quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
A Visita e Um Jardim Secreto (2022) de Irene M. Borrego
por Alexandra Barros
“Vais ser como a tua tia Isabel.” - É este augúrio, atirado em tom reprovador à realizadora do filme, pela sua mãe, que está na origem de A Visita e Um Jardim Secreto. Da tia Isabel nada sabe, excepto que foi artista e que a família conservadora a repudiou por desaprovar a vida que escolheu: estudar Belas Artes e tornar-se pintora. O meio artístico também a esqueceu, excepto Antonio López1, o único pintor da sua geração que a recorda. Como se explica o desaparecimento de uma obra reconhecida e aclamada no seu tempo? Antonio López não sabe se a pintora terá querido desaparecer ou se terá sido consumida pela voragem deste tempo dominado por Insta(ntes): “O presente é muito invasivo, exige muita atenção, muita, muita, é uma coisa avassaladora. O presente apaga tudo o resto, extingue tudo.” Apesar de Antonio López não saber nada de Isabel há 50 anos, o retrato sensível e poético que traça a partir das suas recordações, e ouvido em voz off, virá a revelar-se extraordinariamente apurado.
Com muitas reservas, Isabel abre a porta de sua casa a Irene, mas ela própria mantém-se fechada. Tal como o quarto da porta amarela. Nele guarda os seus quadros e ninguém está autorizado a aí entrar. É Antonio López quem descreve a Irene como eram as pinturas da sua tia: “Parecia que era muito verdadeiro o que ela fazia. Dava a sensação de não ter uma ansiedade que todos temos de mostrar trabalho, de estar aqui, de estar ali; como se para ela nada disso importasse. Era como se fosse alguém que estava ali de visita. [...] Tinha uns tons luminosos e secos, e umas formas muito simples. Mas também não era uma pintura geométrica. Era uma pintura um pouco áspera, muito honesta, muito autêntica e muito secreta. Era como ela, justamente como ela. Parecia uma espécie de jardim secreto. Acredito que ao entrar lá era possível encontrar coisas muito atraentes. Coisas bonitas. Apesar de parecer que ela não queria mostrá-las.”
Na casa de Isabel, Irene filma filas de ganchos ordenadamente colocados na parede de um corredor. Cada gancho encima um fantasma, uma patine ténue que denuncia a antiga presença de um quadro. Frustrada com essa e outras ausências, Irene pressiona Isabel a dar-lhe explicações. Sem se dar a conhecer, sem criar laços, sem esperar que Isabel se sinta pronta para lhe abrir as portas do seu universo íntimo e evocar memórias dolorosas, Irene quer obter respostas rapidamente. Em lugar de seguir o fio de pensamento de Isabel, atira-lhe perguntas que visivelmente a incomodam e irritam (porque é que os seus quadros não estão expostos em museus, porque é que está só, porque é que foi esquecida, …) e reivindica receitas para a vida e para o trabalho. Descontentes com esta pressão, os colaboradores de Irene querem parar de filmar. Torna-se penoso assistir ao filme e, neste ponto, perguntei-me como iria escrever fosse o que fosse sobre ele.
Ao crer que existe um fosso intransponível entre si e Irene, Isabel abandona as filmagens. Acaba por aceder ao pedido de Irene para que a ajude a fazer o filme, por respeito aos princípios pelos quais sempre se regeu: viver para a arte, tudo fazer pela arte, mesmo à custa de enormes sacrifícios e sofrimento pessoal. No interrogatório desastrado de Irene, Isabel entreviu a origem das inquietações da sobrinha e, num discurso em tudo idêntico à sua pintura - “áspera, muito honesta, muito autêntica”2 - aponta frontalmente o que tolhe Irene e as razões por que está num impasse. Irene julga entender e Isabel abre-lhe enfim o jardim secreto: “Anda! Vem cá, põe-te ao meu lado.” / “Daqui consigo ver.” / “Como te explico uma coisa desta sensibilidade a esta distância? Não sei se a esta distância consegues perceber. Tem que se estar aberta a tudo. Mas a essa distância, como é possível?”. É admirável como esta cena rima tão perfeitamente com as palavras ouvidas a Antonio López: “As montanhas grandes veem-se à distância, mas é preciso aproximarmo-nos das pequenas.”
