Moçambique em foco esta semana no cineclube
Durante o mês de Outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe catorze filmes em parceria com os Encontros da Imagem, com sessões às terças e quintas-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. O ciclo adopta um termo cunhado pelo poeta e ensaísta Édouard Glissant, intitulando-se “Cinema Todo-Mundo - colonialismo e a memória do futuro”.
Terça-feira à noite exibir-se-ão então dois filmes: Kuxa Kanema: O Nascimento do Cinema de Margarida Cardoso, importante cineasta portuguesa que realizou vários documentários e longas de ficção que exploram a temática colonial e pós-colonial, como Banzo, Yvone Kane, Costa dos Murmúrios e Natal de 71. E a curta-metragem KARINGANA os mortos não contam estórias de Inadelso Cossa, jovem realizador moçambicano que conta várias metragens que
se focam, principalmente, nas memórias e pós-memórias da guerra colonial e da guerra civil
moçambicana..
Kuxa Kanema centra-se no Instituto Nacional de Cinema e no “cinema ambulante” implementados pelo governo moçambicano após a independência. A crença na possibilidade de uma política diferente, erigida sobre valores da liberdade e igualdade, uniu vários realizadores que aspiravam ver crescer Kuxa Kanema, o cinema de todos para todos.
"Eu não fiz nada específico para voltar a África," disse Margarida Cardoso numa mesa-redonda de 2010 com Ana Paula Ferreira e a escritora Lídia Jorge, "aconteceu um dia ter ido lá, por questões de trabalho e, claro que aqui há uma
grande diferença, eu voltei ao território da minha infância, Moçambique,
e não fui recebida no aeroporto por um grupo de ninjas que me atacaram e
que me fizeram fugir e eventualmente poderia nunca mais ter voltado a
Moçambique. Porque eu sei que há muitas coisas que quero procurar. Sempre tive a fantasia de que as poderia encontrar, a essência do que se passou
lá, que mal destruiu a minha narrativa. Houve qualquer coisa que a destruiu
e o que a destruiu foi o mal. E eu sempre tive essa fantasia de que ia chegar lá
e que me iria sentir melhor comigo mesmo se fisicamente eu fosse encontrar
os traços e a razão daquele mal. Ele tinha que lá estar, ele tinha que lá estar, eu tinha a certeza. Mas, mesmo assim, tive a sorte de realmente não ser mal
recebida, no sentido em que a questão não é ser mal recebida pelo ataque
dos ninjas de que eu estava a falar, é só uma metáfora, porque, na realidade,
hoje em dia, toda a minha relação com Moçambique, tem a ver com toda
essa possibilidade de trazer os fantasmas e de os colocar lá, porque eles são
meus, não estavam lá, eu levei-os para lá, levei-os e segui-os e eles puderam
andar"
Em KARINGANA, Inadelso Cossa explora a pós-memória e a história oral – Karingana, a arte de contar estórias ou a História Oral de um povo. A personagem principal, de volta à sua aldeia natal, procura saber o que aconteceu, mas encontra o único habitante mudo, entorpecido pelo trauma da guerra, restando-lhe apenas o cinema para lhe dar respostas.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça-Feira!
Sem comentários:
Enviar um comentário