segunda-feira, 28 de junho de 2021

196ª sessão: dia 29 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Na última Terça-Feira de Junho, terminamos o nosso ciclo Hong Sang-soo com a sua antepenúltima longa-metragem, um ciclo de conversas entre amigas sobre as suas desilusões amorosas com Kim Min-Hee no papel principal. Assim, A Mulher Que Fugiu é a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Na conferência de imprensa no Festival de Cinema de Berlim, em 2020, e quando lhe perguntam porque escolheu este título para o filme, o realizador sul-coreano responde que "na verdade, não decidi. Mas podia ter decidido... só que meio que parei mesmo antes de decidir. Mas, sabem, tinha uma sensação muito, muito boa sobre o porquê de gostar deste título, como que adivinhei o tipo de coisas que as pessoas iam pensar em relação àquilo que vêem no filme se pusesse este título, mas parei antes de definir aquilo que queria. Imagino que possa dizer que gosto simplesmente da sensação da coisa. Do sentimento da coisa. Mas se continuasse a escavar talvez pudesse dizer... diria que todas as mulheres no filme estão a fugir de alguma coisa: de serem oprimidas, de não estarem satisfeitas com alguma coisa, mas preferi parar antes."

No início deste ano, e para o site Comunidade Cultura e Arte, Bruno Victorino escreveu que "os filmes do consagrado cineasta sul-coreano têm tido uma passagem intermitente pelas salas de cinema nacionais. Felizmente, no final de 2019 e início de 2020, a Cinemateca Portuguesa programou uma retrospectiva integral da sua obra, intitulada “As Variações de Hong Sang-soo”. A Midas Filmes, aproveitando o lançamento do mais recente filme do realizador, juntou-lhe outros três — Mulher na Praia (2006), O Filme de Oki (2010) e O Dia em que Ele Chega (2011) — exibindo-os em sala e disponibilizando-os posteriormente em DVD, juntamente com 4 novos belíssimos posters. 
 
"Acusado de realizar sempre o mesmo filme, é precisamente nas pequenas variações narrativas e formais que reside muito do interesse do cinema de Sang-soo. Os filmes do prolífico cineasta (15 longas metragens desde 2010 a esta parte) retratam o dia-a-dia de amigos e amantes, recorrentemente sentados à mesa de refeição, sempre regados a soju, enquadrados em planos longos e utilizando inventivamente o zoom para efeitos dramáticos. A narrativa está habitualmente dividida em partes facilmente identificáveis, onde pequenas repetições vão ocorrendo, ilustrando a repercussão que simples variações da ação podem ter no destino dos seus personagens."

Já Mathieu Macheret, para o Le Monde, e sobre este filme, escreveu que "Hong Sang-soo é sem dúvida um dos realizadores que melhor negociou a viragem digital do meio do cinema. Em actividade desde os meados dos anos 1990 (O Dia em que um Porco Caiu a um Poço, 1996), o sul-coreano soube tirar proveito desta conversão para aliviar os seus meios de produção e rodar ainda mais rápido filmes que se encadeiam ao ritmo das estações, a tal ponto que a sua prolixidade se tornou proverbial. A partir da chegada da actriz Kim Min-hee (Sítio Certo, História Errada, 2015), daí em diante em todos os seus filmes, o cinema de Hong Sang-soo, dedicado à versatilidade dos comportamentos amorosos, transferiu-se de forma sensível para o seu pólo feminino. O cineasta retrata uma feminidade convalescente, tentando proteger-se durante um tempo dos relacionamentos com os homens, inevitavelmente tempestuosos e decepcionantes. O último filme do duo, A Mulher Que Fugiu, marca nesse sentido uma espécie de apogeu, abrindo para as suas heroínas um parêntesis de doçura e de melancolia, uma «grande área» feminina magnífica. 

"A narrativa, que se desenrola ao longo de alguns dias, tem a simplicidade nua das cantigas de roda falsamente cândidas com que o cineasta se habituou a enfeitar as suas bandas-sonoras. Gam-hee (Kim Min-hee) aproveita a ausência do seu marido, que partiu em viagem de negócios, para fazer uma visita a três das suas amigas, em diferentes bairros mais ou menos deslocados do centro de Seoul. Ao longo das discussões, todas reconsideram a sua escolha de instalação, constituindo a habitação um refúgio temporário para as complicações amorosas (divórcio, paixoneta ou ciúmes). Gam-hee confia às suas interlocutoras que se encontra sozinha pela primeira vez em cinco anos: uma excepção que só se deve no entanto à ideia exclusiva que o seu marido tem do casal. Os reencontros vão ser perturbados por três vezes pela irrupção de um homem, vizinho importuno ou amante rejeitado, que virá interferir momentaneamente com a serenidade do Olimpo feminino."

