por José Amaro
Para o que me havia de dar, propor a inclusão deste filme num ciclo sob a égide do riso ainda por cima quando pretendemos que este riso seja sinónimo de muito siso. Estranho-me porque o que em O Gosto dos Outros há de riso, é o riso de nós mesmos, do nosso snobismo, da nossa presunção. Castella aparece-nos como o personagem ridicularizado mas, afinal, é o personagem intelectualmente mais honesto, na sua não intelectualidade.
O Gosto dos Outros, é o primeiro filme de Agnès Jaoui. Depois de, como atriz ter participado em mais de uma dezena de filmes. Jaoui passa para o outro lado da câmara entre outras razões por considerar, como ela própria disse: “Eu atuava, gostava, mas pensava que faria as coisas de outro modo, porque tinha coisas a dizer”. Digamos que foi por uma questão de gosto que se dedicou à direção de filmes. E ainda bem, pois começou a muito bom nível, com este belíssimo filme. A confirmá-lo estão: a indicação para o oscar e para o British Independent na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, O Gosto dos Outros ganhou quatro prémios César: Melhor Filme, Melhor Atriz Secundária para Anne Alvaro, Melhor Ator Secundário para Gérard Lanvin e Melhor Argumento Adaptado, Para além de outras tantas nomeações. Trata-se de um excelente palmarés para uma estreia. Mas Agnès Jaoui não o fez sozinha, como ninguém o faz. Teve, como noutros argumentos e em textos teatrais, a companhia de Jean-Pierre Bacri, seu companheiro durante 25 anos, com quem escreveu muitos outros textos teatrais e argumentos, nomeadamente, para Alain Resnais, Fumar/Não Fumar (1993) e É Sempre a Mesma Cantiga (1997), um guião original, onde também participaram como atores.
Em O Gosto dos Outros cruzam-se várias histórias entre personagens, que pertencem a mundos e estratos sociais opostos. Castella, um empresário de sucesso, cede, algo contrariado, a acompanhar a mulher numa ida ao teatro para assistir a uma peça de Racine. A atriz principal da peça, Clara, deixa-o completamente fascinado. Ela que é o seu oposto, sensível e amante do mundo das artes e espetáculos e ele algo grosseiro, cujo gosto pelo mundo artístico é quase nulo. Mesmo assim dispõe-se a qualquer esforço para a conquistar, começando por contratá-la como professora de inglês e, obcecado por atrair a sua atenção, tenta a todo custo entrar para seu círculo -atores, produtores, artistas plásticos-, envolvendo-se naquele mundo, nomeadamente no mundo dos seus amigos, todos eles ligados às artes o que provoca algumas situações caricatas dado o seu jeito simplório.
Enfim, como diz a realizadora do filme: "Preconceitos há-os em todo o lado. Talvez cada um de nós tenha a impressão de não os ter. Mas, mesmo nos meios mais cultos, artísticos, supostamente abertos, temos preconceitos enormes”.
Paralelamente, outras histórias acontecem nomeadamente com a empregada do bar onde param os amigos de Clara e onde Castella se vai encontrar com eles, nas suas tentativas de aproximação à sua nova paixão. Essa empregada de bar, Manie (Agnes Jaoui), amiga de Clara, conhece o motorista e o segurança do empresário que o acompanham para todo o lado. Enfim, personagens diferentes, que não era suposto encontrarem-se.
Como nos é dito no texto da Leopardo Filmes, “O GOSTO DOS OUTROS apresenta-nos as personagens que geralmente os filmes tendem a esquecer: ótimas atrizes que não conseguem arranjar emprego, mulheres ricas entediadas e sem nenhum bom gosto, e atraentes empregadas de bar que não conseguem encontrar o amor. É a história dos gostos de uns e das cores dos outros.”
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