As pinturas encerradas, atrás da porta amarela, deram lugar às assemblages. Talvez porque essa tenha sido a forma que Isabel encontrou para ultrapassar as limitações físicas, próprias da idade avançada, e “continuar a fazer, a seguir em frente”. As tintas foram substituídas por pedaços de madeira ou cartão, pequenas peças de plástico, tudo o que lhe chega às mãos, de tudo um pouco. Isabel seleciona, compõe, recompõe, rejeita, procura, alinha, acerta, aprova, cola: “Vejo as possibilidades que existem. [É preciso] estar aberta aos acidentes. Usá-los.” Mostra a Irene um cartão degradado que encontrou, molhou e arranhou: “Resultou nisto que é uma beleza! É bonito, não é?”. A beleza está nos olhos do observador3, e como não ouvimos a resposta, fica a dúvida: terá Irene conseguido encontrar as coisas bonitas que outrora Antonio López descobriu no jardim secreto de Isabel? O que viram afinal os olhos de Irene?
Insatisfeita com o que conseguiu captar, Irene continua a sua busca nos “baús” familiares. Inesperadamente, um vídeo, aparentemente prosaico, de uma cerimónia religiosa, traz para a luz o entendimento tão perseguido. Finalmente, está pronta para construir o seu filme. Ousadamente, Irene optou por tornar os seus desencontros com Isabel e todos os revés daí decorrente na grande força do filme, nele entranhando as errâncias necessárias para chegar a um resultado. Uma obra fractal que reflecte as questões que, segundo Isabel, estão envolvidas na criação de verdadeira arte (ou será arte verdadeira?). No final do filme, com uma mensagem dirigida a Isabel, Irene rasga um “casulo” que é simultaneamente seu e da sua obra. A metamorfose está completa.
São essas palavras finais que nos reconciliam com a Irene que atormentou Isabel e se mostrou incapaz de a compreender, por estar demasiado focada em si própria e nas suas dificuldades. A Irene que fabulosamente se auto-representou numa das mais reveladoras cenas dos (des)encontros com Isabel: enquanto afirma querer entendê-la, Irene filma-se, a filmar o seu próprio reflexo.
Quando, por fim, se vê com os olhos com que a viu Isabel, Irene tem a sua epifania. Nesse momento, percebe porque não conseguiu alcançar a mulher e a artista. Torna-se, enfim, capaz de a mostrar e, significantemente, de se mostrar. Um duplo retrato. Belo.
1 Pintor que está no centro do filme O Sol do
Marmeleiro, de Víctor Erice.
2 Palavras de Antonio López.
3 “Beauty is in the eye of the beholder.”, in Molly Bawn, de Margaret Wolfe
Hungerford, 1878
domingo, 26 de janeiro de 2025
378ª sessão: dia 28 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30
O Jardim Secreto da pintora Isabel Santaló através do olhar de Irene M.Borrego
Durante o mês de janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado: "Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva" Como habitualmente as sessões ocorrem às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Este ciclo pretende refletir a estreita relação entre as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o cinema.
Esta terca-feira, 28 de janeiro, encerra-se o ciclo sobre cinema e pintura com o filme La Visita y Un Jardín Secreto (2022), de Irene M. Borrego que aduz à pintora espanhola Isabel Santaló, nascida em 1923 e com reconhecimento internacional nas décadas de 50 e 60. A pintura de Isabel Santaló é tida como semi-abstracta e não figurativa, considerando-se que os seus trabalhos se tornaram mais abstractos ao longo do seu percurso artístico.
Em La Visita y Un Jardín Secreto desvela-se a figura da esquecida pintora Isabel Santaló, revelando-se o íntimo do seu lar, à medida que se aborda o seu passado e obra, de par com os obstáculos com que se deparou enquanto mulher e artista. Através do olhar e testemunho do pintor, seu contemporâneo, Antonio López, o qual foi protagonista no filme O Sonho da Luz, o Sol do Marmeleiro (1993) de Víctor Erice, o esquecimento torna-se objecto principal do filme e esbate-se pelo acto de rememorar, cujo registo, pela objectiva da câmara de Irene M. Borrego, eterniza, deliberadamente ou não, a história de Isabel Santaló e de tantos outros artistas olvidados.
Neste longa-metragem não somente são abordadas as razões pessoais, sociais e políticas que fadaram a pintora ao oblívio, mas problematiza, também, a memória e o esquecimento em relação à condição de “mulher” e “mulher-pintora”.
