Como no ano passado, com o ciclo dedicado ao "Belo e a Consolação", este ano voltamo-nos a associar aos Encontros da Imagem. A temática deste ano, "What Now", alusiva ao estado actual do mundo, permitiu-nos escolher oito filmes. Nanni Moretti surge em substituição de última hora de Abbas Kiarostami e, assim, Santiago, Itália tornou-se a nossa próxima sessão na Casa do Professor.
Em entrevista ao L'express no início deste ano, e quando lhe perguntam porque escolheu uma história tão antiga para o seu filme, Nanni Moretti responde que "primeiro, descobri durante uma conferência que dei há dois anos, em Santiago, uma bela história italiana de que nos podemos orgulhar. Mas percebi o motivo da minha abordagem quando a situação política e social mudou, com a chegada ao poder de Matteo Salvini [vice-presidente do Conselho de Ministros]. Grande parte da nossa sociedade tomou uma direcção contrária aos valores da solidariedade e da compaixão para com o outro."
Quando lhe perguntam, na mesma entrevista, porque é que acha que os embaixadores italianos fizeram mais do que os outros na situação chilena, ele diz que "são os indivíduos que fazem a diferença, não o país. Nessa altura, houve dois jovens diplomatas italianos que tomaram imediatamente a decisão certa. O Chile de Allende era observado com muito interesse daqui. O partido comunista italiano estava-se a livrar de forma penosa e lenta da sua dependência da União Soviética. Ora, a chegada de Allende ao poder era uma experiência de socialismo democrático, um socialismo novo que não tinha nada que ver com a URSS de Nikolaï Podgorny, a Cuba de Fidel Castro ou a China de Mao Tsé-Tung. Também havia analogias: sob o plano político, a Itália e o Chile funcionavam com um partido de democracia cristã, um partido comunista, um partido socialista, radicais, católicos de esquerda, uma esquerda revolucionária... Forçando as coisas, podia-se ver uma simetria entre os dois países mesmo se as desigualdades sociais e económicas fossem mais importantes no Chile."
Para o Le Monde, Jacques Mandelbaum escreve que "é uma «bela história italiana», como adora repetir o seu autor. Essa história, é o papel exemplar de alguns jovens diplomatas da embaixada italiana em Santiago, no Chile, durante o golpe de Estado liderado especialmente pelo general Pinochet em Setembro de 1973. Há cerca de seiscentos opositores, a fugir da ditadura sangrenta de que o presidente socialista democraticamente eleito Salvador Allende vai ser uma das primeiras vítimas, a encontrar refúgio por trás das paredes da embaixada, onde se instaura ao improviso uma vida comunitária antes desses homens e dessas mulheres serem finalmente acolhidos pela Itália.
Em entrevista ao L'express no início deste ano, e quando lhe perguntam porque escolheu uma história tão antiga para o seu filme, Nanni Moretti responde que "primeiro, descobri durante uma conferência que dei há dois anos, em Santiago, uma bela história italiana de que nos podemos orgulhar. Mas percebi o motivo da minha abordagem quando a situação política e social mudou, com a chegada ao poder de Matteo Salvini [vice-presidente do Conselho de Ministros]. Grande parte da nossa sociedade tomou uma direcção contrária aos valores da solidariedade e da compaixão para com o outro."
Quando lhe perguntam, na mesma entrevista, porque é que acha que os embaixadores italianos fizeram mais do que os outros na situação chilena, ele diz que "são os indivíduos que fazem a diferença, não o país. Nessa altura, houve dois jovens diplomatas italianos que tomaram imediatamente a decisão certa. O Chile de Allende era observado com muito interesse daqui. O partido comunista italiano estava-se a livrar de forma penosa e lenta da sua dependência da União Soviética. Ora, a chegada de Allende ao poder era uma experiência de socialismo democrático, um socialismo novo que não tinha nada que ver com a URSS de Nikolaï Podgorny, a Cuba de Fidel Castro ou a China de Mao Tsé-Tung. Também havia analogias: sob o plano político, a Itália e o Chile funcionavam com um partido de democracia cristã, um partido comunista, um partido socialista, radicais, católicos de esquerda, uma esquerda revolucionária... Forçando as coisas, podia-se ver uma simetria entre os dois países mesmo se as desigualdades sociais e económicas fossem mais importantes no Chile."
