quarta-feira, 20 de outubro de 2021

210ª sessão: dia 20 de Outubro (Quarta-Feira), às 21h30


À terceira é de vez. Depois de duas tentativas frustradas pela evolução da pandemia, podemos anunciar Terra de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres como a nossa próxima sessão na blackbox do GNRation. Contaremos com a presença dos realizadores para uma pequena conversa sobre o seu filme no final da exibição.

Por ocasião da Mostra Perspectivas do Cinema Português, em que além de Terra também foi exibido Wolfram, Bruno Andrade, Matheus Cartaxo e Yuri Lins salientaram que "para fazer Wolfram – A saliva do lobo (2010), Joana Torgal e Rodolfo Pimenta levaram dois anos se familiarizando com a rotina das Minas de Panasqueira, no centro de Portugal, conhecendo os ritmos e a respiração própria de alguns dos maiores corredores subterrâneos do mundo e desenvolvendo técnicas especiais para registrá-los em vídeo. A câmera, apenas uma, e os microfones, instalados nas minas pelos cineastas como se fossem eles mesmos mineradores, acompanham máquinas que devoram a terra como monstros de alguma mitologia desconhecida, mas agora documentada. 
 
"A extração do minério em Wolfram é marcada por uma violência que faz os planos vibrarem, se chocarem, e que tem a sua contraparte em Terra (2018), de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres. À beira de um lago, trabalhadores fabricam carvão em fornos artesanais, num demorado processo filmado como um ritual quase panteísta em que a presença do mundo e a metamorfose de seus elementos são celebradas. A luz natural, os estalos da brasa e o sopro do vento preenchem os longos planos e a banda sonora, como também acontece, de forma menos concentrada, mais desprendida, nos dois outros filmes da dupla, Cordão verde (2009) e O sabor do leite creme (2012)."

Em entrevista a Daisuke Akasaka, em 2019, no âmbito dos Encontros Cinematográficos do Fundão, e quando este pergunta qual foi o ponto de partida do filme, Hiroatsu Suzuki respondeu que "quando eu vivi em Okinawa, vi o processo completo da feitura do carvão nas montanhas. Lá, normalmente, os fornos de carvão são perto da floresta, perto da lenha. Mas quando vi os dois fornos do Nuno perto do lago, eu senti que aquele lugar era único. Sempre tive um grande fascínio por fornos de todo o tipo: fornos de cerâmica, fornos de cal, fornos de pão… Tive a experiência de trabalhar num forno de cerâmica coberto de terra; ajudei a manter o fogo continuamente, durante mais do que uma semana, e, depois, a fechá-lo para arrefecer. Quando assisti à abertura do forno e se retiraram as peças lá de dentro… Parecia mesmo que se estava a retirar um tesouro do forno! Foi algo de mágico, alquímico, toda aquela transformação da terra em peças lindas. As peças nasceram do forno, e em mim nasceu também qualquer coisa de muito especial… 

"Desde os tempos de Okinawa que me interesso pela arquitectura que utiliza materiais naturais, como terra e cal. No Alentejo, há ainda muitas casas em taipa — uma técnica tradicional de construção com terra comprimida entre caixilhos de madeira (taipais). Visitei muitas casas em taipa. Toca-me ver na paisagem alentejana as ruínas dessas casas que com o tempo se desfazem e desaparecem, regressando de novo à terra. Os fornos de carvão estão cobertos com terra, terra do local, e isso também me despertou muito interesse."

Respondendo à mesma pergunta, Rossana Torres disse que "nesta zona, predominam os montados de azinheira, uma espécie de árvore que leva muitos anos a crescer, e que pode tornar-se muito grande. As azinheiras são óptimas para dar sombra nos verões quentes do Sul. Normalmente são podadas, e os ramos cortados fazem boa lenha e bom carvão. Ultimamente, com o despovoamento e o abandono das terras, muitas delas têm ficado doentes, acabando por morrer. 

O Nuno vive numa pequena aldeia perto de Mértola, podando azinheiras e cortando as que estão mortas. Aproveita toda a madeira, quer para lenha e carvão, quer para criar peças de mobiliário. Aprendeu a técnica de fazer carvão com um vizinho que, por sua vez, aprendeu com outras pessoas mais velhas. Trata-se de uma prática artesanal, hoje em dia quase extinta, que utiliza a terra para cobrir os troncos de madeira, mantendo alguns orifícios para controlar o fogo. Como é um trabalho que requer muito esforço, principalmente no empilhamento da madeira dentro do forno e na recolha do carvão, nessas alturas, o Nuno combina com amigos e familiares, e trabalham todos juntos."

Até logo!

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