Durante o mês de janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado: "Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva" Como habitualmente as sessões ocorrem às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Este ciclo pretende refletir a estreita relação entre as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o cinema.
Esta terca-feira, 28 de janeiro, encerra-se o ciclo sobre cinema e pintura com o filme La Visita y Un Jardín Secreto (2022), de Irene M. Borrego que aduz à pintora espanhola Isabel Santaló, nascida em 1923 e com reconhecimento internacional nas décadas de 50 e 60. A pintura de Isabel Santaló é tida como semi-abstracta e não figurativa, considerando-se que os seus trabalhos se tornaram mais abstractos ao longo do seu percurso artístico.
Em La Visita y Un Jardín Secreto desvela-se a figura da esquecida pintora Isabel Santaló, revelando-se o íntimo do seu lar, à medida que se aborda o seu passado e obra, de par com os obstáculos com que se deparou enquanto mulher e artista. Através do olhar e testemunho do pintor, seu contemporâneo, Antonio López, o qual foi protagonista no filme O Sonho da Luz, o Sol do Marmeleiro (1993) de Víctor Erice, o esquecimento torna-se objecto principal do filme e esbate-se pelo acto de rememorar, cujo registo, pela objectiva da câmara de Irene M. Borrego, eterniza, deliberadamente ou não, a história de Isabel Santaló e de tantos outros artistas olvidados.
Neste longa-metragem não somente são abordadas as razões pessoais, sociais e políticas que fadaram a pintora ao oblívio, mas problematiza, também, a memória e o esquecimento em relação à condição de “mulher” e “mulher-pintora”.
La Visita y Un Jardín Secreto resultou de uma coprodução portuguesa e espanhola e foi exibido em vários festivais internacionais. Foi galardoado duas vezes na 20ª edição do Doclisboa, em 2022, conquistando o Prémio HBO Max e o Prémio Escolas – Prémio ETIC, ambos na categoria de “Melhor Filme da Competição Portuguesa”. Ainda venceu o “Prémio de Excelência”, em outubro de 2023, no Festival Internacional de Cinema Documental de Yamagata, que ocorre no Japão.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça!
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Nikias Skapinakis - O Teatro dos Outros (2007) de Jorge Silva Melo
Por Eduardo Calheiros Figueiredo
"E Nikias começa uma nova série, talvez", ao pronunciar estas palavras, em vez de pôr termo ao filme, Jorge Silva Melo propõe, embora como mera potencialidade, aquilo que não seria menos do que uma certeza: a de que tudo recomeçaria uma vez mais. Enquanto isso, deixando-nos de fora, ou pelo menos assim aparentando, vemos o artista a pôr em cena o fechar da porta do atelier de Vila Martel, resguardando-se das suas obras mais recentes. Ainda assim, ou justamente por isso, dou por mim a pensar naquele talvez que pontua a última frase, naquele talvez seguramente delicado: marca da firme amizade que se veio a pautar entre ambos. A dificuldade que nos ensinam será, em suma, a de saber criar com uma devida distância, essa meia encosta de que Lucrécio falava, e que o Jorge tantas vezes citava, distância que poderá também ser escutada, neste filme, na maneira, também ela leve e preclara, de Dinu Lipatti tocar Johan Sebatian Bach, Scarlatti ou Mozart, interprete que não por acaso integra a banda sonora que acompanha as pinturas de Nikias, ou as fotografias de Sena da Silva, Victor Palla e Costa Martins, entre outros. Ora, não a colocar tal distância, também em exercício, na própria montagem, seria revelador de falta de coerência, ou de que não se tinha visto, afinal, o essencial. Neste mesmo sentido, dar um fim diferente ao filme, procurar conferir-lhe, ao invés da agilidade do pensamento que o percorre com insuspeita naturalidade, uma tessitura pesada e grave, querê-lo definitivo e devidamente sedimentado, sim, seria, de certo modo, subverter a estrutura que lhe subjaz e que constitui a sua maior singularidade. E, se bem a entendo, não obstante o recurso à vasta bibliografia disponível sobre o artista, à qual acede com o auxílio de António Rodrigues e da qual faz, disse-o, uma manta de retalhos, a narrativa ensaiada não tem como verdadeiro desígnio instituir ou fixar, da forma mais sustentada possível, um paradigma de compreensão, antes demonstra o anseio, como se acaso fosse possível, de recomeçar simplesmente, sim, tentar, de forma incessante, uma constante reaproximação à obra em causa: apetecia-me imenso fazer de novo e de outra maneira, disse-o também o Jorge, por mais do que uma vez, a respeito deste filme, e tenho para mim que essa vontade - não por verdadeira insatisfação, mas, como disse, pelo prazer de recomeçar – como que se divisa neste último, ainda assim.
