sábado, 4 de abril de 2020

40 dias 40 filmes - Cinema em Tempos de Cólera: "Sete Mulheres" de John Ford


Título original: 7 Women; De: John Ford; Com: Anne Bancroft, Sue Lyon, Margaret Leighton; Género: Drama.; Classificação: M/16 Outros dados: EUA, 1966, Cores, 87 min. 

Sinopse: O último filme de John Ford é também uma das suas obras mais importantes, onde se impõe com inesperado vigor aquilo que esteve sempre mais ou menos presente na sua obra: uma atmosfera sensual, marcada pelo estigma do recalcamento sexual, e que acaba por se manifestar face à intrusão de um elemento estranho. A uma missão religiosa, formada por mulheres, na China sujeita aos horrores da guerra civil, chega um novo membro, uma médica cuja maneira de ser vai provocar uma crise (o jantar à mesa onde fuma por provocação), ao mesmo tempo que um "senhor da guerra" invade a missão. (Fonte: Cinemateca Portuguesa)

Link (1. Clicar em "Link"; 2. Clicar onde diz "fazer download" e o filme começa a descarregar. No fim clicar em salvar; 3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.)

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes - Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O quarto convidado é o crítico de cinema espanhol Miguel Marías, que quando foi desafiado para a escolha nos respondeu que “Confinados num sítio, acossados pela ameaça externa, com conflitos internos, com epidemia e com uma médica heróica, além de muito valente e bonita (Anne Bancroft), o primeiro que me ocorre é “7 Women” (1965/6), uma das maiores e menos conhecidas obras-primas de John Ford.” 

Num texto anterior sobre o filme, Marías fala do “digno final da longa e gloriosa carreira de Ford, 7 Women é um desafio e um desmentido. Considerado de forma tão abusiva como um «realizador de homens» – esquecendo-se, não se percebe como, de Maureen O’Hara, Ava Gardner, Jane Darwell, Vera Miles, Joanne Dru, etc. –, como Cukor um «realizador de mulheres», Ford fecha-se num estúdio com nove (não sete) actrizes e quase prescinde dos homens para rodar, aos setenta e um anos, o seu filme mais combativo. E também o mais próximo da abstracção, o mais despojado, o menos sentimental. Não devia estar para brincadeiras e parece como se sentisse que lhe restava pouco tempo e menos metros de película: desta vez quase não há humor, nem canções, a paisagem desapareceu e a narração avança em todos os momentos, a um passo tão suave como vertiginoso, para o nó dramático de cada cena. Portanto não há pausas nem digressões, e os meandros cedem o seu lugar a sinuosidades rítmicas puras que nunca impedem que Ford e os seus actores vão sempre directos ao assunto. Sem contemplações nem concessões ao naturalismo, à beleza ou ao melodrama, a que o argumento tão facilmente se prestava, ambientado numa China imaginária de 1935: não há álibis nem possibilidades de procurar «chaves de leitura». 

“O protagonista, naturalmente, é uma mulher. Mais decidida que qualquer um dos seus irmãos – que John Wayne costumava interpretar –, a doutora Cartwright, tal como a encarna Anne Bancroft, é a personagem mais admirável de Ford e que o realizador mais gosta e respeita de todas as que criou. Para John Wayne sempre olhou mais com sardonismo, consciente do seu mau jeito de tímido grandalhão; para Anne Bancroft não: surpreendentemente, identifica-se plenamente com as suas posturas irreverentes e desencantadas, com a sua valentia suicida, com a sua atitude de desafio permanentemente. Por isso lhe dedicou as suas últimas e mais belas imagens, as mais intensamente líricas da sua imensa obra, que celebram a vitória final sem dar importância ao preço, com uma harmonia e uma fluidez que fazem pensar forçosamente nos cúmulos constantes de Mizoguchi. Ford provou a si próprio, e aos outros de passagem, que ainda era capaz de se aventurar por terrenos em desuso e guiar com pulso firme e seguro, sem uma vacilação, uma história despida de retórica e sensacionalismos, totalmente alheia às modas do momento e, ainda por cima, interpretada predominantemente por mulheres. Ao pôr um ponto final na sua obra estava a abrir novos caminhos, revelando aspectos até então ocultos ou velados da sua própria personalidade e projectando uma nova luz esclarecedora sobre os seus filmes anteriores. Depois de 7 Women não era preciso acrescentar mais.” 

Amanhã, a escolha de Rui Pelejão.

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