sábado, 3 de setembro de 2016

25ª sessão: dia 6 de Setembro (Terça-Feira), às 21h30


Zabriskie Point é uma pincelada fundamental na imensa e densa paisagem do cinema de Michelangelo Antonioni, autor de Il Grido, L'Eclisse, Blowup e The Passenger e a quem os cineastas desta Hollywood a renascer das cinzas dos anos sessenta tanto devem...

A sessão da próxima Terça-Feira é o segundo filme de língua inglesa que o realizador italiano fez sob um contrato com Carlo Ponti (produtor) e a Metro-Goldwyn-Mayer (distribuidora), com liberdade artística absoluta. O primeiro foi Blowup, com David Hemmings e Sarah Miles e o último seria The Passenger, com Jack Nicholson e Maria Schneider.

Sobre a pré-produção do filme, Antonioni disse à Sight & Sound que "fiz duas viagens para a América (a primeira na primavera de 1967 e a segunda no outono). Eu tive esta ideia de fazer aqui um filme porque queria sair da Itália e da Europa. Ainda não tinha começado nada na Europa, este movimento jovem, quero dizer. Quando vim para a América, a primeira coisa que me interessou foi esta espécie de reacção à sociedade como está agora - não só à sociedade, mas à moralidade, a mentalidade, a psicologia da velha América. Escrevi algumas notas, e quando voltei queria saber se o que tinha anotado, a intuição, era verdadeira ou não. A minha experiência ensinou-me que quando uma intuição é bela, também é verdadeira. Decidi-me nesta história quando vim a Zabriskie Point. Achei que este lugar em particular era exactamente o que estava à procura. Gosto de saber onde se passa a história. Tenho que a ver em algum sítio para escrever alguma coisa. Eu quero uma relação entre as personagens e o lugar; não as posso separar do meio delas."

O crítico italiano Adriano Aprà notou que "não é a primeira vez que Antonioni filma no estrangeiro. Já tinha ido a Paris e a Londres para dois dos três episódios de I Vinti (1953). Mas nesse caso tinha sido o "caos empolgante do pós-guerra", de que fala a Moravia, que o tinha levado a procurar fora das fronteiras italianas a confirmação de algo que afectava agora a Europa: a delinquência juvenil na classe baixa e na classe média. O olhar, nesse filme, era objectivo, radiográfico. Depois da radical experiência "subjectiva" de Il Deserto Rosso (1964), resultado de um longo trabalho de pesquisa, Antonioni, com Blowup (1966), volta a uma nova objectividade, que agora incorpora em si a subjectividade. A "liberdade mental" da Inglaterra daqueles anos, reflectida pelo protagonista jovem e dinâmico, permite ainda ao realizador "fotografar" as aparências e a sua beleza inédita; para as abrir, contudo, "engrandecendo-as", a qualquer coisa que a objectividade delas esconde: a abstracção, a irrealidade, a ausência, o mistério, que no final do filme absorve o jovem, fazendo-o desaparecer "para lá do ecrã", para lá do espelho da objectividade.

"Poucos anos depois Moravia volta a questionar Antonioni sobre a importância dos locais em que se filma. "Os locais têm importância. Mas a história de Blowup podia acontecer em qualquer lugar - diz o realizador desta vez -. Zabriskie Point, por sua vez, é um filme sobre a América. A América é a verdadeira protagonista do filme. Os personagens são apenas pretextos. (Os temas dos meus filmes anteriores), aqui nos Estados Unidos, encontram uma correspondência mais clara, mais extrema, mais profunda". 

"Na paisagem americana - o meio urbano de Los Angeles, a periferia extrema da cidade, o deserto lunar de Death Valley, a vivenda embutida nas rochas que forma o reflexo oposto - Antonioni encontra, objectivada, essa abstracção, esse "para lá" de que está à procura: que em Blowup era, quase didascaliamente, imposto à realidade; e que desta vez é mesmo capaz de ancorar a história a um contexto político."

Até Terça-Feira!

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