quarta-feira, 19 de março de 2025

Felizes Juntos (1997) de Wong Kar-Wai



por Catarina Bernardo
 
Um filme sobre solidão, desejo e identidade, que reflete a impossibilidade de certos amores e a busca por um recomeço. Felizes Juntos (1997) transporta-nos para as ruas de Buenos Aires onde conhecemos Lai Yiu-Fai (interpretado por Tony Leung Chiu-Wai, um nome bastante conhecido nas obras de Wong Kar-Wai) e Ho Po-Wing (Leslei Cheung), um casal que vivia em Hong-Kong, mas que decide viajar para a Argentina em busca de um recomeço. Cedo percebemos que a relação na verdade é marcada por um ciclo tóxico de paixão, separações e reconciliações. Presos naquele ambiente estrangeiro, Lai trabalha em diversos empregos numa procura de estabilidade e de uma vida melhor. Já Ho, o mais impulsivo da relação, vive a vida de forma irresponsável, procurando Lai quando este se encontra vulnerável, tornando a relação desgastante.
 
Através de uma atmosfera visual vibrante e ao mesmo tempo melancólica, Christopher Doyle cria uma estética visual bastante distinta. A oscilação entre o preto e o branco e as cores vibrantes conseguem criar um contraste entre momentos de infelicidade ou de felicidade intensa. A saturação do amarelo e do verde transmitem uma sensação de calor e desejo, mas ao mesmo tempo de desinteresse e solidão. Os movimentos de câmara bruscos e instáveis ajudam a reforçar a agitação emocional dos personagens.
 
Sendo o filme maioritariamente filmado na Argentina, transmite uma sensação de deslocamento nos personagens, que são imigrantes de Hong Kong. As condições em que vivem, o espaço claustrofóbico e sujo do pequeno apartamento que partilham simboliza a decadência da relação, enquanto as paisagens da Argentina transmitem a sensação de liberdade e mudança.
 
Com o filme Felizes Juntos, Wong Kar-Wai recebeu o prémio de melhor realizador no Festival de Cannes e tornando-se um dos realizadores mais inovadores do cinema contemporâneo. Felizes Juntos foi inovador no cinema asiático por retratar um relacionamento entre dois homens de uma forma natural e emocionalmente complexa. O filme teve um grande impacto na visibilidade da Comunidade LGBTQ+ em Hong Kong e noutros países asiáticos, onde a homossexualidade enfrentava uma forte repressão.
 
Quase trinta anos depois, este filme continua a ser um símbolo importante para a comunidade, especialmente em Hong Kong e Taiwan, onde teve grande influência. 
 
 
 

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