quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Oslo, 31. august (2011) de Joachim Trier



por André Miranda

31 de agosto podia ser dia em que se vive. Mas é só manhã de quartos vazios, recordações prontas a ser empacotadas e removidas. É manhã de música e silêncio. É manhã de todos os vazios. Este é o filme da batalha que Anders trava. 
 
Anders vive em Oslo. Está numa clínica de reabilitação. Vemo-lo encher os bolsos de pedras. Com os braços segura uma outra, maior e mais pesada. E, como Sísifo que se recusa subir montanha, desce água adentro, contrariando todo e qualquer instinto com que se nasce. Emerge, de fôlego ainda intacto, roupas molhadas e o casaco perdido. Volta à clínica. É 30 de agosto. Anders tem uma entrevista de emprego na cidade. O médico deseja-lhe boa sorte. 
 
Na cidade, Anders encontra-se com amigos, visita locais, vai à entrevista e a uma festa, tenta fechar o espaço que o separa do mundo. Procura forjar ímpeto que lhe recupere o instinto negado de manhã. Mas, a cada tentativa o fosso não diminui nem aumenta, apenas permanece. Numa distância que só o olhar triste de Anders percorre. 
 
Esse abismo que Anders habita transporta consigo longínqua luz promissora. Afinal faz sol em Oslo. As pessoas sentam-se no interior de cafés e conversam. Dizem insignificâncias, falam de sonhos e desejos. Outras cobrem a relva verde do parque com os corpos refrescados pela mesma brisa que agita as árvores. 

É madrugada. Duas bicicletas descem uma rua vazia de Oslo. Uma delas é guiada por uma mulher. Junto dela está Anders que lhe abraça o corpo e, de olhos fechados, encosta o rosto ao dorso. Não se sabe se saboreia fim ou princípio.

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