terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Vieiros (2000) de Laura Gárdos Velo



por José Paz Rodrigues

A 15 de novembro de 1909, nascia em Pereiros-Cartelhe (Ourense) Carlos Velo Cobelas que, para além de grande artista galego, foi também um importante cineasta. Ele faleceu na Cidade do México no dia 1 de março de 1988, há quase 33 anos. Por sugestão de Luis Álvarez Pousa, veio participar do exílio mexicano na quinta edição das Jornadas do Cinema de Ourense, celebradas em abril de 1977, organizadas pelo Cinema Clube Padre Feijóo. Dentro do programa, Velo dera no salão nobre do Liceu Recreio da Cidade das Burgas uma conferência muito interessante sobre os novos avanços da sétima arte. Naquele momento tinha debaixo do braço, como se fosse um brinquedo de criança, um disco com imagens de filmes e não se cansava de repetir que aquele era o futuro do cinema. Velo tinha toda a razão, porque hoje o cinema está num meio semelhante com o nome de DVD. Além disso, ele demonstrou que sempre foi um avançado e um pioneiro nesta arte. Desde muito jovem o cinema foi a sua verdadeira paixão. 
 
O seu pai era médico do município onde Velo nasceu. Em Ourense estudou o ensino secundário e magistério, e na nossa cidade conheceu Vicente Risco, que o iniciou no galeguismo. Mais tarde foi para Madrid para estudar Medicina, mas as suas verdadeiras paixões eram a biologia e o cinema. Em 1932 licenciou-se em Biologia pela Universidade Complutense, onde posteriormente se tornou professor das disciplinas de Ciências Naturais e Entomologia. Curiosamente, e um tanto acidentalmente, a biologia o conduziu ao mundo profissional do cinema. Com Luis Buñuel criou o primeiro clube de cinema espanhol da história na Residência de Estudantes da ILE de Madrid, dependente da FUE (Federação Universitária Espanhola). 
 
Quando o grande cineasta de Calanda filmou a famosa curta-metragem Um Cão Andaluz, Velo deu-lhe as formigas vermelhas para as suas filmagens. Nas sessões do cineclube da Residência de Estudantes gostava de ver os clássicos do cinema, que o marcaram imensamente: S. M. Eisenstein, Dovchenko, Dziga Vertov, Pudovkin e, sobretudo, Robert Flaherty. Este último viria a ter grande influência na arte documental de Carlos Velo, ramo em que se destacou muito e não tanto no de longas-metragens. Ele conheceu Garcia Lorca e o filme O Couraçado Potemkin sempre o entusiasmou. Foi Fernando G. Mantilla quem o iniciou na técnica cinematográfica, que jamais abandonaria, mesmo no seu longo exílio mexicano. Ainda estudante do último ano da sua licenciatura, em dezembro de 1931, participou da primeira Missão Pedagógica Republicana realizada na cidade segoviana de Ayllón, dirigida pelo grande pedagogo Manuel Bartolomé Cossío. Para o qual levou justamente vários documentários cinematográficos para exibição. Tanto na fase republicana, como depois na mexicana, fez documentários muito interessantes. 
 
Entre eles é necessário destacar A Cidade e o Campo, Castelos de Castela, Almadrabas, Infinitos, Felipe II, O Escorial, Yerbala, México Eterno, História de México, Raíces (premiado em Cannes em 1953), Pintura Mexicana de Diego Rivera, Arte pública de David Siqueiros, Homenagem a León Felipe, Torero e Cartas do Japão. Um dos seus mais belos documentários é Universidade Comprometida, em que o chileno Salvador Allende aparece dando uma bela palestra para os alunos da Universidade Mexicana de Guadalajara. Ao discurso do presidente do Chile, Velo colocou-lhe algumas imagens de muito sucesso, belas e adequadas. Este documentário, a par de outros, tinha sido projectado na sua época nas Jornadas do Cinema de Ourense, tendo sido trazida a respetiva cópia em 16 mm. por Mª José Queizán de Vigo. A TVG da época, quando Velo regressou às suas terras galegas, tinha lançado a sua longa-metragem Pedro Páramo, baseado num célebre livro do seu amigo mexicano Juan Rulfo. 
 
No México, Velo, como verdadeiro galego, exilado e emigrante, teve de enfrentar vários problemas e mal-entendidos. A sua vida no país americano esteve cheia de luzes e sombras. Ele foi até privado de liberdade por um tempo. Desde ali colaborou com o povo galego e foi um dos fundadores da excelente revista Vieiros, que, clandestinamente, foi distribuída em Ourense pelo advogado Amadeu Varela. Também foi notável a sua participação na criação em 1953 do Padroado da Cultura Galega, ao lado de Luís Soto, Florêncio Delgado Gurriarám e Elígio Rodríguez. E, além de Vieiros, em 1942 também colaborou na fundação da revista Saudade, junto com Delgado Gurriarám, Ramiro Isla Couto e José Caridad Mateo. Já em 1936 tinha rodado um documentário sobre Compostela e a sua arquitectura e outro sobre folclore e etnografia em 1937 com o título de Galiza. E em 1983 recebeu o Prémio Mestre Mateo da Junta da Galiza, com o qual foi reconhecida toda a obra de um importante criador galego como ele. Posteriormente, em 1989, o mesmo Conselho instituiu o Prémio de Roteiros de Cinema “Carlos Velo”. 
 
excerto de «Carlos Velo, o cineasta histórico da nossa Galiza», publicado no Portal Galego da Língua (PGL) a 24 de Fevereiro de 2021. Disponível em: https://pgl.gal/carlos-velo-o-cineasta-historico-da-nossa-galiza/. Consultado no dia 12 de Fevereiro de 2023.



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