Até Terça!

terça-feira, 22 de junho de 2021

Geu-hu (2017) de Hong Sang-soo



por Alexandra Barros

O editor e crítico literário Bong-wan e a sua mulher, Hae-joo, estão sentados a uma mesa, frente a frente. Ele come e ela interroga-o. Suspeita que o comportamento estranho que ele tem tido ultimamente seja consequência de um relacionamento extraconjugal e insiste para que ele confesse. Ele não nega, mas insinua que é uma ideia disparatada e mantém-se silencioso, ora fitando a mulher ora baixando os olhos para os alimentos que continua a ingerir. Não sabemos quem tem razão, mas a angústia de um e outro é visível e a cena muito perturbadora. 
 
É a primeira de diversas cenas passadas à mesa, durante uma refeição, “copos” ou conversa, situação recorrente nos filmes de Hong Sang-soo. Noutra das cenas “de mesa” do filme, Bong-wan e a sua recém-contratada assistente, Ah-reum, almoçam num restaurante. Bebem soju (bebida alcoólica tradicional coreana) e discutem a natureza da realidade, a impossibilidade de a descrever utilizando palavras, a dificuldade de ter crenças e lhes ser fiel, a (im)possibilidade de viver sem objectivos. Na cena seguinte, encontramos Bong-wan e outra jovem mulher - desta vez a sua ex-assistente Chang-sook - a partilhar uma refeição e demasiado álcool (no mesmo restaurante e na mesma mesa). Acabaremos por perceber que é um flashback, recurso utilizado de forma recorrente neste filme onde o tempo presente e as memórias se intercalam constantemente. Por diversas vezes são mostradas as horas em relógios de parede, mas pouco ajudam a situarmo-nos numa sequência não-linear de acontecimentos, tornada ainda mais confusa pela semelhança de algumas cenas: ora os protagonistas são os mesmos e dizem as mesmas coisas, em momentos diferentes da narrativa, ora personagens idênticas são colocadas no mesmo local e contexto, em fios narrativos diferentes. Exemplo do primeiro caso é a entrevista e a conversa entre Ah-reum e Bong-wan, no início e final do filme. Exemplo do segundo caso é o almoço+bebidas de Bong-wan e Ah-reum no primeiro dia de trabalho desta e depois (que é um antes) o almoço+bebidas de Bong-wan e Chang-sook, no mesmo restaurante e nos mesmos lugares, na cena em que Chang-sook confronta Bong-wan com a sua cobardia e incapacidade de assumir a relação. 
 
A impossibilidade/dificuldade de percebermos o que das nossas vivências é real, discutida no almoço de Bong-wan e Ah-reum, é uma das características dos próprios filmes de Hong Sang-soo. As cenas e a estrutura narrativa parecem ser compostas com a intenção de nos baralhar, misturando realidade, imaginação, memória e particularmente coincidências, acasos improváveis e percepções peculiares (como as semelhanças nada evidentes que Jung-rae diz ver entre as duas mulheres com que se envolve em Mulher na Praia, por exemplo). Para Hong Sang-soo a diferença não é relevante: “Tudo é ilusão, realisticamente falando. Tudo o que vemos, sentimos, imaginamos é real e simultaneamente falso. […] a distinção não é importante”. 
 
A replicação de situações é uma das marcas do cinema de Hong Sang-soo, recurso narrativo que enfatiza a noção que na vida não há progressos, só ciclos. Repetem-se, uma e outra vez, os mesmos erros, o mesmo sofrimento, as mesmas desilusões, muito por causa de protagonistas masculinos voltados para si próprios e, devido a isso, perdidos no mundo. Bong-wan, à semelhança de outros homens dos filmes de Hong Sang-soo, é egocêntrico, irresponsável e mentiroso. São homens que tentam fugir às complicações de assumir compromissos ou relacionamentos e que acabam embrulhados em confusões, muito mais complicadas que aquelas que pretendem evitar. Resultado: sentimentos de culpa, de abandono e de impotência. 
 
Estão presentes neste filme outras marcas características do realizador: 
- Histórias paralelas que se cruzam, encontros e desencontros, esclarecimentos e mal-entendidos. 
- Triângulos amorosos ou não. Neste filme, temos até um triângulo de triângulos: Bong-wan/ Hae-joo/ Chang-sook, Bong-wan/ Hae-joo/ Ah-reum, Bong-wan/ Chang-sook/ Ah-reum. 
- Mulheres em busca de verdade e clareza; homens ambíguos, hesitantes, confusos e que confundem e enganam deliberadamente. 
- Diálogos “filosóficos”. 
- Montagem com estrutura “geométrica” ou musical: rimas, repetições, paralelismos, contrapontos, … Contraponto especialmente intrigante (ou revelador?): o taxista que transporta Ah-reum uma segunda vez, reconhece-a por ela ser muito bonita e ter um estilo muito singular. Por outro lado, Bong-wan não reconhece Ah-reum quando esta o visita, algum tempo depois de ter sido despedida, apesar de terem vivido momentos de intimidade (não romântica) e grande intensidade emocional. 
- Conflito ideais/realidade. Neste como noutros filmes do realizador, as personagens sofrem, em grande parte, porque esperam dos outros aquilo que estes não lhes conseguem dar. A propósito, Hong Sang-soo afirmou numa entrevista: “Para [as minhas personagens], o conflito entre os ideais e a vida é muito doloroso. Mas toda essa dor é desnecessária. A essência do problema são os ideais, não a vida.” 
 
