segunda-feira, 14 de junho de 2021

194ª sessão: dia 15 de Junho (Terça-Feira), às 19h00


Na semana em que estreia finalmente em sala O Movimento das Coisas de Manuela Serra (é no dia 17 de Junho, pela The Stone and The Plot), chegamos a meio do nosso pequeno ciclo dedicado ao cineasta sul-coreano Hong Sang-soo, com O Dia em que Ele Chega, de 2011, a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Numa entrevista de 2011, Hong Sang-soo disse que "(...) depois de ter decidido fazer o filme com Kim Bo-kyung, lembrei-me que Seong-jun (Yu Jun-sang) ia até à casa da ex-namorada quando se embebeda, portanto depois de rodarmos essa cena, decidi que ia conhecer uma nova mulher em Bukchon. E depois disso, Kyungjin só ia aparecer em mensagens de texto. Até Hahaha, eu tinha pelo menos uma ideia aproximada de como a história para um filme se desenvolvia, mas a partir de O Filme de Oki nem sequer pensei nisso. Mesmo com O Dia em que Ele Chega, decidi mais ou menos o elenco e os locais, e só pensei em cenas depois de começar a rodar o filme. Fazer com que as personagens femininas fossem semelhantes também veio de um processo assim. Pode ser norma fazer uma prefiguração e estabelecer pontos de ligação para as cenas que vão aparecer no filme num momento posterior mas eu deixei-me mesmo levar pelos meus instintos para este filme, sem nada definido de antemão. É um bocado difícil explicar por palavras mas os meus sentidos abriam-se em todas as direcções possíveis durante as manhãs. Nem sequer havia uma ideia central em bruto que eu estivesse a seguir."

No dossier de imprensa para o festival de Cannes, pode-se ler um texto de Jong Hanseok, que diz que "na cena que abre O Dia em que Ele Chega, o 12º filme de Hong Sang-soo, a voz off de Seong-jun diz-nos que vai passar ‘três-quatro dias’ a Seoul. De cada vez que é interrogado por mulheres, ele responde da mesma maneira, tirando no fim. À primeira vista, ele parece ter ficado o tempo que tinha previsto no início. No entanto não é assim tão evidente. Se conhecerem alguém que vos fale sem sombra para dúvidas do tempo que Seong-jun passou em Seoul, é preciso desconfiar. Pouco importa que tenha razão ou não; o problema, é ter a certeza. Quanto tempo ficou Seong-jun desde «o dia da sua chegada»? A resposta certa é muito simplesmente que «não se sabe». 

"Lembre-se as personagens de O Filme de Oki, o filme anterior de Hong Sang-soo. Mesmo que tenham os mesmos nomes e que sejam interpretadas pelos mesmos actores, a sua identidade permanece ambígua ao longo de todo o filme. É assim que funciona o segredo estrutural da obra de Hong Sang-soo, em O Dia em que Ele Chega. Por exemplo, se se tentasse dividir este filme em poucos capítulos, ficar-se-ia surpreendido ao descobrir coisas que estavam escondidas. O tempo do filme que parecia linear baralha-se para se dividir em vários períodos, ou para se tornar virtual: os tempos de Seong-jun. E depois, ver-se-á que não há maneira alguma de explicar este filme de uma forma lógica ou racional. Neste filme, o tempo deixa de passar; mantém-se paradoxal, acumula-se como num estereoscópio. É a razão pela qual não podemos estar certos de nada."

Já Jean-François Rauger, escreve para o Le Monde que "(...) O Dia em que Ele Chega também é um filme cómico. O riso é desencadeado pelo sentimento de uma repetição das situações. A estadia de Seung-jun em Seoul é um running gag (situação cómica recorrente) que o condena a reencontrar as mesmas pessoas, a reviver as mesmas histórias e a frequentar os mesmos locais. Hong Sang-soo impulsiona mesmo o vício ao ponto de fazer encarnar pela mesma actriz as duas personagens (a ex-namorada e a dona do bar) que têm uma breve ligação com o herói. 

"Esta repetição ontológica é puro produto do acaso ou é determinada pelo próprio protagonista, completamente alienado por um comportamento do qual não tem a chave? O cinema decididamente não recua, aqui, perante o questionamento filosófico, e é ainda mais admirável que o faça através de uma ficção minimalista, rodada em poucos dias com um punhado de actores num perímetro que se adivinha fazer parte da vida quotidiana do próprio cineasta."

Até Terça!

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