segunda-feira, 28 de junho de 2021

196ª sessão: dia 29 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Na última Terça-Feira de Junho, terminamos o nosso ciclo Hong Sang-soo com a sua antepenúltima longa-metragem, um ciclo de conversas entre amigas sobre as suas desilusões amorosas com Kim Min-Hee no papel principal. Assim, A Mulher Que Fugiu é a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Na conferência de imprensa no Festival de Cinema de Berlim, em 2020, e quando lhe perguntam porque escolheu este título para o filme, o realizador sul-coreano responde que "na verdade, não decidi. Mas podia ter decidido... só que meio que parei mesmo antes de decidir. Mas, sabem, tinha uma sensação muito, muito boa sobre o porquê de gostar deste título, como que adivinhei o tipo de coisas que as pessoas iam pensar em relação àquilo que vêem no filme se pusesse este título, mas parei antes de definir aquilo que queria. Imagino que possa dizer que gosto simplesmente da sensação da coisa. Do sentimento da coisa. Mas se continuasse a escavar talvez pudesse dizer... diria que todas as mulheres no filme estão a fugir de alguma coisa: de serem oprimidas, de não estarem satisfeitas com alguma coisa, mas preferi parar antes."

No início deste ano, e para o site Comunidade Cultura e Arte, Bruno Victorino escreveu que "os filmes do consagrado cineasta sul-coreano têm tido uma passagem intermitente pelas salas de cinema nacionais. Felizmente, no final de 2019 e início de 2020, a Cinemateca Portuguesa programou uma retrospectiva integral da sua obra, intitulada “As Variações de Hong Sang-soo”. A Midas Filmes, aproveitando o lançamento do mais recente filme do realizador, juntou-lhe outros três — Mulher na Praia (2006), O Filme de Oki (2010) e O Dia em que Ele Chega (2011) — exibindo-os em sala e disponibilizando-os posteriormente em DVD, juntamente com 4 novos belíssimos posters. 
 
"Acusado de realizar sempre o mesmo filme, é precisamente nas pequenas variações narrativas e formais que reside muito do interesse do cinema de Sang-soo. Os filmes do prolífico cineasta (15 longas metragens desde 2010 a esta parte) retratam o dia-a-dia de amigos e amantes, recorrentemente sentados à mesa de refeição, sempre regados a soju, enquadrados em planos longos e utilizando inventivamente o zoom para efeitos dramáticos. A narrativa está habitualmente dividida em partes facilmente identificáveis, onde pequenas repetições vão ocorrendo, ilustrando a repercussão que simples variações da ação podem ter no destino dos seus personagens."

Já Mathieu Macheret, para o Le Monde, e sobre este filme, escreveu que "Hong Sang-soo é sem dúvida um dos realizadores que melhor negociou a viragem digital do meio do cinema. Em actividade desde os meados dos anos 1990 (O Dia em que um Porco Caiu a um Poço, 1996), o sul-coreano soube tirar proveito desta conversão para aliviar os seus meios de produção e rodar ainda mais rápido filmes que se encadeiam ao ritmo das estações, a tal ponto que a sua prolixidade se tornou proverbial. A partir da chegada da actriz Kim Min-hee (Sítio Certo, História Errada, 2015), daí em diante em todos os seus filmes, o cinema de Hong Sang-soo, dedicado à versatilidade dos comportamentos amorosos, transferiu-se de forma sensível para o seu pólo feminino. O cineasta retrata uma feminidade convalescente, tentando proteger-se durante um tempo dos relacionamentos com os homens, inevitavelmente tempestuosos e decepcionantes. O último filme do duo, A Mulher Que Fugiu, marca nesse sentido uma espécie de apogeu, abrindo para as suas heroínas um parêntesis de doçura e de melancolia, uma «grande área» feminina magnífica. 

"A narrativa, que se desenrola ao longo de alguns dias, tem a simplicidade nua das cantigas de roda falsamente cândidas com que o cineasta se habituou a enfeitar as suas bandas-sonoras. Gam-hee (Kim Min-hee) aproveita a ausência do seu marido, que partiu em viagem de negócios, para fazer uma visita a três das suas amigas, em diferentes bairros mais ou menos deslocados do centro de Seoul. Ao longo das discussões, todas reconsideram a sua escolha de instalação, constituindo a habitação um refúgio temporário para as complicações amorosas (divórcio, paixoneta ou ciúmes). Gam-hee confia às suas interlocutoras que se encontra sozinha pela primeira vez em cinco anos: uma excepção que só se deve no entanto à ideia exclusiva que o seu marido tem do casal. Os reencontros vão ser perturbados por três vezes pela irrupção de um homem, vizinho importuno ou amante rejeitado, que virá interferir momentaneamente com a serenidade do Olimpo feminino."

Até Terça!

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