Ao mesmo tempo, não será menos verdade que as pinturas que constituem a exposição “Quartos Imaginários” e que instituem esse Teatro dos Outros, não deixam de possuir, também elas, no contexto da obra retratada quer o interesse, quer o fulgor centrípeto que normalmente se atribui às chamadas obras de maturidade, servindo, por isso, enquanto obras maiores que são, o mais profundo questionamento, motivando, com justeza, esse “voltar atrás” empreendido pelo filme, qual anseio de lhes procurar os antecedentes e, ao mesmo tempo, procurar um sentido para os enigmas que há muito compõem o seu estilo: «Um ensaio como este é sempre aproximativo… Por isso, também gostei desta estrutura que aparentemente chumbaria em qualquer Escola de Cinema. De voltar atrás e contar a mesma história outra vez, como faço com a exposição… Assim como a minha intervenção lá dentro – em princípio, o realizador não pode entrar no filme a dizer: “Olhe, não consegui que o pintor dissesse mais coisas sobre a pintura: ele é assim…” Mas era um problema, com que eu estava, na construção do filme… E acho que era uma coisa que fazia luz, em relação à pintura. A tal distância de paisagista, era dizer “Atenção, o que o pintor diz destes quadros é só isto: Esta é uma cama de não sei quem. E ali está um baú. Não diz mais nada”. [É] por isso [que] eu ouso entrar na imagem – mas fiz um truque, mascarei-me de José Augusto França, vesti-me de preto, gravata preta, camisa encarnada, que fui comprar de propósito para ser igual ao quadro da Brasileira. Quis ser crítico!» – disse o Jorge, com graça, de uma das vezes que apresentou este Nikias Skapinakis - O Teatro dos Outros (2007), explicando assim, quer as razões que motivam quer o desdobramento observado na parte final do filme, quer a razão pela qual se colocou, a si mesmo, em cena: havia, pois, que conceder uma função diversa à sua própria voz e intervenção no filme, permitir-lhe uma outra mobilidade, refractária, aliás, daquela que engendra o fio condutor da narrativa, como se tivesse sentido que se demonstrava determinante, por forma a cumprir com o que se propunha, acabar com o enleio ou o encantamento das palavras até então pronunciadas, colocá-las em causa, enfrentar, pelo contrário, o insatisfatório, fazer girar as contradições, pôr a a nu as pontas soltas, as insuficiências, o silêncio, sim, as provocações do artista, a dada altura o Jorge terá sentido que era preciso abandonar o início, a forma como tinha começado e encaminhado o filme, para demonstrar que o pensamento que sustentava era vivo, incessante, aliás, como acima disse, e que o filme era seu, e como mostrá-lo, senão assim? E, porventura, tão feliz foi o resultado, que outro filme-complemento se lhe seguiu, Nikias Skapinakis: Continuando (2012), mas segundo me contou o próprio Jorge, por vontade do Nikias, teriam continuado a trabalhar. Mas se não voltaram a filmar, nunca mais deixaram de se contactar, e sei, aliás, que foi uma enorme satisfação, para o Jorge, nessa continuidade, ter o Nikias exposto, por duas vezes, na Sala das Janelas do Teatro da Politécnica, quando tinha começado justamente por expor nessa mesma sala, em 1954, refiro-me às exposições "Paisagens ocultas (2014/16)" e a, francamente extraordinária, esse adeus à vida que intitulou "Descontinuando – Pintura e Desenho – 2018/19". E quando penso nestas exposições, que com espanto visitei e revisitei, é como se, de alguma forma, este filme não tivesse cessado quando cessou, mas muitos anos depois.