Para o Le Monde, Jacques Mandelbaum escreve que "é uma «bela história italiana», como adora repetir o seu autor. Essa história, é o papel exemplar de alguns jovens diplomatas da embaixada italiana em Santiago, no Chile, durante o golpe de Estado liderado especialmente pelo general Pinochet em Setembro de 1973. Há cerca de seiscentos opositores, a fugir da ditadura sangrenta de que o presidente socialista democraticamente eleito Salvador Allende vai ser uma das primeiras vítimas, a encontrar refúgio por trás das paredes da embaixada, onde se instaura ao improviso uma vida comunitária antes desses homens e dessas mulheres serem finalmente acolhidos pela Itália.
"O homem que evoca esta história, é o cineasta Nanni Moretti, que só muito raramente se aventura no terreno do documentário. Foi preciso que essa história, de que tomou conhecimento como todos os jovens italianos da sua idade solidários com a luta do povo chileno, lhe fosse lembrada por terceiros, durante um encontro um bocado ao acaso, para que se lançasse nesta aventura pouco habitual. Mas o acaso existe mesmo? Pode-se colocar a questão mesmo agora que a situação política italiana, virando para uma direita em parte fascista, alcança no fim do caminho o próprio tema do filme."
Para a Visão, Manuel Halpern escreve que "Santiago, Itália, o documentário de Nanni Moretti, é justamente feito do lado das vítimas. Conta-nos as histórias e o sofrimento de uma das mais atrozes ditaduras da América Latina. Começa, claro, em Allende, na esperança democrática e progressista, prontamente minada pelos grandes interesses, ao ponto de ser deposto e morto num golpe de Estado, fomentado, entre outros países, pelos EUA. Aos momentos de festiva liberdade dos tempos de Allende contrapôs-se o regime de sinistra crueldade de Pinochet, que perseguiu de forma obsessiva todos aqueles que apoiavam o deposto Presidente.
"A Embaixada de Itália, uma das poucas que mantiveram as portas abertas em Santiago, serviu de asilo para cerca de 750 refugiados, que saltavam clandestinamente o muro em busca de abrigo. Moretti conta, essencialmente, as histórias dos refugiados chilenos, que se estabeleceram em Itália à espera da queda do regime. Santiago, Itália é um Moretti atípico, puro documentário, em que o realizador assume uma espécie de missão, um serviço público, contra o esquecimento da História. Ao enaltecer o papel de Itália durante a ditadura chilena, quando o país se tornou um porto de abrigo, Moretti faz implicitamente um contraponto com o radicalismo do ex-ministro Salvini, perante a crise do Mediterrâneo."
Até Terça-Feira!
Para a Visão, Manuel Halpern escreve que "Santiago, Itália, o documentário de Nanni Moretti, é justamente feito do lado das vítimas. Conta-nos as histórias e o sofrimento de uma das mais atrozes ditaduras da América Latina. Começa, claro, em Allende, na esperança democrática e progressista, prontamente minada pelos grandes interesses, ao ponto de ser deposto e morto num golpe de Estado, fomentado, entre outros países, pelos EUA. Aos momentos de festiva liberdade dos tempos de Allende contrapôs-se o regime de sinistra crueldade de Pinochet, que perseguiu de forma obsessiva todos aqueles que apoiavam o deposto Presidente.
"A Embaixada de Itália, uma das poucas que mantiveram as portas abertas em Santiago, serviu de asilo para cerca de 750 refugiados, que saltavam clandestinamente o muro em busca de abrigo. Moretti conta, essencialmente, as histórias dos refugiados chilenos, que se estabeleceram em Itália à espera da queda do regime. Santiago, Itália é um Moretti atípico, puro documentário, em que o realizador assume uma espécie de missão, um serviço público, contra o esquecimento da História. Ao enaltecer o papel de Itália durante a ditadura chilena, quando o país se tornou um porto de abrigo, Moretti faz implicitamente um contraponto com o radicalismo do ex-ministro Salvini, perante a crise do Mediterrâneo."
Até Terça-Feira!
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