Épico de Brisseau é o penúltimo filme do Ensaio para o Futuro
Durante os meses de Setembro e Outubro, no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe doze longas-metragens e uma curta em parceria com os Encontros da Imagem. O ciclo tem como mote o tema dos Encontros deste ano, “Ensaio para o Futuro”, e é inteiramente dedicado à memória de Carlos Fontes.
Perto do final da penúltima semana de Outubro, também penúltima semana do ciclo, exibe-se Coisas Secretas (2002), filme do cineasta francês Jean-Claude Brisseau, amanhã às 21h30. Protagonizado por Coralie Revel e Sabrina Seyvecou, conta a história de duas amigas que decidem escalar a escada social a todo o custo.
Num texto de 2004 publicado no jornal Libération sobre Coisas Secretas, na altura a passar na televisão, o crítico francês Louis Skorecki pergunta “Então e Brisseau? O mínimo que se pode dizer, é que nunca fez de conta que gostava dessa nova vaga que esteve muito tempo proibido de criticar, e que está agora em vias de institucionalização.”
“Brisseau é conhecido na praça de Paris por não saber fechar a boca”, continua ele, “sobretudo nos momentos em que devia, para quem gostava de se juntar ao clã dos iniciados do cinema francês, o que não é verdadeiramente o seu caso. É um caso, Brisseau. Amor excessivo pela verdade e pelo cinema, tudo junto, provoca estragos.”
A páginas tantas do livro de entrevistas a Antoine de Baecque de 2006, L’Ange exterminateur, num excerto traduzido por Bruno Andrade para a FOCO - Revista de Cinema, Brisseau disse que “eu utilizo métodos que não se encaixam com os da maior parte dos outros cineastas, ao recusar os assistentes e os diretores de casting. E é algo frequentemente bastante criticado no meio. Certas pessoas da profissão e eu discutimos bastante sobre essa questão. Diziam-me: “Um filme faz-se com toda uma equipa, é uma catedral, e o metteur en scène é como um arquiteto: ele organiza mas não realiza todas as tarefas...” Seguindo essa concepção, o cineasta está acima de todos, é uma espécie de papá para a equipa do filme.”
“A Christine Gozlan,” prossegue Brisseau, “antiga directora de produção e actual produtora, disse-me um dia a mesma coisa, acrescentando o seguinte: “No cinema francês há um sistema de hierarquia destinado a proteger o metteur en scène. De todo o mundo. Porque os problemas vêm de todo o lado, então colocam-se fusíveis em todo o lado.” Compreendo essa ideia de cinema mas não é a minha, porque para mim, se tudo se passa assim não é o metteur en scène que faz o filme, é a equipa. O metteur en scène diz “sim/não”, dá grandes conselhos, mas não é ele que faz o filme. Mas isso talvez não se possa aplicar aos filmes que têm uma grande amplitude financeira. Neste caso é necessário delegar muito; ora, essa não é a minha maneira de fazer cinema. Num filme eu quero poder mudar as coisas no último instante, quero conhecer verdadeiramente cada membro da equipa, dos actores aos técnicos, e não quero que um ou mais assistentes escolham em vez de mim os actores, os figurantes, os cenários, os posicionamentos.”
As sessões do Lucky Star - Cineclube de Braga ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas-feiras às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes e utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até amanhã!
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