terça-feira, 27 de abril de 2021

187ª sessão: dia 27 de Abril (Terça-Feira), às 19h00


Terminando o nosso mini-ciclo Ozu, na recta final do mês de Abril, acompanhamos as vidas de uma viúva e da sua filha, que atraem a preocupação e os esforços dos seus amigos para arranjarem companheiros, numa evocação da estória de Primavera Tardia. Assim, O Fim do Outono é a nossa próxima sessão no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, hoje às 19h.

Citado por Donald Richie, no seu livro sobre o cineasta japonês que apresentámos a semana passada na livraria 100ª Página, Yasujiro Ozu disse que "as pessoas por vezes complicam as coisas mais simples. A vida, que parece complexa, subitamente revela-se extremamente simples - e eu queria mostrar isso neste filme. Havia outra coisa, também. É fácil mostrar drama num filme; os actores riem ou choram, mas isto é apenas uma explicação. Um realizador pode mostrar realmente o que pretende sem recorrer ao drama. Tenho tentado fazer isto desde Os Irmãos Toda, mas é muito difícil. Neste caso (O Fim do Outono) acho que fui razoavelmente bem-sucedido, mas ainda assim os resultados estão longe da perfeição."

No mesmo livro, na Filmografia Biográfica, Richie escreve que "o terceiro dos "remakes" de Ozu (e vencedor do quinto lugar nas listas desse ano da Kinema Junpo), é uma versão de Primavera Tardia. Setsuko Hara participa em ambos; no primeiro filme no papel da filha, agora no papel da mãe. A maior diferença reside no facto de Ozu ter substituído um pai por uma mãe. As diferenças menores incluem a substituição da tia, que no primeiro filme ajuda a arranjar um noivo para a filha, por uma série de amigos, todos homens, do falecido marido. Estes amigos (que voltamos a ver em O Gosto do Saké) são os rapazes de escola de Ozu, agora envelhecidos. São ainda traquinas, e mesmo maliciosos, mas também ainda, de alguma forma, inocentes. E, uma vez mais, estamos face a uma mudança de tom. Há em O Fim do Outono uma tristeza elegíaca e, talvez em consequência disso, algum relaxamento da extraordinária objectividade que distingue Primavera Tardia."

Já o cineasta Yoshishige Yoshida, assinando "Kiju" no seu livro sobre Ozu, escreve que "em O Fim do Outono, a actriz que interpreta a viúva que deixa a filha casar interpretou a filha que se casa em Primavera Tardia. Neste sentido, O Fim do Outono é uma espécie de sequela de Primavera Tardia. Estes dois filmes estão portanto estreitamente ligados, mas O Fim do Outono foi feito onze anos mais tarde. Passados onze anos, não era invulgar de todo Ozu-san pensar sobre o seu próprio envelhecimento em O Fim do Outono, embora a temática do envelhecimento fosse apenas ficcional e mais agradável em Primavera Tardia. Em O Fim do Outono, o envelhecimento continua a ser retratado de forma divertida, mas desta vez num tom cruel e a um grau bastante miserável. 

"Por exemplo, o equilíbrio entre o sagrado e o vulgar é completamente diferente nestes dois filmes. Em O Fim do Outono, a viúva e a filha são retratadas de forma menos sagrada que o pai e a filha em Primavera Tardia  A viúva e a filha estão à mercê dos desejos das pessoas vulgares. Efectivamente, os três homens, que acham saber muito sobre a vida, designam de forma brincalhona um deles, um viúvo, para o papel de candidato ao novo casamento da viúva. Também tentam organizar o casamento da filha. O seu desejo vulgar e a sua bondade intrusiva perturbam e ferem o vínculo sagrado entre a viúva e a filha. Esta é outra trama importante de O Fim do Outono. Este filme é uma tentativa de subverter e re-articular as estórias sagradas de Primavera Tardia e Viagem a Tóquio como vulgares. É também prova de que Ozu-san estava a envelhecer."

Até logo!

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