quarta-feira, 27 de setembro de 2023

309ª sessão: dia 28 de Setembro (Quinta-Feira), às 21h30


“Mad Max: Estrada da Fúria” e “Sweet Survival” no Lucky Star  

Durante os meses de Setembro e Outubro, no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe doze longas-metragens e uma curta em parceria com os Encontros da Imagem. O ciclo tem como mote o tema dos Encontros deste ano, “Ensaio para o Futuro”, e é inteiramente dedicado à memória de Carlos Fontes. 
 
Mad Max: Estrada da Fúria, de George Miller, é o filme de amanhã, antecedido pela curta-metragem Sweet Survival de Katharina Gerlich. A sessão contará com a presença da actriz bracarense Marta Carvalho, intérprete e produtora associada de Sweet Survival, que nos falará sobre as suas experiências na gravação desta curta-metragem. 
 
Estrada da Fúria é o quarto volume da saga “Mad Max”, iniciada em 1979 com Mad Max: As Motos da Morte e continuada nos anos 80 com Mad Max: O Guerreiro da Estrada e Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão. Primeiro filme da saga sem Mel Gibson, Estrada da Fúria conta com interpretações de Tom Hardy, Charlize Theron e Hugh Keays-Byrne. 
 
O filme teve uma produção bastante complicada. Idealizado e preparado desde o final dos anos 90, entrou em pré-produção em 2000 ainda com Mel Gibson como Max, mas teve de ser adiado por causa dos ataques do 11 de Setembro. Em 2009, houve um novo arranque de produção já sem Mel Gibson, mas que teve de ser interrompido devido a chuvas fortes que fizeram brotar flores selvagens no deserto australiano. 
 
Quando a rodagem começou finalmente na Namíbia, Tom Hardy, que ficou com o papel de Max, sentiu-se sempre frustrado por ter poucos diálogos e não conseguir ver o produto final na sua cabeça a partir da grande confusão a que assistia. Numa conferência de imprensa em Cannes, Hardy interpelou o seu realizador e disse que “tenho de te pedir desculpa por ter ficado frustrado. E não havia forma de o George me conseguir explicar o que tinha concebido na areia quando lá estávamos.” 
 
“E por causa das diligências devidas que eram necessárias,” continuou ele, “para tornar tudo seguro e para tornar tudo aquilo que era incrivelmente complexo tão simples—que foi o que eu vi—que é uma rajada contínua de complexidades simplificada numa estória relativamente linear... Eu sabia que ele era brilhante, mas não soube a que ponto até ver o filme.” 
 
A curta-metragem Sweet Survival de Katharina Gerlich, é ambientada numa tarde fria num futuro distópico e em que um homem esfomeado tenta roubar um grupo de mulheres que vive num recinto abandonado. Gravada na Áustria, foi um projecto iniciado por actrizes insatisfeitas com os papéis que lhes eram oferecidos e que resolveram criar os seus próprios papéis. 
 
As sessões do Lucky Star - Cineclube de Braga ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes e utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.

Até Quinta-Feira!

Moses und Aron (1975) de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub



por António Cruz Mendes

Moisés e Aarão não é um filme que pretenda provocar uma adesão fácil do público. Sendo uma versão cinematográfica da ópera de Schönberg, a primeira sensação de estranheza pode ser desde logo suscitada pela música, que obedece ao sistema dodecafónico e a uma forma de expressão vocal, a Sprechgesang (canto falado), uma forma expressiva entre a palavra e o canto. 

O sistema tonal, onde a composição se organiza a partir de uma nota privilegiada, a tónica, imperou na música ocidental dos séculos XVI até grande parte do século XX. Mas, alguns músicos adoptaram, sobretudo a partir do início do século XX, o sistema atonal, onde todas as notas teriam uma igual importância. Entre eles, estava Schönberg que, no entanto, considerava que a atonalidade nunca era completamente alcançada porque, mesmo nas composições atonais, acabavam sempre por surgir notas com uma função predominante. Para o evitar, inventou o sistema dodecafónico que se baseava em sucessões de séries de doze notas diferentes numa ordem escolhida pelo compositor, segundo regras que evitavam repetições. Habituados como estamos à música tonal, as suas composições podem começar por nos parecer esquisitas. Mas, isso não nos deve impedir de as apreciar. Apenas não podemos procurar nelas aquilo que é estranho à sua “vontade artística”. Tal como não podemos julgar uma pintura expressionista (Schönberg foi também um pintor), usando os critérios da crítica neoclássica, não podemos avaliar uma composição de Schönberg comparando-a com uma obra de Mozart ou de Beethoven. 

