sexta-feira, 13 de maio de 2016

14ª sessão: dia 17 de Maio (Terça-Feira), às 21h30


De 1950 a 1955, James Stewart e Anthony Mann colaboraram em cinco westerns essenciais para a evolução do género, re-inventando relações, personagens, paisagens e destinos.

Desse ciclo fazem parte Winchester '73, Bend of the River, The Naked Spur, The Far Country e o filme que vamos exibir para a semana, The Man from Laramie, o primeiro filme que Mann rodou em Cinemascope.

Dissertanto sobre o western numa entrevista a Christopher Wicking e Barrie Pattison publicada na revista Screen, Anthony Mann confessou que o género "te liberta, podes cavalgar nas planícies; podes captar os céus expostos ao vento; podes libertar o teu público e levá-lo a sítios que eles nunca imaginariam.

"E, mais importante - liberta as personagens. Elas podem ser mais primitivas; podem ser mais gregas, como o Édipo Rei ou a Antígona, percebe, porque se está a lidar outra vez com uma lenda ampla. É isto o que eu adoro em fazer filmes, e mesmo aquilo que eu defendo."

Sobre Mann e sobre as relações entre as suas personagens e os heróis de Shakespeare, o Rei Lear em particular, Robin Wood escreveu que "A relação entre The Man from Laramie e a peça de Shakespeare talvez não seja imediatamente óbvia, mas podem-se encontrar muitos paralelos aqui, não só na personagem de proprietário de fazenda orgulhoso e dogmático de Crisp mas também na trama e na acção, que envolve dois filhos, um adoptado e de confiança só até certo ponto (Arthur Kennedy), outro impiedoso, mimado, e perto da psicopatia (Alex Nicol), que o enganam e que o traem. Mas este Lear também vira cego, como o duque de Gloucester, e a própria cegueira de Gloucester na peça é então transferida, inequivocamente, para o disparo à queima roupa da mão de James Stewart pelo filho psicopata (a cena segue Shakespeare de muito perto: a mão é mantida no sítio por “criados”/trabalhadores de fazenda, que ficam depois chocados com o que foram obrigados a fazer; logo que Nicol vira as costas e se vai embora, dois deles ajudam Stewart a montar no cavalo, como Gloucester foi ajudado por criados compreensivos). O Lear de Crisp também tem a sua leal Cordélia, aqui uma fazendeira de meia idade (Aline MacMahon) que o leva embora no fim, cego e dependente, humilhado."

Jacques Lourcelles, no Dictionnaire du Cinéma, escreveu: "Último dos cinco westerns de Anthony Mann interpretados por James Stewart. Mann conclui aqui uma fabulosa série de filmes sintetizando-a, mas sobretudo acentuando algumas das suas linhas de força e, entre elas, principalmente duas: a violência selvagem, mesmo sádica, que caracteriza as relações entre certas personagens, o aspecto neurótico do herói encarnado por James Stewart. A bem dizer, a neurose de Will Lockhart é gerada tanto pelo seu destino como pelo seu carácter, e o essencial da acção do filme vai consistir em mostrar os esforços desta personagem em cumprir o seu destino, para depois se libertar renunciando à sua vocação de vingador. Diferença essencial em relação aos outros filmes do ciclo: a ausência da noção de itinerário, no sentido espacial do termo, na aventura individual da personagem. Ele chega ao local quando a intriga começa e Mann faz o espectador assistir à última fase do seu percurso. Última etapa do ciclo começado com Winchester 73, O Homem que Veio de Longe também abre o caminho, pela sua tensão extrema, à descida aos infernos que será O Homem do Oeste. Além da evolução individual do seu herói, O Homem que Veio de Longe deve a sua muito grande riqueza a um conjunto de personagens dominado pelo velho Alec Waggoman. As três personagens mais jovens da intriga são apresentadas numa relação pai-filho com ele: Dave é o filho real que ele se arrepende de ter, Hansbro é o filho substituto no qual ele deposita esperanças quiméricas, Lockhart é o filho ideal que ele teria desejado e que nunca terá, próximo dele pelo carácter e pela obstinação. Para Anthony Mann, Alec Waggoman (interpretado pelo admirável Donald Crisp) corresponde a uma interpretação livre do Rei Lear, transposto para o universo do western. Sob o plano visual, o sentido dos cortes, a participação íntima do cenário e das paisagens na acção, elementos essenciais da mise en scène de Anthony Mann, são como que renovados e engrandecidos pelo uso extraordinário do Cinemascope, aqui utilizado por Mann pela primeira vez.

Nota: O filme foi rodado em vinte e oito dias numa vintena de espaços naturais do Novo México com uma extensa busca por autenticidade no detalhe (decoração de interiores, armas, etc.). James Stewart delegou a si próprio a execução da maior parte das stunts."

Até Terça-Feira!

Sem comentários:

Enviar um comentário