segunda-feira, 7 de junho de 2021

193ª sessão: dia 8 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Em quatro segmentos ("Um Dia de Encantamento", "Rei dos Beijos", "Depois da Tempestade de Neve" e "Filme de Oki"), um realizador veterano, um aspirante a realizador e uma estudante de cinema formam um triângulo amoroso que atravessa diferentes períodos e obstáculos. O Filme de Oki de Hong Sang-soo será então a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Em entrevista à Film Comment em 2017, o realizador coreano discutiu o seu método de trabalho, dizendo que "escolho alguns locais e normalmente dois ou três actores sem saber como os vou usar. Depois tenho duas ou três entrevistas informais com os actores e começo a rodar com algumas páginas de anotações, das quais não tenho a certeza se alguma será usada. Então são escolhidos outros locais e actores, se necessário, à medida que progrido, e avanço para a escrita do guião de cada dia todas as manhãs, começando normalmente às 4 da manhã. Isso leva cerca de quatro a cinco horas, e depois imprimo o guião e deixo os actores memorizar a primeira cena. Normalmente escrevo três a cinco cenas para o dia normal de rodagem, e acabo de rodar essas cenas nesse dia. 
 
"A montagem inicial acaba no prazo de um dia ou dois a seguir ao ultimo dia de rodagens. Depois deixo-o a fermentar durante cerca de uma semana ou duas, e olho para ele de novo e às vezes faço algumas pequenas mudanças. A pré-produção leva cerca de um mês; a produção cerca de três semanas ou menos; a pós-produção cerca de um mês."

No Le Monde, pela altura da estreia do filme em França, Jean-François Rauger escreveu que "há mais de quinze anos que o coreano Hong Sang-soo constrói, filme a filme, sequência a sequência, e plano a plano, uma obra de uma força e de uma coerência inauditas. O que lá se expressa é ao mesmo tempo uma intuição daquilo que pode (ou antes daquilo que é) o cinema bem como um olhar meditativo sobre a própria existência. O Filme de Oki, a sua décima primeira longa-metragem, é composta por quatro histórias, quatro miniaturas de uma precisão comovente e de um risco aparentemente ridículo. 

"Em cada uma delas, encontra-se o mesmo trio de personagens: um professor universitário, um estudante tornado cineasta e ele próprio professor, uma jovem, estudante e por vezes amante dos dois homens em função de um ou outro capítulo. Serão os mesmos indivíduos, de história para história, em diferentes momentos de uma vida que não seria forçosamente restituída numa ordem cronológica? Não se transformarão, de uma narrativa para outra, em personagens de ficção, figuras virtuais criadas unicamente para um filme? E a que propósito é que a percepção do espectador deve ser tão turva?"

Já Maria João Madeira, na sua folha da Cinemateca sobre o filme, escreve que «para Oki, Hong Sang‐soo construiu um filme em quatro segmentos de duração distinta, passados em tempos diferentes e cronologicamente desalinhados na lógica da progressão narrativa. Quatro andamentos? Um filme de quatro filmes? Três filmes no filme? O que O Filme de Oki identifica nos planos separadores dos respectivos mini‐genéricos sobre fundo colorido é, por esta ordem, “Um Dia de Encantar” (ou “Um dia a Cantar”, dependendo das versões da tradução inglesa), “O Rei dos Beijos”, “Depois da Tempestade de Neve”, “O Filme de Oki”. Com “Pompa e Circunstância”. A Marcha Militar Op. 39 dá o tom e liga os segmentos, espraiando‐se pelos planos iniciais breves e sincopados do primeiro antes da primeira personagem surgir em campo, entrando no plano a fumar e dobrando um incompreensível “Ddaedabomok Jijilcaenabonba!” Abracadabra? Eid Ma Clack Shaw como na canção de Bill Callahan? Do mesmo ano de Hahaha, em que se faz a evocação das visitas separadas à mesma cidade balnear por dois amigos que sem o saberem conviveram no mesmo tempo e no mesmo espaço com as mesmas pessoas, O Filme de Oki ensaia igualmente a experimentação narrativa convocando a memória e esgrimindo desdobramentos de pontos de vista para permitir uma espécie de recomposição de puzzle. Ou então iludir com ela. 

«“A tua sinceridade precisa da sua própria forma. A forma levar‐te‐á à verdade. Contá‐la tal como se apresenta não te permitirá atingi‐la.” A sentença é proferida por pedagogia no primeiro segmento quando o realizador ‐ professor analisa o trabalho de uma aluna, servindo como uma luva ao cinema de Hong Sang‐soo onde, não raras vezes, as personagens exprimem pontos de vista em acordo com o pensamento e a prática do realizador. Com alguma elaboração ou demora discursiva, por exemplo em Mulher na Praia (2006), Como se Soubesses Tudo (2009), O Dia em que Ele Chega (2011). No Filme de Oki há mais exemplos, e a formulação do desejo de um cineasta em trabalhar a mesma complexidade de uma coisa viva (numa conversa com o público), mas a máxima acima aplica‐se sobremaneira à estrutura narrativa do filme assente na multiplicidade das perspectivas de três personagens cujos papéis implicam diferenças e justaposições: um veterano que se dedica ao ensino do cinema, um realizador mais novo com uma filmografia de várias curtas‐metragens e uma jovem estudante de cinema.»

Até Terça-Feira!

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