por Catarina Bernardo
A curta-metragem O Teu Nome É não é apenas um documentário que retrata um acontecimento verídico, mas é também um meio de resistência, escuta e homenagem.
Os traços frágeis que parecem desenhados à mão levam-nos a conhecer o crime que apesar de chocante, foi pouco noticiado na época, mas que, nos dias de hoje, se tornou num exemplo da luta contra a violência de género, transfobia, desigualdade social e invisibilidade. Uma obra que traz testemunhos reais da vida da Gisberta, tanto de amigos da mesma como de dois dos jovens envolvidos no crime, num retrato complexo de como a sociedade que falhou em proteger uma vida vulnerável, mas, também, na educação dos jovens e na sensibilidade social.
O filme conta com vários relatos de pessoas próximas da Gisberta, desde algumas histórias sobre a mesma, o seu estado de saúde e como ela conheceu os dois jovens envolvidos no caso. Os quais relatam alguns momentos vividos com a mesma e os motivos que os levou a cometerem os crimes. Durante o filme, alguns comentários sobre a discriminação de pessoas transexuais são bastante notáveis.
O realizador Paulo Patrício recorre à animação não apenas como estratégia para salvaguardar a identidade das testemunhas, mas também como instrumento estético que introduz uma suavidade visual, e a paleta de cores suave ajuda a criar uma atmosfera que respeita a sensibilidade do tema abordado. Esta escolha, longe de atenuar a gravidade dos acontecimentos, proporciona uma maior liberdade criativa na representação dos sentimentos, das memórias e dos espaços, permitindo abordar a violência de forma indireta. Dessa forma, o filme transmite, com sensibilidade e respeito, a dor, o abandono e a solidão de Gisberta, conferindo à narrativa um tom poético e profundamente humano.
A animação mantém uma relação constante com o som, respeitando o silêncio, a respiração e os gestos. Essa harmonia cria uma atmosfera de sensibilidade, como se respeitasse o tempo das pessoas para se expressarem.
O filme impacta justamente por não ser agressivo, mas sim subtil. Adota uma estética de empatia, evitando o sensacionalismo e escolhendo acolher o espectador, convidando-o a ouvir, sentir e refletir.
A história da Gisberta tornou-se um símbolo na luta pelos direitos humanos, contra a violência e a discriminação, e representa uma resistência sobre a necessidade de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Desde 2021 que o colectivo LGBTIQ+ do Porto tem vindo a realizar debates sobre transfobia e lançou a petição para que o nome da rua onde Gisberta foi assassinada lhe fizesse homenagem. O pedido foi aprovado em 2024 e o nome da rua em questão, situada na freguesia do Bonfim, foi alterado para Gisberta Salce Júnior no mesmo ano, como uma forma de manter viva a memória desta mulher e para que crimes como este não voltem a acontecer.
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