha decidido dramatizar a luta de classes, que nada menos que uma autoridade como Shumiatsky, chefe da indústria cinematográfica soviética, o tinha aconselhado em relação ao final e que Chaplin, aceitando esse conselho, tinha feito mudanças significativas. 

A introdução do Sr. Chaplin ao seu filme foi perigosamente significativo. Tempos Modernos, lê-se, "é uma história de indústria, de iniciativa individual—a humanidade em cruzada pela procura por felicidade." Um prelúdio verdadeiramente estranho para um palhaço. 

Felizmente para a comédia, a descrição do Sr. Chaplin é só parte da verdade e suspeitamos que ele a quisesse assim. Hollywood citou-o a dizer, "Existem aqueles que atribuem sempre importância social ao meu trabalho. Não tem nenhuma. Deixo esses assuntos para a plataforma das palestras. A minha primeira consideração é entreter." 

Devíamos preferir descrever Tempos Modernos como a história do pequeno palhaço, temporariamente apanhado nas engrenagens de uma indústria orientada para a produção em massa, prolongada através de um circo de três arenas e para um mundo tão afastado dos problemas industriais e sociais como uma comédia o pode tornar. 

Encontra Charlie como um trabalhador numa linha de montagem duma fábrica gigante. Um espirro ou uma subida momentânea da cabeça são tudo o que é preciso para perturbar o processionário estável de pequenos instrumentos cujas porcas ele tem que apertar com uma só enroscada. À hora do almoço, o chefe dele coloca-o numa máquina experimental de alimentação automática. O dispositivo enlouquece, tal como Charlie. São-lhe atiradas tigelas de sopa à cara, um auto-alimentador com uma espiga de milho atira a moderação às urtigas e as sementes ao chão. Alternadamente, a máquina tritura milho para a cara dele e limpa-lhe a boca com um limpador automático solícito, mas totalmente ineficaz. Charlie recupera num hospital. Quando regressa, com alta hospitalar, dá de caras com o problema do desemprego. 

Lá se vai a crise industrial. Terminado com ela pelo momento, o filme envolve o seu herói numa manifestação radical, num motim prisional, vários carros-patrulha da polícia, uma rapariga (Paulette Goddard, a sua nova actriz principal), que é sem-abrigo e desamparada como ele; um trabalho como guarda nocturno num grande armazém, mais sarilhos com a lei, um trabalho novo como empregado cantor num restaurante e ainda mais sarilhos com a lei. Para compor o cenário, há um regresso à fábrica, mas já não como peça de maquinaria humana na linha de montagem. 

Um conceito sociológico? Talvez. Mas uma brincadeira estimulante, repleta de gags e de cair a rir por isso tudo e à melhor maneira de Chaplin. Se se lembrarem do seu dois-bobines, The Rink, ficarão satisfeitos por saber que o Sr. Chaplin também não o esqueceu, e encontrou lugar algures na sua história para uma peça mais moderna que o acompanhasse. Já o viram como empregado, anos antes, e deviam ficar satisfeitos por descobrir que ele não esqueceu a sua técnica de malabarismo de bandejas. Devem saber, há muito, da sua facilidade em evitar os polícias da Keystone e agora afasta-se deles de forma igualmente ágil, embora os seus perseguidores usem uniformes mais modernos. 

E assim acontece, e de forma bem agradável, também, com Charlie a ser fiel ao seu público antigo ao trazer de volta os truques que utilizou tão bem quando o cinema era muito jovem, e ao alargar os seus seguidores entre os modernos através do emprego de novos dispositivos para a dinastia dos palhaços. Se precisam de mais encorajamento do que este, saibam então que a Menina Goddard é um vagabundo cativante e uma beneficiária apropriada do campeonato das grandes corridas, e que há vários intérpretes no elenco que adornaram os filmes de Chaplin desde que o pequeno companheiro perdeu as inibições e entrou nos nossos corações pela primeira vez. Esta manhã há boas notícias: Chaplin está outra vez de volta. 

Também no Rivoli, e merecedor de menção mesmo numa sessão que apresenta o Sr. Chaplin, é o último desenho animado de Walt Disney, Mickey's Polo Team. Certamente o mais turbulento de todos os Disneys, contém um jogo de pólo selvagem e nebuloso entre uma equipa que inclui Mickey, o Pato Donald, o Pateta e o Lobo Mau e outros quatro representados por Harpo Marx, Stan Laurel, Oliver Hardy e o Sr. Chaplin. O árbitro é Jack Holt. 

in « New York Times », 6 de Fevereiro de 1936. 
Tradução: João Palhares

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