quinta-feira, 30 de outubro de 2025
As Fado Bicha (2024) de Justine Lemahieu
quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Tornar-se Um Homem na Idade Média (2022) de Isadora Neves Marques
domingo, 26 de outubro de 2025
420ª sessão: dia 28 de Outubro (Terça-Feira), às 21h30
De 23 de setembro até ao final de outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta, em parceria com os Encontros da Imagem, um ciclo de oito filmes com sessões às terças-feiras na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Sob o tema Manifestação de Interesse, a edição de 2025 abre espaço à diversidade de linguagens visuais, explorando as transformações sociais, a memória e noções de identidade. Neste espírito, o cineclube junta-se ao programa com uma seleção que dialoga directamente com a proposta do festival.
Na próxima terça, 28 de outubro, às 21h30, o Cineclube de Braga propõe dois olhares singulares sobre o corpo, a identidade e as formas de resistência contemporânea. Tornar-se Um Homem na Idade Média, de Isadora Neves Marques, e As Fado Bicha, de Justine Lemahieu, aproximam-se no modo como interrogam a norma e as fronteiras do género, transformando o cinema num espaço de reflexão e de liberdade. Justine Lemahieu estará presente na sessão.
Em Tornar-se um Homem na Idade Média, a trama segue dois casais: Mirene e André, Carl e Vicente; que enfrentam desafios relacionados com a fertilidade e o desejo de gerar um filho biológico. O filme reflete sobre a reprodução, a parentalidade e a tecnologia, questionando os limites entre o natural e o artificial.
Já em As Fado Bicha, Justine Lemahieu segue o duo Lila Tiago e João Caçador, que reconfigura o universo tradicional do fado a partir de uma perspetiva queer e feminista. O documentário acompanha o percurso artístico e pessoal da banda, mostrando como a sua performance subverte convenções e dá voz a novas formas de expressão. Ao cruzar entrevistas, ensaios e atuações, Lemahieu revela o poder do fado como território de resistência e reinvenção.
Tornar‑se um Homem na Idade Média participou no International Film Festival Rotterdam em 2022, onde foi premiado. O filme As Fado Bicha integrou a Selecção Oficial no IndieLisboa e no Festival Internacional de Cinema Queer Porto. Ambos os filmes, apesar de distintos nas formas, afirmam o cinema como espaço de transformação, onde o corpo e a arte se tornam instrumentos de emancipação e de criação de novas narrativas possíveis.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
quinta-feira, 23 de outubro de 2025
KORA (2024) de Cláudia Varejão + Onde as Ondas Quebram (2024) de Inara Chayamiti
Em Transições, última temática lançada pelo festival Encontros da Imagem, apresentamos quatro filmes distribuídos por duas sessões, cada uma composta por uma curta-metragem e uma longa-metragem. A primeira sessão é composta pela curta-metragem KORA de Claúdia Varejão e pelo filme Onde as Ondas Quebram de Inara Chayamiti. Ambos os filmes recorrem a técnicas mistas, combinando fotografia, o arquivo e a imagem contemporânea.
KORA acompanha a presença de mulheres refugiadas que encontraram em Portugal um novo lugar para viver. Cada uma carrega consigo a marca do passado, inscrita no corpo e nas fotografias dos que ficaram para trás, mas, também, no novo retrato seu que conjuga passado e presente num lugar onde tentam reconstruir as suas vidas e encontrar o sentimento de casa.
O filme articula, com delicadeza poética, o íntimo e o político através dos testemunhos de mulheres oriundas da Ucrânia, Afeganistão, Sudão, Rússia e Síria, forçadas por diferentes formas de violência (guerra, discriminação, perseguição à limitação das liberdades individuais e ameaça à integridade física, etc.) a deixar as suas casas, terras e famílias. A partir dessas memórias, constrói-se um olhar que é simultaneamente pessoal e coletivo, revelando o processo de reconstrução do presente a partir da perda e da distância.
Como lembra Georges Didi-Huberman, em A Imagem Sobrevivente[1] (2013), as imagens são “sobreviventes”: guardam as marcas do tempo e são portadoras de memórias. Carregam vestígios do passado, como “sobrevivências” que atravessam o espaço e o tempo e se manifestam quando convocadas. As imagens são impregnadas de memória e possuem uma força simbólica que transcende a sua materialidade e sobrevivem à morte.
No filme Onde as Ondas Quebram, o mar é metáfora dos caminhos navegados que compõem as nossas vidas, bem como dos movimentos migratórios que estão na base da História Humana. Inara Chayamiti através do espólio fotográfico da família, do arquivo e do registo documental, revisita a história dos seus antepassados, de par com a História da comunidade japonesa no Brasil, expondo as dinâmicas coloniais, as políticas migratórias e a exploração dos migrantes, incessantemente desumanizados e tidos como meros “braços”, corpos onde se inscreve a violência estrutural de um sistema arquissecular que tem como fim o aproveitamento económico.