A 17 de janeiro de 2021, o Jorge escreveria na sua página: "Quando fiz o filme sobre o Nikias disse-lho: mais que o homem de costas junto ao cais, mais do que a mulher com flores na cabeça, o único auto-retrato que ele fez foi o desta palmeira na Rua das Taipas como sempre o avistou do seu atelier na Vila Martel [com a qual, o filme abre] e que ele havia de pintar em 1955 (colecção Manuel de Brito): esguia, solitária, altaneira, sobranceira, apolínea, independente, uma copa lá muito em cima que a brisa agita…" Anteontem, a CML cortou esta palmeira, cinco (tristes) meses depois da morte de Nikias (que há meia dúzia de anos deixara aquele mítico atelier). Sim, foi há quatro anos, mas este filme fixou-a para sempre, como que constituindo, além do seu início, o verdadeiro eixo deste filme, de onde diria que se desprende todo o pensamento a que dá curso, e de alguma forma é como se tudo o resto pudesse ser reformulado, recomeçado, repensado, perspectivado de outra forma, menos a planificação, as palavras, a montagem que Jorge Silva Melo dedica à obra Os quintais de Lisboa, a esta palmeira recortada contra o céu.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
377ª sessão: dia 21 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30
Durante
o mês de janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um
ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado:
"Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva" Como habitualmente
as sessões ocorrem às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio
Craveiro da Silva. Este ciclo pretende refletir a estreita relação entre
as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o
cinema.
Esta Terça-feira, 21 de Janeiro, será exibido o filme de Jorge de silva Melo Nikias Skapinakis - O Teatro Dos Outros (2007). Conhecido pelos seus retratos de figuras portuguesas e paisagens de Lisboa, Nikias Skapinakis foi um pintor português de ascendência grega, o filme centra-se no percurso artístico e pessoal do artista.
Silva Melo revisita a colectânea que integrou a exposição “Quartos Imaginários”, inaugurada em 2006 no Museu Arpad Scenes -Vieira da Silva, composta pelas pinturas dos vários quartos e ateliers de célebres pintores e escritores que Nikias admirava, tais como de El Greco, Paul Klee, Matisse e Vieira da Silva, ou, ainda, Mário Cesariny, Fernando Pessoa, Teixeira Pascoaes, entre outros. A vida imaginada dos vários artistas pelo pintor, encenadas nas suas pinturas, são transpostas para a imagem em movimento, diluindo-se representação, ficção e real, remetendo-nos não somente para o teatro dos outros, mas para o da própria vida.
Jorge de Silva Melo foi um dramaturgo, encenador e realizador. Co-fundou o teatro da Cornucópia e foi director da sociedade artística Artistas Unidos, a qual concebeu diversos tipos de trabalhos, espectáculos e exposições, bem como produziu filmes, inclusive este, dedicado ao pintor Nikias Skapinakis, em coprodução com a RTP.
Esta Terça-feira, 21 de Janeiro, será exibido o filme de Jorge de silva Melo Nikias Skapinakis - O Teatro Dos Outros (2007). Conhecido pelos seus retratos de figuras portuguesas e paisagens de Lisboa, Nikias Skapinakis foi um pintor português de ascendência grega, o filme centra-se no percurso artístico e pessoal do artista.
Silva Melo revisita a colectânea que integrou a exposição “Quartos Imaginários”, inaugurada em 2006 no Museu Arpad Scenes -Vieira da Silva, composta pelas pinturas dos vários quartos e ateliers de célebres pintores e escritores que Nikias admirava, tais como de El Greco, Paul Klee, Matisse e Vieira da Silva, ou, ainda, Mário Cesariny, Fernando Pessoa, Teixeira Pascoaes, entre outros. A vida imaginada dos vários artistas pelo pintor, encenadas nas suas pinturas, são transpostas para a imagem em movimento, diluindo-se representação, ficção e real, remetendo-nos não somente para o teatro dos outros, mas para o da própria vida.
Jorge de Silva Melo foi um dramaturgo, encenador e realizador. Co-fundou o teatro da Cornucópia e foi director da sociedade artística Artistas Unidos, a qual concebeu diversos tipos de trabalhos, espectáculos e exposições, bem como produziu filmes, inclusive este, dedicado ao pintor Nikias Skapinakis, em coprodução com a RTP.
A maioria dos filmes realizados por Silva Melo são retratos de terceiros – artistas, escritores –, com excepção de Ainda Não Acabámos - como se fosse uma carta
(2016), tido como um autorretrato, mas constituído, também, desses
encontros com o outro que marcam uma vida. Foi terminado, em 2022, um
filme dedicado ao Jorge Silva Melo, iniciado ainda pelo próprio,
intitulado: Viver Amanhã Como Hoje.
