domingo, 11 de dezembro de 2016

39ª sessão: dia 13 de Dezembro (Terça-Feira), às 21h30


Depois de Scorsese, The Band, Adolfo Luxúria Canibal e Luís Miguel Oliveira, cuja conversa publicaremos brevemente, e continuando a retrospectiva Michael Cimino, depois de Thunderbolt and Lightfoot, que exibimos em Outubro, chegamos agora a The Deer Hunter (O Caçador), segundo filme do realizador norte-americano falecido este ano.

Este filme trágico, sensível, brutal e belíssimo, espelho difícil mas redentor para toda uma geração ferida e estilhaçada, é a nossa próxima sessão. Sobre um grupo de amigos separados dentro e fora da Guerra, que continua para lá das fronteiras do Vietname e chega a casa e à América com o mesmo impacto e a mesma força, dilacerando a ordem e a vida normal de todos os dias. Nada ficará o mesmo.

Paulo Santos Lima, crítico de cinema, jornalista e professor responsável, ainda, com Francis Vogner dos Reis (que nos apresentou Lang e While the City Sleeps, se bem se lembram) pela Mostra Easy Riders, O Cinema da Nova Hollywood, bem como pelo seu catálogo (com textos de Sérgio Alpendre, Bruno Andrade ou Luiz Carlos Oliveira, Jr.), mandou-nos um vídeo sobre o filme. E muito lhe agradecemos.

Michael Cimino, em Bolonha, no Cinema Ritrovato de 2005, a quem o quis ver e ouvir, disse que "Eu gosto de filmes, Eu gosto da palavra 'filmes' ('movies'), porque é isso que eles são: mexem-se ('they move'). O cinema é uma coisa diferente. Logo que se para de se mexer morre-se. Tem havido disparates a mais pregados a alunos sobre técnica, sobre regras, sobre tantas coisas que não têm nada que ver com o coração de um filme. Precisamos de reivindicar, os estudantes hoje precisam de reivindicar a parte espiritual deles próprios, mesmo que isso possa parecer pretensioso, ou até absurdo, é verdade".

Continuou: "Antes de começarem a seguir as regras, comecem por quebrá-las. Eu fiz O Caçador quando era jovem. Se tivesse passado pela escola de cinema antes de fazer este filme, nunca o tinha feito. Teria medo demais. Mesmo hoje, as anotadoras dizem-me, 'Michael, isto não vai funcionar. Estás a atravessar o eixo do olhar'. Ainda não sei o que é que quer dizer o 'eixo do olhar'! Tentem não andar à procura de simbolismo no filme, porque não há nenhum. Não há agenda política no filme. Nem sequer é sobre a guerra do Vietname. É sobre o que acontece quando a catástrofe ataca um grupo de amigos que são como família, numa pequena cidade. Isto é um filme sobre pessoas. É simplesmente sobre pessoas. Aconselhar-vos-ia a tomá-lo dessa maneira. É uma história de um grupo de amigos."

No Dictionnaire du Cinéma - Les Films, Jacques Lourcelles escreveu que O Caçador é "O grande filme americano dos anos 70. Com uma ambição imensa, Cimino tenta construir um cinema épico e wagneriano que é também lírico e contemplativo e não desprovido de densidade romanesca. No que diz respeito à força da mise en scène, Cimino é o único cineasta da sua geração no qual se pode ver, através do seu filme, um herdeiro de Walsh e, especialmente, de Os Nus e os Mortos. Isso não o impede de conduzir, através dos outros aspectos do filme, uma busca absolutamente pessoal e original. Ele atinge o vigor pela duração desmesurada das cenas, o que as torna misteriosas e encantatórias, por um sentido quase mágico do cenário e pela atenção a certas características individuais dos personagens, sem qualquer preocupação de rigor dramático aparente. A busca dele vai de encontro ao centro da sua proposta; não pelo realismo, mas com o auxílio de um conjunto de alegorias que transformam o realismo em elementos de reflexão moral e filosófica. Os temas privilegiados de tal reflexão dizem respeito à energia e à vontade de poder da América. A caça, a guerra distante, o jogo cruel da roleta-russa, tudo isso são os motivos dramáticos e visuais, extremamente espectaculares, que permitem confrontar essa possibilidade de poder com o real. De acordo com os personagens, veremos esta vontade destruir-se, partir-se ou mesmo perdurar, transformando-se ou mudando de sentido. Epopéia do fracasso, O Caçador é também um requiem grandioso dedicado aos sofrimentos e à estupefacção da América perante a maior derrota da sua história. 

"Nota: Um exemplo das pesquisas feitas por Cimino sobre o cenário: ele explicou (in “American Cinematographer”, outubro de 1978) como tinha construído visualmente o local da sua pequena cidade da Pensilvânia utilizando oito exteriores diferentes, filmados no Ohio: o único meio de conseguir, segundo a sua vontade, que uma fábrica se perfilasse no horizonte em cada um dos planos gerais de exteriores que figuram nas sequências que supostamente se desenrolam na Pensilvânia."

Até Terça-Feira!

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