Na próxima semana iniciamos o ciclo dedicado ao "Belo e a Consolação" com um dos últimos filmes de Wim Wenders, O Sal da Terra, realizado a meias com o filho do fotógrafo Sebastião Salgado (cujo trabalho é retratado neste documentário), Juliano Ribeiro Salgado.
Em entrevista ao IndieWire, Wim Wenders confessou que "não sabia nada sobre o homem até um dia em 1987. Em meados dos anos 80 estava a andar por Los Angeles, e vi um par de fotografias a preto e branco pelo canto do olho numa galeria onde não tinha qualquer intenção em entrar. Tinha acabado de as ver e atraíram-me imediatamente.
"Fui directo para dentro e eles tinham cerca de doze fotos de uma série captada em Buenos Aires e fiquei completamente encantado por este jovem fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado. E como era uma galeria comercial decidi comprar uma dessas fotografias. Tive mesmo de o fazer, porque achei que eram tão extraordinárias e tão aventurosas… Este fotógrafo tinha um grande olho e também era um grande aventureiro.
"Depois a [pessoa da] galeria aproveitou-se mesmo de mim e disse, “Tenho outra série de fotografias deste fotógrafo.” E o que me mostraram foi uma missão muito diferente em que Salgado esteve. Estas fotografias do Sahel, em Africa, onde houve uma missão mais humanitária para relatar sobre as secas tocaram-me de uma maneira muito diferente. E fiquei igualmente encantado. Portanto saí de lá com duas fotografias, pendurei-as e têm estado comigo desde então."
Já Juliano Ribeiro Salgado disse ao El País que "o filme tinha de acontecer, mas a última coisa que eu queria fazer era um filme sobre o Tião antes de ter, sei lá, 70 ou 80 anos, estar resolvido e livre… Na época, apesar de sermos próximos, andávamos meio afastados, e dava um pouco de medo, porque, quando você faz um filme, termina sendo muito intruso. Em 2009, apareceu o Wim Wenders lá na casa dos meus pais, em Paris.
"Ele tinha uma ideia de um dia fazer um projeto sobre o Sebastião, mas não sabia nem o que e nem como. Ficamos com isso, e uma semana depois eu estava acompanhando o Tião nas terras dos índios zo'é, no Estado do Pará, que são uma tribo que viveu muito tempo isolada. Eles têm a particularidade de ser muito doces, não reprimem as crianças, não dizem não pra ninguém… Nunca acontecem discussões entre eles e, quando acontece, eles colocam as duas pessoas em um lugar santo deles, os dois brigam e tudo acaba lá. Eu estava meio relutante em estar lá sozinho com ele, nessa coisa de pai e filho. Pensava muito em que período juntos, entre quatro paredes, seria esse. Mas foi ótimo, e a gente se deu muito bem.
"Quando a gente voltou, trouxe comigo umas imagens que eu editei e mostrei pro Tião. Ele viu as imagens, e a gente se emocionou muito, vendo como eu via ele. Ele ficou muito tocado, se vendo através dos meus olhos. Não podia se virar pra mim, senão ia chorar. E eu também. Até hoje, quando falo disso, tem uma emoção muito forte. Foi o que me deu confiança de que era o momento certo de me aproximar e fazer um filme, abrir portas."
No antigo blog, Some like it cool, Carlos Melo Ferreira escreveu que "talvez não tenhamos ainda a noção plena de que Wim Wenders, um dos fundadores do Cinema Novo Alemão dos anos 60 (ver "Fassbinder e o futuro", de 17 de Junho de 2012, e "Palavra e pensamento", de 12 de Outubro de 2013), tem uma importante vertente documental na sua já impressionante obra. O Sal da Terra/The Salt of the Earth, co-realizado com Juliano Ribeiro Salgado (2014), vem recordar de maneira feliz o seu lado documentarista no cinema, pois permite-lhe uma reflexão dupla sobre a imagem, a do cinema e sobretudo a da fotografia por intermédio da personagem central e motora, o famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
Em entrevista ao IndieWire, Wim Wenders confessou que "não sabia nada sobre o homem até um dia em 1987. Em meados dos anos 80 estava a andar por Los Angeles, e vi um par de fotografias a preto e branco pelo canto do olho numa galeria onde não tinha qualquer intenção em entrar. Tinha acabado de as ver e atraíram-me imediatamente.