O Dia Seguinte é mais uma variação[1] numa obra cheia de filmes que são variações uns dos outros, onde por sua vez abundam as cenas que são variações umas das outras. Um cinema fractal. 



[1] “Les Variations Hong Sang-soo”, Simon Daniellou, Antony Fiant.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

195ª sessão: dia 22 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Na primeira semana de Verão, assistimos às pesadas memórias amorosas de Bong-wan, editor e crítico literário interpretado por Kwon Hae-Hyo na vigésima primeira longa-metragem de Hong Sang-soo, O Dia Seguinte, a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Em entrevista a Anne-Christine Loranger em 2017, e quando esta lhe pergunta se escreve sempre para actores específicos, o sul-coreano responde-lhe que "sim, claro que escrevo. Escolho sempre os locais primeiro e depois os actores. Tento falar com eles, beber com eles... Só ao falar com eles, entra-me algo no sistema, e quando tenho de escrever de manhã durante a rodagem, começo às 4:00, 5:00, às vezes às 3:00. É sempre intuitivo, não há preparação, apenas locais e actores e algo na minha mente. E depois vem-me à cabeça. Tento ordená-los de uma forma particular, trazer também alguma coisa. Todas as palavras, todas as linhas dos guiões me são oferecidas. Quando se está mais aberto, há mais coisas a vir até nós. Pode parecer irresponsável trabalhar desta forma, mas é assim que eu faço. Como alguém que cresceu no seio desta cultura, vi tantas histórias, tanto drama. A primeira coisa que eu vejo quando conto uma história são os clichés. Nós somos treinados a ver a vida numa forma narrativa particular. Os clichés são agradáveis. Quando eu trabalho com fragmentos de diálogo, não tento chegar a algo agradável. Tento encontrar um equilíbrio entre os fragmentos. Sei como outra pessoa se sentiria se juntasse os fragmentos de certa forma, mas tento não ficar assoberbado com esse prazer."

No dossier de imprensa do filme, há um excerto de uma crítica de Jeong Hanseok, onde este afirma que "O Dia Seguinte retrata um dia indescritivelmente longo e inexorável que parece que vai durar para sempre, e ao qual é brevemente acrescentada, depois de passar, uma anedota lânguida e onírica de outro dia, como uma ingestão de ar. Mas na verdade, enquanto vemos o filme, não é assim tão fácil reconhecer esta estrutura. Porquê é que é assim? Porque está a ter lugar uma luta desesperada de conjugações, perturbando a progressão linear do tempo. 

"Bong-wan vai a pé para o trabalho na escuridão antes do amanhecer. Nos locais por que passa, e no percurso traçado pelos seus passos, são infundidas as memórias de Bong-wan e da sua antiga amante Chang-sook. Hong Sang-soo intercala cenas de Bong-wan no presente a caminho do trabalho e cenas do passado de Bong-wan e Chang-sook juntos a um ritmo rápido e íntimo, mas solitário. É a primeira vez nos filmes de Hong Sang-soo que o passado e o presente se alternam lado a lado numa interacção tão activa e rápida."

Na sua folha da Cinemateca sobre o filme, Maria João madeira escreve que «no diálogo interno dos filmes de Hong Sang-soo, as conversas são como as cerejas. Nesta roda – ou nesta ronda – a causa não se faz só de repetições e variantes. Entram também os pequenos apontamentos, pistas, deixas. Ao cabo de uma vintena de filmes uma pessoa dá por si a pensar numa cena que reunisse à mesma mesa o pleno das personagens de Hong Sang-soo a esgrimirem pontos de vista, obsessões, desgostos, dilemas, conflitos, estados de alma. E não parece inverosímil, mesmo que tantas delas venham da carne e da pele dos mesmos actores. Hong Sang-soo resolveria a coisa a bem, pensa uma espectadora animada. 