A sessão contará com a presença de Eduardo Calheiros Figueiredo, membro da direcção da Zoom – Associação Cultural, cineclube de Barcelos, que fará a apresentação do filme.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça-feira!
sábado, 11 de janeiro de 2025
376ª sessão: dia 14 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30
Cézanne sob o olhar da dupla Danièle Huillet e Jean-Marie Straub
Durante o mês de Janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado: "Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva". Como habitualmente as sessões ocorrerão às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Este ciclo pretende refletir a estreita relação entre as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o cinema.
Durante o mês de Janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado: "Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva". Como habitualmente as sessões ocorrerão às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Este ciclo pretende refletir a estreita relação entre as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o cinema.
Na próxima terça-feira, 14 de Janeiro, serão exibidos dois filmes de média-metragem da dupla de realizadores Danièle Huillet e Jean-Marie Straub, sendo o primeiro Cézanne - Dialogue avec Joachim Gasquet, de 1990, e o segundo filme Une Visite au Louvre, de 2004.
Para ambos os filmes, os realizadores inspiram-se no livro de 1921, intitulado: “Cézanne”, de Joachim Gasquet, autor, o qual, terá privado com o pintor pós-impressionista Paul Cézanne. Recorrendo a planos fixos de imagem e à leitura de excertos da segunda parte do livro de Gasquet, conhecida como “Ce qu’il m’a dit” ou “O que Ele me Disse…”, Huillet e Straub complexificam, de forma crítica, o olhar sobre a pintura e o próprio cinema.
Em Cézanne – Diálogo com Joachim Gasquet (1990), as palavras do pintor, usadas em voz-off, sobrepõem-se às imagens das suas pinturas e das fotografias tiradas dele, para discutir o processo criativo e o lugar do artista no Mundo. A narração percorre, também, excertos do filme “Madame Bovary” de 1934, de Jean Renoir, que por sua vez foi inspirado no romance literário, com o mesmo nome e de 1856, de Gustave Flaubert, passando, ainda, por cenas do filme “A Morte de Empédocles” (1987), da dupla Huillet-Straub, inspirado na obra escrita de Friedrich Hölderlin (1770-1843), detendo-se, ainda, nos planos da Montanha Sainte-Victoire, lugar que inspirou a obra artística de Paul Cézanne.
Em Une visite au Louvre, a arte, bem como a disposição e preservação desta nos museus, são objecto de análise através dos pensares de Cézanne. Neste filme, as memórias de Joachim Gasquet das suas conversas com o pintor são utilizadas para nos apresentar um olhar crítico sobre a pintura e as várias obras de diversos artistas expostos no Museu do Louvre, tal como as de Tintoretto, Delacroix, Courbet, entre outros. Durante o filme, graças aos planos longos é possível admirar as várias pinturas que o próprio Paul Cézanne contemplou.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Em Cézanne – Diálogo com Joachim Gasquet (1990), as palavras do pintor, usadas em voz-off, sobrepõem-se às imagens das suas pinturas e das fotografias tiradas dele, para discutir o processo criativo e o lugar do artista no Mundo. A narração percorre, também, excertos do filme “Madame Bovary” de 1934, de Jean Renoir, que por sua vez foi inspirado no romance literário, com o mesmo nome e de 1856, de Gustave Flaubert, passando, ainda, por cenas do filme “A Morte de Empédocles” (1987), da dupla Huillet-Straub, inspirado na obra escrita de Friedrich Hölderlin (1770-1843), detendo-se, ainda, nos planos da Montanha Sainte-Victoire, lugar que inspirou a obra artística de Paul Cézanne.
Em Une visite au Louvre, a arte, bem como a disposição e preservação desta nos museus, são objecto de análise através dos pensares de Cézanne. Neste filme, as memórias de Joachim Gasquet das suas conversas com o pintor são utilizadas para nos apresentar um olhar crítico sobre a pintura e as várias obras de diversos artistas expostos no Museu do Louvre, tal como as de Tintoretto, Delacroix, Courbet, entre outros. Durante o filme, graças aos planos longos é possível admirar as várias pinturas que o próprio Paul Cézanne contemplou.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça!