A ópera, datada de 1932, teve uma recepção difícil e tem sido poucas vezes representada. Schönberg escreveu-a nos Estados Unidos, onde se tinha refugiado devido à perseguição dos judeus na Alemanha e na Áustria, ocupada pelos nazis. O seu tema, o Êxodo, a fuga dos hebreus do Egipto e a sua demanda da “Terra Prometida” não é estranho ao tempo em que foi escrita. 

O interesse de Straub e Huillet pela música já os tinha levado a filmar A Pequena Crónica de Anna Magdalena Bach, onde Bach é interpretado por Gustav Leonardt, um famoso cravista, e o guião se baseia numa leitura do diário íntimo da sua segunda mulher. Conta-se que, quando, em 1958, viu pela primeira vez Moisés e Aarão, Straub ficou tão impressionado que imediatamente telefonou à sua companheira, que se encontrava em Paris, para vir à Alemanha assistir á próxima apresentação. Dessa descoberta, nasceu um pequeno filme de 15 m, Einleitung zu Arnold Schönbergs Begleitmusik zu einer Lichtspielscene e, mais tarde, o filme que agora iremos ver. 

Jean-Marie Straub e Danièle Huillet são também conhecidos por serem autores de filmes despojados, austeros, sem concessões ao gosto dominante do grande público. Logo no início de Moisés e Aarão, percebemos a sua preferência por planos-sequência de longa duração. Durante cerca de 6m, ouvimos Moisés interrogar-se acerca da sua capacidade para transmitir a palavra de Deus ao seu povo. “Quem é que vai acreditar em mim?” Um grande plano da sua nuca (mal se vê o seu nariz e a sua testa enrugada) mostra-nos que é no seu íntimo que se trava essa luta com as suas fraquezas. Por fim, submete-se à vontade de Deus, que, sendo omnipresente, é invisível. A sua voz chega-nos através do coro, enquanto a câmara percorre num muito longo travelling montes áridos e céus enevoados. 

A ópera centra-se na oposição Moisés - Aarão e o filme sublinha-a associando as aparições do primeiro a vastos espaços naturais e as do segundo aos espaços mais confinados de um templo romano escolhido como cenário. Segundo a tradição, Moisés tinha graves problemas de dicção. A solução que encontrou foi convencer o seu irmão mais velho, Aarão, a ser o seu porta-voz, o que estará na origem dos problemas que advirão. O filme de Straub e Huillet vai centrar-se em larga medida nas questões inerentes à relação da legitimidade com a representação, da ideia com as dificuldades que decorrem da sua realização, dos meios com os fins, da relação entre a teoria e a prática. É uma questão claramente política cuja abordagem deve ser compreendida no contexto dos anos 70, na ressaca dos movimentos estudantis desencadeados pelo Maio de 68. O filme é, aliás, dedicado a Holger Meins, militante da Fracção do Exército Vermelho, uma organização de guerrilha urbana também conhecida por “Grupo Baader-Meinhoff”, que morreu em greve de fome na prisão. 

Moisés encarna o ideal, a defesa de um Deus único e todo-poderoso, enquanto Aarão assume uma posição mais pragmática. Se a unidade do povo é uma condição da sua sobrevivência nas duras circunstâncias da travessia do deserto, o melhor não será ceder àqueles que exigem uma imagem de Deus que possa ser adorada? Aliás, para que serviria a mensagem divina, se não houvesse um povo para a escutar? E como podemos adorar algo que não conseguimos ver? Moisés é um pensador, mas Aarão é um imagista. Um Bezerro de Ouro é então erigido e o povo entrega-se à sua adoração e à celebração de orgias, afastando-se da palavra de Deus. 

A ópera de Schönberg nunca foi acabada e, no filme, na sequência final, Moisés retira-se sozinho e angustiado. Nós, que conhecemos a história do Êxodo, sabemos que nem ele, nem Aarão, chegarão a ver a Terra Prometida.




segunda-feira, 25 de setembro de 2023

308ª sessão: dia 26 de Setembro (Terça-Feira), às 21h30


Jean-Marie Straub e Danièle Huillet na BLCS 
 
Durante os meses de Setembro e Outubro, no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe doze longas-metragens e uma curta em parceria com os Encontros da Imagem. O ciclo tem como mote o tema dos Encontros deste ano, “Ensaio para o Futuro”, e é inteiramente dedicado à memória de Carlos Fontes. 
 