«N’O Dia Seguinte, a longa-metragem de Hong Sang-soo que no capítulo dos títulos evoca as jornadas de O Dia em que Um Porco Caiu a Um Poço e O Dia em que Ele Chega, que na dimensão meteorológica alinha com as tantas “obras de Inverno”, que no registo cromático está do lado da Virgem Desnudada pelos Seus Pretendentes e O Dia em que Ele Chega, de Grass e Hotel à Beira-Rio, que faz parte da sua filmografia com Kim Min-hee (e por aí fora, se pensarmos nos demais actores, intrigas triangulares, temporalidade múltipla, etc.), podemos começar por notar a declaração de fé nos livros. Nesse caso, O Dia Seguinte volta a uma ponta solta do Filme de Oki. “Vamos dedicar-nos à leitura. Num mundo tão destroçado, só os livros podem salvar-nos”, ouve-se aí. Aqui, um filme em que tudo se passa à volta de uma pequena editora, cujo “patrão”, como Bongwan se auto-apelida, é também escritor (Kwon Hae-hyo, actor de Hong desde Noutro País), a salvação pelos livros acode à personagem da rapariga a quem ele dá emprego por um dia escutando-a menos que ela a ele (Kim Min-hee, na personagem de Areum, tal e qual o nome da mulher que interpreta em Hotel à Beira-Rio, uma jovem poeta em perda amorosa que ouve a poesia do velho escritor, o pai protagonista desse filme de laços consanguíneos). O diálogo não é entre os dois, é entre a rapariga e o taxista que a transporta na noite em que esse dia se volve quando a neve vem cair para tornar tudo mais límpido. Ela traz um pacote de livros, escolhidos na editora como prémio de consolação, e tira um volume que começa a folhear. Os livros ajudam-na a viver? pergunta o taxista. “Sim. Um bocadinho.”»

Até Terça-Feira!

terça-feira, 15 de junho de 2021

Book chon bang hyang (2011) de Hong Sang-soo



por Joaquim Simões

É estranho encontrar a mesma pessoa três vezes no mesmo dia. É uma grande coincidência, daquelas que nos pode levar a crer que talvez haja uma razão: a pessoa estará a seguir-nos, ou a gozar connosco? Não, rapidamente nos convencemos de que não é mais do que um mero acaso – embora não seja essa a nossa crença instintiva - antes aquela em que assentamos depois de espremer o acontecimento pelo filtro apertado da lógica. E se encontrarmos a mesma pessoa uma quarta vez? Será então impossível de acreditar que estamos perante apenas mais um dos inúmeros frutos da aleatoriedade do universo. Esta tendência humana de justificar causalmente acontecimentos que não são mais do que a resultante de milhões de acasos é talvez aquilo que nos torna em seres falíveis, quiçá trágicos, suscetíveis a cometer desastres – ou assim teoriza Seong-jun, o protagonista d’O dia em que ele chega, professor de cinema e ex-realizador, numa das muitas conversas que decorrem durante o filme, quase sempre entre cigarros, copos e comida. Não é que o conhecimento desta tendência falaciosa imunize Seong-jun de cometer qualquer um dos desastres a que ela nos pode conduzir, como, por exemplo, aparecer embriagado em casa de uma ex-namorada e proclamar desesperadamente que não consegue viver sem ela – cortando para a manhã seguinte, quando se despede dela, reassegurando-a de que o melhor a fazer é nunca mais falarem (nem por mensagens). 
 
Recuemos: Seong-jun veio à capital visitar um amigo e crítico de cinema, Young-ho. Encontramo-lo na rua, acabado de chegar. O amigo não atende o telemóvel e ele, sem ter que fazer, deambula pela rua; o seu primeiro encontro é com uma atriz que conhece do passado – um minuto de conversa de circunstância e cada um para seu lado. Este encontro fortuito há de se repetir umas quantas vezes. 
 
Young-ho continua a não atender o telemóvel e Seong-jun vai a um restaurante matar tempo. É convidado a juntar-se a uns estudantes de cinema que estão a beber copos, ou mais precisamente malgas, noutra mesa. Os estudantes brindam e lisonjeiam Seong-jun, que é um realizador estabelecido com quatro longas-metragens no bolso. Depois de bebidos Seong-jun vai levá-los a um sítio divertido, mas a dada altura desata a correr porque reparou que os estudantes acenderam ao mesmo tempo um cigarro imediatamente após ele o ter feito. Os estudantes não compreendem a ofensa. Tendo escapado, Seong-jun dá um salto ao apartamento da ex-namorada. 
 
Lá se encontra com o amigo, Young-ho, e os dois mais uma amiga deste último, Bo-ram, vão beber os copos a um bar onde a proprietária tem uma semelhança física impressionante com a ex-namorada de Seong-jun. Os três conversam, fumam e bebem copos; Young-ho está muito interessado em Bo-ram, que está muito interessada em Seong-jun, que está muito interessado na dona do bar. 
 