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Van Gogh (1948) de Alain Resnais + Lust for Life (1956) de Vincente Minnelli
Por António Cruz Mendes
A figura romântica do artista que, apesar da incompreensão do público, sacrifica a vida à realização da sua obra tem protagonizado muitos filmes. Van Gogh é um caso exemplar. Nas últimas décadas, a sua vida e a sua obra motivaram a realização de vários filmes: em 1990,uma das curtas-metragens que fazem parte de Yume (Sonhos), de Akiro Kurosawa, foi-lhe consagrada; em 1991, Maurice Pialat, realizou Van Gogh; em 2014, Dorota Kobiela e Hugo Welchman, realizaram Loving Vincent (A Paixão de Van Gogh), um filme de animação totalmente pintado à mão no estilo do pintor; e, em 2018, Julian Schnabel (também ele um pintor), realizou At Eternity’s Gate (No Portal da Eternidade). Na sessão de hoje apresentamos dois filmes mais antigos: a curta-metragem Van Gogh, de 1948, de Alain Resnais, e o filme de Vincente Minelli, Lust for Life (Sede de Viver), de 1956.
Provavelmente, o nascimento e a difusão da fotografia e do cinema (que nos permite reproduzir com grande precisão as imagens que a realidade nos oferece) terá dado um contributo muito importante para a desvalorização da mimesis como elemento definidor da qualidade artística da pintura. E, nesse processo de invenção de formas desobrigadas de uma função mimética que vai caracterizar a arte moderna, as correntes expressionistas que não entendem a pintura como uma representação realista da realidade perceptível, mas como a sua transfiguração através da projecção imagética do mundo interior do artista, dos seus sentimentos e emoções, vão ter em Van Gogh um importante precursor.
O filme de Alain Resnais assume esta ideia de uma fusão entre a vida e a obra do artista oferecendo-nos um ensaio sobre Van Gogh que dispensa a encenação de episódios da sua vida e a própria representação física do pintor para se fundar exclusivamente na filmagem das suas pinturas, como se as suas paisagens e os seus retratos bastassem para nos revelar a sua personalidade, os seus propósitos, as suas obsessões e angústias.
O filme conduz-nos das obras do seu “período holandês”, onde, em tons sombrios, procura expressar a miséria dos operários e camponeses, para aquelas que realiza em Paris, onde descobre o impressionismo, e para as realizadas em Arles e, depois, em St. Remy e Auvers, onde pelo uso expressivo da cor e, depois, pela figuração retorcida da natureza, dos objectos e das pessoas, se afasta progressivamente da representação “impressionista” de puras sensações visuais. No entanto, Resnais decidiu desvalorizar esse processo evolutivo da pintura de Van Gogh para ressaltar a sua unidade fundamental e a sua dimensão humanista. Para isso, resolveu filmar a preto e branco, valorizando a importância da materialidade da pintura sobre a valia da cor. A câmara passeia-se pelas suas telas privilegiando planos de pormenor, para melhor evidenciar o fazer da obra, as texturas e as marcas deixadas pelos traços do pincel. Oferece-nos, assim, uma visão mais abstractizante da obra de Van Gogh para nos mostrar que essa coisa que a pintura é pode significar essa outra coisa que é a vida do artista.
Se o filme de Resnais procura compreender o homem a partindo de uma leitura da sua obra, o de Minnelli segue o caminho inverso e tenta perceber a obra de Van Gogh a partir da sua biografia. No entanto, um tanto paradoxalmente, dada a importância da cor na pintura de Van Gogh, no primeiro a realização optou pelo preto-e-branco, enquanto no segundo a vibração cromática das suas telas parece ecoar nas cores saturadas do filme.
Em Sede e Viver, seguimos também o trajecto, da Flandres a Paris e, daí, a Arles e ao hospício de Saint-Rémy e a Auvers que, com o auxílio do narrador, podemos observar em Van Gogh, mas, desta vez, pelos passos do próprio pintor. Ganham mais relevo os seus dramas amorosos e familiares e o papel de Theo como confidente e apoio, e vamos sabendo das suas intenções artísticas através das suas confissões e debates. No filme de Minnelli, as imagens dos quadros de Van Gogh continuam presentes, mas servem sobretudo para ilustrar uma narrativa biográfica.
