por Ana Teresa Pereira
«Would it make any sense if I told you it’s never happened before?»
«Maybe.»
(Pushover)
«Will you tell me something? Has this ever happened to you before?»
«What?»
«Falling… into San Francisco Bay.»
(Vertigo)
A rapariga é a mesma: Kim Novak. Os homens são Fred MacMurray e James Stewart.
Para quem conhece Vertigo, ver Pushover pela primeira vez pode ser inquietante.
Há elementos familiares: partes do diálogo, movimentos de câmara, cenas inteiras
(Kim Novak a conduzir o automóvel e a parar junto à casa do homem que a persegue);
o vestido preto que Scottie força Judy a usar quando tenta transformá-la em
Madeleine (e que supostamente Hitchcock imaginara para Vera Miles), é o vestido
preto de Lona em Pushover. Nas suas entrevistas com Truffaut, Hitch menciona o
facto de Judy não usar soutien quando Scottie a encontra. No primeiro encontro de
Lona e Paul, Quine filma-a de modo a tornar isso evidente.
Pushover foi o primeiro filme de Kim Novak. Foi também o princípio da sua história
de amor com Richard Quine. Fizeram vários filmes juntos; o último e talvez o mais belo
é Strangers When We Meet (a casa que, no filme, Kirk Douglas está a construir, era a
casa que Quine ia oferecer a Kim). Quase nada no romance de Bill S. Ballinger, que
inspirou o argumento de Roy Huggins, sugere a personagem de Lona no filme. Lona
não é uma “femme fatale”; ela precisa de dinheiro (as pessoas são sujas, o dinheiro
não) porque precisa de segurança. A forma como Quine a filma torna-a enternecedora,
quase pura: uma rapariga apaixonada.
Hitchcock detestava Kim Novak. Mas a irrealidade de Madeleine, a presença carnal de
Judy, não revelam isso. A câmara segue a actriz apaixonadamente, como a seguira três
anos antes em Pushover. Esse foi um dos golpes de génio de Hitchcock. Filmar a
actriz como um homem que a amava.
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