segunda-feira, 27 de julho de 2020

172ª sessão: dia 30 de Julho (Quinta-Feira), às 21h30


Em 1952, depois dos elogios e da premiação em Cannes a Los Olvidados (Subida al Cielo receberia o Prémio da Crítica Internacional nesse mesmo ano), Luis Buñuel conseguiu trabalhar com duas das grandes estrelas mexicanas do momento, Katy Jurado e Pedro Armendáriz, realizando El Bruto, a nossa última sessão no auditório da Casa dos Crivos antes da habitual pausa em Agosto.

Na sua folha da Cinemateca sobre o filme, João Bénard da Costa diz-nos que "filmado em Março de 1952, em 18 dias, El Bruto (com Gran Casino, La hija del engaño, Una Mujer sin Amor, La Ilusión viaja en tranvia e El Rio y la Muerte) faz parte do lote de seis filmes só distribuídos na Europa em 66 e geralmente considerados menores, ou, como Buñuel gostava de os classificar "alimentares". Faz parte também do lote de filmes de que Buñuel sempre disse muito mal.

"Em 1967, numa entrevista aos Cahiers du Cinéma, indignava-se contra a inclusão dessas «vulgaridades», «idiotices», «mediocridades» em retrospectivas da sua obra e citando expressamente El Bruto, La Ilusión viaja en tranvia, El Rio y la Muerte, diz: «Nem sequer sabia que esses filmes ainda existiam e agora andam a passá-los pelas cinematecas da Europa. É incrível»."

Pouco convencido com a obra, Bill Krohn escreveu em Luis Buñuel - Chimera 1900-1983 (editado pela Taschen em 2005) que "El bruto (O Bruto, 1952), feito para a companhia que produziu Una mujer sin amor, foi outra decepção para Buñuel, apesar dos cenários maiores e das duas grandes estrelas, Pedro Armendáriz e Katy Jurado. O produtor fez Buñuel re-escrever completamente o guião que Buñuel tinha feito com um dos seus colaboradores em Los Olvidados, e o resultado foi um filme bem feito sem textura, que só se assemelha a essa obra-prima pelas suas composições escurecidas e pelo tema urbano. 

"A história tinha possibilidades, certamente: Pedro (Armendáriz), conhecido como "el bruto", é contratado por um proprietário impiedoso, Andres Cabrera (Andres Soler), para intimidar os líderes de um sindicato de arrendatários que está a combater o despejo de uma das suas propriedades. Pedro é seduzido por Paloma (Jurado), a mulher-troféu do patrão. Depois de Pedro matar acidentalmente um dos líderes, apaixona-se pela filha da sua vítima, Meche (Rosita Arenas), uma rapariga inocente que se torna mulher dele por união de facto. Indignada ao saber disto, Paloma diz ao seu marido que Pedro a violou, provocando uma luta em que Andres Cabrera é morto. Paloma denuncia Pedro à polícia, que o dizima."

Já Luis Buñuel, dissertando sobre o modo de pensar e o modo de viver mexicanos, contou em Mon dernier soupir que “por regra geral, um actor mexicano nunca fazia no ecrã o que não faria na vida real. Quando estava a fazer El bruto em 1952, Pedro Armendáriz, outro daqueles que costumava fazer disparar a arma no estúdio de vez em quando, recusou-se a usar camisas de manga curta porque a tradição dizia que esse artigo de roupa estava reservado aos homossexuais. Além disso, há uma cena no filme em que Pedro está a ser perseguido por açougueiros num matadouro, e a dada altura, já com uma faca alojada nas costas, encontra uma rapariga órfã. Ele mete-lhe a mão por cima da boca para a impedir de gritar, e quando os perseguidores dele se vão embora, diz à rapariga para arrancar a faca. Confusa, ela hesita. 

“Aí!” grita ele. “Aí! Atrás! Arranca-a!” 

Um dia a meio do ensaio, ele grita repentinamente: “Yo no digo detrás!”—recuso-me a usar a palavra “atrás.” Esse tipo de linguagem, explicou ele mais tarde, seria fatal para a sua reputação.”

Até Quinta-Feira!

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