terça-feira, 7 de janeiro de 2020

158ª sessão: dia 9 de Janeiro (Quinta-Feira), às 21h30


A arrancar o ano da graça de 2020, prosseguimos a nossa retrospectiva dedicada a Manuel Mozos, com um mês em que além das duas últimas longas-metragens de ficção que realizou, 4 Copas (2008) e Ramiro (2017), veremos também curtas-metragens, documentários e videoclips seus. Assim, Solitarium (1996) e Cinzas e Brasas (2015) serão a nossa próxima sessão na Casa do Professor.

Ilustrando a sexta faixa do terceiro álbum de Rodrigo Leão com os Vox Ensemble, Theatrum, Solitarium marca a segunda colaboração entre Mozos e Leão, depois de Um Passo, Outro Passo, e Depois... Falando sobre essa primeira experiência nas lides das bandas-sonoras numa entrevista a Henrique Claudino, o músico disse que "foi a partir daí que eu me apercebi que, a partir de um computador, tinha um universo ilimitado à frente, podia gravar um piano, depois um violoncelo, um violino… e foi aí que eu comecei a ter mais vontade de compor em casa, com auscultadores, computador, sintetizador. Na altura foi o Paulo Abelho, meu companheiro dos Sétima Legião, que me ajudou a descobrir esse mundo. Apesar de não ser um crânio, com o mínimo, consigo arranjar um método de trabalho e gravar as ideias. A partir daí fiquei com uma vontade grande de fazer mais música para cinema. Não foram tantos os momentos como este, tirando os últimos cinco ou seis anos em que comecei a trabalhar mais em bandas-sonoras."

Em 2015, quando lhe perguntaram pelo que deve ter sido a milionésima vez se gosta da ideia de junção entre a realidade e a ficção, particularmente em Cinzas e Brasas, o realizador respondeu que "a mim agrada-me, não no sentido de querer brincar com as pessoas ou de estar a mentir descaradamente. Há, no entanto, uma intenção de tentar qualquer coisa que me parece divertida. O que realmente me interessa, e é o que a Ana me está a perguntar, é o de criar isso no espectador, ou seja, o próprio ficar intrigado e ir, por ele, a posteriori, saber mais sobre as coisas, sobre as pessoas, sobre os factos, se existiram mesmo. Usando exemplos concretos destes dois filmes, se terão existido o cinema Louxor em Paris ou o realizador Roger Léon. Há coisas que são verdade, claro. Se a pessoa se interessar, se achar interessante o filme, pode ir por aí e tentar ter outro conhecimento. Essa será, digamos, a minha intenção maior. Posso não conseguir, obviamente, mas a possibilidade do espectador ficar intrigado e querer, realmente, aperceber-se do que é verdade ou falso dentro do filme, me anima. Não quer dizer que em todos os meus filmes isso seja sempre tão óbvio. No caso do Cinzas e Brasas tem a ver, como disse, com o primeiro romance da Dulce, Campo de Sangue. Mas quanto aos argumentistas, no caso do Eduardo Brito, o autor do argumento do Glória de fazer cinema em Portugal, falei com ele, encontrámo-nos e a coisa foi-se desenvolvendo. Já com o Luís Lopes, o autor do argumento do Cinzas e Brasas, o argumento já estava escrito por ele, depois, adaptei-o em conversas e dizendo-lhe o que iria fazer, qual era a minha intenção em relação ao argumento que disponibilizava. Para ele, para o Luís, porque teve e tem uma relação muito particular com a Dulce, havia a intenção de não ser só um jogo com o primeiro romance da Dulce mas com a sua própria vivência e amizade com ela. Houve conversas com os três, não era uma coisa que a Dulce não soubesse ou que não estivesse de acordo. Foi uma espécie de brincadeira à volta do seu primeiro romance e dela própria. Obviamente que não se trata de um retrato da vida da Dulce."

Já em 2016, numa dessas sessões cineclubistas que fazem eco junto dos espectadores, Vera Bártolo escreveu para o Última Sessão que "na terça-feira da passada semana, dia 28 de Junho, esteve novamente em Tomar, a convite do CineClube de Tomar, o realizador Manuel Mozos, numa sessão em que foram exibidos três dos seus trabalhos.

Cinzas e Brasas (2015), uma curta de ficção filmada na aldeia dos Montes, concelho de Tomar, abriu as hostilidades e trouxe-nos uma história crua de uma vida marcada pelo alcançar de objectivos, pelo sucesso, que no fim não mais trouxe do que solidão, frieza e uma sobrevivência premente. É a história de Dulce, interpretada por Ana Ribeiro, na sua versão mais jovem e Isabel Ruth, na idade madura, uma escritora famosa para quem a vida foi um conquistar de metas, mas viveu esta mulher realmente, foi feliz? Não, e a Dulce madura é uma mulher marcada pela vida e solidão, a quem reaparece um homem do passado. E é entre cinzas e brasas que tudo culmina…

Até Quinta-Feira!

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