The Lusty Men, realizado por Nicholas Ray em 1952, é o nosso próximo filme.
Filme desencantado e de uma gravidade calada, foi até ao fim uma das obras que Nick Ray mais gostou.
«Gosto muito dele. Foi um filme feito para um dos grandes estúdios e quando se começou apenas havia umas cinquenta páginas de guião. Quando estava a filmar todas as cenas de rodeo ainda não sabia se poderia contar com Mitchum e com Arthur Kennedy, porque ainda não tinham assinado os contratos. Então, o que fiz foi vestir os cowboys que iam substituí-los com camisas particularmente fáceis de distinguir, para que, depois, quando já tivesse Mitchum e Kennedy, pudessem servir para os identificar; mais tarde também veio Susan Hayward e toda a metragem que filmámos serviu. Foi nessa altura que conheci Yakuma Canutt, que tinha sido também um antigo cowboy de rodeo. Há coisas de que gosto muito e é considerado pelos cowboys de hoje em dia um dos melhores westerns, um dos mais verdadeiros»
(...)
«O filme continua a ter uma qualidade poética e uma abordagem das relações humanas que sempre achei inteiramente certas e cada vez mais acho que o são»
Sobre o filme, Jacques Lourcelles escreveu: "Cronologicamente, é o primeiro filme importante que descreve o mundo nómada, cruel, mítico e falso do rodeo. (Depois viriam Arena, de Richard Fleischer, 1953, e Bus Stop de Joshua Logan, 1956). Com uma grande acuidade documental, uma recusa à dramatização fácil, Nicholas Ray faz uma descrição definitiva deste universo a partir do guião documentado de Horace McCoy e de David Dortort, um ex-cowboy. Para isso ele privilegia a relação que se estabelece entre os dois personagens principais. O primeiro, como é mais amadurecido que o seu companheiro, torna-se um modelo para ele, uma tentação perigosa, e depois uma referência definitivamente ultrapassada. Este tipo de relação constitui um dos temas-base da obra de Nicholas Ray (cf. entre outros Run for Cover, Rebel Without a Cause). Tudo isso confere originalidade, relevo e intensidade ao filme mas está longe de ser o essencial. O essencial, é a apreensão psicológica e moral, lírica e íntima, do personagem interpretado por Robert Mitchum, um homem que terminou o primeiro ciclo da sua vida e não vai conseguir concluir plenamente o segundo. O desencantamento, a insatisfação indefinível, a vagueação inquieta, o sentimento de se ter tornado um estranho num mundo em que não há lugar para si (esse sentimento que afecta a maior parte dos heróis de Nicholas Ray) caracterizam a personagem desenraizada de Jeff McCloud que o autor observa ora com um olhar fraterno ora desprovido de complacência. A composição admirável de Mitchum funciona, evidentemente, não se lhe podem melhorar os traços. Este fim de vida falhado mas que de uma certa forma se prolongará numa outra vida (a do personagem complementar interpretado por Arthur Kennedy) situa-se numa luz crepuscular, desolada mas não desesperada, ostentando a marca permanente do cineasta. Fonte de poesia e de meditação, é acima de tudo esta luz que distingue, para muitos cinéfilos, Nicholas Ray como o cineasta essencial da sua geração, aquele sem o qual esta geração continuaria aleijada, frustrada da expressão da sua verdade mais íntima."
Sobre o filme, Jacques Lourcelles escreveu: "Cronologicamente, é o primeiro filme importante que descreve o mundo nómada, cruel, mítico e falso do rodeo. (Depois viriam Arena, de Richard Fleischer, 1953, e Bus Stop de Joshua Logan, 1956). Com uma grande acuidade documental, uma recusa à dramatização fácil, Nicholas Ray faz uma descrição definitiva deste universo a partir do guião documentado de Horace McCoy e de David Dortort, um ex-cowboy. Para isso ele privilegia a relação que se estabelece entre os dois personagens principais. O primeiro, como é mais amadurecido que o seu companheiro, torna-se um modelo para ele, uma tentação perigosa, e depois uma referência definitivamente ultrapassada. Este tipo de relação constitui um dos temas-base da obra de Nicholas Ray (cf. entre outros Run for Cover, Rebel Without a Cause). Tudo isso confere originalidade, relevo e intensidade ao filme mas está longe de ser o essencial. O essencial, é a apreensão psicológica e moral, lírica e íntima, do personagem interpretado por Robert Mitchum, um homem que terminou o primeiro ciclo da sua vida e não vai conseguir concluir plenamente o segundo. O desencantamento, a insatisfação indefinível, a vagueação inquieta, o sentimento de se ter tornado um estranho num mundo em que não há lugar para si (esse sentimento que afecta a maior parte dos heróis de Nicholas Ray) caracterizam a personagem desenraizada de Jeff McCloud que o autor observa ora com um olhar fraterno ora desprovido de complacência. A composição admirável de Mitchum funciona, evidentemente, não se lhe podem melhorar os traços. Este fim de vida falhado mas que de uma certa forma se prolongará numa outra vida (a do personagem complementar interpretado por Arthur Kennedy) situa-se numa luz crepuscular, desolada mas não desesperada, ostentando a marca permanente do cineasta. Fonte de poesia e de meditação, é acima de tudo esta luz que distingue, para muitos cinéfilos, Nicholas Ray como o cineasta essencial da sua geração, aquele sem o qual esta geração continuaria aleijada, frustrada da expressão da sua verdade mais íntima."
A anteceder The Lusty Men, gravamos uma apresentação em vídeo com Bernard Eisenschitz, autor do livro fundamental sobre a vida e obra de Ray: Nicholas Ray: An American Journey.
Até à próxima terça-feira, dia 19!
Sem comentários:
Enviar um comentário