Em Arles, Van Gogh julga ter alcançado o ápice da sua arte. Contudo, o estado de tensão emocional em que continua a viver agrava-se com a chegada de Gauguin e as frequentes e violentas discussões entre os dois acerca do sentido da vida e da arte. A suposta loucura de Van Gogh encontra em Sede de Viver um relevo particular. Na verdade, ela nunca foi diagnosticada e supõe-se que o famoso episódio do corte na orelha possa ter ocorrido no contexto de uma crise de epilepsia. Note-se, no entanto, que a epilepsia era considerada à época uma doença psiquiátrica. A repetição desses ataques terá feito Van Gogh duvidar da sua própria sanidade mental e, embora no intervalo das crises tenha retomado o seu trabalho de pintor, o carácter atormentado das obras que pinta em Saint-Rémy e Auvers denotam a angústia que o consome e anunciam o desfecho final.
O dilema existencial de Van Gogh é o tema central de Sede de Viver (“desejo de viver” numa tradução mais literal de “lust for life”): para ele, a vida não tem sentido à margem da criação artística, mas as energias que ela consome tornam-lhe a vida insuportável.
sábado, 4 de janeiro de 2025
375ª sessão: dia 7 de Janeiro (Terça-Feira), às 21h30
Durante o mês de Janeiro, o Lucky Star – Cineclube de Braga inicia o ano com um ciclo composto por seis filmes dedicados à pintura, intitulado: "Enquadramentos e Molduras - Pintores em perspectiva", com as habituais sessões às terças-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. Com este ciclo pretende-se reflectir a relação entre as diferentes artes visuais, especificamente entre a pintura e o cinema.
Na próxima terça-feira, 7 de Janeiro, o ciclo arranca com dois filmes sobre o famoso pintor holandês Vincent Van Gogh. O primeiro a ser exibido é uma curta-metragem Van Gogh (1948) de Alain Resnais. O realizador usa a voz-off do actor Claude Dauphin e o movimento de câmara para discorrer pelos quadros do pintor e compor uma narrativa poética que retrata a vida e obra do artista.
A trasladação da pintura fixa para a imagem fotográfica a preto e branco, numa montagem pensada, dá realismo aos quadros e aos elementos neles representados, dando-nos a ilusão que as pinturas transpostas para a imagem em movimento nos mostram a história de vida do próprio Van Gogh, os infortúnios por que passou de par com a tenacidade do seu espírito criativo.
Num segundo momento é exibido a longa-metragem Lust for Life ou a A vida apaixonada de Van Gogh (1956) de Vincente Minnelli. O filme retrata a vida do pintor numa versão hollywoodiana e baseada no livro de 1934, com o mesmo título, de Irving Stone.
Num segundo momento é exibido a longa-metragem Lust for Life ou a A vida apaixonada de Van Gogh (1956) de Vincente Minnelli. O filme retrata a vida do pintor numa versão hollywoodiana e baseada no livro de 1934, com o mesmo título, de Irving Stone.
Através da trama de Minnelli, seguimos o percurso de Van Gogh pelos diferentes lugares na Europa por que passou até ao seu destino final em Auvers-sur-Oise. Para além da vida conturbada de Van Gogh, o filme revela-nos vários quadros do pintor, algumas pertencentes a colecções privadas e, portanto, menos conhecidas pelo público em geral. A cinematografia de Lust For Life, por Freddie Young e Russell Harlan, foi pensada em diferentes esquemas de cores, consoante os lugares filmados (lugares, os quais, Van Gogh viveu e pintou) e a paleta de cores das pinturas originais, denotando-se as diferenças ao longo do filme.
O génio e o íntimo do artista atormentado são representados pelo actor Kirk Douglas, o qual aprendeu algumas técnicas da pintura para poder retratar o pintor com maior exactidão. A personagem Theo Van Gogh, irmão de Vincent Van Gogh, é encarnada por James Donald e o actor Anthony Quinn desempenha o papel do pintor Paul Gauguin. O filme foi nomeado para vários prémios pela academia americana, tendo valido um óscar de melhor actor secundário Anthony Quinn e um globo de ouro a Kirk Douglas de melhor actor.
O génio e o íntimo do artista atormentado são representados pelo actor Kirk Douglas, o qual aprendeu algumas técnicas da pintura para poder retratar o pintor com maior exactidão. A personagem Theo Van Gogh, irmão de Vincent Van Gogh, é encarnada por James Donald e o actor Anthony Quinn desempenha o papel do pintor Paul Gauguin. O filme foi nomeado para vários prémios pela academia americana, tendo valido um óscar de melhor actor secundário Anthony Quinn e um globo de ouro a Kirk Douglas de melhor actor.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça-feira!
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