O filme confronta a memória da imigração, muitas vezes “branqueada” nas narrativas de integração, com as tensões da pertença e da identidade (relacional com base na demarcação e hierarquização da diferença), revelando as formas subtis e não-subtis de exclusão e assimilação que atravessam gerações. Assim, através da “imagem sobrevivente” e do testemunho, as memórias familiares tornam-se também memória colectiva das vidas marcadas pela travessia migratória, pela passagem do tempo e pelos caminhos percorridos onde se procura e, porventura, se constrói a casa.
Em suma, a narrativa articula temas como a emigração, o racismo, a xenofobia e a pertença, mas recusando a “exotização” da diferença e a fixidez e homogeneidade (impossível) que se atribui à identidade. Inara Chayamiti filma com proximidade, devolve dignidade e voz a quem habita o espaço, ou a “ponte”, entre dois mundos, demarcados pelas rotas que separam os vários países e suas pretensas identidades. A realizadora é também fruto dessa idas e voltas: “Nipo-brasileira”, encontrou em Braga o lugar que hoje chama de lar. Assim, esta sessão recorda-nos que são as pessoas que compõem os lugares, não como proprietárias, mas como presença viva que os habita e transforma. Os espaços existem através delas e nelas se tornam casa.
[1] Didi-Huberman, G. (2013). A imagem sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg (V. Ribeiro, Trad.). Contraponto Editora. (Obra original publicada em 2002)
domingo, 19 de outubro de 2025
419ª sessão: dia 21 de Outubro (Terça-Feira), às 21h30
De 23 de setembro até ao final de outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta, em parceria com os Encontros da Imagem, um ciclo de oito filmes com sessões às terças-feiras na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Sob o tema Manifestação de Interesse, a edição de 2025 abre espaço à diversidade de linguagens visuais, explorando as transformações sociais, a memória e noções de identidade. Neste espírito, o cineclube junta-se ao programa com uma seleção que dialoga directamente com a proposta do festival.
Na terça, 21 de outubro, às 21h30, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta uma sessão dupla dedicada à memória, ao deslocamento e à construção de identidades através da imagem. KORA, de Cláudia Varejão, e Onde as Ondas Quebram, de Inara Chayamiti, propõem um diálogo entre o íntimo e o coletivo, entre o que se perde e o que se transforma. Em ambos os filmes, a imagem torna-se espaço de memória e de retorno, onde o movimento traduz o desejo de permanecer. Esta sessão conta com a presença da realizadora Inara Chayamiti.
Em KORA, Cláudia Varejão parte de imagens de arquivo e fotografia contemporânea para retratar mulheres migrantes e refugiadas, explorando o corpo e a memória como lugares de resistência. Já em Onde as Ondas Quebram, Inara Chayamiti, através do espólio fotográfico familiar, do arquivo e do registo documental, revisita a experiência da comunidade japonesa no Brasil, cruzando passado e presente numa reflexão sobre identidade e pertença.
Apresentado na secção Giornate degli Autori do Festival de Veneza e distinguido com o Prémio de Melhor Documentário Português no Festival Internacional de Documentário de Melgaço, KORA reafirma a cineasta Cláudia Varejão no cinema português contemporâneo. O filme também foi premiado nos Prémios Curtas 2025, onde recebeu as distinções de Melhor Curta Documental, Melhor Realização e Melhor Montagem.
“Onde as Ondas Quebram” foi exibido em festivais como o DisOrient Asian American Film Festival, o Guarnicê e o Santos Film Fest, e distinguido com bolsas e selecções no Logan Nonfiction Program, no Sundance Documentary Fund e no Berlinale Talents.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
quinta-feira, 16 de outubro de 2025
João Bénard da Costa: Outros Amarão as Coisas que Eu Amei (2014) de Manuel Mozos
[1] JBC = João Bénard da Costa
[2] Frase atribuída a S. Paulo por JBC, na apresentação do filme A Palavra, de Carl Dreyer, para a série "No Meu Cinema", da RTP (nos anos 90).
[3] “(Carl Theodor) Dreyer pressentiu o cinema futuro, pois teve a força de filmar a palavra.” Manuel de Oliveira, a propósito do filme A Palavra.
[4] Os Filmes da Minha Vida - Os Meus Filmes da Vida, João Bénard da Costa, Assírio e Alvim, 2003
[5] Antoine de Baecque, citado por João Bénard da Costa, na crónica Confusão de narizes, no Público, 10/12/20024, disponível em: https://www.publico.pt/2004/12/10/jornal/confusao-de-narizes-196055