"Fui directo para dentro e eles tinham cerca de doze fotos de uma série captada em Buenos Aires e fiquei completamente encantado por este jovem fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado. E como era uma galeria comercial decidi comprar uma dessas fotografias. Tive mesmo de o fazer, porque achei que eram tão extraordinárias e tão aventurosas… Este fotógrafo tinha um grande olho e também era um grande aventureiro.
"Depois a [pessoa da] galeria aproveitou-se mesmo de mim e disse, “Tenho outra série de fotografias deste fotógrafo.” E o que me mostraram foi uma missão muito diferente em que Salgado esteve. Estas fotografias do Sahel, em Africa, onde houve uma missão mais humanitária para relatar sobre as secas tocaram-me de uma maneira muito diferente. E fiquei igualmente encantado. Portanto saí de lá com duas fotografias, pendurei-as e têm estado comigo desde então."
Já Juliano Ribeiro Salgado disse ao El País que "o filme tinha de acontecer, mas a última coisa que eu queria fazer era um filme sobre o Tião antes de ter, sei lá, 70 ou 80 anos, estar resolvido e livre… Na época, apesar de sermos próximos, andávamos meio afastados, e dava um pouco de medo, porque, quando você faz um filme, termina sendo muito intruso. Em 2009, apareceu o Wim Wenders lá na casa dos meus pais, em Paris.
"Ele tinha uma ideia de um dia fazer um projeto sobre o Sebastião, mas não sabia nem o que e nem como. Ficamos com isso, e uma semana depois eu estava acompanhando o Tião nas terras dos índios zo'é, no Estado do Pará, que são uma tribo que viveu muito tempo isolada. Eles têm a particularidade de ser muito doces, não reprimem as crianças, não dizem não pra ninguém… Nunca acontecem discussões entre eles e, quando acontece, eles colocam as duas pessoas em um lugar santo deles, os dois brigam e tudo acaba lá. Eu estava meio relutante em estar lá sozinho com ele, nessa coisa de pai e filho. Pensava muito em que período juntos, entre quatro paredes, seria esse. Mas foi ótimo, e a gente se deu muito bem.
"Quando a gente voltou, trouxe comigo umas imagens que eu editei e mostrei pro Tião. Ele viu as imagens, e a gente se emocionou muito, vendo como eu via ele. Ele ficou muito tocado, se vendo através dos meus olhos. Não podia se virar pra mim, senão ia chorar. E eu também. Até hoje, quando falo disso, tem uma emoção muito forte. Foi o que me deu confiança de que era o momento certo de me aproximar e fazer um filme, abrir portas."
No antigo blog, Some like it cool, Carlos Melo Ferreira escreveu que "talvez não tenhamos ainda a noção plena de que Wim Wenders, um dos fundadores do Cinema Novo Alemão dos anos 60 (ver "Fassbinder e o futuro", de 17 de Junho de 2012, e "Palavra e pensamento", de 12 de Outubro de 2013), tem uma importante vertente documental na sua já impressionante obra. O Sal da Terra/The Salt of the Earth, co-realizado com Juliano Ribeiro Salgado (2014), vem recordar de maneira feliz o seu lado documentarista no cinema, pois permite-lhe uma reflexão dupla sobre a imagem, a do cinema e sobretudo a da fotografia por intermédio da personagem central e motora, o famoso fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.
"Vamos por partes. Depois de filmes iniciais justos e muito bons, Wim Wenders dispersou-se um tanto na beleza das imagens por si própria, sem grande recuo, o que, aliás, fez o sucesso dos seus filmes desde As Asas do Desejo/Der Himmel über Berlin (1987), justamente um filme notável pela ligação que estabelece entre imagens e sons. Pese embora a minha admiração por esse e outros filmes subsequentes, não devo esconder que é nos seus filmes iniciais que ainda hoje descubro o seu melhor.
"Posto isto, O Sal da Terra agora estreado entre nós é um projecto consequente com o seu anterior Pina (2011), sobre a famosa e entretanto desaparecida bailarina e coreógrafa Pina Bausch (1940-2009), pois se trata de um filme sobre um criador artístico visual, um fotógrafo, e um fotógrafo famoso. O assunto permite ao cineasta, acolitado pelo filho mais velho do fotógrafo, ao recapitular com este a sua vida e a sua obra produzir sobretudo pela palavra do fotógrafo uma reflexão muito produtiva sobre a imagem da fotografia na história e sobre a própria história."
Até Terça!
Até Terça!
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