Na próxima sessão faremos um raide aos anos 40 do cinema americano, para recebermos a carta-branca que tínhamos entregue ao professor e escritor Carlos Melo Ferreira.
Red River, de Howard Hawks, foi a sua escolha, que o próprio apresentará na velha-a-branca na próxima terça-feira, dia 26 de Abril.
Admiramos muito Carlos Melo Ferreira, e o filme de Hawks é um dos pontos altos de todo o Cinema. A sua vinda a Braga é muito importante e gostávamos de encher o nosso auditório. Por isso, apareçam, tragam um amigo e partilhem.
Entretanto, vejamos que disse Jacques Lourcelles de Red River, no seu Dictionnaire du Cinéma - Les Films:
"Com a excepção de Barbary Coast (1935) que só pertence ao género pela metade, é o primeiro western de Hawks. Relaciona-se com a corrente de renovação profunda que o género conhece a partir de Canyon Passage (Jacques Tourneur, 1946). Aqui, o modernismo vem das ambiguidades e da complexidade do personagem de John Wayne cuja obstinação e autoridade quase patológicas ocultam um desequilíbrio, uma instabilidade e mesmo uma certa imaturidade perigosa, utilizados por Hawks para enriquecer a acção graças a uma suspensão moral muito intensa. Mas os méritos de Red River existem bem para além dum debate entre os antigos e os modernos. Acima de tudo, o filme é impressionante pela amplitude do seu orçamento, pela sua amplitude, simplesmente, pelo seu classicismo, a sua sobriedade e uma fotografia constantemente sublime, alternando com equilíbrio cenas de dia e cenas de noite. Graças a ela, Red River é um dos raros westerns em que a ausência da cor não se lamenta nada. Entre a humanidade e o pitoresco fordianos dum lado, e o dramatismo trágico dum Anthony Mann do outro, Hawks traça uma linha recta que pouco a pouco se torna grande o suficiente e mesmo imensa para conter tanto uma história moral individual como um fragmento da história de uma época e de um país inteiro. Isso não quer dizer que Red River seja uma epopeia: Hawks está demasiado atento ao relevo individual das personagens e às relações subtis que se entrelaçam entre elas para ter a cabeça no épico. Destes retratos contrastados nasce pouco a pouco uma imagem do homem, feita de maturidade, de recusa ao lirismo, de frieza calculada, que caracterizará o humanismo hawksiano ao longo de toda a sua obra. A trindade de personagens à volta das quais se articula a acção (o velho, o homem amadurecido e o jovem) será retomada em Rio Bravo. A personagem de Joanne Dru não é o primeiro nem o último exemplo dessas heroínas voluntárias, frequentemente mais lúcidas e mais maturas que os homens, que povoam o universo do cineasta. O argumentista Borden Chase retomará, por sua vez, em todo um outro contexto psicológico e moral mas com uma linha dramática bem próxima, o tema do herói obstinado, posto temporariamente em estado de inferioridade e que inquieta e assusta toda a gente pela inevitabilidade da sua vingança (cf. o personagem de James Stewart em Bend of the River, Anthony Mann, 1951).
Quanto a Carlos Melo Ferreira, grande especialista do Western e com um livro sobre Howard Hawks para publicar, escreveu no seu blog:
«O western foi, assim, o verdadeiro filme histórico americano sobre a própria América, de que O Rio Vermelho de Hawks foi a Ilíada e A Desaparecida de Ford a Odisseia (e, não por acaso, eles foram os maiores entre os melhores clássicos do cinema americano e ambos os filmes foram interpretados por John Wayne), acompanhados por muitos outros grandes filmes de outros grandes cineastas, clássicos e modernos, que completaram uma epopeia que, como tal, só no cinema atingiu a sua plena dimensão.»
Até dia 26!
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