Dois filmes de Sarah Maldoror no auditório da BLCS
Durante o mês de Outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe catorze filmes em parceria com os Encontros da Imagem, com sessões às terças e quintas-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. O ciclo adopta um termo cunhado pelo poeta e ensaísta Édouard Glissant, intitulando-se “Cinema Todo-Mundo — colonialismo e a memória do futuro”.
Os primeiros filmes exibidos, terça-feira à noite, serão Un homme une terre e Regards de mémoire da cineasta pioneira Sarah Maldoror, que apresenta a problemática do colonialismo através das palavras de Aimé Césaire e Édouard Glissant.
Em Un homme une Terre, Aimé Césaire reflecte sobre o colonialismo e as suas consequências, fala de literatura e do surrealismo, procurando pontes entre a cultura africana e europeia, cuja inconciliabilidade persiste enquanto o domínio de uma sobre a outra persistir. Aborda a condição neocolonial das ilhas francesas, tidas como Departamentos Ultramarinos, estatuto que ainda hoje mantêm e contra o qual vozes continuam a erguer-se incansavelmente. Oportunidade para reflectir sobre os diferentes tipos de colonialismos na contemporaneidade.
Em Regards de mémoire, Sarah Maldoror conversa com vários escritores e pensadores, inclusive com Aimé Césaire, na Martinica, e com Édouard Glissant em Fort de Joux, na cela onde o general Toussaint Louverture, líder da Revolução Haitiana, foi mantido prisioneiro até à sua morte, em 1803. Louverture lutou contra a escravatura e pela independência do Haiti, na mesma altura em que decorria a Revolução Francesa.
Em entrevista a Beti Ellerson em Burquina Fasso, em 1997, Maldoror disse que "eu fiz muitos filmes em África. Mas sinto, em primeiro lugar, que as fronteiras não existem. Vamos deixar isso claro! Seja em África, em Guadalupe, ou nos Estados Unidos.
"Aquilo que eu estou a dizer é que o cinema é a única arte em que não existem fronteiras. Claro, eu sinto-me muito mais próxima de África do que dos Estados Unidos.
Mas ao mesmo tempo, sou afectada pelos Estados Unidos e a sua vontade tremenda de esmagar o mundo. Sinto que neste ponto vocês americanos se desenvencilham muito bem. O vosso cinema está em todo o lado. Vocês impuseram o vosso cinema. Não há uma única pessoa no mundo que não conheça um western ou um filme americano em geral. Vocês impuseram-se a vós próprios, e nós temos de nos proteger de vocês. Invadiram o mundo com os vossos westerns. E têm todo o direito a fazê-lo, mas o que é que nós podemos fazer? Hoje em dia, alguém pode passar sem cinema americano? Não. Até vamos ver o Malcolm X. Vocês negros americanos têm um cinema, vão ver os vossos próprios filmes bem como outros, o que não é o nosso caso. É aí que reside a vossa força."
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça-Feira!
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