Nesta última semana de Setembro, os filmes a exibir serão Moisés e Aarão de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, amanhã às 21h30, e Mad Max: Estrada da Fúria de George Miller, antecedido pela curta-metragem Sweet Survival de Katharina Gerlich, na Quinta-Feira dia 28. A sessão de dia 28 contará com a presença de Marta Carvalho, actriz e produtora associada de Sweet Survival.  

Moisés e Aarão é uma adaptação da ópera inacabada de Arnold Schönberg com o mesmo nome, centrando-se sobre a missão atribuída por Deus a Moisés de procurar o seu irmão Aarão para que este o ajude a tornar-se profeta. Rodado em exteriores no Egipto e em Itália, o filme estreou em Maio de 1975 no Festival de Cannes e foi dedicado a Holger Meins. 
 
Sobre a ópera de Schönberg, Jean-Marie Straub disse a Joel Rogers em 1976 que “eu frequentava a ópera porque me tinha interessado vagamente em Schönberg, mas não sabia de todo o que estava prestes a ver. As pessoas só me tinham dito para a ver porque era interessante. E quando a vi finalmente, comoveu-me mesmo. Arranjei imediatamente o libreto e a partitura, e percebi que o que eu tinha visto não era de todo o que Schönberg tinha imaginado. Não era o que tinha planeado.” 
 
Sobre a procura pelos locais, Danièle Huillet disse a Helge Heberle e Monika Funke Stern em 1982 que “era mais fácil em França. Voltávamos sempre aos locais. No Egipto só podíamos fazer isto uma vez e era difícil encontrar os locais. Não há mapas além dos que foram feitos pela administração colonial. Os nomes estão em egípcio e por baixo em europeu. Nós procurámos os locais com fotocópias deles.” 
 
“As pessoas lá,” continuava, “a cinco quilómetros de uma aldeia, não sabem como se chama a aldeia a seguir. Sondámos os locais com um amigo de Paris, um egípcio, no carro dele. Às vezes precisávamos de um dia inteiro para encontrar uma aldeia. Portanto era mais ou menos o mesmo trabalho que o das pessoas que tinham desenhado os mapas. Só que tivemos apenas cerca de vinte dias no Egipto.” 
 
As sessões do Lucky Star - Cineclube de Braga ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes e utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.

Até Terça!

Land of the Pharaohs (1955) de Howard Hawks



por João Palhares

Mênfis, era das pirâmides. Cufu, o Faraó reinante, manda erguer a Grande Pirâmide sob o nome de “Horizonte de Cufu”, em Gizé, a vinte quilómetros da capital do reino. Tem duas esposas. Nove filhos. Cinco filhas. Dizem que a sua sede por ouro e riquezas, que a sua necessidade de dinheiro é tanta que enviou uma das cinco filhas para um bordel para os angariar por ele, dormindo para isso com o máximo de homens que conseguisse apenas durante uma noite. Dificultou o culto aos deuses e encerrou os templos, acabando com os sacrifícios dos sacerdotes e pondo todo o Egipto às suas ordens e ao seu serviço. Cem mil trabalhadores em Gizé, durante vinte longos anos. Três milhões de metros cúbicos de pedra com uma base de três hectares. Um labirinto de pedra maciça selado e construído com soluções de engenharia revolucionárias e que darão certamente muito que falar ao longo dos séculos. O preço da imortalidade de um deus terreno, descendente directo dos criadores do Universo, com quem partilha o mundo e o destino dos homens. 

Centenas de milhares de almas cativas pelo projecto de uma só, visitada em sonhos por imagens de um mundo virado do avesso e com as entranhas para fora, o céu a engolir a terra e a terra a engolir os homens, estrelas que caem do firmamento para horror de populações inteiras e que as sequestram e sepultam num silêncio eterno por baixo de montanhas gigantescas. Os oráculos e os sábios falaram. Se nada fosse feito, viria um grande dilúvio e dizimaria o Egipto e o seu povo. A grande pirâmide, como as montanha milenares que rasgam os céus, torna-se então o alfa e o ómega, o princípio e o fim de todas as coisas. Benben, o monte primordial que saiu das águas de Nun, e a morada final de Cufu, munida de barcos que navegarão pelas nuvens até ao Sol com Hórus a seu lado, e a partir daí de nascente a poente num dia em tudo parecido com o infinito, regressando pela noite através do rio sem nome que perfura o planeta Terra. Os elementos confundem-se e o tempo dilata-se. Presente, passado e futuro tornam-se a mesma coisa. 