Talvez no dia seguinte, os dois amigos encontram-se num restaurante com um velho amigo e ator, joong-Won, protagonista do primeiro filme de Seong-jun. O ator revela um certo ressentimento para com Seong-jun, que lhe tinha prometido um papel num filme, mas que escolheu antes dar a um ator mais popular, sem dizer nada a Joong-won. Há um momento de tensão, mas a conversa rapidamente se vira para a vida amorosa de Young-ho. Depois de jantar os três e Bo-ram encontram-se no bar da outra noite, conversam, fumam e, claro, bebem copos. Young-ho continua interessado em Bo-ram, que continua interessada em Seong-jun, que continua interessado na dona do bar que se parece com a sua ex-namorada. A dada altura a dona do bar sai para ir comprar comida. Seong-jun acompanha-a porque é tarde. A meio do caminho ele pára abruptamente para a encarar com urgência e comentar que está muito frio. Ela confirma que sim, portanto Seong-jun lança-se num beijo violento e apaixonado. Estão no meio da rua e está a nevar - é um momento de singelo humor e beleza. 
 
Voltamos a encontrar Seong-jun, Young-ho e Bo-ram a jantar no mesmo restaurante do outro dia. Bo-ram fala da sua solidão. Depois vão ao bar - repete-se a rotina. Desta vez Seong-jun dorme com a dona do bar. Na cama, trocam palavras de ternura, e na manhã seguinte ele despede-se, assegurando-a de que é melhor não manterem o contacto. Liga a Young-ho, mas ele está ocupado. Deambula, encontra ao acaso algumas pessoas conhecidas da área do cinema que não querem falar com ele, outras que fazem questão. Cruza-se com uma rapariga que o reconhece, é fã dos seus filmes, e pede para lhe tirar uma fotografia. Ele não queria muito, mas como dizer que não a uma rapariga bonita que gosta dos nossos filmes? O filme termina com Seong-jun a encarar seriamente a objetiva que dispara sobre ele.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

194ª sessão: dia 15 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Na semana em que estreia finalmente em sala O Movimento das Coisas de Manuela Serra (é no dia 17 de Junho, pela The Stone and The Plot), chegamos a meio do nosso pequeno ciclo dedicado ao cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, com O Dia em que Ele Chega, de 2011, a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Numa entrevista de 2011, Hong Sang-soo disse que "(...) depois de ter decidido fazer o filme com Kim Bo-kyung, lembrei-me que Seong-jun (Yu Jun-sang) ia até à casa da ex-namorada quando se embebeda, portanto depois de rodarmos essa cena, decidi que ia conhecer uma nova mulher em Bukchon. E depois disso, Kyungjin só ia aparecer em mensagens de texto. Até Hahaha, eu tinha pelo menos uma ideia aproximada de como a história para um filme se desenvolvia, mas a partir de O Filme de Oki nem sequer pensei nisso. Mesmo com O Dia em que Ele Chega, decidi mais ou menos o elenco e os locais, e só pensei em cenas depois de começar a rodar o filme. Fazer com que as personagens femininas fossem semelhantes também veio de um processo assim. Pode ser norma fazer uma prefiguração e estabelecer pontos de ligação para as cenas que vão aparecer no filme num momento posterior mas eu deixei-me mesmo levar pelos meus instintos para este filme, sem nada definido de antemão. É um bocado difícil explicar por palavras mas os meus sentidos abriam-se em todas as direcções possíveis durante as manhãs. Nem sequer havia uma ideia central em bruto que eu estivesse a seguir."

No dossier de imprensa para o festival de Cannes, pode-se ler um texto de Jong Hanseok, que diz que "na cena que abre O Dia em que Ele Chega, o 12º filme de Hong Sang-soo, a voz off de Seong-jun diz-nos que vai passar ‘três-quatro dias’ a Seoul. De cada vez que é interrogado por mulheres, ele responde da mesma maneira, tirando no fim. À primeira vista, ele parece ter ficado o tempo que tinha previsto no início. No entanto não é assim tão evidente. Se conhecerem alguém que vos fale sem sombra para dúvidas do tempo que Seong-jun passou em Seoul, é preciso desconfiar. Pouco importa que tenha razão ou não; o problema, é ter a certeza. Quanto tempo ficou Seong-jun desde «o dia da sua chegada»? A resposta certa é muito simplesmente que «não se sabe». 

"Lembre-se as personagens de O Filme de Oki, o filme anterior de Hong Sang-soo. Mesmo que tenham os mesmos nomes e que sejam interpretadas pelos mesmos actores, a sua identidade permanece ambígua ao longo de todo o filme. É assim que funciona o segredo estrutural da obra de Hong Sang-soo, em O Dia em que Ele Chega. Por exemplo, se se tentasse dividir este filme em poucos capítulos, ficar-se-ia surpreendido ao descobrir coisas que estavam escondidas. O tempo do filme que parecia linear baralha-se para se dividir em vários períodos, ou para se tornar virtual: os tempos de Seong-jun. E depois, ver-se-á que não há maneira alguma de explicar este filme de uma forma lógica ou racional. Neste filme, o tempo deixa de passar; mantém-se paradoxal, acumula-se como num estereoscópio. É a razão pela qual não podemos estar certos de nada."

