quinta-feira, 27 de junho de 2024

Yzalú - Rap, Feminismo e Negritude (2018) de Inara Chayamiti e Mayra Maldijan



por Jessica Sérgio Ferreiro

A realizadora Inara Chayamiti, também, videojornalista, dedica-se a documentar histórias reais ligadas a causas políticas, sociais e ambientais, contando, ainda, com uma longa-metragem – Onde as ondas quebram (2024) –, atualmente a correr os festivais. Mayra Maldjian é, também, jornalista, Dj, beatmaker e produtora, integrando vários projectos de empoderamento feminino através da música, incluindo o grupo de hip hop e soul Rimas & Melodias e o coletivo de mulheres DJs As Mina Risca, bem como foi produtora no projecto “Escuta as Minas”. Ambas juntaram forças com a artista Yzalú para realizar um filme sobre a experiência feminina. 

Yzalú – Rap, feminismo e Negritude (2018), realizado por Inara Chayamiti e Mayra Maldjian, centra-se no percurso da cantora, compositora e rapper, de São Paulo, Luiza Yara Lopes Silva, conhecida como Yzalú, cuja trajectória é relatada na primeira pessoa. O preconceito e a discriminação que marcaram o seu percurso viriam a definir a sua carreira, moldando a sua música, a qual, extravasando a expressão individual, narra experiências comuns. Através da palavra declamada, Yzalú denuncia a violência e a desigualdade que impactam os quotidianos das mulheres negras no Brasil, incorporando a história da “racialização”, como parte de processos sociais contemporâneos. 

Após uma breve auto-apresentação biográfica, Yzalú, com o seu violão, encara a câmara de frente, para nos contar e cantar as “Mulheres Negras”, canção de 2012 que marcou a sua carreira artística, e cujo grito atravessa, de forma aparentemente anacrónica, a escravatura e as formas de exploração e exclusão herdadas que recaem, atualmente, sobre a população negra no Brasil e, em especial, sobre as mulheres. São, ainda, mostrados alguns excertos de videoclipes, tal como “É o rap tio”, do seu álbum de estreia “Minha Bossa é Treta” (2016), editado após vários anos de carreira musical e que, espelhando as experiências “periféricas”, se tornou, assim, num manifesto anti-racista e feminista. Ao longo do filme assiste-se, ainda, a pequenos momentos de composição, ensaios e atuações ao vivo.

A Rapper guia-nos, também, pela sua infância, em voz off sobreposta a algumas imagens de arquivo, enfatizando o apoio da sua mãe “guerreira” ao longo da sua vida. Yzalú dá, ainda, destaque ao grupo de rap feminino Essência Black, de São Paulo, do qual fez parte e teve de compatibilizar com os empregos e estudos, descrevendo a sua experiência no mercado de trabalho e os obstáculos que teve de ultrapassar até se poder entregar totalmente à música. 

O testemunho de Yzalú revela a diferenciação e classificação do “outro” com base nas categorias de “raça”, “género” e “classe”, abordando, ainda, questões ligadas à “limitação física”, como denominado pela artista. Assim, a par com a música e o trajecto de vida de Yzalú, o filme representa a luta pela igualdade numa sociedade contemporânea, ainda, patriarcal e racista, cujas estruturas socioeconómicas e políticas, historicamente sedimentadas, continuam a produzir a “diferença”, a sua hierarquização e discriminação. Assim como o rap, o filme torna-se um lugar de fala, um gesto político, produzindo, assim, representatividade para grupos de pessoas que foram e, ainda, são subalternizados. 

O filme esteve presente em vários festivais de cinemas no Brasil, tal como no 10º Festival Internacional do Documentário Musical, edição de 2018, em São Paulo; também no 29º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum, em 2018 e no 15º Festival MIMO de Cinema 2018, entre outros. Foi, ainda, premiado no 8º Prêmio CineB Solar, bem como integrou, em 2019, a programação do 3º Festival International Du Film Sur Le Handicap (FIFH), em Lyon (França).



Sem comentários:

Enviar um comentário