quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Fängelse (1949) de Ingmar Bergman



por Ingmar Bergman

Se se fizer um filme barato, o filme mais barato alguma vez feito num estúdio sueco, tem-se a enorme liberdade de trabalhar totalmente como ditam a consciência e a invenção. Por esse motivo, decidi reduzir os custos a torto e a direito. O plano foi-se formando da seguinte maneira: Reduzir o número de dias no estúdio. Construção limitada de cenários. Sem figurantes. Sem música, ou uma quantidade mínima. Banir as horas extraordinárias. Acesso limitado à celulóide. Planos de exteriores sem som ou iluminação. Todos os ensaios se devem realizar fora do período de rodagens. Começar cedo nas manhãs. Garantir que se evita a filmagem de material desnecessário. Aperfeiçoamento meticuloso do argumento. [...] 

Obviamente que nem todos os filmes podem ser feitos num orçamento tão mínimo. Mas mesmo assim tenho a impressão de que as disposições externas são frequentemente sobrestimadas, e de que a organização e a execução técnica de uma rodagem de cinema podia ser realizada de forma mais inteligente e prática nos filmes suecos. 

Olhando para dentro, Hitchcock fez uma contribuição importante em termos de revolucionar a tecnologia do cinema, trabalhar de forma mais premeditada e compacta. Eu próprio acredito que aquilo que ele alcançou nesta área vai ser gradualmente reconhecido pelas pessoas no lado técnico dos filmes, e que o vão pôr ao lado dos pioneiros entre os quais pertence justamente. 

Foi a trabalhar desta forma que ele acabou de terminar um filme chamado A Corda (proibido pelos censores na Suécia e condenado na América, mas pode ser bom de qualquer forma), que é o resultado concentrado de uma experiência técnica longa e paciente. (Para quem estiver interessado, pode-se acompanhar isto de filme para filme.) O processo em si mesmo dificilmente parece digno de nota: ele usa cenas longas. Mas: usa cenas longas que ninguém repara que sejam especialmente longas. 

Como toda a gente sabe, um filme é composto à volta de trezentos e quinhentos fragmentos que são colados para formar uma tira longa (o próprio filme). Actualmente, Hitchcock não utiliza trezentos fragmentos, mas antes dez, onze ou quinze. No entanto, isto requer uma abordagem completamente nova e diferente ao planear uma rodagem, uma sincronização e um acordo entre o realizador, o director de fotografia, o cenógrafo e o engenheiro de som que ultrapassam qualquer compreensão. O que se precisa de alcançar é uma coordenação meticulosa entre os movimentos da câmara e dos actores, por um lado, e por outro a adequação da cenografia. 

Com um acordo como este, o realizador ganha bastante tempo (tempo é dinheiro, no estúdio), continuidade e concentração. Ele perde certas oportunidade para cortar uma passagem aborrecida, encurtar uma pausa ou mexer no ritmo. A montagem realiza-se na câmara, e como se pode perceber, não se recomenda o processo ao realizador que quer uma vida fácil, a actores que sofrem de má memória, ou ao director de fotografia cujos nervos não sejam os mais fortes. Eu pratiquei esta técnica de Hitchcock na medida do aplicável. Acho que o resultado foi bem sucedido. Quer dizer, não se nota nada de inconveniente. 

in «Stockholms-Tidningen», Março de 1949.

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