Já Jean-François Rauger, escreve para o Le Monde que "(...) O Dia em que Ele Chega também é um filme cómico. O riso é desencadeado pelo sentimento de uma repetição das situações. A estadia de Seung-jun em Seoul é um running gag (situação cómica recorrente) que o condena a reencontrar as mesmas pessoas, a reviver as mesmas histórias e a frequentar os mesmos locais. Hong Sang-soo impulsiona mesmo o vício ao ponto de fazer encarnar pela mesma actriz as duas personagens (a ex-namorada e a dona do bar) que têm uma breve ligação com o herói. 

"Esta repetição ontológica é puro produto do acaso ou é determinada pelo próprio protagonista, completamente alienado por um comportamento do qual não tem a chave? O cinema decididamente não recua, aqui, perante o questionamento filosófico, e é ainda mais admirável que o faça através de uma ficção minimalista, rodada em poucos dias com um punhado de actores num perímetro que se adivinha fazer parte da vida quotidiana do próprio cineasta."

Até Terça!

terça-feira, 8 de junho de 2021

Ok-hui-ui yeonghwa (2010) de Hong Sang-soo



por António Cruz Mendes

“A vida é feita de pequenos nadas”, diz a canção. E, embora os seus “pequenos nadas” não sejam exactamente aqueles a que Sérgio Godinho se refere, o mesmo se poderia dizer dos filmes de Hong Sang-soo. Num festival de Cannes, inquirido por jornalistas sobre neles se beber muito e de muitas das suas personagens serem realizadores, respondeu dizendo que “só falo do que sei”. Ou seja, de álcool e de cinema. De facto, não é bem assim. É verdade que nos seus filmes se come e bebe muito, mas as suas personagens, sobretudo, conversam e procuram conhecer-se e relacionar-se. Procuram um amor que desejam eterno, mas que se revela fugitivo, provavelmente inalcançável. Hong Sang-soo parece contar-nos sempre a mesma história. Com pequenas, subtis diferenças, situações e personagens repetem-se de filme para filme. O conjunto da sua obra obedece ao modo musical do “tema e variações”. 

Trata-se de um realizador prolífico. Entre 1996 e 2021, realizou vinte e cinco longas-metragens e três curtas. São filmes de baixo orçamento, escritos, realizados e, na sua maioria, produzidos por si. Idealmente, o último deveria financiar a próximo. O seu ponto de partida é um esboço sumário do argumento, os diálogos são muitas vezes escritos pouco antes das filmagens e estas admitem facilmente o improviso. O resultado final são filmes enxutos, algo palavrosos – e muito bonitos. 

O Filme de Oki, é um filme sobre a vida e os amores de uma jovem estudante que faz um filme sobre a vida e os amores de uma jovem como ela. Mas, isso só nos é revelado no quarto e último episódio – que se chama também “O filme de Oki”. Nele, a protagonista, em voz off, conta-nos a sua história. Hesita entre o amor de um “homem velho”, um professor de cinema, e o amor de um “homem novo”, um estudante como ela. Entretanto, vai alimentando uma relação com os dois. Na verdade, já conhecíamos dos episódios anteriores as figuras que encarnam estas três personagens, Oki, Jongu e Song. 

O primeiro episódio, “Um dia de encantamento” serve-nos de introdução. O protagonista é Jingu, jovem realizador e professor assistente numa escola de cinema. Inseguro, mas tentando esconder a sua fragilidade sob uma aparente arrogância, interroga-se sobre a fidelidade da sua mulher, sobre a honestidade do seu antigo tutor, sobre a valia do seu trabalho. 

Na sala semi-deserta onde apresenta a sua última obra, uma curta-metragem, a moderadora questiona-o: “O seu filme tem muitas histórias. Que mensagem quis transmitir?” A resposta de Jingu poderia ter sido dada por Hong Sang-soo: “Eu só fiz o filme, não tinha nenhum tema em mente. O meu cinema é similar ao processo de conhecer pessoas, mas é menos complicado do que as pessoas. Conhecemos alguém e ficamos com uma impressão, fazendo um juízo baseado nessa impressão. Mas, no dia seguinte, voltando a ver essa pessoa, não poderá dar-se o caso de notarmos outros aspectos distintos e ajuizarmos a partir deles?”. 
 
A única pergunta que se segue é a de uma aluna que o acusa de ser responsável pelas consequências desastrosas de uma aventura amorosa. Na sua opinião, a questão é pertinente porque o filme de Jingu é apenas e só sobre a sua pessoa. 

No segundo episódio, “O rei dos beijos”, voltamos a encontrar Jingu, ainda estudante, e ficamos a saber da sua paixão por Oki, uma colega, possivelmente, amante do professor Song. 

