LUCKY STAR - Cineclube de Braga
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
NO OTHER LAND (2024) de Basel Adra, Rachel Szor, Yuval Abraham e Hamdan Ballal
domingo, 23 de novembro de 2025
424ª sessão: dia 25 de Novembro (Terça-Feira), às 21h30
Durante o mês de novembro, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta o ciclo “Palestina Livre: O Cinema como Resistência”, dedicado a quatro obras fundamentais do cinema palestiniano contemporâneo. De diferentes épocas e gerações, estes filmes partilham uma mesma urgência: a de pensar o território, a memória e a sobrevivência cultural de um povo que resiste através da imagem. Como é habitual, as sessões ocorrem às terças-feiras na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, às 21h30.
Na próxima terça-feira, 25 de novembro, o ciclo encerra com No Other Land (2024), realizado por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, um dos documentários mais marcantes e urgentes surgidos do contexto palestiniano nos últimos anos.
Construído a quatro mãos, por realizadores palestinianos e israelitas que trabalham lado a lado, No Other Land torna-se também um gesto político sobre a própria possibilidade da cooperação no meio do apartheid e da violência física e simbólica que o sustenta. A câmara funciona como testemunha, mas também como ferramenta de resistência que regista, denuncia e devolve visibilidade às vidas que o poder ocupante e colonial tenta destruir.
Após a sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale) em 2024, onde ganhou tanto o Prémio de Melhor Documentário da Berlinale como o Prémio do Público Panorama, o filme foi galardoado com o Óscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem na 97.ª edição, a primeira vez que um filme palestiniano recebeu tal honra. Recebeu ainda o Prémio de Melhor Documentário de Longa-Metragem nos IDA Awards e o prémio de Melhor Documentário Individual – Internacional nos Grierson British Documentary Awards, para além de vários prémios do público noutros festivais como o CPH:DOX, Visions du Réel e o IndieLisboa.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
FORAGERS (2022) de Jumana Manna
Jumana Manna nasceu nos EUA, mas cresceu em Jerusalém e estudou em Oslo. É uma artista plástica que se exprime através da escultura, da instalação e também do cinema. Forrageadores é um filme híbrido porque associa ficção e documentário. Em 2022, ganhou um Prémio Harrell de Melhor Documentário (Menção Especial) no Festival Internacional de Cinema de Camden em 2022 e venceu o prémio principal no Festival Olhares do Mediterrâneo em 2023.
A subjugação do povo palestiniano que vive em Israel tem aspectos políticos, económicos e culturais. Em Forrageadores, podemos perceber como essas diferentes dimensões se entrecruzam. As disputas em torno da recolecção e venda de plantas usadas na culinária palestiniana tradicional bastam para possamos compreendê-lo.
Ser capaz de nos oferecer uma visão ampla de uma situação complexa através de um pequeno exemplo, é uma das qualidades deste filme de Jumana Manna. Sem recorrer a diálogos ou quaisquer depoimentos, em poucos minutos, as primeiras sequências do filme põem-nos a par da situação. Na primeira cena, um plano geral visto a vol d’oiseau, vislumbrarmos um pequeno vulto andando de arbusto em arbusto. Depois, o grande plano de um homem de meia-idade, o rosto sulcado pelo tempo, a fumar sozinho dentro de um carro. Na terceira, outro carro estaciona e dois polícias saem dele para uma “última ronda”. Vigiam com os seus binóculos as colinas onde circulava a primeira personagem. Por fim, aquele que fumava dentro do carro, aproxima-se do carro da polícia e, calma e metodicamente, esfaqueia-lhe cada um dos pneus.
Na origem deste conflito que, sem sobressaltos, vemos desenrolar-se nos primeiros minutos do filme, está o za’atar e o akkoub, plantas usadas na cozinha palestiniana. Todos sabemos que a culinária tradicional de um país é uma parte relevante da sua identidade cultural. Noutras sequências de Forregeadores, vemos pessoas podando os arbustos que dão o za'atar. Estamos na Primavera. São imagens de grande beleza, serenidade e comunhão com a natureza. É uma prática quase ritual, tal como é a da preparação das comidas refeições e da refeição em família.
