América do Sul em foco esta semana no cineclube
Durante o mês de Outubro, o Lucky Star – Cineclube de Braga exibe catorze filmes em parceria com os Encontros da Imagem, com sessões às terças e quintas-feiras no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. O ciclo adopta um termo cunhado pelo poeta e ensaísta Édouard Glissant, intitulando-se “Cinema Todo-Mundo - colonialismo e a memória do futuro”.
Na próxima sessão desde ciclo, na terça-feira, exibem-se dois filmes, o primeiro Fordlandia Malaise de Susana Sousa Dias, cineasta que realizou vários documentários que exploram a temática da memória, tais como Viagem ao Sol, Luz Obscura, 48 e Natureza morta, este último exibido este ano pelo cineclube no âmbito do ciclo "50 Anos de Liberdade - Onde Estamos Nós no 25 de Abril".
Fordlandia Malaise (2019) explora a decadência do empreendimento megalómano que a Empresa Ford implementou no Brasil em 1928, no seio da Amazónia, junto ao rio Tapajós. O plantio massivo de seringueiras e a construção de uma cidade obrigou à devastação da floresta, implantando-se um modo de vida e cultura hostil. Susana Sousa Dias explora a memória deste passado, recorrendo à imagem de arquivo e aos testemunhos dos habitantes actuais da cidade.
"O filme tem uma história particular," disse Susana de Sousa Dias a Julia Fagioli em 2020, "porque foi um convite que me fizeram. Eu nunca tinha filmado fora de Portugal, e foi um coletivo artístico francês, o Suspended Spaces, que me convidou para ir com eles à Amazónia e, designadamente, a Fordlandia. Eles costumam trabalhar sobre o que chamam de espaços suspensos, espaços que foram edificados na modernidade e que não cumpriram propriamente os desígnios para os quais foram edificados e ficaram naquilo que eles designam por um estado de suspensão. Eu aceitei imediatamente o convite porque pareceu-me muito interessante o projeto, sobretudo porque no meu trabalho tenho me interrogado sobre aspectos ditatoriais ligados à ditadura portuguesa, mas também sempre na perspectiva de uma reflexão mais ampla, e aspectos do colonialismo. Nesse caso, estaríamos perante um empreendimento neocolonial, portanto isso interessou-me desde logo, trabalhar essa matéria. E depois, também, eu tenho – e esta é uma razão mais pessoal, mas eu tenho ascendentes na Amazónia, uma trisavó indígena, e precisamente daquela zona, ou seja, do triângulo Manaus-Belém-Fordlandia. Portanto, interessou-me muito, e foi a primeira vez que fui à Amazónia."
O segundo filme da sessão é uma curta-metragem de Maria Rojas, Abrir Monte, de 2021. O filme retrata a primeira guerrilha colombiana (1929), composta por um grupo de trabalhadores auto-nomeados “Los Bolcheviques del Líbano Tolima”, que se opôs ao governo conservador e à brutalidade policial, cuja violência espectral sombreia os planos de imagem em 16mm, narrados em voz-off pela anciã da vila e um grupo de mulheres no tempo presente, deixando transparecer que a luta não terminou. Esta sessão contará com a presença do produtor Ansgar Schaefer.
As sessões do Lucky Star ocorrem no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, esta terça às 21h30 e na quinta excepcionalmente às 19h. A entrada custa um euro para estudantes, dois euros para utentes da biblioteca e três euros para o público em geral. Os sócios do cineclube têm entrada livre.
Até Terça-Feira!
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