No terceiro episódio, “Depois da tempestade de neve”, encontramos Song que, perante uma sala vazia – todos os alunos faltaram à sua aula, humilhado, reflete sobre a hipótese de se demitir. Mais tarde, chegam Oki e Jingu que lhe colocam uma série de perguntas incómodas às quais apenas consegue responder com evasivas. Sabemos que Hong Sang-soo foi professor nessa mesma escola. Até que ponto não será Song um seu alter-ego? 

No cinema de Hong Sang-soo, a arte e a vida enredam-se num novelo difícil de desembaraçar. Afinal, não será o cinema apenas uma forma de, com “pompa e circunstância”, nos dar a ver, amplificados, os pequenos e grandes dramas da nossa existência? Só por um exercício de auto-ironia se compreende que cada um dos quatro episódios de O Filme de Oki, sejam anunciados pelos acordes da Marcha de Elgar.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

193ª sessão: dia 8 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Em quatro segmentos ("Um Dia de Encantamento", "Rei dos Beijos", "Depois da Tempestade de Neve" e "Filme de Oki"), um realizador veterano, um aspirante a realizador e uma estudante de cinema formam um triângulo amoroso que atravessa diferentes períodos e obstáculos. O Filme de Oki de Hong Sang-soo será então a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Em entrevista à Film Comment em 2017, o realizador coreano discutiu o seu método de trabalho, dizendo que "escolho alguns locais e normalmente dois ou três actores sem saber como os vou usar. Depois tenho duas ou três entrevistas informais com os actores e começo a rodar com algumas páginas de anotações, das quais não tenho a certeza se alguma será usada. Então são escolhidos outros locais e actores, se necessário, à medida que progrido, e avanço para a escrita do guião de cada dia todas as manhãs, começando normalmente às 4 da manhã. Isso leva cerca de quatro a cinco horas, e depois imprimo o guião e deixo os actores memorizar a primeira cena. Normalmente escrevo três a cinco cenas para o dia normal de rodagem, e acabo de rodar essas cenas nesse dia. 
 
"A montagem inicial acaba no prazo de um dia ou dois a seguir ao ultimo dia de rodagens. Depois deixo-o a fermentar durante cerca de uma semana ou duas, e olho para ele de novo e às vezes faço algumas pequenas mudanças. A pré-produção leva cerca de um mês; a produção cerca de três semanas ou menos; a pós-produção cerca de um mês."

No Le Monde, pela altura da estreia do filme em França, Jean-François Rauger escreveu que "há mais de quinze anos que o coreano Hong Sang-soo constrói, filme a filme, sequência a sequência, e plano a plano, uma obra de uma força e de uma coerência inauditas. O que lá se expressa é ao mesmo tempo uma intuição daquilo que pode (ou antes daquilo que é) o cinema bem como um olhar meditativo sobre a própria existência. O Filme de Oki, a sua décima primeira longa-metragem, é composta por quatro histórias, quatro miniaturas de uma precisão comovente e de um risco aparentemente ridículo. 

"Em cada uma delas, encontra-se o mesmo trio de personagens: um professor universitário, um estudante tornado cineasta e ele próprio professor, uma jovem, estudante e por vezes amante dos dois homens em função de um ou outro capítulo. Serão os mesmos indivíduos, de história para história, em diferentes momentos de uma vida que não seria forçosamente restituída numa ordem cronológica? Não se transformarão, de uma narrativa para outra, em personagens de ficção, figuras virtuais criadas unicamente para um filme? E a que propósito é que a percepção do espectador deve ser tão turva?"

Já Maria João Madeira, na sua folha da Cinemateca sobre o filme, escreve que «para Oki, Hong Sang‐soo construiu um filme em quatro segmentos de duração distinta, passados em tempos diferentes e cronologicamente desalinhados na lógica da progressão narrativa. Quatro andamentos? Um filme de quatro filmes? Três filmes no filme? O que O Filme de Oki identifica nos planos separadores dos respectivos mini‐genéricos sobre fundo colorido é, por esta ordem, “Um Dia de Encantar” (ou “Um dia a Cantar”, dependendo das versões da tradução inglesa), “O Rei dos Beijos”, “Depois da Tempestade de Neve”, “O Filme de Oki”. Com “Pompa e Circunstância”. A Marcha Militar Op. 39 dá o tom e liga os segmentos, espraiando‐se pelos planos iniciais breves e sincopados do primeiro antes da primeira personagem surgir em campo, entrando no plano a fumar e dobrando um incompreensível “Ddaedabomok Jijilcaenabonba!” Abracadabra? Eid Ma Clack Shaw como na canção de Bill Callahan? Do mesmo ano de Hahaha, em que se faz a evocação das visitas separadas à mesma cidade balnear por dois amigos que sem o saberem conviveram no mesmo tempo e no mesmo espaço com as mesmas pessoas, O Filme de Oki ensaia igualmente a experimentação narrativa convocando a memória e esgrimindo desdobramentos de pontos de vista para permitir uma espécie de recomposição de puzzle. Ou então iludir com ela. 