Porém, a recolecção do za’aar e do akkoub é proibida, aparentemente por se tratarem de espécies em perigo de extinção. Entretanto, a sua produção é permitida nas plantações de proprietários israelitas. De facto, ela é pouco consumida entre a população judaica, mas, os palestinianos residentes em Israel são um mercado importante. Além disso, todos os anos, a Cisjordânia é visitada por muitos milhares de palestinianos emigrados e a sua exportação é um negócio altamente lucrativo. Então, porque é que os palestinianos não fazem o mesmo, em vez de apanharem o za’atar selvagem? Porque não têm terra. Os terrenos onde cresce o za’atar e, que outrora pertenciam às suas aldeias, foram expropriados pelo Estado israelita. Além disso, não têm dinheiro para pagar os seguros que protegem os proprietários privados nos anos de colheitas más. Será que a lei israelita de “protecção da natureza” não visa outra coisa senão a de proteger esse comércio tão lucrativo de uma concorrência indesejável?
No filme, assistimos ao interrogatório policial de homens e mulheres palestinianos apanhados a apanhar ilegalmente za’atar. São filmados por uma câmara fixa em posição frontal. O polícia que os interroga fica fora de campo. É a nós, espectadores, que eles encaram. É, portanto, também a nós que nos cabe julgá-los. Como se defendem? Alegam que apenas fazem o que sempre fizeram os seus antepassados. Um deles recusa tratar-se de uma planta em perigo de extinção porque “ninguém a arranca pela raiz e todos os anos ela volta a crescer”. Muitos negam que o façam para comercializar, mas apenas para poderem alimentar a sua família. Um deles afirma que desobedece à lei porque “esta terra não é sua” e essa “é uma lei de merda”. Já foi condenado várias vezes, provavelmente sê-lo-á outras mais. “Que se dane!” A sua atitude é de resistência passiva, de “desobediência civil” perante uma lei injusta. Segue, provavelmente sem o saber, os ensinamentos de Thoreau, que também inspiraram figuras como Gandhi e Martin Luther King.
As sequências finais mostram-nos um casal de emigrantes que revisitam os sítios onde moraram. São imagens de serenidade e beleza, mas tingidas de nostalgia. Será que, um dia, poderão regressar?
domingo, 16 de novembro de 2025
423ª sessão: dia 18 de Novembro (Terça-Feira), às 21h30
Durante o mês de novembro, o Lucky Star – Cineclube de Braga apresenta o ciclo “Palestina Livre: O Cinema como Resistência”, dedicado a quatro obras fundamentais do cinema palestiniano contemporâneo. De diferentes épocas e gerações, estes filmes partilham uma mesma urgência: a de pensar o território, a memória e a sobrevivência cultural de um povo que resiste através da imagem. Como é habitual, as sessões ocorrem às terças-feiras na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, às 21h30.
Hoje, 18 de novembro, é exibido Foragers (2022), o mais recente filme da artista e cineasta palestiniana Jumana Manna, reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho que mescla ecologia política, identidade e memória. Depois do premiado Wild Relatives (2018), Jumana Manna volta a cruzar o documentário, a encenação e o ensaio visual, para explorar como as biopolíticas de pendor colonial afectam a vida quotidiana.
Foragers acompanha a colheita de plantas comestíveis, como o ʿakkoub e o za’atar, entre comunidades palestinianas da Galileia e das Colinas de Golã. Embora fundamentais para a culinária local, estas plantas tornaram-se alvo de leis israelitas de “protecção ambiental” que criminalizam a sua recolha. O filme revela como a administração colonial usa o discurso ecológico para regular corpos, hábitos e tradições, convertendo uma prática ancestral numa transgressão. Assim, a regulamentação de uma “ecologia” oficial confronta-se com uma ecologia vivida, enraizada na relação histórica e afectiva com a terra.
A realizadora usa o registo documental e reconstituições judiciais para expor a lógica burocrática que persegue quem insiste em colher “ilegalmente” o que sempre fez parte da sua dieta e da sua cultura. Os interrogatórios, as multas, as ameaças e os processos em tribunal revelam a banalidade com que o quotidiano palestiniano é administrado, vigiado e restringido. O que à primeira vista parece uma disputa botânica e ecológica é, afinal, um conflito sobre pertença e soberania: quem tem o direito de viver da terra? Quem define o que deve ser preservado e quem deve ser punido?
Estreado no Visions du Réel, na Suíça, e exibido em festivais como o Sheffield DocFest, o Open City Documentary Festival, o Tromsø International Film Festival e o RIDM – Rencontres Internationales du Documentaire de Montréal, Foragers consolidou-se como uma das obras mais relevantes do cinema palestiniano contemporâneo, pela forma como articula política, humor e uma atenção minuciosa ao corpo e ao gesto.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva às terças-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Intervenção Divina (2002) de Elia Suleiman
[1] Cidade israelita, com um grande número de habitantes árabes.
[2] Cidade palestiniana