Cairo, 1955. Howard Hawks prepara um plano de A Terra dos Faraós. Deve ter um livro de Jorge Luis Borges escondido dos olhares ora indagantes ora reverentes da equipa técnica, dos actores e dos milhares de figurantes locais que compõem o alcance da sua visão. Já tinha feito de tudo em cinema, desde comédias, westerns, film noirs, musicais, policiais, melodramas, filmes de aventuras, filmes de guerra, de ficção científica, de aviação, sobre corridas de carros e pilotos, filmes mudos, filmes sonoros, filmes a cores, ambientados na América, em França, no Médio Oriente, em Inglaterra, na Martinica, na Alemanha, no Pólo Norte, da pré-história à actualidade. Mas precisava de tentar algo novo e decidiu-se por um épico trágico filmado em Cinemascope e ambientado no Egipto durante a Quarta Dinastia, mais precisamente no século XXVI A.C. Falou com William Faulkner, falou com Jean-Philippe Lauer, contratou Mayo como figurinista e Alexandre Trauner como director de arte. “(...) Comecei a pensar na construção das pirâmides,” disse Hawks. “Pensei que era uma história parecida. Gosto muito deste género de trabalho. Escrevemos, pois, o nosso guião baseado numa única ideia: a construção de uma pirâmide. Esses empreendimentos, construções de aeródromo ou de pirâmides, servem para mostrar o poder dos homens, o que lhes é possível fazer com as pedras, com a areia e com as mãos.”[1]

Não lhe terá escapado que o trabalho na pirâmide, dependente duma multidão de gente que está sob as ordens dum só homem, não era muito diferente de uma rodagem, sobretudo se pensou na era dos pioneiros e nos empreendimentos de Greed, de Erich von Stroheim, Metropolis, de Fritz Lang, ou Napoleão, de Abel Gance. Também não lhe terá escapado que, apesar das grandes diferenças nas mazelas pessoais e imediatas dos métodos nos corpos e nas almas de quem faz esses trabalhos, é possível tecer comparações entre a imortalidade conquistada por um faraó com poder e com dinheiro e a imortalidade conquistada por um artista com visão e com talento. A partir daí as metáforas tornam-se constantes. Há quem acredite na vida depois da morte e veja o estágio terreno como transitório, a imortalidade está assegurada por herança divina. Há quem acredite que é nesse estágio que se tem a única oportunidade para alcançar a paz sem ter de dar provas de valor a ninguém. E há quem pense que é vivo que se alcança a imortalidade, com ambição e dedicação suficientes para estabelecer um diálogo com os séculos, todo um mundo, das armadilhas de Fausto aos milagres de Hawks. Aí os barcos solares tomam a forma da inspiração, a síntese e o absoluto são encontrados com a articulação entre os “funerais” e as “serpentes”, as únicas coisas que era possível filmar nesse formato glorioso a que se chamou Cinemascope. 

Braga, 2024. As pessoas deixam de morrer. Vão-se ouvindo relatos e notícias de casos semelhantes noutras cidades. E os nossos amigos e mestres e exemplos afinal não morreram. Todas as lições que aprendemos ao longo da vida e a muito custo para nos protegermos dos outros revelam-se perfeitamente superficiais e os homens podem finalmente confiar no próximo. Já não adoecemos nem lançamos pragas sobre os vivos, os hospitais e os rancores foram desactivados. Continuamos a aprender com os nossos avós. Ainda podemos ouvir as histórias e as canções, ser desarmados pela genuinidade inaudita daquele homem que resolvemos escolher um dia como nosso irmão mais velho. É possível visitar num café aquele outro que nos abriu o seu mundo por ver qualquer coisa de si próprio, por mais pequena que fosse, em nós. Telefonar aflito com trabalho a um colega que respeitávamos e que, se não tinha soluções imediatas, tinha pelo menos conselhos para prosseguirmos com outro alento. O ano passado dizia-se que a morte era uma coisa banal e que cada um carregava os seus fantasmas em silêncio. Hoje não é possível um homem ferido e com ligaduras muito gastas pelo corpo, perto do fim da linha, virar-se para nós e dizer, “pode ser que um dia nos encontremos noutras circunstâncias.” O futuro, essa incógnita outrora capaz de nos causar um nó na garganta apenas com um vislumbre ou um pequeno anseio, tornou-se finalmente radioso.

[1] “Entretien avec Howard Hawks”, por Jacques Becker, Jacques Rivette e François Truffaut, Cahiers du Cinéma, nº 56, Fevereiro de 1956.



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

307ª sessão: dia 21 de Setembro (Quinta-Feira), às 21h30


Filme de Howard Hawks abre ciclo de cinema 

Durante os meses de Setembro e Outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga vai exibir doze filmes em parceria com os Encontros da Imagem. O ciclo tem como mote o tema dos Encontros deste ano, “Ensaio para o Futuro”, e será dedicado à memória de Carlos Fontes. 

