terça-feira, 14 de janeiro de 2020

159ª sessão: dia 16 de Janeiro (Quinta-Feira), às 21h30


Na terceira semana de Janeiro, voltaremos a ver Aldina Duarte depois da sua aparição em Xavier para um pequeno fado vadio nas ruas de Lisboa, e saberemos das tentativas de José Régio em abrir uma produtora de cinema nos anos 20. Aldina Duarte - Princesa Prometida e A Glória de Fazer Cinema em Portugal vão ser a nossa próxima sessão no auditório da Casa do Professor.

Numa das biografias que escreveu para os Dias da Música de 2017, no CCB, Rui Vieira Nery debruça-se precisamente sobre a carreira e obra de Aldina Duarte, dizendo que "a sua paixão pela Literatura leva-a a aliar ao repertório musical tradicional dos grandes fados estróficos tradicionais uma escolha cuidadosa dos poemas que canta, sendo ela própria autora de muitas das suas letras, bem como de outras cantadas por outros fadistas destacados como Camané, Carminho, Ana Moura, Mariza ou António Zambujo, designadamente.

"Colabora frequentemente em projetos interdisciplinares que cruzam o Fado com outras expressões artísticas e culturais, em colaboração com personalidades como Pedro Mexia, José Tolentino de Mendonça, João Botelho ou Ricardo Araújo Pereira. É autora ela própria de diversos projetos de difusão do Fado, entre eles o ciclo de conferências-debates “A Cantar e a Contar”, realizado no Centro Cultural de Belém, ou as oficinas “Fado para Todos”, promovidas pelo Museu do Fado, e a série de entrevistas “Fados e Tudo”, em exibição online no site do mesmo Museu, tendo este último projeto dado origem a um ciclo de espetáculos no Teatro Municipal de São Luiz, sob a sua coordenação. Tem igualmente realizado conferências nos Festivais de Fado de Madrid, Sevilha, Bogotá e Buenos Aires. Da sua participação no cinema destacam-se o documentário Aldina Duarte: Princesa Prometida, do realizador Manuel Mozos, apresentado e premiado em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais, e ainda a colaboração em Xavier, de Manuel Mozos, em A Religiosa Portuguesa, de Eugène Green e nos documentários Fado Celeste, de Diogo Varela Silva, e O Fado pelo Mundo – Aldina Duarte: Lisboa – Macau, este último produzido pela RTP."

Em 2011, numa entrevista publicada na revista Pública, Aldina Duarte é levada à infância por Anabela Mota Ribeiro, que cita uma cena do documentário que vamos ver e pergunta à fadista se ela e a mãe eram tratadas de forma diferente na casa da patroa, ela responde que "havia brinquedos que não tinha e que naquela casa havia, certo tipo de jogos. Poucos anos depois acabei por ter. A minha mãe leu num livro que era importante para o desenvolvimento intelectual de uma criança ter puzzles, fazer construções de Legos. Virou mundo para que eu tivesse isso. Da mesma maneira que me incutiu o gosto pela leitura. Achava que a salvação de um pobre era a inteligência e o conhecimento. 

"Acima de tudo tinha que ser leal à generosidade dessa patroa da minha mãe, para que pudesse estar ali. A minha mãe não tinha onde me deixar e não queria arriscar. Claro que, não vou mentir, aprendi coisas e sei que aquela marca também está no meu crescimento. Mas não tenho respeito nenhum por ela. Tenho gratidão."

Já sobre A Glória de Fazer Cinema em Portugal, e dissertando sobre o que será verdade ou mentira nessa curta-metragem, Manuel Mozos diz que "o filme, até agora, teve poucas projecções e, naquilo que me foi dado a entender pelas pessoas com quem conversei ou que me enviaram mensagens, realmente há pessoas que ficam na dúvida, não sabem o que é o verdadeiro, o que é o falso. Há outras que conseguem identificar mais facilmente. Há ali, também, camadas de informação que, eventualmente, para pessoas que tenham um maior conhecimento de cinema, servem para se poder perceber que há ali nomes que nunca existiram. Com um bocado de investigação a pessoa pode chegar à conclusão que aquilo que está no filme não foi bem assim ou não foi de todo assim. Mas aconteceu-me uma coisa engraçada na primeira projecção que o filme teve em Vila do Conde. À saída, uma rapariga, mas que lhe achei imensa graça, veio ter comigo e disse-me “você a mim não me engana. Uma daquelas senhoras que participa no filme como se fosse de há muitos anos, compro-lhe o peixe todos os dias”. Fiquei desarmado, mas isso foi o oposto. Houve, também, pessoas com algum conhecimento que me perguntaram, “mas o Régio filmou mesmo aquelas imagens”, ou, “nunca ouvi falar do nome Morais Abraão.” Jogo, no filme, com uma base verídica, como o que o motivou. A carta do Régio é um facto real, que estudou em Coimbra e que formou um grupo, Os ULTRA, com aquelas pessoas que foram mencionadas. Ele conheceu, realmente, o Manoel de Oliveira à saída do cinema Olympia, no porto, naquela data, através do Casais Monteiro. Mas há outras coisas que não são verdade. Ainda ontem estive com duas pessoas já de idade, amigas pessoais de José Régio, e para elas aquilo é um enigma. Ou seja, nunca houve menção à intenção de se fazer cinema por parte de José Régio e mesmo dos outros elementos do seu círculo de amigos, do ULTRA ou do Alberto Serpa." 

Até Quinta!

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