«“A tua sinceridade precisa da sua própria forma. A forma levar‐te‐á à verdade. Contá‐la tal como se apresenta não te permitirá atingi‐la.” A sentença é proferida por pedagogia no primeiro segmento quando o realizador ‐ professor analisa o trabalho de uma aluna, servindo como uma luva ao cinema de Hong Sang‐soo onde, não raras vezes, as personagens exprimem pontos de vista em acordo com o pensamento e a prática do realizador. Com alguma elaboração ou demora discursiva, por exemplo em Mulher na Praia (2006), Como se Soubesses Tudo (2009), O Dia em que Ele Chega (2011). No Filme de Oki há mais exemplos, e a formulação do desejo de um cineasta em trabalhar a mesma complexidade de uma coisa viva (numa conversa com o público), mas a máxima acima aplica‐se sobremaneira à estrutura narrativa do filme assente na multiplicidade das perspectivas de três personagens cujos papéis implicam diferenças e justaposições: um veterano que se dedica ao ensino do cinema, um realizador mais novo com uma filmografia de várias curtas‐metragens e uma jovem estudante de cinema.»

Até Terça-Feira!

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Haebyeonui yeoin (2006) de Hong Sang-soo



por André Miranda

Um casal, na companhia do cão, passeia pela praia. Têm um ar harmonioso, quase transcendente. Mais tarde, na estrada, o homem entra no carro e arranca. O cão, abandonado, lança-se numa perseguição desesperada. Não é assim que começa o filme. 

A câmara percorre lentamente a fachada de um prédio e corta para o interior. Num quarto, surpreendemos duas personagens a meio de uma conversa. Em nenhum momento se apercebem da nossa entrada. Kim Jung-rae está com dificuldades em escrever o guião do seu próximo filme. Precisa de viajar, abandonar Seul. E é essencial que o amigo o acompanhe. Este só aceita se consigo puder levar a namorada/amiga/amante, Kim Moon-sook, para ser mais preciso. Já na cidade de Shinduri, que de paradisíaca não parece ter muito, 

Kim Jung-rae gaba a coragem de Won Chang-wook, não é qualquer um que se atreve a passar férias com a amante. As coisas são depressa esclarecidas: Moon-sook e Chang-wook afinal só deram um beijinho. É primavera e não faz calor. Uma tempestade de areia aproxima-se. Moon-sook colhe uma flor de uma árvore. 

Kim e Kim, talvez por os seus nomes serem tão parecidos, depressa sentem uma afinidade especial, aquilo que hoje em dia se chama de química, ou, nas palavras do Sr. Camões, “fogo que arde sem se ver”. À noite, acompanhados pelo som do mar, bem agasalhados, beijam-se. Chang-wook, o namorado/amigo, liga. Moon-sook gentilmente informa-o do local onde eles não estão. O pobre coitado caminha na direção errada, até ao fim da praia, onde as estrelas estão muito bonitas. 

Decidem voltar a Seul. Kim Jung-rae não tem a certeza quanto a Kim Moon-sook. Pede-lhe o famigerado tempo. Dois dias depois, volta a Shinduri. Manda uma mensagem de voz a Moon-sook. Sem resposta, ajoelha-se e chora, angustiado. Nisto do amor, dois dias parecem uma eternidade. 

Então, faz o que qualquer homem consumido pela angústia não deve fazer: encontra uma substituta, Choi Sun-hee. Os dois, na praia, gritam à noite: “Eu amo-te”. Mas a noite não devolve o “também te amo”. Talvez a noite seja surda, ou então fez de conta que não ouviu. 
 
Sun-hee afirma com convicção que não fará sexo com Jung-Rae. E, como é normal com qualquer coisa afirmada convictamente, acontece o contrário e os dois acabam na cama. Pelo meio são perseguidos por um motard com más intenções, que se afasta assim que leva um pontapé na mota. 

Moon-sook regressa à cena, enquanto Jung-rae e Sun-hee voltam à carga na intimidade. Bate à porta, grita, chora, deixa-se adormecer no chão de pedra. De manhã, depois de uns quantos saltos entre varandas, Jung-era e Moon-sook reatam a ligação. 

É uma paz que dura ainda menos do que as tréguas entre dois países que se odeiam. Jung-rae mente. Moon-sook sabe que ele mente e encontra-se com Sun-hee. Enquanto isso, Jung-rae, confinado no quarto por ter rompido um músculo que não usa (tipo apêndice), quebra o enguiço e escreve o guião. Na manhã seguinte vai embora. Volta a ligar a Moon-sook. Esta não está interessada em repetir o que não resulta. Jung-rae não é mais do que uma voz distante e patética.