The Color of Money é a estranhíssima e complexa sequela do filme de Robert Rossen que vimos há uns meses, The Hustler; e muito se deve ao fabuloso Paul Newman envelhecido e sabido, que encontra no jovial Tom Cruise um veículo perfeito para as suas pretensões. Martin Scorsese pegou no ar do tempo e nas vestimentas dos anos 80 para ir fundo e seco em questões e choques ancestrais como o envelhecimento e a juventude, a ganância e a traição, tudo sobre a metáfora ou os desígnios do snooker.
O crítico e cinéfilo brasileiro Sérgio Alpendre, companheiro desde sempre desta nossa aventura e um belíssimo praticante da modalidade, apresentará o filme em vídeo.
Martin Scorsese, quando lhe perguntaram em entrevista para a Rolling Stone, em 1990, por altura da estreia de Goodfellas, o que achava da censura nas artes, respondeu que "sou contra, obviamente. Sou contra essa merda seja de que tipo for. Pessoalmente, não gosto de muitas das coisas que vejo; são ofensivas, para mim — mas sou pela liberdade de expressão, obviamente. Em cada geração há ameaças a essa liberdade, e tem que se continuar a batalhar e a lutar. Quando à minha maneira pessoal de lidar com o assunto, não posso deixar ninguém dizer-me, "Não faças isso, vai ofender as pessoas." Não posso fazer isso.
"Por um lado, quando se trata de um filme de Hollywood, isso significa que tenho que abordar um determinado tipo de tema que faça uma determinada quantidade de dinheiro. Se decidir fazer menos dinheiro, posso abordar temas mais arriscados. Portanto o único critério em que estou disposto a tomar riscos nos filmes é que seja verdadeiro em relação ao que se sabe ser a realidade que nos rodeia ou a realidade da condição humana. Se não se acredita, porque é que se faz o filme? Vai-se ofender as pessoas só para fazer algum dinheiro? Para quê? O dinheiro não quer dizer nada. O que interessa é o trabalho, o que está no ecrã. Eu não sou uma óptima pessoa que anda por lá destemida, a combater esta gente toda. Não pensei que isto tudo fosse mesmo causar problemas — muito menos o Taxi Driver. Com The Last Temptation of Christ, sabia que iam haver alguns problemas, mas essa é uma área especial para mim. Exijo mesmo que possa falar da maneira que sinto sobre o assunto, mesmo dentro da igreja, da igreja católica. Se estou a fazer uma produção mais comercial, como The Color of Money, é outra coisa. Torna-se um tipo de filme diferente, e acho que se nota a diferença. O meu novo filme vai ser outra coisa. É um filme comercial mais convencional para a Universal Pictures."
O Vincent Lauria de The Color of Money, Tom Cruise, em entrevista a Roger Ebert, falou sobre a sua experiência em trabalhar com Paul Newman, notando que "Ele não se excedeu para me fazer sentir confortável, ou desconfortável, ele é quem é. Eu estava nervoso quando fui fazer o filme - fico sempre nervoso no começo de alguma coisa nova - e cá estava Paul Newman, e eu tinha visto os filmes todos dele, e pensa-se nas personagens que ele interpretou - não só as fortes e bondosas, mas também os filmes como Slap Shot e The Verdict, com as personagens sujas, brutas e bêbadas. Ele tem um alcance tão grande. E quando o conhecemos, ele é inteligente, digno, muito elegante. Ele podia bem ter-me intimidado. Mas pôs-me à vontade. Aquilo com que se preocupa mais é a sua relação com o público. Quer que o público se relacione com ele. (...) Com a interpretação, não há truques do ofício. É o que eu penso. Aprende-se o básico de criar uma personagem, e faz-se o melhor que se pode. Ele nunca disse, 'É assim que se fazem as coisas.' Nunca armou o número do velho sábio"
Inácio Araújo escreveu uma pequena crítica sobre o filme para a Folha de S. Paulo, e cujas palavras valem também para Silence, que não tem sido muito bem tratado pela crítica mundial. Diz ele, no fim do seu texto, que "Scorsese é mestre em captar a vida de personagens quase marginais e delas trazer o belo e o feio, a poesia e a baixeza. Seguimos naquela tradição de Scorsese: quando seu filme sai, ninguém dá bola. Com o tempo, beleza e talento se mostram."
Até Terça-Feira!
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