O primeiro filme do ciclo, exibido na próxima Quinta-Feira às 21h30, é A Terra dos Faraós, de Howard Hawks, um grandioso épico na senda de Cecil B. DeMille com Jack Hawkins, Joan Collins e Dewey Martin nos papéis principais. Rodado em exteriores no Egipto, o filme contou com milhares de figurantes. Foi o primeiro insucesso comercial do realizador norte-americano, que parou de filmar quatro anos até regressar com o famosíssimo western Rio Bravo

O filme de 1955 retrata o projecto de vida do faraó Khufu (interpretado por Hawkins), que incumbe o arquitecto Vashtar de lhe construir a pirâmide mais sumptuosa e mais segura jamais feita para guardar o seu grande tesouro e conseguir a imortalidade. Se o arquitecto levar a demanda a bom termo, o faraó liberta o seu povo. Mas a princesa Nellifer (Joan Collins) tem outros planos para o tesouro do marido. 

Em «Hawks at Work», artigo sobre o livro Hollywood sur Nil de Noel Howard (sobre a rodagem de A Terra dos Faraós), escrito em 1990 para o jornal Modern Times, o crítico norte-americano Bill Krohn escreveu que “a imortalidade—um tema que surge mais do que uma vez nos filmes de Hawks—é a preocupação dos artistas, e no discurso do Faraó ao seu filho ele equipara o ouro que acumulou ao poder, outra preocupação que os artistas partilham com os tiranos.” 

“Creio que Hawks,” escreve Krohn mais à frente, “que sempre negou ser um artista (isso significaria admitir a sua afinidade com Oscar Jaffe), fez “A Terra dos Faraós” por uma razão óbvia. Tentou criar uma obra-prima que vivesse para sempre.” 

Um dos maiores admiradores do filme é o cineasta Pedro Costa, que o descreveu também em 1990 num fabuloso texto para o catálogo da Cinemateca Portuguesa dedicado a Hawks como “um longo pesadelo. É um filme negro, sufocante e perdido desde o princípio. Só lá poderemos entrar perdidos também.” 

As sessões do Lucky Star - Cineclube de Braga ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes e utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.

Até Quinta-Feira!

sábado, 16 de setembro de 2023

Em Setembro e Outubro, no Lucky Star:




Sideways (2004) de Alexander Payne



por António Cruz Mendes

O Lucky Star – Cineclube de Braga realiza todas as 3ªs feiras as suas sessões ordinárias. Mas, para além delas, temos realizado, e tencionamos continuar a fazê-lo, muitas sessões extraordinárias em cooperação com diversas entidades. Com as Escolas Secundárias de Braga e Vila Verde (e também com a Escola Básica de Prado), com a Faculdade de Direito da Universidade do Minho, com a Biblioteca Lúcio Craveiro, com imigrados brasileiros radicados na nossa cidade... 

Por iniciativa do Carlos Fontes, iniciámos há anos uma colaboração com os Encontros da Imagem. Duplicamos, no período das suas exposições de fotografia, as nossas sessões no Auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro e projectamos filmes com uma temática afim da que preside os Encontros. “Ensaio para o Futuro” é o tema dos Encontros da Imagem deste ano e, de acordo com ele, seleccionámos um conjunto de filmes que vamos projectar a partir do dia 21 de Setembro.

Mas, antes disso, a nossa rentrée fica assinalada por esta sessão no Solar das Bouças. Apreciar um bom vinho é um prazer que não necessita de justificação. Com Sideways, temos a oportunidade de acompanhar um conhecedor numa digressão por uma famosa região vinícola da Califórnia. Mas, provar bons vinhos pode ser também um pretexto para outras coisas. Miles e Jack, os protagonistas de Sideways (que podemos traduzir por “lateralmente”, “nas margens”), durante a sua viagem, tentam acertar contas com a vida, decidir por um caminho diante das encruzilhadas a que ela os conduziu. Embora nos proporcione deliciosos diálogos sobre as qualidades dos vinhos da região de Santa Barbara, Sideways não é um filme sobre vinhos, mas sobre homens, mulheres e relações humanas. Nós conciliámos a possibilidade de conhecer o Solar das Bouças e o vinho aqui produzido, numa visita guiada orientada pelo António Ressurreição, proprietário desta belíssima quinta, com a exibição desta comédia tingida por uma terna melancolia, realizada por Alexander Payne.