sábado, 19 de outubro de 2024

365ª sessão: dia 22 de Outubro (Terça-Feira), às 21h30


Dois filmes de Jean Rouch para ver na biblioteca 
 
Durante o mês de Outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe catorze filmes em parceria com os Encontros da Imagem, com sessões às terças e quintas-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. O ciclo adopta um termo cunhado pelo poeta e ensaísta Édouard Glissant, intitulando-se “Cinema Todo-Mundo - colonialismo e a memória do futuro”. 
 
Terça à noite, às 21h30, exibem-se dois filmes rodados pelo cineasta francês Jean Rouch nos anos cinquenta, a longa-metragem Moi, un noir e a curta Les maîtres fous
 
Em Moi, un noir, dois jovens nigerianos, inábeis nos modos de vida moderna regidos pelos primados do liberalismo económico, deambulam pela cidade de Treichville, na Costa do Marfim, ainda sob domínio francês, à procura de trabalho. 
 
Nesta etnoficção, Rouch aplica o que denominou por “antropologia partilhada”, incentivando os envolvidos a auto-representarem-se. Os protagonistas auto-nomeiam-se com nomes fictícios, recorrendo a referências de filmes estadunidenses que povoam o imaginário coletivo para construir a narrativa dos seus quotidianos, contada em voz-off, mesclando realidade e ficção. 
 
Les Maîtres Fous mostra-nos os rituais praticados no Gana pelos Haouka, um grupo de imigrantes originários da Nigéria. Durante as cerimónias, realizadas anualmente, incorporam e mimetizam as figuras do poder colonial em estado de transe, como que possuídos por demónios antigos. Entre coreografias e expurgações, o trauma colonial é desvelado, pondo a nu a violência arqui-secular cravada nos corpos e nas mentes.
 
"O latim é uma coisa essencial que se abandonou," disse Jean Rouch em entrevista a José da Silva Ribeiro quando este lhe perguntou qual deveria ser a formação de alguém que quer fazer filmes etnográficos. "Foi um erro enorme, os grandes poetas franceses faziam versos latinos, Rimbaud, Baudelaire, que acabei de citar, faziam versos latinos. Porquê? Porque um verso latino constrói-se pelas últimas palavras, para obter a rima. Por isso, constrói-se ao contrário, o cinema é isso. A narrativa cinematográfica deve saber para onde vai. Assim monta-se um filme ao contrário. Parte-se da última imagem e faz-se a montagem para sabermos para onde vamos. E é assim que eu faço a montagem e é também assim que faço a realização. Plano a plano. Eu filmo, sempre que possível, os meus filmes, nem sempre é possível, por ordem. Como tenho cenários naturais, não há cenários a construir, é fácil partir de uma história e saber como terminamos cada sequência e aí, de repente, há um momento extraordinário, quando se filma com pessoas que improvisam, eu próprio improviso e a um determinado momento, alguém tem a última palavra e ter a última palavra é contar uma boa história. Em francês dizemos “uma história sem pés nem cabeça”. A cabeça está à frente dos pés, é por isso que é muito importante sabermos para onde vamos. É isso que faz o raccord. Na dança é a mesma coisa. O importante é a paragem. Em música é a mesma coisa, é a pausa, por isso, a primeira coisa é aprender esta espécie de ritmo, de montar as coisas pelo fim."

As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, durante este ciclo às terças e quintas às 21h30. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.

Até Terça-Feira!

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